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Album Review: Tinashe te convida a conhecer o brilhantismo de seu mundo em 'Aquarius'!


Desde a morte precoce de Aaliyah em 2001, o mundo do R&B precisou reunir novas forças para se reerguer. De lá pra cá, tivemos nomes como Beyoncé, Ciara, Alicia Keys, Kelly Rowland, Drake e, mais recentemente, The Weeknd e Frank Ocean apostando na sensualidade, mas imprimindo elementos novos à cena e abraçados por determinadas parcelas de público. Um dos nomes mais hypados deste ano na cena é, sem dúvidas, da estreante norte-americana Tinashe. Embora ainda não seja ainda tão grande quanto qualquer um dos nomes citados anteriormente, a cantora, de apenas 21 anos de idade, e com mixtapes aclamadas por público e crítica, lançou seu álbum de estreia, "Aquarius",  no começo de outubro. E, ao menos pra nós, é um dos grandes destaques do ano, além de oferecer à ela, a possibilidade de um futuro brilhante.

Produzido de forma estelar pelos grandes nomes da cena black music dos EUA, como DJ Mustard, Mike Will Made It, T-Minus e Boi-1da, e dosado pela inteligência de composição da jovem cantora (que assina todas as faixas como co-autora), nos é mostrado um resultado muito homogêneo, sincero e coeso, suficientes para transformá-la num dos grandes nomes do R&B sensual, flertando com Hip Hop e, por vezes, até pop, mas sem se perder no meio do caminho urbano que ela parece trilhar.

Assim como seu nome, que vem cheio de simbolismo através do significado "Deus está conosco", de acordo com um dialeto do Zimbábue (onde seu pai nasceu), o nome do álbum carrega um significado muito maior do que ser apenas o signo da cantora. A mesma diz que "Aquarius" tem um significado bem mais profundo, e que só pode ser interpretado ao ouvirmos suas músicas. E é assim, cheio de misticismo e possibilidades, que começos essa aguardada review.

1) "Aquarius"

Abrindo o material, temos sua faixa-título, que cumpre  com maestria o papel de apresentar Tinashe com aquilo que ela tem de melhor. Meio vintage, meio minimalista, endossada por uma letra senão brilhante, que cativa por conta de seu processo rítmico, além de bem marcada no que diz respeito à sonoridade contemporânea, à qual o urban se submeteu nos últimos anos, é abertamente sensual por conta dos seus vocais, já indicando tranquilamente o que podemos esperar na sequência. Longe de nós querermos compará-las, mas temos aqui, algo que, se estivesse viva, Aaliyah cantaria facilmente. Falando sobre uma relação ioiô, que sempre caminha em círculos, Tinashe traz a simbologia ao compará-la àquilo que rege seu signo, muitas vezes tido como justo: "Eu lembro. De volta ao perigo, tudo vai mudar. Em um mundo cheio de escuridão, eu me tornei o sol da meia-noite. Quero mudança, e o primeiro passo é o mais difícil". Para finalizar, dizendo que apesar de sua mente soar insensível às vezes, há espaço para caso queira descobrir seu mundo. 

2) "Bet" (feat. Devonté Hynes)

Na sequência, temos em "Bet" uma faixa R&B com "quês" futuristas, que confere ao álbum um dinamismo incrivelmente original, quando avaliado como um todo. A sensualidade aliada à produção impecável de Devonté Hynes na faixa sobre um arrependimento, é outro espetáculo. Teria como um dos grandes destaques individuais soar ainda melhor? Sim. Como? Simples: através de um solo de guitarra surpreendente do próprio Hynes, encaixado na última parte da música, deixando com cara de masterpiece do gênero. 

3) "Cold Sweat"
Produzida por Boi-1da, uma das partes filiadas ao OVO, selo criado pelo Drake, temos em "Cold Sweat" um ritmo mais acelerado melodicamente, se comparado com as anteriores. Porém, aqui, a sensualidade se faz presente através da ótima letra, que compara uma relação ao modo frio como as pessoas se comportam em Los Angeles, servindo como uma verdadeira ode aos vários problemas que um jovem artista pode ser condenado a viver, ao tentar erguer sua carreira por lá: "Eu gosto de ficar sozinha. Estou aqui, passando muito tempo em seu próprio país. Porque a cidade não é amável com outras pessoas, por sinal. Eu não posso fazer nada por você. Complacente, este não é um lugar para se fazer amigos, porque todos eles têm compromissos". Dura, porém, mais uma letra impecável.

4) "Nightfall (Interlude)"
Para encerrar a primeira parte, que lida com dramas, medos e incertezas, temos uma interlude curtinha. Contando com apenas sete segundos, podemos ouvir desde a cantora tossindo ao fundo, até vidros debatendo e água correndo na pia. Embora pouco, isso tudo prepara terreno para a incrível sequência a seguir, que durará noite a dentro.

