Final de ano, época que os filmes começam a corrida dourada para os prêmios do ano que vêm. Globo de Ouro e Oscar estão chegando, mas o que teve de bom no cinema no ano? Desde clássicos instantâneos até filmes nacionais super reconhecidos internacionalmente, 2014 foi um ótimo ano para a sétima arte em todos os sentidos.
Então como escolher os melhores do ano numa arte tão vasta e eclética? Decidimos dividir a lista em duas. A primeira, comandada por José Salvani, traz os 10 melhores filmes blockbusters do ano: aqueles filmes pipoca que lotam salas de cinema mundo afora, de gênero ação e aventura predominantemente. A segunda, comandada por Gustavo Hackaq, contém os 10 filmes cults de 2014: filmes alternativos, voltados para um público menos interessado em filmes de ação e afins e, consequentemente, menos visibilidade no mercado - são dramas e filmes mais fortes (alguns você deve não conhecer e já recomendamos que o faça o quanto antes).
Mas atenção: as listas possuem filmes lançados nos cinemas brasileiros em 2014, então há filmes de 2013 que saíram em solo tupiniquim só esse ano, certo? Pega a pipoca e se joga na nossa lista com aqueles velhos e bons comentários caramelizados. Ah, é sempre bom lembrar de olhar a classificação indicativa, hein? Há filmes com teor mais pesado e é bom ficar de olho #ItResponsabilidade.
10) "X-Men: Dias de um Futuro Esquecido" (X-Men: Days of Future Past), de Bryan Singer
A franquia dos famosos mutantes, ao criar uma nova trilogia a partir de "X-Men: Primeira Classe", não agradou parte dos fãs, mas foi louvado pela crítica especializada. O novo elenco não fora amado como o antigo, apontado como o principal fator para a "falta de sucesso". Buscando alguma solução para reverter tal problema, parte do elenco da primeira trilogia foi chamado de volta para um novo filme, entretanto, o antigo manteve-se como principal. "X-Men: Dias de um Futuro Esquecido" baseia-se em uma HQ de mesmo nome, onde somos situados em dois tempos: um futuro caótico dominado pelos sentinelas - robôs criados inicialmente para eliminar apenas os mutantes - e um passado onde eles começavam a trilhar seu caminho, seus primeiros protótipos ganhavam vida. Buscando dar um fim ao futuro apocalíptico, Wolverine (Hugh Jackman) é mandando para o passado com a certeza de que ao impedir um certo acontecimento, os sentinelas jamais entrariam em ação. A dinâmica entre os dois tempos é sensacional, principalmente quando chegamos ao clímax. Temos aqui uma das melhores sequências da franquia. Só não arriscamos dizer ser o melhor filme dela devido a um pequeno (e quase imperceptível) erro.
9) "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" (idem), de Daniel Ribeiro
Quando ingressamos na adolescência, somos cercados por diversos questionamentos, desde os banais até os mais assustadores. "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" - antigo concorrente à vaga de "Melhor Filme Estrangeiro" no Oscar - procura responder as questões de Leonardo. Nosso protagonista é cego. O adolescente tenta entender o porquê de sua mãe ser tão cuidadosa quanto a sua condição - o garoto clama por um pouco de independência (taí a troca dos títulos do curta - "Eu Não Quero Voltar Sozinho" - para o do longa) -, preocupa-se com a pressão de ter seu tão sonhado primeiro beijo, e é surpreendido quando sua sexualidade entra em jogo ao conhecer Gabriel, o novo aluno de sua escola. Todas suas dúvidas tornam-se certezas em meio a um filme doce, meigo e sensível que vem conseguindo prêmios mundo afora (como no Festival de Berlim e em diversos outros). Uma pena ter ficado de fora da lista de indicados ao Oscar.
