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Album Review: "1000 Forms of Fear", Sia (Parte 1/2)


"Você vê que o medo só está nos prendendo ao passado", cantou Sia em "Fear", primeira faixa do álbum "Healing Is Difficult", segundo disco de inéditas da sua carreira e primeiro desde a morte do seu namorado, em um trágico acidente de carro, lançado em 2001, bem antes dela dominar as rádios por meio de colaborações e composições para grandes artistas pop.



Com 38 anos, Sia Furler é uma cantora e compositora australiana e, em sua discografia, já contava com cinco discos lançados, além de alguns sucessos moderados, como "Breathe Me", do disco "Colour The Small One" (2004), presente na trilha-sonora de "Six Under Feet", da HBO, "You've Been Loved" e "Clap Your Hands", mas só depois de 2010, quando colaborou nos trabalhos de Christina Aguilera com o disco "Bionic" — Sia está por trás de "You Lost Me", "All I Need" e "I Am" — que conquistou uma maior exposição, chamando a atenção de uma série de outros artistas com quem colaborou mais tarde, na interminável lista que inclui David Guetta ("Titanium"), Rihanna ("Diamonds"), Britney Spears ("Perfume"), Beyoncé ("Pretty Hurts"), Katy Perry ("Double Rainbow"), entre outros.



Tão envolvida com nomes mais famosos e propriamente pop, era de se esperar que seu público, aquele que já a conhecia antes de "Titanium", temesse o que viria em um próximo disco, até por já assistir novelas semelhantes com outros artistas, que mudam completamente na primeira oportunidade de conquistar o mainstream, mas tivemos a certeza de que Furler não estava afim disso quando a moça apareceu na capa da revista Billboard, pouco depois de lançar "Elastic Heart", parceria com o Diplo e The Weeknd para a trilha-sonora de "Jogos Vorazes: Em Chamas", com um saco na cabeça, iniciando a genial estratégia de marketing do seu novo e, até então, não anunciado sexto disco, "1000 Forms of Fear".



O conceito de estrela pop que não quer ser famosa é encantadoramente instigante. Se lembram de quando todos piraram com Lady Gaga e seus figurinos extravagantes? A chegada em premiações dentro de ovos, vestindo carne, com o rosto coberto por fantasias esquisitonas... Tudo isso contribuiu pra que ela fosse assunto e conquistasse um público assustador, e o mesmo se repete com Sia, que nega fielmente estar interessada em todo este circo, enquanto se torna a protagonista de um dos espetáculos pop que mais valeram a pena assistir em anos. Mas tudo é bem justificável. Sia vem de um histórico de superações, visto que já enfrentou o vício em alcool e drogas, além de ter sofrido depressão e quase se matado, em tempo que também lida com um distúrbio que lhe causa muita ansiedade e oscilações emocionais, o que explica a sua famigerada aversão à fama. A maneira como isso é trabalho, porém, é o que torna tudo ainda mais fascinante.



O novo trabalho de Sia foi inicialmente promovido pelo single "Chandelier", uma poderosa baladinha que, segundo a própria, era boa demais para ser oferecida para outra cantora, e para divulgá-la, ainda que não fosse obrigada contratualmente a tal, Furler realizou performances misteriosas na televisão, cantando de costas, deitada, sentada, mas nunca aparecendo para o público. Fazendo do seu cabelo a marca de um hino sem rosto, rosto que não é novidade pra ninguém que a acompanhava antes de "Titanium". E ainda que ninguém tivesse notado, nem a gente!, a proposta de não aparecer começou bem antes deste primeiro single. Suas parcerias com David Guetta e Flo Rida, por exemplo, não mostram seu rosto nos videoclipes, com o coletivo de hip-hop Hilltop Hoods (em "I Love It") o mesmo acontece e, já se atentaram ao clipe de "Battle Cry" da Angel Haze?, temos o reflexo da cantora, ou alguém vestindo a sua peruca, dançando em meio a muita fumaça. Genial. Sério.



"1000 Forms of Fear" bem poderia ser a redenção pop de Sia, que tinha tudo para aproveitar a oportunidade pegando carona na fama adquirida por ter suas músicas cantadas por Rihanna e Beyoncé, mas ela fez melhor e resolveu recusar a proposta — provavelmente irrecusável para outras compositoras de backstage que seguem em busca de uma ascensão, como Bonnie McKee e Ester Dean —, enquanto nos presenteia com o melhor álbum do ano até agora, mesclando o que se tornou radiofônico graças a suas composições para terceiros com o que sempre fez de melhor e, claro, mostrando também todas as suas formas de medo, sem medo de assumi-los, como deve ser.

Leia também a parte dois! :)

disqus, portalitpop-1

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