5) "2 On" (feat. SchoolBoy Q)

Primeiro single e grande smash hit na cena urban em 2014, "2 On" marca o começo da nova sequência. Agora mais animada e confiante, Tinashe abusa de sua sensualidade, ao ponto de sermos incendiados de prazer ao longo de seus mais de 3 minutos, que nos levam a algo semelhante àqueles DVDs intitulados "Video TRAXX", que eram febre no começo da década passada e, que,  em algum momento da vida, você deve ter visto em sua casa. Porém, a produção ajustada, upbeat e redondinha do DJ Mustard a impedem de cair no erro de tentar repetir um passado, deixando-a (apesar das referências), moderninha e maravilhosa, contando ainda com a colaboração precisa de um Schoolboy Q destilando suas rimas à la gangster. A faixa grita hino. Sem mais!

6) "How Many Times" (feat. Future)

Comprovando o novo momento do álbum, a sexta faixa nos leva à consumação daquilo que era flerte na anterior. Precedida de um diálogo em francês (pra lá de sensual, como o sotaque já sugere), temos aqui mais uma faixa mesclando "quês" futuristas (não, não é um trocadilho com o rapper, bem dispensável, por sinal hahaha), em meio a estalos de dedos, deixando-a suave, porém passando sua mensagem estritamente propícia ao momento: "Quantas vezes nós faremos amor em uma única noite?", diz a cantora no chamativo refrão. 

7) "What is There To Lose (Interlude)"
Encerrando sua madrugada deliciosa e cheia de opções interessantes, temos mais um interlude categoricamente alocada aqui. Soando quase como uma reflexão a respeito do que ocorrera na noite anterior, a cantora se pergunta sobre a realidade e verdade dos fatos, em meio ao jogo de ganho e perda, cercado de inveja por todos os lados, ao qual vivemos. É quase um: "Fiz, foi bom enquanto durou. Mas será que realmente valeu a pena?". Vejamos na sequência.

8) "Pretend" (feat. A$AP Rocky)

Bem, tudo aquilo que ela questiona na interlude acima, pode ser respondido simplesmente com os versos "Podemos fingir que isso tudo é como ontem. E se eu só quiser sentir você me tocar? Não há ninguém perfeito. Então, se você demorar um pouco para fazer valer a pena, eu quero fingir (...)". Para, na sequência, ser ainda mais sincera, assumindo que aceitaria qualquer coisa para ter aquele momento de novo: "Vamos fingir que eu não sou sua amiga. Assim, podemos ter isso novamente. Vamos fingir que nunca nos conhecemos. Uma boa desculpa para jogar fora. Vamos fingir que você nunca mentiu, para que eu possa durar a noite inteira. Engolir meu orgulho e aprender a perdoar. Quando eu estou procurando por amor, eu finjo". Viram, como tudo se encaixa no álbum? Esse é um dos grandes méritos de produções impecáveis. Pegue a letra precisa, somada ao rap desinteressante, porém necessário de A$AP Rocky e, BOOOM, musicão. 

9) "All Hands On Deck"

Stargate é um dos grandes nomes há muito tempo da cena urbana americana e, bem, é ele quem assina, com participação da DJ Cashmere Cat ("Be My Baby", da Ariana Grande), a produção da nona faixa. Assim como "Bet" e "How Many Times", "All Hands on Deck" é outro midtempo futurista, porém, esse difere um pouco, porque possibilita uns passinhos ao longo da produção, que propõe uma DR, após, possivelmente, um "Não", após a proposta apresentada anteriormente: "Duramente jogada fora. Quando você me deixou, você me deixou sem escolha. Estou à procura de um menino para preencher esse vazio".

10) "Indigo Child (Interlude)"

Cheia de sensualidade, apesar da voz robotizada que passa a impressão de algo bem diferente do que vemos na sequência, temos na interlude "Indigo Child", o retorno do simbolismo ao qual a cantora ama. Para aqueles que não sabem, o termo "Indigo Child" (Criança Índigo, trazendo pro nosso idioma) diz respeito à uma nova geração de crianças a partir da Geração Y, com habilidades especiais (intuição e alta sensibilidade ética e moral), e que têm por objetivo a implantação de uma "Nova Era" na Humanidade. Dito isso, a interlude simboliza um recomeço.

11) "Far Side Of The Moon"
Simples, porém imersa no cenário de renascimento ao qual a cantora propõe que ela aconteça, temos em "Far Side of the Moon", uma outra reflexão que a faz soar confusa por conta do relacionamento mal-sucedido anteriormente: "Deixando de equilibrar as opções.  Mesmo tentando por horas pesar as possibilidades. Para mim e você. O que é realmente necessário para ser verdadeiramente feliz? Ficar doente de desejo, segurando ambições amorosas vazias? Felizes para sempre parece ficção. Eu seria tola se minha fé estiver indo, infelizmente", para mais tarde assumir que odeia que ele vá embora de repente e, cada vez, para mais longe de seu coração.