8) "Capitão América: O Soldado Invernal" (Captain America: The Winter Soldier), de Anthony e Joe Russo
Dentre os "mundos" do Universo Cinematográfico Marvel, o de Chris Evans sempre se mostrou o mais "maduro", fora de suas piadinhas que tanto amamos - há algumas em seus filmes, mas nada que chegue ao ponto de comparações - e ~independente~ de eventos de outros longas. Desde "Capitão América: O Primeiro Vingador", somos apresentados aos temas políticos, mesmo que em segundo plano, e em "O Soldado Invernal" não foi diferente. Porém aqui, tais temas são realmente o foco. A corrupção está presente em todos os lugares, até mesmo na S.H.I.E.L.D., organização por trás dos Vingadores. Steve Rogers é seu principal agente, junto de Viúva Negra (Scarlett Johansson) - ressalva para a divertida relação entre os dois -, fiel, mas devido a acontecimentos X, se vê questionando sobre as atitudes tomadas por ela. "Capitão América 2 - O Soldado Invernal" ganha pontos suficiente para entrar em nossa lista ao criar um thriller político entre as duas maiores organizações da Marvel - S.H.I.E.L.D. e Hidra - e, ao mostrar empasses internos pouco vistos no universo criado pelo estúdio. Mas já avisamos, isto irá mudar em breve.
7) "Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1" (The Hunger Games: Mockingjay Part 1), de Francis Lawrence
"Jogos Vorazes", trilogia de Suzanne Collins, tornou-se um fenômeno, talvez tão forte quanto "Harry Potter". Diferente de outras séries, em que o protagonista é "O escolhido", Katniss é apenas uma vítima em meio a repressão da Capital. MAS, Katnícia sequer tinha ideia das consequências ao voluntariar-se como um tributo para os Jogos Vorazes no lugar de sua irmã. Desafiou a Capital apenas em busca de sua sobrevivência e de Peeta, ao fim de sua primeira participação nos Jogos. Tornou-se o símbolo de uma revolução, o Tordo. Em seus dois primeiros filmes, a franquia procurou mostrar uma protagonista frágil, porém suas atitudes provavam ao contrário - principalmente no primeiro - por mais que soasse "foi sem querer". Na primeira parte de "A Esperança", o lado frágil de Katniss é explorado ao máximo, ela é apenas um objeto-chave a ser usado para liderar os Rebeldes, se mostra cansada e confusa quanto a tudo isso. E, talvez, devido a grande carga que ela se propõe a carregar sozinha, ser o Tordo, a imagem de uma revolução, tenha feito com que ela esquecesse quem realmente é. "Meu nome é Katniss Everden, sou do Distrito 12...". Diferente de seus antecessores, em "A Esperança - Parte 1", não há aquela ação frenética, sendo um filme preocupado apenas em desenvolver seus novos e velhos personagens, além de mostrar os diversos lados de uma guerra.
6) "Malévola" (Maleficent), de Robert Stromberg
Há um bom tempo Hollywood tem o gosto em fazer adaptações de contos de fadas, e quase todas nem sempre seguem a finco a história original. Entretanto, ganhamos ótimas versões as vezes - vide "Para Sempre Cinderela". Desde "Branca de Neve e o Caçador", estas adaptações "nada convencionais" ganharam força novamente, desencadeando diversas outras. A Disney sempre abriu mão de seus contos, e como percebeu que tudo ia de mal a pior (rs), tomou um deles para si. "A Bela Adormecida" foi escolhido, abandonando, em parte, Aurora, e focando-se em nossa antagonista, dando, também, nome ao filme. "Malévola" quebra novamente a essência do original - e qual adaptação a mantém? - entretanto, entrega um roteiro cativante - mesmo com um furinho aqui e ali -, takes belíssimos e uma personagem-título excelente, ainda mais quando temos Angelina Jolie e sua sensacional atuação. Quem choramos junto da personagem ao ter [SPOILER] suas asas cortadas [/SPOILER]? Rimos e nos cativamos por Aurora junto de Malévola. Um filme leve e divertido. Que a nova adaptação de "Cinderela" siga o mesmo caminho. Amém.
5) "Interestelar" (Interstellar), de Christopher Nolan
Christopher Nolan sempre se mostrou ser um diretor para ficar de olho quanto aos seus filmes feitos para a massa, porém um tanto "profundos". O diretor ganhou admiração (quase) total do público com o cultbuster (hahahaha) "A Origem" – então, amigos, o pião parou ou não de rodar? -, e a, para muitos imaculada, Trilogia "O Cavaleiro das Trevas". Após entregar este último, Nolan focou-se em um novo projeto, o misterioso "Interestelar". Depois de trailers fantásticos, enfim pudemos conferir o resultado final. No filme, a Terra está com seus dias contatos, suas reservas naturais estão esgotadas, fazendo com que a humanidade esteja condenada. Porém, há uma solução para que os humanos não morram junto do planeta. Cooper (Mathew McConaughey), um ex-piloto de aeronaves, é chamado para liderar uma expedição em busca de novos planetas para nós, junto da belíssima Brand (Anne Hathaway). Assim, mergulhamos em uma jornada incrível, com um mundo feito inteiramente por água, um planeta frio e viagens intergalácticas. Tudo isso em meio a uma fotografia impecável, um verdadeiro espetáculo aos olhos. E é claro que temos o dedo do diretor aqui – o filme é dele oras –, com seus questionamentos filosóficos, porém de fácil entendimento ao publico.
