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Album Review: The Pretty Reckless faz de "Going to Hell" seu paraíso crítico e controverso


Liderada pela talentosa e bela atriz Taylor Momsen, a Pretty Reckless chegou de mansinho em 2010 com o lançamento de "Light Me Up", seu álbum de estreia, que colheu elogios de diversas partes do mundo e ofereceu a eles um caráter de estrelas do rock em ascensão.


Neste ano eles voltaram com seu segundo álbum, para mostrarem que estão mais do que certos no caminho, embora o famigerado desafio cause um certo medo. Ainda mais quando se trata de bandas que gostamos. E cercados de mais polêmica ainda  seja pelos diversos trailers e campanhas que antecederam a divulgação, até a ousadia da Taylor na capa do álbum (OMG!), ou ainda pelas letras sem qualquer medo de censura, lidando com um tema pra lá de polêmico como o religioso , lançaram "Going to Hell".

Como o seu título pode sugerir e o passado da banda também, eles brincam pesadamente com temas religiosos, mas de uma forma habilmente trabalhada em cima de interações bastante consistentes, além de impressionantes solos de guitarra. Composto por 12 faixas (todas escritas por Taylor), é um álbum bem sólido, porém, será suficiente para pularem a barreira do segundo lançamento?


1) "Follow Me Down"
Uma simulação de sexo, água escorrendo da torneira, grilos ao fundo, sirenes, tudo isso pode ser ouvido no começo da faixa que abre o álbum. Se a intenção é chocar (coisa que a banda sabe fazer como ninguém), eles estão indo pelo caminho certo. Após essa interlude, "Follow Me Down" já começa lá em cima, com arranjos pesados, puro rock 'n' roll e uma ousadia que falta à maioria das bandas atualmente. É um belo ponto. Os vocais de Momsen são impecáveis, isso é um fato. Ela tem nuances vocais que dão inveja a muitos vocalistas atuais e defende seu estilo com unhas e dentes, sendo uma ótima representante do gênero.

2) "Going to Hell"
A faixa-título é bem sugestiva para a proposta do álbum. Sendo categórica no primeiro verso "Não me abençoe, padre. Eu pequei.", "Going to Hell" para a Pretty Reckless, nada mais é que trazer o lado chocante e do combate, para mais perto daquilo que eles fazem de melhor: o lado roqueiro polêmico, porém de forma bastante simples, com um pouco de diversão, tiradas inteligentes e opiniões fortes aqui e ali, dando ainda ótimos arranjos em guitarras pesadas. Aqui, seria como se a personagem fizesse uma confissão, logo após voltar da desgraça, querendo pecar ainda mais, por se considerar uma alma perdida: "Pelos versos que usei, eu vou para o inferno. Pelo amor que eu vou fazer, vou para inferno. Sendo carregada pelo diabo, você pode ouvir os sinos do casamento". Nestes versos estão sintetizados grande parte do álbum. Cheio de atitude, polêmica ou interesse pelo choque. Depende da forma que analisar.

3) "Heaven Knows"
Com samples de "We Will Rock You" do Queen e "Another Brick in the Wall" do Pink Floyd, "Heaven Knows" usa um monte de palmas e um coral grandioso, dando-lhe um caráter de faixa épica em volta de uma letra que "brinca" com a relação das pessoas com a fé, onde (na visão da banda) a maioria das pessoas esconde seus verdadeiros "eus" por trás de uma falsa devoção. Usando metaforicamente uma escola e sua disposição de cadeiras em sala de aula como pano de fundo, Taylor canta: "Jimmy está lá atrás com o bolso cheio de drogas. Se você escutar atentamente, pode ouvi-lo chorar. Oh Senhor, Deus sabe (...). Judy está no banco da frente apanhando lixo. Vivendo de doações, precisa conseguir aquela grana. Não vai ser bonita. Não vai ser amável. Ela está apenas em pé. Cantem 'Oh Senhor, Deus sabe. Nosso lugar é bem lá embaixo'", para confirmar sua teoria de que todos possuem algo escondido atrás de (falsas) orações.

4) "House on Hill"
Aqui, temos provavelmente uma das faixas mais impressionantes do álbum, embora definitivamente não seja uma das mais pesadas. Optando por vocais muito tranquilos e melódicos, Taylor está toda saudosista numa bela rock ballad.

