Por anos, Ariana Grande foi apenas uma menininha ruiva que quase não chamava atenção como coadjuvante em "Victorious", série da Nickelodeon. No ano passado, porém, a bela atraiu todos os holofotes com o lançamento do "Yours Truly", seu primeiro e aclamado álbum que lhe rendeu o primeiro lugar nas paradas Billboard.
De lá pra cá, Ariana se tornou conhecida por um estilo bem diferente de suas colegas teen. Marcadamente R&B e inspirada pelo que bombava lá nos anos 90, a menina foi sempre comparada com Mariah Carey, especialmente pela voz aguda e marcante. Mas eis que em 2014, Grande decidiu por um fim nisso tudo.
O "My Everything", segundo álbum de Ariana, foi lançado há menos de um mês e já marca um período de transição na carreira da cantora. Sai a garotinha inocente, vintage e sonhadora do "Yours Truly"e entra uma Ariana mais madura e mais ousada. A certeza e a firmeza do passado, porém, acabam num clima de instabilidade que percorre seu novo trabalho.
Com a ajuda da produção de Max Martin, Zedd e Ryan Tedder, além dos featurings em diversas faixas, o "My Everything" peca na maior qualidade de seu antecessor: coesão. Ariana parece tanto buscar uma imagem mais madura que acaba atirando pra todos os lados, esquecendo algumas vezes do que ela realmente domina. Faixas pop e dance ganham espaço e sobra um lugarzinho até para EDM no segundo single lançado.
Vamos tentar entender a mistura proposta por Ariana?
1. INTRO
O álbum começa com uma faixa introdutória bem curta, porém marcante. Ariana canta apenas alguns versos, mas tem a chance de mostrar o melhor de sua voz, além de nos relembrar de toda a sonoridade do disco anterior. É a porta de entrada que se despede da Ariana de "The Way" e nos convida para embarcar com ela nessa nova empreitada!
2. PROBLEM (FEAT. IGGY AZALEA)
O sax dá o tom de uma das canções que mais bombaram ao redor do mundo esse ano. "Problem" é, de fato, o pontapé inicial da nova fase de Ariana. Primeiro single lançado é muito mais pop e dançante do que qualquer outra faixa lançada anteriormente pela moça. A participação de Iggy Azalea, outro fenômeno de 2014, só deixa as coisas mais divertidas e empolgantes. Um merecido hit.
3. ONE LAST TIME
A onda pop que parece ter tomado Ariana continua em "One Last Time", um dos destaques do disco. Com letra melancólica e batida marcada, a faixa é muito interessante e agradável de se ouvir. A voz de Ariana está, como sempre, poderosa, contudo controlada. A música remete à produções de outras cantoras como "King of Hearts" da Cassie, e o resultado não poderia ser mais satisfatório.
4. WHY TRY
"We've been living like devils and angels". A contradição do início de "Why Try" parece, de algum jeito, dar o ritmo do resto do álbum. Começando a destoar das faixas anteriores, a baladinha tem uma pegada mais urban e R&B. Composta por Ryan Tedder, responsável por hinos como "Halo" e "Already Gone", a música deixa um pouco a desejar se comparada com suas irmãs. A voz muito aguda de Ariana acaba se transformando numa série de gritos meio incômodos e falta fôlego para que a canção tenha, um dia, o poder do hit de Beyoncé.
5. BREAK FREE (FEAT. ZEDD)
Se já estávamos confusos até aquele ponto, nossa cabeça dá um nó após ouvir a faixa cinco. "Break Free" é assinada pelo Zedd, um dos DJs mais em alta no momento. Resta tentar entender por que Ariana sentiu a necessidade de investir num som EDM que não tem ligação nenhuma com o rumo de sua carreira. A faixa é genuinamente boa e funciona muito bem nas pistas e charts, mas é apenas uma escolha desnecessária, soando como desespero de Ariana para mudar, que tem capacidade de oferecer um material muito mais rico e interessante do que isso.
6. BEST MISTAKE (FEAT. BIG SEAN)
Depois de "Right There" e "Problem", Ariana aparece novamente ao lado de Big Sean, uma parceria de sucesso na música (e que pode estar rolando na vida real também). "Best Mistake" retoma a sonoridade fortemente urban e R&B, ainda com o acompanhamento de um piano, e os versos do rapper dão o tom certo da faixa que, antecedida por "Break Free", mostra mais uma vez, o problema de coesão no álbum.