4) "Guardiões da Galáxia" (Guardians of the Galaxy), de James Gun
Com o sucesso de seus (maiores) personagens em estúdios como Sony e Fox, a Marvel decidiu apostar em seus desconhecidos e criar algo para chamar de seu lá em 2008. Dentre os filmes do gênero, a Casa de Ideias saiu a frente ao trazer um universo compartilhado ao cinema, fazendo com que (quase) tudo se interligue. Após filmes como "Homem de Ferro", "Capitão América", "Thor" e até mesmo "Os Vingadores", a Marvel precisava de algo novo, uma garantia para o futuro. Desprender-se de grandes nomes, apostar em novos. Talvez como a proposta mais arriscada da Marvel pós-Homem-de-Ferro, nascia "Guardiões da Galáxia". O grupo era, até então, desconhecido por grande parte do público, era um "tiro no escuro". Era. "Guardiões da Galáxia" rendeu milhões e teve sua trilha sonora passando algumas semanas no topo dos charts. Ao assistir "Guardiões da Galáxia", vemos um típico filme-Marvel, recheado de ação, com uma boa dose de humor. Entretanto, aqui funciona de uma maneira diferente, não como "alívio cômico". O filme foi feito inteiramente para ser engraçado, divertido, nada preocupado em "superar seus concorrentes" ou em manter um tom similar ao universo que faz parte.
3) "Godzilla" (idem), de Gareth Edwards
Após 10 anos sem algum filme levando seu nome, o Rei dos Monstros retorna de maneira triunfal ao mundo do cinema. Logo em seus primeiros minutos, "Godzilla" mostra ser um filme trabalhado em volta de tensões e grandes expectativas, criando um excelente suspense. O famoso kaiju, por exemplo, leva cerca de 40 minutos para fazer sua primeira aparição por completo. Temos apenas, em meio a esse tempo, closes em sua calda e suas grandes patas, prendendo o espectador para o "grande momento". Apoiado em efeitos especiais fantásticos, explicações científicas críveis e simples, "Godzilla" não se importa em trazer um monstro temível, como mostrado nos trailers, e sim um símbolo de equilíbrio para a natureza. Talvez, ressaltar esse ponto já trabalhado em filmes anteriores (desconhecidos por grande parte do público), tenha feito com que "Godzilla" não fique uma posição acima, entretanto continua sendo uma excelente homenagem ao filme de 54.
2) "Lucy" (idem), de Luc Besson
Em 2008, surgia Hancock, um herói criado para o cinema. Nesta época, a Marvel Studios dava seus primeiros passos com seu universo cinematográfico, ainda tímida e nada grandiosa como hoje. Sua ascensão, talvez, tenha inspirado Luc Besson a apostar (novamente) em um herói próprio para o cinema. Diferente do longa de Will Smith, "Lucy" não traz nada que nos remeta aos personagens com suas máscaras, capa vermelha e collant. Em momento algum, o termo "herói" é citado e a personagem-título sequer é vangloriada como tal. Lucy (Scarlett Johansson) apenas busca sua vingança - a morte daqueles que a sequestraram e a tornaram quem ela é, uma mulher com poderes sobre-humanos. Com sua montagem objetiva, questões nunca abordadas em filmes do gênero - os humanos seriam capazes de suportar todo o conhecimento do universo? - e excelentes cenas de ação, "Lucy" é merecedor de estar em nossa lista.
