Reality shows musicais foram e continuam sendo uma febre ao redor do mundo. Basta ver o sucesso que programas como o The Voice e o American Idol fizeram dentro e fora do Brasil. No Reino Unido, porém, o melhor lugar para se descobrir novos talentos é o X-Factor, cujo formato já foi exportado para outros 39 países e revelou alguns dos maiores nomes da música nos últimos anos como Leona Lewis, Olly Murs, Alexandra Burke, Little Mix e OneDirection. O que todos eles têm em comum além de terem participando do programa? Todos foram finalistas! O que explica então o sucesso de uma garota que terminou sua participação no show em sexto lugar?
Ella Henderson tinha apenas 16 anos quando deixou os jurados e o público de boca aberta durante sua audição no programa, em 2012. Logo apontada como favorita a vencer, ninguém esperaria que ela fosse eliminada tão cedo, perdendo para James Arthur, que viria a se consagrar o campeão de sua edição. Simon Cowell, contudo, sabia que não poderia desperdiçar um talento tão latente e logo assinou contrato com a moça. Diferente do padrão britânico, Ella levou quase dois anos para concluir a produção do disco, tendo garantida total liberdade nas composições e nos rumos de seu trabalho. Um feito e tanto para alguém que ainda nem atingiu a maioridade!
“Chapter One” conta com a co-produção de grandes nomes da indústria musical como Ryan Tedder, Claude Kelly e Babyface. Durante o programa, Ella foi comparada exaustivamente com Adele e seu disco, apesar de não tentar em nenhum momento copiar os passos da diva, tem uma forte aproximação com o blues e o R&B, assim como nas faixas do multiplatinado “21”. Depois do enorme sucesso nas terras da Rainha, Ella Henderson parece ter tudo para dominar outros mercados, incluindo o norte-americano. Será que seu debut no mundo da música realmente faz jus às apostas? É isso que começamos a analisar agora!
1) "Ghost"
O disco abre com o melhor single lançado por qualquer artista em 2014, na minha humilde opinião. Co-escrita por Ryan Tedder, “Ghost” atingiu o topo da parada de charts britânicas e já é o maior hit do ano por lá, além do sucesso em outras partes do globo como Estados Unidos, Austrália e Irlanda. A música tem todo o potencial de um hino pop inesquecível: a letra marcante – “I keep going to the river to pray...” e que gruda fácil sobre um relacionamento mal terminado, o ritmo envolvente com batidas fortes e os vocais impecáveis de Ella. Impossível não amar!
2) "Empire"
A segunda faixa mantém o nível da qualidade da anterior e traz uma Ella que se assemelha com Leona Lewis, mas com a mesma grandiosidade de Beyoncé. A powerballad é marcada por algo muito característico: a voz firme e ampla de Ella, aliada com sua vulnerabilidade em notas mais agudas, o que deixa o produto final ainda mais interessante.
3) "Glow"
Apostando num lado mais teen e pop, afinal Ella só tem 18 anos, “Glow” chega revivendo uma temática de luz e brilho, já antes pregada por Ellie Goulding. A faixa foi escolhida como segundo single, mesmo não sendo tão boa quanto outras músicas do CD, e conseguiu um Top 10 nos charts britânicos.
4) "Yours"
Na primeira balada propriamente dita, escolhida como próximo single do trabalho, Ella vem o mais crua possível, acompanhada apenas de um piano. A tendência de músicas mais acústicas parece crescer no cenário musical, visto o sucesso de Sam Smith nesse ano. “Yours” é uma belíssima (e bem curta) declaração de amor, feita da maneira mais elegante, delicada e madura do que a faixa anterior.
5) "Mirror Man"
Se as comparações com Adele incomodam Ella de alguma maneira, apostar em “Mirror Man” não foi uma escolha muito acertada. Sem dúvidas, é talvez a melhor faixa do disco, mas caberia facilmente no “19” ou no “21”. A influência da outra britânica é visível durante toda a extensão da faixa, começando pelo tema de traição e desencanto amoroso aos vocais, palmas e as batidas puxadas pro blues e pro soul. A letra – “You see perfection in your reflection and trouble’s coming for you” – também é daquelas que não deixa sua cabeça tão fácil e poderia muito bem funcionar como o novo single.
6) "Hard Work"
Usada como promo single para mostrar todo o processo criativo do disco num clipe delicado, “Hard Work” segue uma proposta mais R&B, aproximando Ella de artistas como Emeli Sandé. A faixa é eficiente, agradável e tem um show de high notes ao fim, provando todo o talento de Ms. Henderson!
7) "Pieces"
Mais animadinha e dinâmica, “Pieces” poderia ter sido um bom primeiro single, se Ella não tivesse atingido a glória com “Ghost”. Os vocais mais potentes e cantados em notas bem abertas e firmes trazem muito poder para a faixa, produzida por TMS, responsável por sucessos de outros ex-participantes do X Factor como Rebecca Ferguson e Little Mix.
8) "The First Time"
Ella ainda é adolescente e deixa isso transparecer em seu trabalho, apesar da maturidade. “The First Time” é uma das faixas mais agradáveis do álbum e tem a mesma temática já tão explorada por ídolos teen no passado como Demi Lovato e JoJo: o eterno jogo de “você não me queria quando eu te quis” – “You had it for the first time, but you weren’t satisfied. I gave you all of me so you had no reason to think twice” – e vice versa. Mesmo sem inovações, mantém o alto nível do CD.
