Seguindo aquela máxima de que "não é necessário vencer um reality show ao qual se participa para ser bem-sucedido", Olly Murs construiu uma carreira muito sólida no Reino Unido, mesmo tendo terminado a temporada de 2009 do X Factor na segunda posição. De lá pra cá, já lançou 3 álbuns que venderam, juntos, mais de 3 milhões de cópias, quatro singles que foram # 1 no principal chart da Terra da Rainha, além de se tornar o artista masculino mais bem-sucedido da história do programa.
Todos estes predicados, somados ao já característico e irresistível carisma de Olly, assim como sua capacidade de amadurecer a cada novo material, fizeram com que ele chegasse ao seu quarto trabalho completo. Diferente de "Olly Murs", "In Case You Didn't Know" e "Right Place Right Time", lançados respectivamente em 2010, 2011 e 2012, ele preferiu se preparar um ano inteiro até a chegada de seu novo álbum ao mercado.
Com o sugestivo (e, de certo modo, arrogante) título "Never Been Better" (Nunca Estive Melhor), traz algumas experimentações sonoras em busca de uma evolução artística, após os êxitos com o pop classudo dos dois primeiros álbuns e uma coisa mais descompromissada no último. Mas será que Olly consegue se superar outra vez? Bem, descobriremos nesta review.
Abrindo o álbum em grande estilo, temos "Did You Miss Me", que chegou a ser cogitada (e até funcionaria bem) para ser o lead single do álbum, mas acabaram mudando de última hora. Sensual, divertida e flertando com o groove e funk, soa como algo noventista e levemente atrevido, que George Michael poderia ter feito há alguns longos anos. Tendo como fundo uma história de amor não resolvida, Olly canta, de forma até emotiva, sobre o quanto os erros atrapalharam a relação e o quanto ele ainda sente que a pessoa amada ainda se importa com ele: "Desculpe, eu te deixei, mas eu farei a espera valer a pena".
Escolhida como primeiro single do material, "Wrapped Up" se mostra uma escolha acertada, principalmente quando comparada com a anterior. Bebendo na mesma fonte groove e funk, mas ainda mais radiofônica e com um refrão super catchy, "Você me tem na sua mão, em torno dos seus dedos. Eu faria qualquer coisa pelo seu amor agora. E quando você toca, o sentimento persiste. Me leva às alturas e não consigo descer. Você me tem na sua mão, baby", temos uma faixa que combinaria muito com o verão britânico, tamanha sua disposição em fugir do "lugar comum" de Olly, mesmo soando descartável em alguns pontos ou nos dando a impressão de "já ouvimos algo assim antes". Um ponto fraco, que não poderíamos deixar passar, são os versos que nada acrescentam de um Travie bem preguiçoso.
Depois de duas faixas uptempo, damos uma pausa e embarcamos na deliciosa pseudo-baladinha, "Beautiful to Me". Ela, que é uma das melhores faixas do material, tem que ser single logo. E com muito potencial para ser a "Hand on Heart" deste álbum. Contando com uma bateria bem marcada, além de guitarras e piano bem ao fundo, é emotiva, carinhosa, sincera e delicada, nos lembrando porque Olly tem o poder de arrasar coraçõezinhos apaixonados desde sua estreia.
Quando anunciada, "Up" causou muita estranheza por se tratar de um inusitado dueto com Demi Lovato. A faixa não é ruim e funciona dentro da proposta mais folk pop que optaram, porém, fica nosso desapontamento por termos criado expectativas demais numa parceria que poderia nos dar uma "Broken Strings 2.0" (o clipe nos deu, não a faixa), mas no final, é só excesso de fofura mesmo: "Eu nunca quis partir seu coração. Agora, não vou deixar este avião cair. Eu nunca quis te fazer chorar. Vou fazer tudo o que puder para fazer isso voar".