1) "Planeta dos Macacos: O Confronto" (Dawn of the Planet of the Apes), de Matt Reeves
Abandonando os trajes e maquiagens como os efeitos visuais, a franquia "Planeta dos Macacos" fez seu retorno ao cinema em 2011, banhada em uma espetacular computação gráfica. Em seu reinício, conhecemos um novo Ceaser (Andy Serkis), sua origem e sua busca por um lugar só seu. Um lar. Em "Planeta dos Macacos: O Confronto" - uma continuação não-direta, porém recheada de referências ao seu antecessor -, vemos que o poderoso chimpanzé conquistou seu lar, os macacos a sua volta desde o primeiro filme continuam junto a ele e evoluídos! Há uma sociedade quase-humana, com hierarquia, organização social e sistemas o suficiente para sustentá-la. O grande questionamento levantado aqui, é como os macacos chegaram ao ponto de serem tão parecidos com os humanos, a ponto de corromperem a si próprios. "Sempre achei os macacos superiores aos humanos. Vejo só agora como somos parecidos". "O confronto" presente no título pode ser correspondente a "humanos vs macacos", porém ficamos com "macacos vs macacos", algo que deve ser abordado (novamente) em futuros filmes, visto que neste é sua peça-chave. É claro que tal questionamento está jogado em meio a macacos andando à cavalo, falando (não é uma novidade, porém continua fantástico) e empunhando armas, tornando a experiência incrível. E para aqueles que esperam o "grande confronto entre humanos e macacos", aguardem. Já fomos avisados que isto acontecerá em um futuro próximo, e a nível global!
Matthew McConaughey e Jared Leto foram os homens do ano. Os dois arremataram o Oscar de "Melhor Ator" e "Melhor Ator Coajuvante", respectivamente, na última edição do prêmio, consolidando "Clube de Compras Dallas" como um dos grandes filmes de 2014. No filme, McConaughey é Ron Woodroof, um eletricista machista, homofóbico e casca dura que contrai o vírus HIV em pleno "boom" da doença nos Estados Unidos. Ele se vê então completamente acuado - enquanto os médicos o dão apenas 30 dias de vida, ele carrega o "vírus gay", algo que abomina. A coisa começa a mudar quando ele conhece Rayon, interpretado por um impressionante Leto, um travesti também com a doença. Tudo isso poderia fazer do filme mais um daqueles melodramas que gritam "Me dê um Oscar por favooor!", mas a direção de Jean-Marc Vallée é segura e consegue manter o filme nos trilhos, claro, com a ajuda dos dois atores, que estão assustadores em suas caracterizações, tanto físicas quanto psicológicas, dando uma humanidade tocante que consegue ser fiel e verdadeira sem soar piegas. Enquanto Leto sempre se mostrou um bom ator, é impressionante o quanto McConaughey saiu de galanzinho de comédia romântica para se tornar um dos maiores atores da atualidade.
9) "Nebraska" (idem), de Alexander Payne
"O Artista" fez história ao concorrer (e ganhar) o Oscar de "Melhor Filme" em 2012 sendo preto e branco. Na edição desse ano tivemos um outro filme descolorido: "Nebraska". E o que esses filmes querem sendo sem cor na época dos arrasa-quarteirão em 3D? "O Artista" quis resgatar a época que se passa de forma fidedigna, enquanto "Nebraska" almejava valorizar sua narrativa em vez das cores. É como se a falta de cor nos fizesse focar na textura da tela, textura essa pincelada com uma história curiosa: Woody Grande (Bruce Dern) é um idoso alcoólatra que pensa ter ganho um milhão de dólares. Ele então parte até Nebraska para receber o tal prêmio, arrastando consigo David (Will Forte), um dos seus filhos. Embarcamos então numa lunática viagem dos dois que desenterrará nuances da vida de toda a família. Alexander Payne conduz tudo com magnífica leveza e cria um filme tocante, sincero e verdadeiro, que universalmente conquista pela nada sutil humanidade com grande atuação de Dern (que rendeu-lhe o prêmio de "Melhor Ator" no Festival de Cannes de 2013). "Nebraska" é um filme sobre ser, e as felicidades e infelicidades desse ato grandioso.
8) "O Grande Hotel Budapeste" (The Grand Budapest Hotel), de Wes Anderson
Wes Anderson é um dos diretores com o maior senso estético da atualidade. É impossível assistir a algo dele e não saber que é dele, não importa se é curta, propaganda, longa, ele já cunhou uma identidade visual fortíssima. Em seu oitavo filme, essa identidade é explorada ao máximo. "O Grande Hotel Budapeste" conta o esplendor e a decadência do tal hotel, interligado através da amizade de Monsieur Gustave H. (Ralph Fiennes), o concierge do "Budapeste", e Zero (Tony Revolori), o lobby boy. Com uma penca de atores estrelares (Willem Dafoe, Tilda Swinton, Edward Norton, Bill Muray, Léa Seydoux, Owen Wilson, Jude Law, Adrien Brody e vários outros), estes são apenas ornamentos cenográficos do todo, porque é o hotel o personagem principal. Fotografado da forma mais perfeita possível, o filme é violentamente lindo, com todos os quadros na mais perfeita harmonia de direção de arte, fotografia, figurino e tudo mais. "O Grande Hotel Budapeste" não é só uma história leve, divertida e fabulosa, é um gigante deleite para os olhos, que merece no mínimo o Oscar de "Melhor Fotografia" e "Melhor Design de Produção". Você vai terminar o filme querendo passar um dia naquele hotel.
