Desde que surgiram para o grande público no primeira metade dos anos 2000, a banda Maroon 5 se especializou em produzir hits e mais hits, e olha que eles mudaram bastante a sonoridade que os levou ao estrelato com "Songs About Jane" (2002) até agora. Do pop rock de "This Love" ao pop descartável de "Payphone", 12 anos se passaram. No último lançamento, "Overexposed" (2012), por exemplo, eles pensaram apenas em criar smash singles, sem pensar, necessariamente, no conjunto.
Agora, em 2014, chegamos ao "V", quinto álbum em estúdio de Adam Levine & Cia, que, diferente do anterior, pretende provar que é possível ter inúmeros hits e ainda assim manter o equilíbrio. Para isso, recrutaram um time de produtores e compositores consistentes, como Sia, Ryan Tedder, Shellback, Benny Blanco, Cirkut, entre outros. Mas será que isso tudo foi suficiente para deixá-lo equilibrado? Confiram na nossa review.
Seguindo a rotina de hitmakers, o álbum já começa arrasador com "Maps". Co-escrita por Adam Levine e Ryan Tedder, que também a produziu, juntamente com Benny Blanco, temos um viciante e intenso midtempo pop, falando sobre um relação não correspondida, mas que, assim como um mapa, te indica sempre a posição correta para segui aquela pessoa. Ok, a faixa não traz nada de revolucionário (e chega a lembrar em alguns momentos "Am I Wrong", do Nico & Vinz) em tempos de coisas bem descartáveis no cenário pop, mas ainda sim, é impossível não se pegar cantando "So I'm following the map that leads to you. The map that leads to you. Ain't nothing I can do. The map that leads to you. Following, following, following to you". Viciante.
"Querida, estou caçando você hoje à noite. Te persigo, para te comer viva, como animais, animais" diz Adam Levine nos primeiros versos da segunda faixa do "V", que, assim como a de abertura, tem um poder absurdamente pop e radiofônico, não à toa, virou o segundo single. A faixa é sobre um amor psicótico e obsessivo, em que um quer tirar vantagens do outro, "É como se não pudéssemos parar, somos inimigos. Mas nos damos bem quando estou dentro de você. Você é como uma droga que está me matando. Eu tento me desintoxicar completamente, mas fico extasiado quando estou dentro de você".
Se as duas faixas anteriores eram arrasadoras, "It Was Always You" vem para completar a trinca perfeita desse começo de álbum. Flertando com o synthpop e uma vibe meio 80's, temos um saudosismo declarado por uma oportunidade perdida: "Acordei transpirando em um sonho, com uma sensação diferente. O dia todo o meu coração esteve batendo, procurando por um sentido. Olhos cor de mel, eu estava tão cego. Estávamos apenas perdendo tempo. Por toda minha vida, nunca cruzamos a linha. Somente éramos amigos na minha cabeça. Mas agora percebi, que sempre foi você".
"Se você me respeita. Não me proteja. (...) Se você tem que ir, então apenas vá", é forte desse jeito que Adam inicia a quarta faixa, que fala sobre um relacionamento confuso, onde as brigas e a falta de confiança predominam. Midtempo delicioso e, apesar de um tom agressivo em sua letra, é melodicamente calmo. Perfeito para equilibrar a agitação causada pelas três faixas anteriores.
Bebendo da mesma fonte da anterior, temos um "Sugar" outro midtempo que funciona bem nessa questão de ~conter a agitação~. A propósito, a faixa é esperada para ser o terceiro single oficial do álbum. Escolha acertada? Ao menos pra mim, não.
Quando, teoricamente, a escolha do próximo single deveria passar por uma baladinha, a escolha mais natural deveria ser pela sexta faixa. A produção de Benny Blanco em "Leaving California" é extremamente suave e marcante para a banda, porque representa uma ode ao seu passado e, especialmente, aonde tudo começou: na Califórnia. Além de ter uma história de amor toda fofa por trás.