9) "All Again"
Outra balada na qual Ella consegue nos fazer mergulhar na história da música, por toda a emoção que passa com sua voz, dessa vez em tons mais graves. “All Again” traz um lado mais dramático e profundo da cantora, tornando o álbum mais versátil ao mesmo tempo.
10) "Give Your Heart Away"
Em mais uma faixa emotiva, Ella se questiona sobre as incertezas de um relacionamento num combo prazeiroso de maturidade e jovialidade. Com uma sonoridade que acompanha moldes clássicos de cantores mais experientes, a música ainda tem o frescor de uma proposta mais pop e mais acessível ao público jovem.
11) "Rockets"
Provando que pode ir além de faixas lentas e depressivas, Ella nos brinda com uma música dançante, solar, tudo a ver com sua idade e que mesmo assim, não peca na qualidade. “Rockets” é daquelas músicas que te conquistam imediatamente e que você vai se pegar cantarolando no chuveiro sem perceber! Além, é claro, de ser impossível não amar uma canção cujo refrão diga “My heart explodes, kaboom, like rockets in the sky” <3
12) "Lay Down"
Se na música anterior, falamos de uma Ella animada e feliz, dessa vez a garota investe numa das faixas mais pesadas do disco. “Lay Down” é triste e emocionante por excelência pois trata sutilmente do tema mais soturno que ronda a vida de cada um de nós: a morte. Com voz embargada – “won’t you lay down cause I know that heaven’s waiting” – Ella dá o tom exato da faixa que, apesar de muito bonita, pode deixar todo mundo um pouco para baixo.
13) "Missed"
Encerrando a versão standard do álbum, voltamos às origens de Ella, da primeira vez que a conhecemos. “Missed” é a música composta pela cantora em homenagem ao seu avô e que ela cantou na sua audition no X Factor, emocionando a todos e garantindo lugar na lista de Dermot O’Leary como uma das melhores auditions da história do programa. Minimalista, “Missed” conquista pela seu lirismo e sua sinceridade, além da total entrega emocional de Ella. Ponto alto para qualquer um que sempre torceu pela menina.
14) "Billie Holiday"
Marcando o início da versão deluxe, “Billie Holiday” chega animada e soa como alguns dos grandes clássicos dos anos 40 e 50, numa pegada que mistura soul e jazz. A ode à uma de suas maiores ídolas ainda revela na letra – “It made me smile, made me sing, made my worries fly away, lifted me up, set me free, I could be Billie Holiday” – o sonho de Ella em se tornar cantora desde pequena. Merecia lugar na versão standard.
15) "Beautifully Unfinished"
Mais uma balada acompanhada de piano, “Beautifully Unfinished”, apesar de bela e coerente, acaba um pouco esquecida frente a outras faixas parecidas no disco. Nada tira o mérito, porém, de continuar mantendo o nível do CD.
16) "1996"
É louco pensar que Ella, com toda sua maturidade, nasceu apenas em 1996. Agora acompanhada por violões, a garota fala sobre sua família, seu crescimento e amadurecimento. A letra é fofa e terna, falando sobre memórias do passado e até sobre Lizzie McGuire. Ella consegue passar muita verdade em tudo que compõe e isso a torna tão especial.
17) "Five Tattoos"
Outra faixa que, mesmo correta, coerente e bela, não chama muita atenção no conjunto final da obra. O destaque aqui vai, especialmente, para os vocais de Ella, dessa vez em sua melhor forma.
18. "Giants"
O que seria de nós sem uma música com mensagem motivadora? Ella consegue ser boa até falando de aceitação, auto confiança e afirmação pessoal, temas já tão batidos. A faixa encerra o disco de maneira sutil e delicada, além da letra terna – “Don’t let the fear keep you from climbing and if you fall to the ground, just keep trying” – e que também representa um pouco da trajetória da cantora que não teve medo de apostar no seu desejo.
CONCLUINDO:
Ella Henderson pode não ter vencido o X-Factor e nem ao menos ter chegado na final, mas seu favoritismo no programa não se deu à toa. Com seu disco de estreia, Ella prova todo o seu talento e suas qualidades únicas, num dos melhores trabalhos de artistas oriundos do reality show na história do programa. “Ghost” vem ganhando a atenção do mundo todo, incluindo dos EUA, o que pode alavancar a carreira da menina que só merece mais e mais sucesso e reconhecimento da crítica.
O “Chapter One” é daqueles discos que você demora a se acostumar e gostar, mas uma vez que se vê conquistado, só começa a achar melhor a cada ouvida. É um mergulho em todo o trabalho complexo que Ella teve durante dois anos e também em toda a sua vida pessoal, seus pensamentos, sonhos e convicções. O mundo sente falta de artistas sinceros e verdadeiros, e aqui, temos um ótimo caso. No fim, o grande mérito do álbum, é soar maduro e consistente o suficiente, apesar da pouquíssima idade da cantora, nos mostrando que toda a espera realmente valeu a pena, além de nos possibilitar a leitura de um primeiro capítulo de uma trajetória que já é um sucesso, e tem tudo para ser ainda maior. Então, que venha o próximo!