PARTE 1: Os 10 melhores filmes "pipoca" de 2014
A franquia dos famosos mutantes, ao criar uma nova trilogia a partir de "X-Men: Primeira Classe", não agradou parte dos fãs, mas foi louvado pela crítica especializada. O novo elenco não fora amado como o antigo, apontado como o principal fator para a "falta de sucesso". Buscando alguma solução para reverter tal problema, parte do elenco da primeira trilogia foi chamado de volta para um novo filme, entretanto, o antigo manteve-se como principal. "X-Men: Dias de um Futuro Esquecido" baseia-se em uma HQ de mesmo nome, onde somos situados em dois tempos: um futuro caótico dominado pelos sentinelas - robôs criados inicialmente para eliminar apenas os mutantes - e um passado onde eles começavam a trilhar seu caminho, seus primeiros protótipos ganhavam vida. Buscando dar um fim ao futuro apocalíptico, Wolverine (Hugh Jackman) é mandando para o passado com a certeza de que ao impedir um certo acontecimento, os sentinelas jamais entrariam em ação. A dinâmica entre os dois tempos é sensacional, principalmente quando chegamos ao clímax. Temos aqui uma das melhores sequências da franquia. Só não arriscamos dizer ser o melhor filme dela devido a um pequeno (e quase imperceptível) erro.
9) "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" (idem), de Daniel Ribeiro
Quando ingressamos na adolescência, somos cercados por diversos questionamentos, desde os banais até os mais assustadores. "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" - antigo concorrente à vaga de "Melhor Filme Estrangeiro" no Oscar - procura responder as questões de Leonardo. Nosso protagonista é cego. O adolescente tenta entender o porquê de sua mãe ser tão cuidadosa quanto a sua condição - o garoto clama por um pouco de independência (taí a troca dos títulos do curta - "Eu Não Quero Voltar Sozinho" - para o do longa) -, preocupa-se com a pressão de ter seu tão sonhado primeiro beijo, e é surpreendido quando sua sexualidade entra em jogo ao conhecer Gabriel, o novo aluno de sua escola. Todas suas dúvidas tornam-se certezas em meio a um filme doce, meigo e sensível que vem conseguindo prêmios mundo afora (como no Festival de Berlim e em diversos outros). Uma pena ter ficado de fora da lista de indicados ao Oscar.
8) "Capitão América: O Soldado Invernal" (Captain America: The Winter Soldier), de Anthony e Joe Russo
Dentre os "mundos" do Universo Cinematográfico Marvel, o de Chris Evans sempre se mostrou o mais "maduro", fora de suas piadinhas que tanto amamos - há algumas em seus filmes, mas nada que chegue ao ponto de comparações - e ~independente~ de eventos de outros longas. Desde "Capitão América: O Primeiro Vingador", somos apresentados aos temas políticos, mesmo que em segundo plano, e em "O Soldado Invernal" não foi diferente. Porém aqui, tais temas são realmente o foco. A corrupção está presente em todos os lugares, até mesmo na S.H.I.E.L.D., organização por trás dos Vingadores. Steve Rogers é seu principal agente, junto de Viúva Negra (Scarlett Johansson) - ressalva para a divertida relação entre os dois -, fiel, mas devido a acontecimentos X, se vê questionando sobre as atitudes tomadas por ela. "Capitão América 2 - O Soldado Invernal" ganha pontos suficiente para entrar em nossa lista ao criar um thriller político entre as duas maiores organizações da Marvel - S.H.I.E.L.D. e Hidra - e, ao mostrar empasses internos pouco vistos no universo criado pelo estúdio. Mas já avisamos, isto irá mudar em breve.
