Em tempos de shows internacionais desenfreados no Brasil, os festivais têm sido uma boa alternativa para experiências realmente inesquecíveis e, tentando não ficar atrás, boa parte deles tentam crescer cada vez mais, exemplos como Rock in Rio e Lollapalooza não nos deixam mentir, mas daí surge um nome que tem como premissa ser pequeno, mas ainda assim marcante, sendo ele o MECA Festival.
Em sua quinta edição no Brasil, segunda em São Paulo, o festival que ganhou vida no Sul do país sempre foi marcado pelos atrativos para o público de música alternativa, uma vez que pescam nomes bem antes do seu hype, e é desta forma que se mostra uma escapatória e tanto para os fãs que já lamentam a “mainstream-nização” do Lolla, que neste ano conta com nomes como Pharrell Williams, Calvin Harris e Skrillex.
Nas suas edições anteriores, o MECA já nos trouxe Charli XCX, Two Door Cinema Club e Vampire Weekend, todos recém-saídos do forninho indie, e neste ano não fez diferente, tendo como line-up planejada a inglesa La Roux que, inacreditavelmente, nunca tinha tido a chance de vir ao Brasil, mesmo possuindo um público absurdo por aqui, os britânicos AlunaGeorge, que foram uma das principais apostas do indie-pop em 2014, e o trio de música eletrônica Years & Years, que despontou como uma das revelações de 2015 — ainda que de uma origem duvidosa — mas terminou dando pra trás pouco antes do festival acontecer, cancelando sua vinda. No lugar deles, anunciaram então os brasileiros da Aldo, The Band (troca mais que bem sucedida, diga-se de passagem), para uma line-up que ainda incluía Mahmundi, Wannabe Jalva, Glass’n’Glue e Serge Erege.
Cheio de acertos, o MECA Festival já chega com o saldo positivo por sua boa localização. Em São Paulo, o evento aconteceu no Hangar 001, do Campo de Marte, e esse fica à dez minutos da linha azul do metrô (Estação Carandiru é a mais próxima), sendo também grande o suficiente pra que não houvesse aglomeração do público e com muito espaço livre e aproveitável. Nesta edição, distribuíram por ele alguns stands com pinturas na pele e sorvete de grátis, maquiagem, barbearia (!!!) e até uma parada para brincar de realidade virtual, que também foi bem legal. O stand da YouCom foi o nosso favorito por motivos de: carregadores para celular. Como não tinham pensado nisso antes? E ainda teve uma praça de alimentação muito bacana e dois espaços com DJs durante todo o evento.
As primeiras atrações subiram ao palco bem cedo e precisaram lidar com algumas dificuldades como a acústica do local que, aos poucos, foi melhorando até que não tivesse mais nada explodindo pelas caixas de som, em tempo que nossa atenção só foi conquistada por completo quando subiram ao palco o letreiro da banda Aldo The Band, brasileiros responsáveis pelos 45 minutos que seriam do Years & Years.
Sem nenhum sucesso no repertório, a banda soube carregar o público com sua presença no palco e fez uma das apresentações mais agitadas, só perdendo para La Roux e Aluna, diríamos, e seu vocalista também tem uma postura muito singular, se dividindo entre cantar, dançar, bater cabelo e mais um pouco, mas sem perder o carão para as fotos. Sensacional mesmo. Primeira surpresa positiva no evento.
Em seguida, quem chegou foram os caras do Citizens! e, pra nós, que ainda não tínhamos escutado nada deles, a impressão foi um pouco mista. O repertório é bem limitado e as músicas muito parecidinhas, o que esperamos confirmar dando mais algumas chances para eles no Spotify, mas isso não diminui em nada a apresentação e presença de palco do seu vocalista, que nos lembrou e muito do Mick Jagger e Michael Jackson. Isso sem falar nos poderosos vocais. Em alguns momentos, era como se fosse um show solo, apenas com uma banda de apoio.
Quando Aluna, da dupla AlunaGeorge, subiu no palco, confirmamos o que o público já estava comentando, mas não sabíamos nada sobre: George não veio para o Brasil? :’( Seja como for, a menina provou que pode segurar tranquilamente um show completo sozinha e, QUE SHOW, hein? Se em estúdio AlunaGeorge é um duo de indie-pop, super puxado para um R&B com muitos flertes do eletrônico, ao vivo quem sai na frente são as percussões, com Aluna cumprindo algo muito próximo do funk que está tão em alta com o Mark Ronson, Bruno Mars e sua “Uptown Funk” nas paradas.
O repertório foi todo composto pelo disco de estreia da dupla, “Body Music”, além de uma faixa do seu próximo CD e a parceria com o Disclosure em “White Noise”, e foi como se eles já estivessem no auge há tempos, porque o público sabia cantar quase tudo e, o que não sabia, era muito bem contornado pela própria Aluna, que utilizou inúmeros truques para roubar a nossa atenção durante toda a apresentação, indo da sensualidade à uma postura digna de muitas divas do pop mainstream. Se um dia rolar da dupla chegar ao fim, a menina continuará com um futuro promissor, pode anotar.
Por fim, chegou a hora do show mais aguardado da noite. Pontualmente, a banda inglesa La Roux subiu ao palco e, logo nos primeiros segundos, já dava pra vibrar com toda a gritaria do público, cessada pelo começo de “Let Me Down Gently”, single do segundo CD de Elly Jackson e sua trupe que, não só provou que todos já estavam com seu novo repertório na ponta da língua, como também que as músicas do novo trabalho embalam o público tão bem quanto sucessos tipo “Bulletproof” que, claro, encerrou a setlist.
Com muita dança e visível vislumbre com o público brasileiro (a gente tá acostumado a fechar assim mesmo, né?), ter Elly Jackson em palco era algo bem próximo de presenciarmos a volta de Jesus. A mulher brilhava e cada movimento nos prendia de uma maneira um tanto curiosa, mas só lamentamos um pouco o excessivo uso da base de apoio (se fosse a Britney, todo mundo nossssa), que ficou bem notável nas primeiras performances. O ponto alto da apresentação foi quando substituíram o backdrop do MECA pela capa do CD “Trouble In Paradise” e a performance de músicas antigas como “In For The Kill”, “Quicksand” e “I’m Not Your Toy”, todas do seu disco de estreia autointitulado.
Por fim, a experiência não poderia ter sido melhor. Antes de acontecer, o MECA Festival prometeu reunir um pouco da melhor parte dos outros festivais e cumpre com isso, trazendo artistas que, mesmo sem grande reconhecimento na indústria pop, sabem como fazer um bom show e não precisam de um só cover para deixar o público extasiado. A ideia de ser pequeno é interessante e faz dele um lugar acolhedor, tornando o público algo bem maior que apenas alguns números, sendo que, para nós, os únicos pontos que merecem uma melhor atenção é a assistência para as primeiras atrações, que brigaram bastante com os equipamentos no palco, e a diversidade do que fazer nos longos intervalos entre uma atração e outra — tempo que, mesmo com os stands, terminou ocioso e cansativo perto do fim do dia.
Ainda assim, o evento cumpre com sua promessa de ser algo especial, marcante, além de ser algo que queremos acompanhar com o passar do tempo e cada vez mais de perto. Ano que vem tem mais.