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Album Review: Lily Allen quer nos introduzir às palavras de "Sheezus" e já podemos dizer amém


Quando a cantora Lily Allen deu os primeiros indícios do seu retorno, a internet foi a loucura. Dona dos álbums "Alright Still" e "It's Not Me, It's You", a britânica é uma das artistas mais legais quando a missão é trazer boas composições para as rádios e, de fato, estávamos certos de que ela não nos decepcionaria, mas ainda assim, não conseguimos fugir do susto quando ela surgiu com "Hard Out Here", o primeiro single do seu terceiro álbum.



Numa fórmula controversa, extremamente radiofônica em sua melodia e medonha para as rádios com todos os "bitches" de sua letra, "Hard Out Here" era o single de retorno dos sonhos de qualquer cantora. Lily Allen volta então aderindo às tendências atuais, tanto musical quanto visualmente, mas com a desculpa de que é tudo uma grande zoeira. Uma paródia do que o público se mostrava satisfeito em consumir. Num claro ataque ao cara do momento, Robin Thicke, além de levantar então a bandeira feminista de maneira bem inusitada, com ela cantando sobre o quanto o mundo é difícil para as "vadias". A música conquistou rápido o público e, se tinha alguém que não tava ansioso por sua volta, as coisas mudaram.

Controversa é, inclusive, a palavra da vez. Enquanto a maioria das cantoras surtam pensando em títulos para seus discos, buscando aquele significado artístico que dê um nó em nossas cabeças ou simplesmente jurando muita intimidade e personalidade com discos que carregam seus respectivos nomes, Allen teve isso como outro artifício para uma sacada genialmente hilária, dando ao seu terceiro disco o nome de "Sheezus".

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A brincadeira é com o último álbum do Kanye West, "Yeezus", além de elegê-la uma versão feminina de Jesus, mas antes que pensem o contrário, ela garante se tratar de uma grande homenagem, ainda que hajam controvérsias. A última vez que vimos um título de álbum ser tão descompromissadamente bem escolhido foi em meses anteriores, com Miley Cyrus, de longe uma das artistas pop mais interessantes da atualidade, e seu "Bangerz".



Aberto por sua faixa-título, "Sheezus" é um álbum propriamente pop. Em sua primeira canção, Lily Allen investe pela primeira vez na trap music, o dubstep do hip-hop, e com uma notável influência da rapper M.I.A., cantando sobre a competição do mercado pop. Dando margem para as mais diversas interpretações, a música cita diversas cantoras grandes atualmente, como Katy Perry, Rihanna, Beyoncé e a neozelandesa Lorde, além de intitular Lady Gaga um "mártir" por tanto defender a sua arte em meio às baixas vendas do seu último disco. O ponto duvidoso em questão fica para quando tentamos decidir se a música é ou não uma alfinetada em todos esses nomes, principalmente depois do verso "o segundo lugar nunca é o suficiente para as divas, então me dê essa coroa, vadia, eu quero ser Sheezus". Quem precisa ser rainha de alguma coisa quando se é uma divindade?

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Fazendo tremer até os dedos dos pés dos fãs mais antigos, "L8 CMMR" mantém o pop em alta no disco, sendo uma das mais eletrônicas da produção. Aqui, ela canta sobre o seu amado retardatário já ter dona, mais de maneira bem divertida, em meio aos synths e batidinhas 8-bit. Mesmo conceito abordado em seu lyric video.



Perto de encerrar a sequência de singles que precedeu o lançamento do álbum, "Air Balloon" é uma das mais radiofônicas do disco. Na música, nem a citação ao Kurt Cobain a tornou menos comum que as músicas de cantoras como a Katy Perry, por exemplo, mas não há realmente um problema nisso, certo? A propósito, a própria Allen se mostra bem perdida em sua letra, talvez pela vertigem em estar tão alto. "Venha me encontrar no céu, estou esperando por você".

Quando criticada por um fã pelo Twitter, que confessou ter se decepcionado bastante com os primeiros singles de "Sheezus", Lily foi contra a postura tradicional e, em vez de simplesmente ignorar o comentário ou contradizê-lo, defendendo o que estava lançando, ela foi lá e concordou com o cara, dizendo que a gravadora não a deixava lançar os singles que queria, mas que o álbum teria coisa melhor. Agora que podemos ouvi-lo, temos que concordar com cada uma de suas palavras, mas só sentimos uma dor no coração em saber que, tanto nos comentários do tal fã quanto nos dela, essa decepção incluía a canção "Our Time", uma das melhores da nova era.



Sendo bem característica dos grandes sucessos de Allen ("Smile" e "22", por exemplo), a música é um hino em prol do carpe diem, do aproveitar o momento sem se importar com o que estão pensando ou fazendo, e consegue alinhar bem o conceito da letra com outra produção pra lá de funcional para as rádios.

"Insincerely Yours" dá sequência ao álbum e aos shades. Desta vez numa clara crítica ao que a mídia se tornou atualmente, Allen vem com um R&B delicinha pra questionar o que aconteceu com as revistas dos dias de hoje, dizendo que não se importa com quem a Cara Delevigne ou a Rita Ora estão namorando ou com os filhos feios que acabaram de nascer de fulano. Hahahahah. Sem precisar esconder esse fato, ela ainda afirma em sua letra, "vamos ser honestos, eu estou aqui pra fazer dinheiro".

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Depois de tanto ficar na defensiva, eis que a cantora finalmente mostra que também não é de ferro e em "Take My Place" confessa que a pressão às vezes é demais. Na baladinha, bem expressiva, Lily perde o tom divertido predominante na primeira parte do álbum, dando lugar à uma vulnerabilidade digna de trilha-sonora para um ótimo filme. Daria um single e tanto. 