7. BE MY BABY (FEAT. CASHMERE CAT)
Apesar da produção e participação do DJ Cashmere Cat, "Be My Baby" soa como uma faixa perdida do "Yours Truly". Todos os elementos que, no ano passado, marcaram o estilo de Ariana voltam com força total: a influência dos anos 90, o refrão fácil, a melodia suave. Alguns efeitos aqui e ali denunciam um detalhe de EDM, característico do produtor, mas fica a dúvida de quanto Ariana se propôs mudar.
8. BREAK YOUR HEART RIGHT BACK (FEAT. CHILDISH GAMBINO)
Acompanhada do rapper Childish Gambino, Ariana traz uma faixa bem interessante, sabendo dosar de maneira sábia a mistura pop e urban. O resultado final é divertido e a música é uma das mais cotadas para assumir o posto de novo single do álbum.
9. LOVE ME HARDER (FEAT. THE WEEKND)
"Can you feel the pressure between your hips?". Chega então o ápice do disco e vemos que Ariana realmente mudou. "Love Me Harder" é um hino transformador e uma das melhores canções de toda a sua carreira, ao lado de "Honeymoon Avenue". O dueto com o The Weeknd tem o tom exato para ser tudo que quiser. É romântica, sexy, dançante e madura. É a faixa que marcaria a transição ideal de Ariana entre o R&B e o pop e quem dera o disco todo acompanhasse os passos da música.
10. JUST A LITTLE BIT OF YOUR HEART
A primeira baladinha clássica do álbum traz acompanhamento de piano e letra composta por Harry Styles, isso mesmo, o membro mais popular do One Direction. Talvez por essa razão foi uma das faixas que se destacou no semana de lançamento do disco no iTunes. De resto, nada de novo. A interpretação de Ariana continua boa, mas a faixa corta toda a energia que "Love Me Harder" trazia e acaba parecendo uma daquelas baladinhas melodramáticas de novela do Manoel Carlos.
11. HANDS ON ME (FEAT. A$AP FERG)
Se Ariana queria mesmo provar que amadureceu, "Hands On Me" apaga qualquer registro de inocência do seu passado. Com muitas referências sexuais ("you just keep your eyes on my you-know-what"), a música, em parceria com o rapper A$AP Ferg, é uma das mais dançantes do álbum e nos remete ao passado safadinho de outras estrelas pop como Britney em "I'm A Slave 4 U" ou Aguilera em "Dirrty". Mais uma vez, a ordem das faixas deixa tudo bastante estranho.
12. MY EVERYTHING
Fechando a versão standard do álbum, temos a faixa-título que é uma clara continuação da "Intro". Em mais uma balada romântica acompanhada de piano, Ariana demonstra de novo a delicadeza dos vocais, mas nos faz questionar pela última vez: se o álbum começa e termina com faixas "iguais", o que foi toda essa bagunça que ouvimos no meio?
13. BANG BANG (COM JESSIE J E NICKI MINAJ)
Iniciando as faixas bônus, temos o hit single "Bang Bang", faixa de Jessie J, incorporada no disco de Ariana. As duas ainda recebem a ótima companhia de Nicki Minaj que tem grande destaque na faixa. Uma produção pop vibrante e que tenta dar um espaço democrático para as três artistas, mas que acaba não sendo tão fácil de ouvir por tamanha gritaria o tempo todo.
14. ONLY 1
Se Ariana queria desvincular sua imagem de Mariah Carey, passa bem longe de suas intenções em "Only 1". A faixa é ótima e segue todo o esquema aclamado do "Yours Truly" com batidas de R&B e aquele clima gostoso de anos 90, mas nos deixa com uma interrogação na cabeça: afinal, Ariana quis mudar ou não?
15. YOU DON'T KNOW ME
Para encerrar as bônus, mais uma que parece dispensada do "Yours Truly". Falando sobre imposições da fama e como nem tudo é o que parece ser, Ariana vem acompanhada da fórmula que mais funcionou em sua carreira e fecha o disco em grande estilo.
RESUMINDO: o "My Everything" tem momentos ótimos. Os grandes destaques do disco como "Love Me Harder" superam, e de longe, as faixas do seu antecessor. Porém, o que foi tão elogiado no "Yours Truly", essa sintonia, essa harmonia entre cada música, resultando num álbum "redondinho" é justamente o que falta para a aposta atual de Ariana. A moça já disse ao que veio, já fez sucesso, já foi elogiada pela crítica, mas pra onde ela vai seguir agora?