A história da cultura pop é feita por grandes marcos que vão de acertos aos erros. Seus fãs, por sua vez, estão sempre tão sedentos pelos dois lados da moeda que, na primeira oportunidade de desejar uma dessas coisas, nunca sabem se querem ver seu ídolo fazendo a melhor performance da sua vida ou todo um desastre que, por pior que seja, o tornará lembrança para todo o sempre.
Britney Spears é a personificação da cultura pop e tudo o que ela representa. Pensando em suas aparições no grandioso MTV Video Music Awards, conseguimos entender melhor como tudo isso funciona e então nos lembrarmos da incrível performance de “Slave 4 U”, em 2001, e da tragédia que foi a apresentação da mesma cantora em 2007, ao som de “Gimme More”, ambas quase que igualmente icônicas e sempre marcando presença nas listas de melhores/piores performances do evento americano.
A verdade é que o público, não só da música pop, é cruel e quer ver o seu artista errar, pela oportunidade de julgá-lo, apontar o seu erro e mostrar que, por mais inalcançável que pareça o seu status, ele é tão vulnerável quanto qualquer outra pessoa, mas tudo isso, tão corriqueiro para nomes como Britney Spears, Rihanna, Lady Gaga e afins, ainda é novidade quando aplicado à realidade de cantoras como Lana Del Rey, Lorde e MØ, recém chegadas ao posto de aspirantes à divas pop e, meu Deus, tão despreparadas pra toda essa crueldade.
Quando alcançou a posição de hitmaker por conta de “Royals”, a neozelandesa Lorde teve a sua vida dissecada por tabloides, blogs e etc, que decidiram colocar em exposição o seu namorado, tão diferente dos padrões que esperavam vê-la se preocupar, e foi a própria quem deu um basta nisso pelas redes-sociais, falando, não com essas palavras, que a vida era dela e, bem, o namorado também. Lana Del Rey foi um pouco mais longe. Em sua primeira grande performance nos EUA, no palco do Saturday Night Live, a menina se tornou piada na internet por conta da sua """coregrafia""" inusitada (de fato, ela começou a rodar pelo palco) e não demorou a mostrar o resultado da brincadeira em entrevistas, se intitulando uma performer ruim, e foi no mesmo palco que acompanhamos, nas últimas horas, a dinamarquesa MØ passar por algo bem semelhante.
Sendo uma das maiores revelações desse ano, a cantora MØ possui em seu histórico colaborações com produtores como Avicii e Diplo, e neste ano lançou seu primeiro CD, “No Mythologies To Follow”, de onde extraiu coisas como o single que cansamos de elogiar por aqui, “Don’t Wanna Dance”, mas numa nova estratégia de se tornar grande, a moçoila apostou num meio que tem dado bastante resultado na Terra do Obama: parcerias.
A primeira colaboração de MØ em sua busca pelo estrelato não poderia ser mais certeira. Ao lado da também revelação, mas desta vez vinda da Suécia, Elliphant, a dinamarquesa deixa a sua marca registrada em “One More” e nos lembra da razão de ser um nome tão significativo para ficarmos de olho, mas ela precisava de mais do que isso para ser assunto e foi aí que surgiu a chance de colaborar com Iggy Azalea em “Beg For It”, primeiro single da rapper australiana com o relançamento do seu disco de estreia, “The New Classic: Reclassified”, e composto por ninguém menos que a atual galinha dos ovos de ouro nos EUA, Charli XCX.
De início, tudo soou excitante demais. Iggy Azalea é uma das nossas rappers atuais preferidas e MØ também marca presença na nossa listinha de favoritas do ano, fazendo com que “Beg For It” fosse algo que não pudesse dar errado, mas deu. A questão é que, com as mãos de Charli XCX, tentaram fazer da música uma nova “Fancy” (que, por sua vez, é de Iggy Azalea com XCX, como você deve saber), e MØ ficou tão deslocada em toda a produção que custamos a encontrá-la, mais ou menos da mesma forma que nunca ouvimos Charli em “I Love It”, da dupla Icona Pop.
Até aí tudo bem. Essa era a primeira empreitada propriamente pop da cantora dinamarquesa e, dadas as circunstâncias e prováveis condições da gravadora, ela se rendeu a uma fórmula pronta, tudo por seu lugar ao sol, mas chegou o momento de fazer “Beg For It” acontecer, no palco do americano Saturday Night Live, e a tragédia estava feita. Além de não se encaixar na música em estúdio, MØ também não se deu muito bem com sua edição ao vivo e, pra piorar a situação, enfrentou no palco alguns problemas técnicos, que fizeram da sua participação um dos piores momentos da apresentação. Poxa.
Sem perder o fio da meada, esse texto começou falando sobre a Britney Spears e os fãs de cultura pop, sempre são cruéis. Tão cruéis que não perderam a oportunidade e lá foram rir da novata que pagou mico em rede nacional. Haha. Ela se perdeu no playback e mal conseguiu acompanhar o refrão. Hahaha. Ela nem sequer tinha presença de palco, foi ofuscada pela Iggy Azalea. Hahahaha. Por que essas cantoras continuam se metendo no mainstream, quando nem deveriam sair do Tumblr? Hahahahaha. Talvez ela devesse parar a apresentação e começar do zero, quem sabe assim consertando todo seu erro. Hahahahahaha. Essa era a sua primeira grande apresentação nos EUA e lá estão todos, tão superiores, a crucificando por isso. Hahahahahahaha. Imagine só se fosse a Britney Spears! Hahahahahahah.
Em suas redes-sociais, MØ afirmou estar muito triste com todo o ocorrido, visto que estava muito animada com o que deveria ser um dos maiores momentos de sua carreira e terminou vendo tudo ir por água abaixo, mas nós não estamos aqui para passar a mão em sua cabeça, afinal, a performance foi mesmo uma merda, e sim para primeiro alertá-la que este é o mundo que ela está entrando. O público é cruel e quer te ver errar. E depois garantindo que “Beg For It” não renderia uma ótima performance de qualquer forma, então a melhor coisa que ela deveria fazer era focar outra vez em seu próprio disco e, vamos lá, divulgar canções em que ela soa como ela mesma. No mais, a própria Charli XCX não conseguiu ficar realmente confortável em nenhuma performance de “Fancy”. Talvez o problema seja a Iggy Azalea.