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Review: em “Louder”, Lea Michele estreia de forma radiofônica, mas nada memorável


A atriz Lea Michele já havia conquistado um bom número de fãs desde que protagonizou a série musical “Glee”, mas sua veia artística pedia por mais que isso, então a menina foi lá e resolveu investir na carreira de cantora. É claro que todo o projeto envolve uma série de investimentos terceirizados e pessoas que esperam do disco um bom retorno, visando o público adquirido com a série e os fãs que virão após conhecê-la com as canções nas rádios ou músicas na tevê, mas então chegamos naquela parte complexa demais pra que seja compreendida tão rapidamente, envolvendo capitalismo e outros tópicos que passam bem longe da história da quase viúva deprimida que precisa botar pra fora tudo aquilo o que não teve a chance de dizer para o seu “Querido John” antes que ele partisse.

O disco de estreia da Lea Michele, “Louder”, tinha tudo pra ser superestimado antes mesmo que ganhasse seu primeiro single, contando com produções do Benny Blanco e Stargate (Katy Perry, Rihanna e Ke$ha) e composições da australiana Sia (Christina Aguilera, Rihanna, Katy Perry e Kylie Minogue), mas sem tirar o mérito de Lea, demos uma chance a ele sem qualquer preconceito. Infelizmente, uma das coisas mais entediantes de toda a proposta do disco partiu da própria cantora, que em entrevistas relacionava cada uma das canções reveladas com seu falecido quase-noivo, o ator Cory Monteith, o que de certa forma dava a impressão de tentarem capitalizar a morte do cara, ideia nem tão improvável pensando em termos mercadológicos, mas como dissemos acima, parte complexa demais pra que seja compreendida tão facilmente, então apenas tenhamos em mente que ela sofreu muito mesmo e que cantar essas coisas realmente mexia muito com ela e fazia com que ela lembrasse dele o tempo todo e que tivesse vontade de recordar esse fato em todas as entrevistas, mesmo que não fosse necessário.



Lançado no último dia 28 de fevereiro, “Louder” contou com um single oficial, “Cannonball”, e outros 4 promocionais (“Battlefield”, “Louder”, “You’re Mine” e “On My Way”), mas agora está disponível para audição na íntegra, o que também nos permite dizer o que achamos dele faixa-à-faixa. Vamos ver no que dá?

1.      “Cannonball”
Composta pela Sia, “Cannonball” é uma daquelas baladas que tem como intenção fazer com que você se sinta forte o suficiente pra se reerguer após uma brusca queda. Mas que valha a intenção, pois foi justamente com ela, lançada como primeiro single do disco, que baixamos qualquer expectativa que havíamos com o disco. Na produção, extremamente tediosa, Sia prova que até as artistas mais talentosas também têm seus dias de “Gangnam Style”, enquanto faz Lea parecer poeticamente idiota cantando sobre voar por aí como uma bola de canhão. Será que ela já sabe qual é o destino dessas bolas? Voa, Lea!

2.      “On My Way”
“Meu coração está bêbado demais para dirigir”. Aqui, definitivamente, as metáforas funcionam melhor do que na amiga acima e a faixa também é uma das mais interessantes do disco. Ela começa tímida, aparentando ser outra baladinha, e cresce gradualmente, até se tornar algo em potencial para as pistas. Foi single promocional, mas não seria ruim caso fosse lançada como música de trabalho em algum momento, principalmente pelo fato de que poderia render um bom clipe.

3.      “Burn With You”
Segundo Lea, essa era a música favorita do Cory Monteith e temos que concordar sobre ele ter um bom gosto.  Uma das vantagens dos vocais de Lea é a forma com que eles soam confortáveis em baladas, e em “Burn With You” isso fica muito claro, enquanto somos apunhalados por uma jura de amor melosa e tragicamente linda, “eu não quero ir para o céu se você for para o inferno, quero queimar com você”. Respirando fundo.



4.      “Battlefield”
Oh, corações partidos. “É fácil se apaixonar, mas tão difícil partir o coração de alguém”, é assim que somos introduzidos a “Battlefield”, outra bela baladinha em que a atriz canta sobre uma história de amor que se tornou um campo de batalhas. Os dois já estão se sufocando, mas temem pelo momento em que devem “se deixar” partir. Essa consegue ser ainda mais melosa que a canção anterior, o que pode começar a cansar nesta altura do disco, mas não descarta o fato de ser significativamente boa.

5.      “You’re Mine”
Devido ao seu trabalho em “Glee”, os vocais de Lea soam bem associados a musicais e aqui temos a impressão de ouvir algo que caberia bem numa dessas trilha-sonoras da Disney, assim como a versão da Demi Lovato para “Let It Go” de “Frozen”. A baladinha, quase que guiada por uma orquestra, dá a impressão de realmente estarmos acompanhando uma peça teatral, enquanto ela se certifica de tornar ele dela.

