Deixar uma banda após a mesma alcançar seu auge não nos parece uma atitude muito inteligente, mas também não seria das melhores fazer parte de algo qual você não se sente mais satisfeito. Foi justamente por isso que Josh Farro e seu irmão, Zac, deixaram para trás a banda Paramore e uma verdadeira legião de fãs. Do outro lado do jogo, por sua vez, encontramos então uma banda pela metade com o futuro um tanto incerto: poderiam eles prosseguir sem todos os membros que tornaram a banda algo real? Será que novos integrantes surgiriam?!
Dúvidas à parte, era certo que qualquer outro passo da banda seria arriscado e eles não tinham muito o que fazer, se não assumir o risco. Foi assim que a Paramore — agora formada por Hayley Williams, Jeremy Davis e Taylor York — encarou o que estava por vir, com o objetivo de se reafirmar e se redescobrir, e por que não se reinventar? Reforçando os objetivos há pouco apresentados, o quarto disco da banda ganhou o título "Paramore" (nada mais significativo que um artista utilizando o próprio nome para intitular um lançamento) e o resto da história nós conhecemos recentemente, com o vazamento, seguido do lançamento oficial, do mesmo.
Com dezessete faixas, na primeira ouvida já temos uma conclusão clara sobre o álbum: Hayley Williams e sua trupe andaram escutando muito No Doubt e Garbage. Não estamos dizendo isso pelo fato de ser bandas lideradas por nomes femininos, mas sim pela sonoridade realmente nos remeter à isso e não de forma vaga. O lead-single "Now" e canções como "Grow Up", "Anklebiters" ou "Fast In My Car" são ótimos exemplos. Na primeira das quatro partes do álbum, a mensagem passada é a incessante busca do trio pela liberdade — eles correm sem rumo, lutam para encontrar um futuro e assumem até responsabilidades de gente grande, mas vivem se pegando sonhando acordados e se deixam levar pela vida.
Após a entrada do primeiro interlúdio, "Moving On", o foco de suas letras muda, assim como a sonoridade do disco. Neste novo rumo, os riffs de guitarra ganham mais espaço, enquanto a bateria é jogada para segundo plano. É aqui que temos um momento depressão e Hayley canta sobre encarar o mundo como ele realmente é — "Ain't It Fun" possui um coro incrível, que fez com que lembrássemos daquele filme de freiras (com a Whoopi Goldberg) que a Globo vive reprisando. Nesta parte temos ainda um momento interessante, em que a banda revisita o disco "Riot!" com a canção "Part II", clara releitura de "Let The Flames Begin". É aí que eles clamam por glória, mas só a encontram em "Last Hope", faixa com ares épicos que pega emprestado o coral de "Ain't It Fun" e até consegue arrancar algumas lágrimas dos mais emotivos (sim, o blogueiro que vos fala chorou).
"Still Into You" sucede nossa amiguinha épica e cria toda uma nova atmosfera para o material. Utilizada como segunda música de trabalho desta nova era, a canção traz um rock chiclete e até mesmo dançante, com uma letra sobre o amor que resiste ao tempo. Mantendo o clima (delicioso, por sinal), "Anklebiters" faz com que a gente se sinta num daqueles filmes rockabilly e realiza uma boa ponte até "Holiday", segundo interlúdio do CD. "Proof", "Hate To See Your Heart Break" e "(One of These) Crazy Girls" são o que conferimos em seguida e essas são as canções mais arriscadas do álbum, onde a banda sai completamente de sua zona de conforto. Por um momento, até podemos acreditar que o que temos são canções de Hayley Williams com a banda de apoio da Katy Perry.
"I'm Not Angry Anymore" inicia então um novo bloco e somos apresentados à "Be Alone", faixa que consideramos a ~mais Paramore~ em todo o disco. Ainda assim, não é ela quem nos chama a atenção aqui e sim a sua sucessora e tema-final do álbum, "Future". Com pouco menos de oito minutos, a faixa não conclui a busca da banda pela liberdade, mas explica que essa procura não possui um fim e que o importante aqui é não se perder nas memórias e seguir vivendo, traçando o futuro. Os segundos finais da canção são os mais fantásticos de todo o álbum e arriscamos dizer que superam, inclusive, qualquer outra coisa já lançada por eles.
Resumindo: a busca da Paramore pela liberdade talvez não tenha sido concluída neste álbum, mas é inegável que ele serviu como um ótimo desabafo para Hayley e sua trupe. Nos aprofundando no disco, descobrimos mais sobre suas influências, assim como diversas indiretas para os ex-membros da banda, mas não é isso que o faz ser ótimo e sim a já citada necessidade de reafirmação e a forma com que a banda faz isso, sem que soe como algo que já escutamos antes. Dá pra dizer, inclusive, que não é um novo álbum da Paramore e sim uma nova Paramore. Sendo assim, eles já podem riscar alguns dos objetivos citados no início da resenha.
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