Dona de um carisma único e de um singularidade musical incrível, a canadense lançou seu álbum de estreia (mundialmente), "Sound of a Woman" , onde realmente mostra que está bem longe de ser uma one-hit wonder e, muito menos, que nos deixará tão rapidamente. Repleto de batidas contagiantes e flertando principalmente com a nostalgia noventista e um misto de R&B, soulful e deep house, que, em certos momentos se fundem e confundem, temos nele um dos grandes trabalhos do ano.
1) "Hideaway"
O álbum começa com o hino "Hideaway", responsável por ser o cartão de visitas apresentado por Kiesza ao grande público no começo do ano. A faixa, que é, sem dúvidas, uma das melhores coisas lançadas em 2014, aposta numa pegada toda noventista em meio à sua deep house, repleta de sintetizadores e vocais poderosos da cantora, para nos convencer de sua singularidade grandiosa. É impossível ficar parado ou não bater palmas pra essa ode maravilhosa ao amor em meio a um estado confuso de não saber se isso é realmente o melhor para o momento: "Você é só uma fuga, um sentimento. Você deixou meu coração escapar, além da razão. Nem eu consigo parar essa tempestade. Oh, baby, está fora do meu controle, o que está acontecendo".
2) "No Enemiesz"
Na sequência temos a enérgica, flamejante e perfeita para as pistas de dança, "No Enemiesz", que assim como a primeira, segue na onda noventista, aliada à deep house e eurodance, porém, um pouco mais "ousada" em sua proposta, de novo, engrandecida pelos vocais maravilhosos de Kiesza iluminando uma produção repleta de instrumentos que a deixariam pesada, se não fosse o contraste abertamente feliz que sua voz provoca em versos como "Por que parar quando há muito mais. Baby, acabou de me mostrar como. Olha, eu vou te dar muito mais. Tudo o que você tem é forro. Olha, nunca senti isso antes. Baby, eu ensinarei o que você quiser. Todo mundo sabe, o corpo sabe, corpo sabe".
3) "Losin' My Mind" (feat. Mick Jenkins)
Depois de duas faixas extremamente direcionadas à dança, engana-se quem pensa que Kiesza é apenas isso. Nos surpreendendo positivamente, "Losin' My Mind" chega e domina todo o ambiente com um midtempo R&B ousado e imponente voltado aos anos 80, flertando com uma sonoridade de hip hop, que nos lembrou bastante os hinos de "The Miseducation of Lauryn Hill" (inclusive, dica do It: ouçam esse álbum pra ontem), sobre perder-se em meio ao que se é ou pretende ser para o outro. Kiesza, sua linda! <3
4) "So Deep"
Pegando carona na ousadia da anterior, temos em "So Deep" uma deliciosa faixa soulful sensual, perfeita pra ser cantada diretamente ao pé do ouvido, em meio aos seus sussurros, criando uma atmosfera dos sonhos: "Pinte-me com seu corpo. Eu quero ser a tela que está por baixo. Deixe-me ver sua mágica. Eu sinto que você está tomando conta de mim. Baby, eu não posso nunca encontrar o que preciso. Eu ainda estou te amando, agora, agora, agora. Eu sinto que nunca o deixarei. Eu só estou te amando, agora, agora, agora mesmo".
Com ares vintage, meio romântica e, de novo, nos levando ao ambiente de deep house, Kiesza expõe um outro tom de seu rico vocal nesta faixa, que faz um comparativo entre o sentimento que a permeia e a Guerra do Vietnam: "Estes sentimentos que eu sangro, eles lutam apenas para perder. Mas se eles forem uma guerra, eu estou apaixonada por você". Apesar de encaixar muito na proposta e ser uma boa faixa, acaba passando despercebida em meio a tantas outras maravilhosas.
Num álbum repleto de ótimos momentos e flertes com épocas distintas, temos em "Bad Thing" uma surpresa esmagadora. A faixa que flerta com a década de 90 e o hip hop de Joey Bada$$, nos dá um dos grandes (e inusitados) momentos do álbum, justamente por sua coragem de ir na contramão de toda agitação ou alegria em versos voltados às preliminares, com uma certa dose de "arrogância" que a faixa deixa exalando, contrastando com essa versão cool e suave dos vocais de Kiesza, soando, novamente, como algo bem singular. Maravilhosa!
