Primeiramente, fico confuso com o
que cada um absorveu deste trabalho. Alguns questionam o motivo da ausência das
faixas feitas em parceria com o nome do momento, Pharrell Williams, confirmadas
pela cantora, e que provavelmente entrarão na versão americana do álbum. Mas a crítica
é engraçada: clamam por inovações, mas paralelamente reclamam que sentem falta
de produções passadas; depois não querem mesmice, mas pedem Pharrell Williams
na produção. Alguns criticam "Alive" por não trazer nada de novo e
parecer um álbum feito com canções descartadas de "Who You Are",
enquanto também lemos considerações que elogiam a linha que Jessie seguiu neste
projeto.
Se você estiver disposto a ouvir
as canções que Jessie te apresenta agora, sem considerar cegamente o que ela
fez anteriormente, pode ter uma boa surpresa. E uma das coisas que amadureceram
na cantora é sua habilidade vocal: ela não precisa mais provar seu talento
fazendo aqueles malabarismos vocais entediantes, sua voz toma conta de cada
faixa com destreza e pontualidade, sem muitos exageros e com precisão.
Quando começamos a audição de
"Alive", nos deparamos com um dos primeiros erros do álbum, o segundo
single "It's My Party", uma reciclagem mal feita usando todas aquelas
músicas que imploram para que você coloque as mãos para o alto, mesmo que você
não sinta a mínima vontade, o que acontece aqui. Totalmente desnecessária e desconexa
do restante do álbum. Notamos isso sem muitos esforços, é só pular para a
segunda faixa, "Thunder", uma mid-tempo que começa melodicamente
nostálgica e cresce para que a intérprete possa contar ao mundo como o amor
transformou sua vida e desafiou seus próprios medos.
Entra então "Square One", uma balada sensível que funciona como um desabafo honesto e vulnerável. O auto-tune da voz que ecoa antes do refrão poderia ser descartado, mas não atrapalha toda a emoção que a faixa transmite. E para os fãs de "Who You Are", talvez esta funcione muito bem como principal ponto de conexão entre os dois trabalhos da britânica. Com um refrão poderoso (e é nesta parte que a canção cresce fabulosamente), Jessica canta toda a dor da não-aceitação do fim de um relacionamento.
E quando você pensa que vai
continuar nessa vibe deliciosa, Jessie joga uma versão melhorada de "It's
My Party" para ouvirmos. Sim, as faixas são parecidas, mas "Sexy
Lady" vence pelo instrumental com a presença de uma guitarra nervosa, enriquecendo
a produção e criando uma sonoridade divertida e até agradável. E já que a
ideia de segundo single era uma canção mais genérica, esta poderia ser uma
ótima substituta da escolhida pela cantora. A próxima produção que nos é
apresentada pode ser destacada como uma das melhores do álbum. "Harder We
Fall" começa tímida no violão, mas cresce harmoniosamente e nos presenteia
com uma incrível mensagem positiva sobre como encarar a vida e os obstáculos
que nela aparecem.
"Breathe" é introduzida
por um piano que dá lugar aos sintetizadores quando Jessie entra no refrão
pedindo para ser amada desesperadamente. Aliás, a composição, apesar de 'enlatada', é um tanto
intensa - fala sobre um amor cego, no qual a entrega está acima de qualquer coisa. A
mistura deu certo e a faixa é mais um acerto no repertório de
"Alive". Guiada por um piano, a britânica continua jorrando emoção,
desta vez na poderosa "I Miss Her", que permite que Jessica não deixe
dúvidas sobre sua incrível habilidade vocal. A canção fala sobre a dor daqueles
que convivem com a realidade do mal de alzheimer e a letra, assim como a
interpretação de Jessie, conseguem transbordar um sofrimento cru e sincero.
Passadas as lágrimas, somos
surpreendidos com "Daydreamin'", uma produção que lembra os antigos trabalhos
de Mariah Carey e que talvez pudesse estar na tracklist do "Yours
Truly" da Ariana Grande. Não é ruim (talvez insossa), porém, mais uma vez,
uma faixa está totalmente desconectada do restante do álbum e não será lembrada.
Depois do cosplay de Mimi, Jessie volta na companhia de Becky G e cheia de
atitude com a urban (e deliciosa) "Excuse My Rude". Carregada de dubstep, Jessie
ainda arrisca aquela gorjeada de uma letra só que os fãs adoram (e que outros,
como eu, dispensam).
A próxima faixa do álbum é o lead single
"Wild". Não alcançou o sucesso esperado, mas continua sendo uma
produção de respeito, com ingredientes que não decepcionam, como a mistura do
dubstep com o trap e um break eufórico. Depois de toda a energia de sua
antecessora, "Gold" chega com a receita de uma produção que cresce com
louvor e temos, então, mais uma ótima faixa de "Alive". Com uma
composição melosa sobre o amor, a canção é
uma ótima aposta como single de final de ano, período no qual canções
mais leves ganham destaque nos charts. Certamente, "Gold" tem seus
méritos e pode fazer bonito nas paradas.
"Conquer the World", um
dueto com Brandy, aparece aqui para ocupar algum espaço vazio do álbum. Com influência das batidas marcantes dos anos 90, a produção não é ruim, mas parece esquecível.
O mesmo podemos dizer da próxima faixa, "Alive", se não fosse pela
incrível explosão que o instrumental tem depois dos dois primeiros minutos.
Resumindo: Agora Jessie, queremos explicações. Por que a versão deluxe do álbum tem músicas que mereciam entrar na versão standard? "Unite" tem batidas fortes e soa tão sexy que é um desperdício ser um bônus. Assim como a agressiva "Hero" e a frenética "Magnetic". "Alive" é um bom trabalho, sem dúvidas, mas peca pela falta de linearidade - se ele fosse um álbum de fotos do falecido orkut, por exemplo, seu nome seria o clichê "tudo junto e misturado" rs. O disco é carregado por um mix diversificado de estilos e gêneros, só deveria ser mais coeso e conectado, e talvez isso tenha contribuído para que, algumas vezes, fiquemos com a sensação de que ficou faltando algo. Mas tudo bem, o talento de Jessie J acaba completando essas lacunas.
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