5) "Sweet Things"
Faixa com maior duração, "Sweet Things" também é uma das mais pesadas. Desde sua letra e vocais, até seu riff de guitarra, que flertam com o metal, tudo se encaixa melodicamente. E ainda tem um vocalista masculino ajudando nas partes mais densas da faixa que fala implicitamente sobre pedofilia: "O mal, batendo na minha porta. O mal, fazendo-me uma prostituta. Eu não me importo se você pegar o que é seu. Mas me dê o meu. (...) Olá, menina. Venha para dentro, eu tenho algumas docinhos. Coloque o seu cabelo em cachos, pinte-os apenas como uma drag queen".

6) "Dear Sister"
A próxima faixa é a mais curta, funcionando mais como uma interlude para a seguinte. É, basicamente, apenas uma guitarra acústica e a voz de Taylor cantando de forma melódica, porém, é mais uma prova de seu talento genuíno como vocalista.

7) "Absolution"
Bela faixa, "Absolution" começa de forma acústica e constrói toda uma relação especial em uma canção que, realmente, se encaixa no molde do que eu penso quando ouço "O The Pretty Reckless acabou de lançar uma música nova". Vocais no ponto, arranjos pra não botar defeito e atmosfera densa. Tudo em seu devido lugar. Mais um acerto.

8) "Blame Me"
Flertando com o rock alternativo, "Blame Me" parece querer ir um pouco mais além do que aquilo que já nos habituamos da banda (o que não é ruim), e assim consegue se destacar do restante do álbum, justamente por deixá-lo mais equilibrado em meio à toda sua densidade polêmica.

9) "Burn"
Um dos singles promocionais do álbum, "Burn" nos remete imediatamente à "Just Tonight", uma das excelentes faixas do álbum de estreia da banda. Acústica, crua, vocais excelentes da Taylor, mostrando toda sua habilidade nos melismas e com a sensação de estar incompleta, por causa de seus menos de 2 min de duração. É uma ótima (mais uma) faixa sobre a submissão à dor: "Aí vem a escuridão. Ela está comendo toda a minha alma. Agora, todos os brilhos estão fora de controle. O fogo está sendo controlado, não consigo encontrar a porta. Eu só quero morrer aqui, mas você quer mais. Você quer me queimar, quer me queimar, quer me machucar. E talvez eu vou finalmente aprender".

10) "Why'd You Bring a Shotgun to the Party"
Outra das faixas pesadas do álbum, a música abusa da sensação de desconforto para construir o ambiente que ajuda torná-la muito interessante. Trazendo um ar de rock oitentista e ainda o som de uma arma sendo engatilhada e mais tarde alguém levando-a para uma festa, prevendo provocar um mar de sangue (que de fato acontece ao seu final), até surgir a pergunta-título no final "Por que você trouxe uma arma para a festa?". Tarde demais.

11) "Fucked Up the World"
Em um álbum tão interessante, talvez seja essa a nossa única lamentação. "Fucked Up the World" é a faixa mais arrastada do álbum e passa bem despercebida (na verdade, sempre a pulamos mesmo rs).

12) "Waiting for a Friend"
Finalizando, temos a ótima "Waiting for a Friend". Também acústica e apostando de novo no dinamismo vocal de Taylor, é meio que estivéssemos sentados, à beira de uma fogueira, enquanto a cantora interpreta a faixa, que ainda conta com gaitas e o violão. Legal ouvir, depois de várias coisas raivosas, um lado mais vulnerável. Belo encerramento para uma banda que passa credibilidade, mas, por vezes, ameaça minar o seu talento espetacular com a controvérsia que marca sua carreira.

Concluindo:
Resenhar um álbum da Pretty Reckless não é das tarefas mais fáceis, porque eles não são uma banda de simples digestão e nem que atingem todos os públicos, sendo algo mais pessoal e que pode variar de acordo com o grau de importância que damos às suas polêmicas letras. Porém, vale o registro: eles são extremamente talentosos e já tinham comprovado isso em seu material de estreia. "Going to Hell" é, com louvor, mais uma prova disso. Taylor tem uma voz maravilhosa e me impressionando bastante, o segundo álbum da banda é corajoso e até arriscado para os padrões atuais, porém, é muito consistente na mensagem que eles pregam e, principalmente, de forma sonora. Quanta às polêmicas, a música, assim como qualquer outra forma criativa, deve ser defendida apenas como arte e não causar banimento pela liberdade de expressão pregada porque eles citam demônios, demônios e mais demônios, além de tripudiarem da religião, ou tocarem em temas bem polêmicos, como pedofilia. Esqueça isso e apenas divirta-se. Nós fomos convidados a conhecer o inferno com eles, aceitamos e não nos arrependemos. Se você se permitir, pode ser proveitoso também, amém?

disqus, portalitpop-1

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