O amor é lindo, mas também ridículo com "As Long As I Got You", que volta a animar o disco depois da quebrada de clima anterior, apresentando agora um country que, obviamente, nos remete ao hino "Not Fair". Desta vez, ela canta sobre o quanto o cara mudou sua vida desde que nela entrou, mas de forma desesperadoramente animada, afirma precisar de ajuda com todo esse sentimento medonho. "Enquanto eu tiver você, poderemos ser só nós dois juntos e pra sempre e tá tudo certo"

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Já com seus sentimentos sob controle, Lily Allen está irresistivelmente sedutora em "Close Your Eyes", enquanto promete nos seduzir ao som de um R&B que nos remete aos ápices sexuais, musicalmente falando, de nomes como Beyoncé, que também é citada nesta música, e Mariah Carey. O clima, porém, logo é interrompido outra vez, agora para uma ~homenagem~ a nós, meros blogueiros, na fantástica "URL Badman".



Introduzida por uma mãe chamando seu filho para comer (hahahaha!), "URL Badman" coloca no lugar alguns críticos da internet, que agem como se a sua palavra fosse a única que merece alguma atenção no resto do mundo. Por mais que façamos parte deste meio da blogosfera, temos de concordar sobre o quão ruim é boa parte deste universo, que no fim das contas envolve muitas brigas de ego acima do principal, que deveria ser o conteúdo, mas não temos como ser ofendidos pela música, que repete o feito eletrônico de "L8 CMMR", agora no tom timidamente agressivo do dubstep e o sample de um bode (!!!). Aliás, só a gente imagina o Perez Hilton indo comer depois que a mãe chama pelo Alexander? Rs.

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Encerrando a versão standard do álbum, temos então um trio e tanto. De volta à pegada urbana, "Silver Spoon" reforça a controvérsia do disco, enquanto Lily Allen apenas se diz injustiçada por julgarem que ela teve uma vida fácil por não ter passado por dificuldades na infância, enquanto "Life For Me" traz uma sonoridade meio Passion Pit/Vampire Weekend, com a cantora dizendo que não está tendo uma crise da meia idade, enquanto, de fato, reclama justamente sobre isso, e a já dissertada "Hard Out Here", que só deixa claro, caso haja alguma dúvida, que pra ela tudo isso tem sido bem difícil.

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Abrindo a versão deluxe do álbum, "Wind Your Neck In" é uma das produções mais sensacionais de todo o disco. Enquanto preparava o público para o novo álbum, Allen confessou que sua confusão com a rapper Azealia Banks foi uma das coisas que a inspirou nas novas composições e temos uma teoria sobre ter sido esse um dos auges dessa inspiração. Na música, que de certo também funcionaria muito bem como um single, a cantora afirma que pode cuidar das suas coisas sozinha, sem que ninguém fique opinando ou dizendo como ela realmente deveria fazer isso, enquanto pede pra que a outra fique na sua. "Não há nada para ver aqui, por que continua aí? Você não pode só virar as costas e voltar para a sua caixa?".

Dando espaço para a vulnerabilidade de "Take My Place" outra vez, em "Who Do You Love?" a cantora clama por um pouco de atenção, enquanto te faz um convite para ver como as coisas funcionam no seu ponto de vista. No mesmo climão pra baixo, "Miserable Without Your Love" é mais uma sincera confissão quanto a sua necessidade de ser amada, necessidade que, sejamos sinceros, todos nós sentimos em algum momento, enquanto ela canta "Eu sou linda, poderosa, modista, animal, mas uma miserável sem o seu amor". Certo, talvez não tenhamos alcançado esse nível em momento nenhum, o que parece ser bom.

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"Holding On To Nothing" é daquelas que botam em xeque as escolhas para as versões deluxe e standard da tracklist do álbum, num arranjo que começa ao piano e cresce gradualmente, remetendo também a algumas canções da Regina Spektor e Sara Bareilles, a música reforça o fato das músicas finais do disco levantarem uma bandeira mais sentimental, longe de qualquer polêmica com rappers, cantoras, paradas e whatever, tendo apenas Lily temendo amar a pessoa errada, tentando encontrar um apoio enquanto não se sustenta em nada. É uma das mais injustiçadas quanto ao título de faixa-bônus que, no fim das contas, só deveria pertencer ao cover de "Somewhere Only We Know", música que, na prática, abriu os trabalhos com o novo álbum, e termina também encerrando a sua tracklist de maneira simples e, ainda assim, majestosa.



Por fim, sim, "Sheezus" é um disco e tanto e só reforça o quanto Lily Allen merece ser admirada por seu trabalho e versatilidade na música ("Eu tenho uma coleção de discos muito boa. Sim, tenho tudo o que sai da Def Jam. Eu tenho hip-hop, dubstep... Vou nos levar direto do nascer ao pôr do sol"). De início, tudo soou um pouco confuso, enquanto decidíamos se estávamos mesmo assistindo a uma grande paródia da indústria ou sendo vítimas de uma propaganda enganosa, enquanto ela, de fato, seguia as tendências atuais, fingindo só tirar onda com tudo isso, mas se os primeiros singles exageravam o tom irônico que a tornou famosa, até soando apelativo em certos momentos, como os em que ela cita tantos nomes, as outras músicas presentes no disco só comprovaram que ela também continua tão boa quanto antes e arriscamos dizer que até melhor. Com sinceridade, só terminaríamos mudando algumas ordens da tracklist, tanto pela justiça à "Holding On To Nothing" quanto por algumas quebradas de clima proporcionadas pela própria, mas não tem como achar ruim um disco que tenha "Our Time" entre suas faixas.
disqus, portalitpop-1

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