7) "Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1" (The Hunger Games: Mockingjay Part 1), de Francis Lawrence
"Jogos Vorazes", trilogia de Suzanne Collins, tornou-se um fenômeno, talvez tão forte quanto "Harry Potter". Diferente de outras séries, em que o protagonista é "O escolhido", Katniss é apenas uma vítima em meio a repressão da Capital. MAS, Katnícia sequer tinha ideia das consequências ao voluntariar-se como um tributo para os Jogos Vorazes no lugar de sua irmã. Desafiou a Capital apenas em busca de sua sobrevivência e de Peeta, ao fim de sua primeira participação nos Jogos. Tornou-se o símbolo de uma revolução, o Tordo. Em seus dois primeiros filmes, a franquia procurou mostrar uma protagonista frágil, porém suas atitudes provavam ao contrário - principalmente no primeiro - por mais que soasse "foi sem querer". Na primeira parte de "A Esperança", o lado frágil de Katniss é explorado ao máximo, ela é apenas um objeto-chave a ser usado para liderar os Rebeldes, se mostra cansada e confusa quanto a tudo isso. E, talvez, devido a grande carga que ela se propõe a carregar sozinha, ser o Tordo, a imagem de uma revolução, tenha feito com que ela esquecesse quem realmente é. "Meu nome é Katniss Everden, sou do Distrito 12...". Diferente de seus antecessores, em "A Esperança - Parte 1", não há aquela ação frenética, sendo um filme preocupado apenas em desenvolver seus novos e velhos personagens, além de mostrar os diversos lados de uma guerra.
6) "Malévola" (Maleficent), de Robert Stromberg
Há um bom tempo Hollywood tem o gosto em fazer adaptações de contos de fadas, e quase todas nem sempre seguem a finco a história original. Entretanto, ganhamos ótimas versões as vezes - vide "Para Sempre Cinderela". Desde "Branca de Neve e o Caçador", estas adaptações "nada convencionais" ganharam força novamente, desencadeando diversas outras. A Disney sempre abriu mão de seus contos, e como percebeu que tudo ia de mal a pior (rs), tomou um deles para si. "A Bela Adormecida" foi escolhido, abandonando, em parte, Aurora, e focando-se em nossa antagonista, dando, também, nome ao filme. "Malévola" quebra novamente a essência do original - e qual adaptação a mantém? - entretanto, entrega um roteiro cativante - mesmo com um furinho aqui e ali -, takes belíssimos e uma personagem-título excelente, ainda mais quando temos Angelina Jolie e sua sensacional atuação. Quem choramos junto da personagem ao ter [SPOILER] suas asas cortadas [/SPOILER]? Rimos e nos cativamos por Aurora junto de Malévola. Um filme leve e divertido. Que a nova adaptação de "Cinderela" siga o mesmo caminho. Amém.
5) "Interestelar" (Interstellar), de Christopher Nolan
Christopher Nolan sempre se mostrou ser um diretor para ficar de olho quanto aos seus filmes feitos para a massa, porém um tanto "profundos". O diretor ganhou admiração (quase) total do público com o cultbuster (hahahaha) "A Origem" – então, amigos, o pião parou ou não de rodar? -, e a, para muitos imaculada, Trilogia "O Cavaleiro das Trevas". Após entregar este último, Nolan focou-se em um novo projeto, o misterioso "Interestelar". Depois de trailers fantásticos, enfim pudemos conferir o resultado final. No filme, a Terra está com seus dias contatos, suas reservas naturais estão esgotadas, fazendo com que a humanidade esteja condenada. Porém, há uma solução para que os humanos não morram junto do planeta. Cooper (Mathew McConaughey), um ex-piloto de aeronaves, é chamado para liderar uma expedição em busca de novos planetas para nós, junto da belíssima Brand (Anne Hathaway). Assim, mergulhamos em uma jornada incrível, com um mundo feito inteiramente por água, um planeta frio e viagens intergalácticas. Tudo isso em meio a uma fotografia impecável, um verdadeiro espetáculo aos olhos. E é claro que temos o dedo do diretor aqui – o filme é dele oras –, com seus questionamentos filosóficos, porém de fácil entendimento ao publico.