6.      “Thousand Needles”
Nessa montanha russa de emoções, “Thousand Needles” é pra sofrer de amor outra vez. Nesta balada, ela canta sobre sentir como se estivesse com milhares de agulhas em seu coração e supomos que isso deva doer bastante. Se você se encaixava nos que já estavam cansando do disco na quarta faixa, aqui está a alguns segundos de desistir de concluí-lo, mas stay strong, com foco, força e fé, nós chegamos lá.


7.      “Louder”
Falando sobre esse álbum, Lea Michele contou que queria cantar músicas que pudessem fortalecer e entreter quem escutassem-nas. Boa parte do disco falha nisso, sendo mais pra chorar pelo leite derramado, mas ao menos a faixa-título do álbum cumpre bem esse papel, também se saindo melhor que “Cannonball” na ideia de nos levantar do fundo do poço e o mais importante, depois de uma entediante sequência de baladinhas, é uma música mais animada. “Não tenha medo. Por que você não grita ainda mais alto?”.

8.      “Cue The Rain”
Mesmo que não acrescente muito ao álbum, liricamente falando, “Cue The Rain” soa como um guilty pleasure em potencial. Se você chegou até aqui, já entendeu que o forte do álbum está nas baladinhas e esta se sobressai, talvez pelo bom conjunto de letra e instrumental. O melhor é saber que a música foi uma das duas co-compostas pela atriz. Bem que podiam ter deixado mais do disco nas mãos dela, hein? “Eles estão perseguindo a luz, mas perdendo seu caminho. Eu me encontrei buscando por você”.

9.      “Don’t Let Go”
O clima do disco é reerguido outra vez em “Don’t Let Go”, mas meu Deus!, quando foi que a Lea começou a comprar descartadas da Demi Lovato? A gente dá um desconto pelo fato do disco ter poucas mid-tempos e essa nos animar outra vez, mas tê-la cantando coisas como “voando alto que nem um pipa” faz com que desejemos que ela volte o quanto antes a fazer versões de clássicos modernos em “Glee”, usando todo seu talento vocal pra algo realmente bom. Sério.

10.   “Empty Handed”
Sem forçar a barra, é aqui que a Lea Michele deu o melhor de si no álbum. “Empty Handed” cumpre bem o papel sentimental do disco, sem que cada verso nos implore pra que sintamos dó dela ou do seu coração partido. A música fala sobre amar sem esperar nada em troca, apenas pelo valor do sentimento em si, e isso em meio a um arranjo que também se sobressai no disco, numa proposta mais pop-rock, algo ao nível Boys Like Girls. Mesmo que não exija muito da moça vocalmente, é um dos ápices do disco, sem dúvidas.

11.   “If You Say So”
Sendo a segunda e última co-composta por Lea, “If You Say So” fala indiretamente sobre o falecimento de Cory Monteith. Em meio a notas de piano, a atriz e cantora relembra os primeiros sete dias após sua partida e, como uma forma de enfatizar as dificuldades em passar esse período, repete incessantemente entre seus versos sobre todos os sete dias inteiros que escutava em sua cabeça as últimas quatro palavras que escutou de seu amado. “Você me disse, ‘Eu te amo, garota’. Eu disse, ‘eu amo mais’. Então, depois de uma pausa pra respirar, você falou ‘se você diz’ (‘if you say so’ em inglês, as quatro palavras)”.

Em sua versão deluxe, o disco também conta com “What Is Love?”, que começa com tímidos pianos e cresce gradualmente até que alcance um arranjo orquestral, com a cantora e sua questão fundamental, “Gone Tonight”, que vem carregada por um instrumental mais sintetizado e também presente entre as melhores do disco, além de “The Bells”, que encerra o disco deixando os vocais de Lea em maior evidência.

Resumindo: Deixando de lado todo o contexto do disco lançado logo após Lea Michele perder o que seria o amor de sua vida, afinal, estamos aqui para falar apenas das canções, o que temos é um disco extremamente limitado à um pop barato e preso a uma zona de comodismo, com canções que, em algum momento, não ficaríamos surpresos se fossem divulgadas como descartadas da Kelly Clarkson ou Demi Lovato — o que não é necessariamente ruim, pois tem quem goste de Kelly Clarkson e Demi Lovato, certo? Com tantos bons nomes envolvidos, “Louder” também tem seus acertos, como apontamos acima, mas ainda é composto por uma sequência de erros e influências suspeitas, o que faz com que duvidemos que ela sobreviva até um segundo álbum após essa estreia nada memorável.

disqus, portalitpop-1

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