Com seu disco de estreia, “Animal”, e o EP que sucedeu o material, “Cannibal”, a cantora Ke$ha estava mais que consagrada como uma hitmaker. Gostando ou não do trabalho da californiana, entre 2009 e 2011 não teve uma só pessoa que nunca tivesse sequer pensado no refrão de “Tik Tok” ou músicas mais recentes, como “Blow”, e todo esse sucesso fez com que a cantora fosse um tanto pressionada quanto ao resultado do material que iria suceder sua produção de estreia, “Warrior”.
Na teoria, esse é o tradicional “desafio do segundo álbum”, onde o artista precisa escolher entre repetir as fórmulas que deram certo ou arriscar algo totalmente novo, fugindo dos dedos que estariam apontando pra ele com acusações sobre zona de conforto, mesmices e etc, mas podemos dizer claramente que Ke$ha se garantiu em um meio termo. No cd “Warrior”, qual resenhamos aqui, a cantora vêm com o mesmo pop radiofônico que a lançou nas rádios, mas vez ou outra tenta tornar suas influências um pouco mais notáveis, seja arriscando um sample de Queen em músicas como “Gold Trans AM”, cantando baladinhas como “Thinking of You” e “Last Goodbye” ou dividindo vocais com os Strokes e Iggy Pop, respectivamente, em “Only Wanna Dance With You” e “Dirty Love”.
Ainda assim, o disco que aparentava ser uma das produções pop mais inteligentes do ano (que também contou com lançamentos de Madonna e Christina Aguilera) foi extremamente subestimado e nos pegamos então questionando onde foi que Ke$ha e sua gravadora erraram, mesmo sabendo bem a resposta. Por mais que, na base do possível, “Warrior” seja um álbum versátil, tudo o que a gravadora fez foi investir nas canções “mais do mesmo” para as rádios (indo contra a vontade da própria Ke$ha) e, se a ideia era agradar um público além dos que já acompanhavam a cantora, errou feio em seu objetivo. “Die Young”, primeiro single do cd, inicialmente prometia ser algo grande, mas o destino tratou de colocar os conservadores e um acidente envolvendo a morte de várias crianças numa escola americana contra a cantora. Se escutarem a canção se atentando a sua letra, fica claro que a temática traz a ideia do carpe diem, do “aproveitar a vida até seu último segundo”, mas a história de morrer jovem junta a triste tragédia na escola gringa pegou mal e foi Ke$ha quem pagou o preço.
Limpando a barra da cantora, a gravadora resolveu tentar algo mais bonitinho no segundo single e surgiu então com “C’Mon”. A faixa não é nenhuma club-banger, mas convence no papel de dançante e radiofônica, ainda assim, pecou por soar como muitas que já havíamos escutado no “Animal” e fuen fuen fuen, torceram o nariz para o lançamento sem medo de ser feliz. Ke$ha, por sua vez, até tentou investir na canção e realizar algumas performances ao vivo, mas aos poucos tanto a cantora quanto sua gravadora viram todo o investimento cair por água abaixo, com “C’Mon” passando longe das grandes posições das paradas.
Nessa altura do campeonato, o que Ke$ha e a RCA tinham em mãos era um ótimo single ficando fora do top 10 (algo desconhecido pela cantora com os lançamentos de "Animal"/"Cannibal") em diversas paradas ao redor do mundo, além de um grande álbum sendo ignorado pelo público americano, e em contrapartida acompanhavam a liderança de vários nomes masculinos na grande potência do mercado pop, com Bruno Mars, Macklemore & Ryan Lewis e DJ Bauuer encabeçando a Hot 100 da Billboard. Como desistir do “Warrior” era algo fora de questão, a cantora e sua equipe se lembraram então da forma com que Katy Perry tornou a era “Teenage Dream” algo maior do que muitos esperavam e foi assim que apostaram todas suas fichas em “Crazy Kids”, em um remix com o rapper e co-produtor da canção will.i.am (até então no auge por “Scream and Shout”, com a Britney Spears).
No momento, will.i.am estava longe de ser “o cara do momento” e se sua parceria com Britney Spears estava fazendo algum barulho nas rádios e paradas era por conta da princesinha do pop, mas a RCA estava certa de que essa técnica iria funcionar e, acompanhada do líder do Black Eyed Peas, veio Ke$ha com um videoclipe para o novo single. O que temos nele? A cantora numa festa trash cheia de figuras bem curiosas, numa fotografia que lembra o até então grande hit do ano, “Thrift Shop” do Macklemore & Ryan Lewis, além do flerte com o hip-hop apresentado por um astronauta com o rosto do convidado especial, will.i.am. Caso toda a tosqueira não fosse o suficiente, ainda fizeram a cantora repetir a postura quero-ser-Illuminati que mostrou no vídeo de “Die Young” e o que temos então é um apunhado de cenas forçadinhas. Não sabemos se isso chegou a funcionar na cabeça de alguém, mas para nós sempre pareceu bem todo errado, bem “o que esse povo tem na cabeça?” e bem triste pra Ke$ha, que só veria sua situação piorar.
Por sorte, o mesmo destino que outrora colocou os EUA contra Ke$ha resolveu dar um empurrãozinho na moça e conseguiu, para os próximos meses, uma agenda bem interessante pra cantora, com performance no iHeart Festival e o anúncio de uma segunda temporada para o seu reality show na MTV, além dos shows com a Warrior Tour, e se ela for mais esperta que a Beyoncé (que perdeu a chance da vida, não apresentando nenhum material novo durante o Super Bowl 2013), deverá nos surpreender anunciando “Supernatural” como quarto single do cd e seguindo então toda uma estratégia massiva de divulgação, com performances em todos os programas de tv que os EUA possua (até de culinária, expandir o público é o foco), uma apresentação arrasta-quarteirão no VMA 2013 (o mundo estará de olho no programa, por conta dos novos singles de Katy Perry e Gaga, além de uma possível performance do Jay-Z com Justin Timberlake) e, por fim mas não menos importante, um ótimo videoclipe.
Com isso, é certo que a cantora
conseguiria, na pior das hipóteses, um top 5 nos EUA, retomando então os
trabalhos com o disco e ao menos finalizando a era “Warrior” de um jeito
decente (pois fechar os trabalhos com um remix flopado ao lado do will.i.am é
muito fim de carreira), quem sabe até mesmo lançando clipes para as melhores
faixas do disco, “Last Goodbye” e “Only Wanna Dance With You”, só pra avisar ao
mundo que a gravadora está liberando orçamento para ela outra vez. Assim, até
um relançamento por questão de honra poderia ser discutido, destruindo
carreiras com a inclusão de faixas como “Machine Gun Love”, “Dancing With The
Devil” e “Woo Hoo” (Big Time Rush, isso não te pertence mais).
Certo, certo, sem grandes expectativas. De qualquer forma, queremos deixar claro que ainda acreditamos no “Warrior” e toda noite, antes de dormir, nos perguntamos onde foi parar as parcerias de Ke$ha com a australiana Sia e o escocês Calvin Harris, gravadas durante a produção do tal cd, pois atualmente a carreira da cantora está gritando por momentos *boooom* como esses.
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