Passando para nos dizer que poderemos manter a confiança em seu novo material, Olly Murs apresenta, na quinta canção, uma das melhores e mais "fora da casinha" dessa fase. "Seasons" é deliciosa, pop, agitadinha, radio friendly, cheia de ecos e também poderia nos dar um ótimo single sobre o quanto uma relação desgastada se parece (e se transforma) no decorrer das estações do ano, mas, que no final, todas estas fases são necessárias para fazê-la única: "Ouça querida, a cada palavra que digo. Eu sei que você não confia em mim, mas eu sou melhor do que as histórias sobre mim. Todos erram algum dia. Não tenho nenhuma rima ou razão. Tudo que eu sei é que eu sou seu, seu, seu, em todas as estações".
Bonitinha, singela e tristonha, assim se desenha a sexta faixa. Que começa já com um delicado piano em sua introdução e um tom mais calmo, até explodir no refrão, incorporado à percussão crescente, e culminando num assobio ao final, que serve como reflexão para uma perda significativa: "Ah, pensei que não tinha nada a perder. Pensei que tinha nada a provar para você. E eu perdi todo esse tempo, eu sinto muito. Engraçado que só agora eu sei que é verdade. Baby, eu não tenho nada sem você".
Título e preferida deste blogueiro, temos na sétima faixa um momento que pode ser entendido como o de reafirmação de carreira para Olly, que, inclusive, confidenciou em algumas entrevistas que a faixa foi inspirada em seu maior ídolo (e, hoje, grande amigo), Robbie Williams. Com um título poderoso desses, é de se imaginar que a faixa possa facilmente ser confundida como um relato arrogante (e de fato é hahaha), porém, Olly suaviza isso, deixando-a ainda mais encantadora do que é. Seja com versos como "Você não pode me derrubar", "Eu estou com meus 100%, não tenho medo de cair", "O mundo não pode me derrubar, pois não vou ser derrotado", até chegarmos no refrão grandioso: "Todo mundo chora. Mas hoje não, hoje não. Pois eu não vou deixar. Todo mundo morre. Mas hoje não, comigo não. Pois nunca estive melhor". É, realmente é um Olly mostrando que nunca esteve tão seguro e entregando o seu melhor, com orquestra, marcha e tudo.
Ele já tinha deixado claro que, em seu novo álbum, daria um passo além na questão da produção de suas faixas. E isso, podemos ver com maior clareza aqui. "Hope You Got What You Came For" é uma montanha-russa em termos de produção, partindo do piano lento e delicido no início, até se tornar uma faixa raivosa apenas tendo bateria, guitarras e um coro de "wooaaaooh" ao fundo. Funcionaria facilmente para os shows, num estádio lotado e com todos cantando juntos. Curiosidade: a faixa, originalmente, foi baseada em três canções descartadas do material, que acabaram virando uma só, por isso da, (ainda bem) aparente, montanha-russa presente.
Mais uma ótima produção. Assim se apresenta "Why Do I Love", que nos engana com seu início bem dark com essas guitarras distorcidas, dando espaço ao piano gelado, sintetizadores e a percussão, até se encaixarem perfeitamente com os questionamentos sobre o porquê daquele amor em relação a sua pessoa.
Se Olly queria se arriscar em novas sonoridades, podemos ver isso aqui também, já que temos uma estranha combinação entre o folk e a EDM, somada a sintetizadores, violinos e percussão. O problema de "Stick With Me", é que sua letra um pouco preguiçosa acaba atrapalhando um resultado final que poderia ser incrível, mas fica apenas morno.
Seguindo ainda a ideia de novas experimentações, "Can't Say No" consegue cumprir isso muito melhor que sua antecessora. Sua melodia catchy, bem marcada pela bateria e o violão, além desse coral que fica ecoando na sua cabeça e todas as outras inserções feitas em estúdio, se encarregam de deixar a faixa sobre aquele sentimento avassalador, mas que mesmo assim, insistimos em duvidar, como outro grande acerto: "Então, tome o meu dinheiro, não preciso tê-lo. Eu preciso do seu corpo, eu sou como um viciado. Menina, é o seu mundo, você tem a magia. Então, baby, me diga, me diga, me diga que é hoje à noite".