12) "The Calm (Interlude)"
Ideias conflitantes ao seu redor quebradas outras vez por uma interlude. Em "The Calm" não dá pra identificar muita coisa além de uma aparente conversa longínqua e o mar, trazendo toda sua calmaria através do vai-e-vem das ondas.

13) "Feels Like Vegas"

Depois da quebra momentânea de pensamento causada na interlude acima, "Feels Like Vegas" chega para ser outro ponto alto do material. Possibilitando à cantora alguns momentos como rapper, faz com que ainda soe atordoada com o "quero-não quero" da relação. Tinashe retrocede e diz que queria se sentir como em Las Vegas, onde, como todos sabem, predomina a máxima "O que acontece aqui, morre aqui".

14) "Thug Cry"

Produzida por Mike Will Made It, "Thug Cry" nos dá um hino urban de amor (ainda que submisso) forte, onde novos segredos são revelados, como a perigosa relação à qual a protagonista ainda insiste em se meter, simplesmente porque não consegue ficar longe do cara: "Há algo a seu respeito. Baby, temos que dar tudo neste momento. Eu posso me associar à você, hoje. Assista-me associar à você, hoje. Porque é desse jeito que um verdadeiro amor deve ser, se ainda não é".

15) "Deep In the Night"
Na fase final do álbum, Tinashe optou pela interlude ao piano, "Deep in the Night". Que, além disso, traz a cantora, ainda criança, ao fundo. Marcando, assim, a fase de recordações.

16) "Bated Breath"

Já que o assunto será o que passou após as revelações um tanto quanto surpreendentes na última antes da interlude, "Bated Breath" se encarrega bem disso. Primeira e única baladinha propriamente dita do material, podemos ver Tinashe entregar algo mais simples e  profundo, porém muito eficiente (apesar de ser a mais longa do álbum) e sem se deixar perder na proposta, soando quase como uma despedida (pela letra e os acontecimentos anteriores, fica subentendido que o amor dela esteja perto de falecer): "E se eu lhe dissesse que foi tudo em vão? Será que ainda te machucaria? Será que você ainda sente o mesmo? Soando impossível-possível; Tão impossível. Mas você ainda está esperando seu momento de parar de respirar. Eu gostaria de poder te abraçar, eu não aguento. E dizer-lhe todos os meus segredos".

17) "Wildfire"
Ainda remetida às lembranças do passado, temos Tinashe comparando sua relação inconstante e perigosa a um perfeito incêndio, onde nos encaminha para o encerramento do material, relembrando a última tentativa de sedução. Última mesmo: "Sinta a calma antes da tempestade. Eu estarei saindo de manhã. Você era a minha canção doce de verão. Mas longe do verão, eu não posso manter o fogo aceso" diz ela logo no ínicio. Para, no final, depois de flertar bastante querendo ser incendiada de novo, pedir que deixe-a seguir seu caminho antes que seja tarde, porque será melhor para todos os lados envolvidos.

18) "The Storm (Outro)"

Por fim, temos aquela que, apesar de não ser considerada uma interlude, funciona lindamente como. "The Storm" pode ser interpretada (ao menos pra mim), como um simbolismo impactante e belo à lamentação final, causada pela despedida após a morte repentina de seu amor (como sugerida), atenuada pelo piano gelado, a chuva caindo e todo o som ambiente da tempestade instalada lá fora, finalizando com maestria.

CONCLUSÃO
WOW. Apesar de comparações aqui e ali com Aaliyah e tantos nomes que permeiam esse cenário R&B atualmente, Tinashe consegue passar com louvor e méritos próprios em sua difícil e notável estreia. Aliada à ótima produção minimalista, ora mais voltada ao R&B das antigas, ora mais sugerindo doses ousadas de futurismo, ela traz em "Aquarius", não apenas o melhor álbum R&B do ano, como um dos melhores no geral também. Mas, apesar de ter muito mais altos que baixos, uma das coisas que não gosto tanto no álbum, é que os raps encaixados, na maioria dos casos, não acrescentam tanto a ele quanto deveriam. Nada que atrapalhe, pelo contrário. Tinashe consegue abafar os pequenos erros, com a proeza de ser extremamente sexy cantando ao ouvido. E o melhor de tudo: ela tem identidade própria, que fica bem evidente em sua estreia. No geral, "Aquarius" é um álbum sólido e memorável, cercado de simbolismo intelectual e espiritual na maior parte do tempo, e que esbanja o talento da jovem e talentosa cantora em composições precisas e muito bem distribuídas nos cinco grandes momentos em que o álbum se divide. Longe de ser um material que o fará mudar a maneira de pensar sobre a música atual, mas é bacana permitir-se ouvir essa preciosidade de uma moça que tem apenas 21 anos e, aparentemente, um caminho primoroso pela frente. E o melhor de tudo: esse é só o começo. Ainda bem.

disqus, portalitpop-1

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