Se tem uma faixa que realmente me fez parar tudo que estava fazendo e admirá-la no álbum, é esta. "In Your Pocket" tem uma pegada arrasadora, que não nos surpreenderia caso tivesse aparecido lá no começo do álbum. Altamente contagiosa, temos aqui um possível hit gritando para ser single o mais rápido possível.
Aqui, temos uma tentativa de trazer algo novo para o som deles, mesmo que soe cansativa. Por mais que seja ainda uma faixa bem pop, "New Love" aposta numa aceleração rítmica e flertando com um lado mais new wave, apostando nessa mistura eletrônica-experimental-pop, para ficar convidativa.
Flertando com a disco music, percussão leve e bem marcada, temos uma nova tentativa de novidades sonoras. "Comeback For You" é um midtempo de letra de bonitinha e apaixonada sobre uma possível reconciliação: "Eu sei que tem milhões de milhas entre nossos corações, mas eu voltarei correndo por você não importa a distância. Quando você fecha os olhos. Você me vê, amor?".
Depois de duas tentativas em criar um novo modelo de som e acertar pela metade, Maroon 5 consegue na décima faixa, enfim, o êxito. "Feelings" é uma faixa surpreendente e catchy, guiado pelos falsetes sensuais de Adam em meio à uma disco music deliciosa, que poderia ter contado facilmente com a participação de Nile Rodgers. Sabemos que jamais será single, mas não custa sonhar, né?
Encerrando a versão padrão, assim como fez com Christina Aguilera na época que esta era sua colega de poltrona no The Voice, Adam Levine convidou a, agora mentora do The Voice, Gwen Stefani, para dividir com ele os vocais da baladinha "My Heart is Open", co-escrita por ninguém menos que a hitmaker Sia Furler. Assim como "Unkiss Me", "Sugar" e "Leaving California" cumprem muito bem o papel de equilibrar o astral do material, a décima primeira faixa faz isso também. Calminha e fofa, permite que os dois cantores brilhem sem se excluir, sendo perfeita para corações apaixonados.
A versão deluxe começa com a insossa "Shoot Love". Se não fosse o fato dela ser rapidamente digerida, justamente por ser descartável, me incomodaria mais. Nada acrescenta. Enquanto ela toca, vocês 3 minutos e 11 segundos para irem ao banheiro.
Após a pausa, podemos encerrar o álbum com ótimo gosto. Duas baladinhas incríveis ficaram incumbidas dessa parte. A primeira, é um cover para "Sex and Candy", da banda Marcy Playground, gravada originalmente em 1997. Nele, Adam dá sua cara e uma roupagem totalmente acústica, nos fazendo lembrar com saudosismo das baladinhas que o consagraram nas fases inicias da banda.
Para encerrar, temos "Lost Stars", outra bela baladinha, mas essa pertencente apenas ao Adam, mas encaixada num álbum da banda. A música, faz parte da trilha sonora de "Begin Again" ("Mesmo Se Nada Der Certo"), filme lançado em setembro e que marca a entrada do cantor no cinema. A música é linda, assim como sua letra e os vocais de Adam (soando muito bem em coisas mais acústicas), que cantam sobre "reencontrar-se com quem você é de verdade".
CONCLUINDO
Depois de enfrentar inúmeras mudanças de cenário, saindo do pop rock para algo extremamente pop em seu último álbum, que expôs a banda ao título de hitmakers pop, mas sem conteúdo, o novo trabalho consegue beber das duas fontes tranquilamente. "V" não é o melhor álbum deles, mas cumpre muito bem tudo aquilo que se propôs a ser. É radiofônico, equilibrado entre monster singles (as três primeiras + "In Your Pocket") e faixas bem escritas na maior parte do tempo, com direito até a algumas canções (especialmente as baladinhas) nos remetendo aonde tudo começou, lá em 2002. Embora hoje seja um caminho quase sem volta. Eles abraçaram mesmo o pop, e é isso. No mais, entre clichês, hits e coerência, Adam Levine & Cia criaram um ótimo álbum, porém, sem uma identidade mais forte. Mesmo que deixem sinalizado, ainda de leve, que possuem muito mais a oferecer.
Cultura pop do jeito que importa.