7) "What is Love"
Quando ouvi o álbum pela primeira vez, esta faixa em especial me chamou bastante atenção em seu início, justamente por sua sinceridade e delicadeza bem orgânica. Porém, quando chegou no refrão, o susto foi enorme porque era algo muito conhecido e estava irreconhecível até então. Para os que não sabem, "What is Love" é uma versão brilhante de Kiesza para um dos maiores sucessos da década de 90, imortalizado pelo Haddaway. Em sua versão, Kiesza fugiu completamente do ambiente dance da canção, deixando-a com cara de baladinha de cortar o coração e que acaba soando beeeeem diferente da original, nos deixando conectados a cada palavra que sai de sua boca se questionando a respeito desse sentimento confuso chamado "amor". Absurdamente espetacular e minha preferida.
8) "Sound of a Woman"
Saindo da perfeição em forma de sinceridade com o peito aberto da anterior, chegamos à faixa-título e, talvez, maior canção de todo álbum. Num hino feminista e grandioso, ela enxuga as lágrimas que soltou em "What is Love" pra encarar um término de cabeça erguida e aposta num tom quase que vingativo ao lembrar-se que: "Mais uma vez, eu vou perguntar por que você me deixou perder todas aquelas noites. Se eu soubesse, eu não teria deixado você entrar em minha vida". Voltando mais tarde, no ambicioso e brilhante refrão "Talvez seja esse o som de uma mulher. Talvez seja esse o som que um coração faz quando ela está chorando por um cara. Prendendo-a ao amor que você não pode escapar. Você entenderia se você escutar. Você não vai encontrar seus olhos voltados para a porta. Talvez seja esse o som de uma mulher. Implorando que você tente um pouco mais". A faixa grita HINO e tem que ser single pra ontem!
9) "The Love"
Depois de uma sequência repleta de emoções por todos os lados, chegamos em "The Love" e toda sua homenagem aos anos 90 e à eurodance, pulsando por todos os lados em mais uma faixa perfeita para as pistas de dança.
No vai-e-vem entre a agitação e calmaria, chega a vez da bonitinha e delicada, "Piano", que flerta com o R&B, mas acrescido de batidas mais agitadas, enquanto compara seu corpo a um piano, pronto para ser tocado em busca da mais perfeita melodia.
Quase perto do fim do álbum, somos pegos de surpresa por outra faixa surpreendente. "Giant in My Heart" é uma estranha e, ao mesmo tempo, eficaz combinação de dor de cotovelo e solidão, deitadas em berço coberto por influências dos anos 90, soando deslumbrante em todos os sentidos.
12) "Over Myself"
Com um conteúdo substancialmente e essencialmente deslumbrante até aqui, chegamos à penúltima canção, que, assim como "Vietnam", também é outra deep house que se encaixa na proposta e agitaria muitas festas por aí, mas fica "perdida" quando se trata de um álbum com muita coisa em potencial.
Iniciada ao piano, com vocais bem controlados e mais inclinada ao soulful outra vez, "Cut Me Loose" encerra de forma convincente essa estreia mundial de Kiesza, com delicadeza e brincando com sua relação entre a música e o amor, de forma sensual: "Isso me leva e me solta, ele me leva para longe. Nada me solta como a música. Ele me leva para longe. Nada me solta como a música. Ele me leva para longe. Basta me soltar (sim)".
CONCLUSÃO
De anos pra cá, o cenário da dance music têm se tornado cada vez mais chato, por conta de sua série de repetições. Porém, 2014 nos apresentou uma "luz no fim do túnel". Marcada pelo sentimento nostálgico dos anos 80 e 90, em "Sound of a Woman", Kiesza nos traz um álbum extremamente sensual, lidando com amores e dissabores (algumas vezes frustrantes), mas ainda assim, bem eficientes e marcados por todo seu potencial vocal, que é soberano na produção ao longo de tons super altos e outros mais delicados - igualmente belos -, cercados de batidas hipnóticas que em nada deixam a desejar aos grandes nomes do gênero. Não satisfeita em apenas soar como uma artista de EDM, o álbum ainda traz a certeza de que ela pode ser mais ousada quando quer, ao flertar com o R&B, soul e até o hip hop e, ainda assim, ser muito convincente. Porém, é nisso que acaba morando um dos grandes "problemas" do material: a falta de uma direção mais coesa. Porque da mesma forma que sai da deep house, vai para o R&B em questão de faixas hahahaha. Não que seja ruim, pelo contrário, porque mostra o quão versátil ela é. Porém, ao meu modo de ver, isso acaba "prejudicando" um trabalho maravilhoso, mas que "atira para todos os lados", sem se firmar, necessariamente, num único estilo. Porém, vale salientar que, num mundo em que David Guetta, Calvin Harris e tantos outros se repetem a cada single/material lançado, "Sound of a Woman" e, principalmente Kiesza, são muito essenciais e tem tudo para se firmarem como grandes nomes com o tempo. É só aguardar.