Um dos grandes acertos na carreira de Olly com o último álbum, foram as baladinhas. E, dessa vez, parece que tem tudo para se repetir. "Tomorrow" é emotiva e sincera na mesma medida, inclusive de potencial, pra ser como "Dear Darlin'" foi na era passada. Trazendo apenas o cantor e o piano, é uma linda prova do quanto ele é talentoso em meio a versos mais tristes, como após o término de uma relação marcante: "Você sabe que é difícil ser seu amigo. Detesto decepcioná-la de novo. Não sabemos como isso vai acabar. Pois agora você sabe o segredo. Que eu nunca vou conseguir corrigir".
Encerrando a versão padrão do álbum, temos em "Let Me In" outra colaboração (desta vez não-creditada) tão bizarra quanto a com Demi Lovato, mas que funciona. Co-escrita e tendo todos os instrumentos tocados pelo premiado roqueiro britânico e ex-líder da The Jam e The Style, Paul Weller, temos um "quê" de britpop que funciona muito bem entre o piano, guitarra simples e os vocais delicados de Olly, que se declara para a amada, antes que um novo erro aconteça: "Deixe-me entrar e eu vou te salvar desta loucura".
14) "We Still Love"
Para ser muito sincero, essa versão deluxe, que começa com "We Still Love" nem deveria existir, porque só apresenta coisas descartáveis e que ficam bem aquém do ótimo material apresentado até aqui. Mas já que temos que comentar: a faixa fica entre o meio-termo de uma produção pop com letra preguiçosa, mas bonitinha, e as inserções de algo que a deixa mais agitadinha, como esse arranjo amplificado e crescente, quase soando como uma EDM.
A décima quinta faixa tem uma curiosidade interessante: ela foi pensada para o "Right Place Right Time", mas mudada de última hora, quando decidiram encaixar sua irmã melhorada, "Army of Two", na tracklist final. E, convenhamos, foi uma decisão acertada. Aqui, "Us Against the World" também foi cortada da tracklist final, mas ganhou um espaçozinho na versão deluxe. Sorte dela.
Outro flerte com o folk pop pode ser ouvido em "Ready for Love". Não chega a ser ruim, gente. E muito menos má-vontade da minha parte escrever sobre algo que nada acescenta. E repetindo: o álbum é muito melhor sem as faixas.
Finalizando a versão deluxe, temos a curta baladinha ao piano (mais uma), "History", que fala sobre um amor incondicional, sobrevivente ao tempo, fofocas e tudo mais: "Você não quer que todos eles lembrem os nossos nomes? E falar sobre o nosso amor e as trilhas que nos cercam? Porque a única coisa que o mundo não pode mudar somos você e eu".
Olly e sua carreira vem em ascensão desde a derrota pra Joe McElderry no X Factor, o que é confirmado neste novo registro, na medida que ele assume (até de uma certa forma soberba, mas interessante e que funciona) que "nunca esteve melhor". Ok, concordamos. Mas com ressalvas. O álbum chega no seu melhor e mais maduro momento como um todo no pop britânico. Nome conhecido e badalado, muito melhor em suas letras, mas sem perder todo aquele já característico apelo meio boêmio-atrevido-destemido que sempre o marcou. Por outro lado, por que raios "cagar" um álbum lindo (até a 13ª faixa) com quatro músicas que nada acrescentam? E ainda tentei relevar e fazê-las funcionar pra mim, mas é impossível, infelizmente. Um grande número de faixas é algo que incomoda demais, por tornar o trabalho de qualquer artista, por melhor que seja, cansativo. E aqui foi um caso. A sorte é que "Never Been Better" tem muito potencial, assim como boa parte de suas faixas em serem bons singles para o mercado na Terra da Rainha. No geral, o álbum apresenta evolução em muitos pontos, mas não supera os anteriores, justamente por soar como um irmãozinho mais novo, que ficou com inveja do sucesso de seu antecessor, "Right Place Right Time". Se conseguirá o mesmo êxito ou não? Só o tempo dirá. Mas, por hora, Olly continua sendo um lindo, fofo, talentoso e rei dos nossos corações.