4) "Guardiões da Galáxia" (Guardians of the Galaxy), de James Gun
Com o sucesso de seus (maiores) personagens em estúdios como Sony e Fox, a Marvel decidiu apostar em seus desconhecidos e criar algo para chamar de seu lá em 2008. Dentre os filmes do gênero, a Casa de Ideias saiu a frente ao trazer um universo compartilhado ao cinema, fazendo com que (quase) tudo se interligue. Após filmes como "Homem de Ferro", "Capitão América", "Thor" e até mesmo "Os Vingadores", a Marvel precisava de algo novo, uma garantia para o futuro. Desprender-se de grandes nomes, apostar em novos. Talvez como a proposta mais arriscada da Marvel pós-Homem-de-Ferro, nascia "Guardiões da Galáxia". O grupo era, até então, desconhecido por grande parte do público, era um "tiro no escuro". Era. "Guardiões da Galáxia" rendeu milhões e teve sua trilha sonora passando algumas semanas no topo dos charts. Ao assistir "Guardiões da Galáxia", vemos um típico filme-Marvel, recheado de ação, com uma boa dose de humor. Entretanto, aqui funciona de uma maneira diferente, não como "alívio cômico". O filme foi feito inteiramente para ser engraçado, divertido, nada preocupado em "superar seus concorrentes" ou em manter um tom similar ao universo que faz parte.
Após 10 anos sem algum filme levando seu nome, o Rei dos Monstros retorna de maneira triunfal ao mundo do cinema. Logo em seus primeiros minutos, "Godzilla" mostra ser um filme trabalhado em volta de tensões e grandes expectativas, criando um excelente suspense. O famoso kaiju, por exemplo, leva cerca de 40 minutos para fazer sua primeira aparição por completo. Temos apenas, em meio a esse tempo, closes em sua calda e suas grandes patas, prendendo o espectador para o "grande momento". Apoiado em efeitos especiais fantásticos, explicações científicas críveis e simples, "Godzilla" não se importa em trazer um monstro temível, como mostrado nos trailers, e sim um símbolo de equilíbrio para a natureza. Talvez, ressaltar esse ponto já trabalhado em filmes anteriores (desconhecidos por grande parte do público), tenha feito com que "Godzilla" não fique uma posição acima, entretanto continua sendo uma excelente homenagem ao filme de 54.
Em 2008, surgia Hancock, um herói criado para o cinema. Nesta época, a Marvel Studios dava seus primeiros passos com seu universo cinematográfico, ainda tímida e nada grandiosa como hoje. Sua ascensão, talvez, tenha inspirado Luc Besson a apostar (novamente) em um herói próprio para o cinema. Diferente do longa de Will Smith, "Lucy" não traz nada que nos remeta aos personagens com suas máscaras, capa vermelha e collant. Em momento algum, o termo "herói" é citado e a personagem-título sequer é vangloriada como tal. Lucy (Scarlett Johansson) apenas busca sua vingança - a morte daqueles que a sequestraram e a tornaram quem ela é, uma mulher com poderes sobre-humanos. Com sua montagem objetiva, questões nunca abordadas em filmes do gênero - os humanos seriam capazes de suportar todo o conhecimento do universo? - e excelentes cenas de ação, "Lucy" é merecedor de estar em nossa lista.
1) "Planeta dos Macacos: O Confronto" (Dawn of the Planet of the Apes), de Matt Reeves
Abandonando os trajes e maquiagens como os efeitos visuais, a franquia "Planeta dos Macacos" fez seu retorno ao cinema em 2011, banhada em uma espetacular computação gráfica. Em seu reinício, conhecemos um novo Ceaser (Andy Serkis), sua origem e sua busca por um lugar só seu. Um lar. Em "Planeta dos Macacos: O Confronto" - uma continuação não-direta, porém recheada de referências ao seu antecessor -, vemos que o poderoso chimpanzé conquistou seu lar, os macacos a sua volta desde o primeiro filme continuam junto a ele e evoluídos! Há uma sociedade quase-humana, com hierarquia, organização social e sistemas o suficiente para sustentá-la. O grande questionamento levantado aqui, é como os macacos chegaram ao ponto de serem tão parecidos com os humanos, a ponto de corromperem a si próprios. "Sempre achei os macacos superiores aos humanos. Vejo só agora como somos parecidos". "O confronto" presente no título pode ser correspondente a "humanos vs macacos", porém ficamos com "macacos vs macacos", algo que deve ser abordado (novamente) em futuros filmes, visto que neste é sua peça-chave. É claro que tal questionamento está jogado em meio a macacos andando à cavalo, falando (não é uma novidade, porém continua fantástico) e empunhando armas, tornando a experiência incrível. E para aqueles que esperam o "grande confronto entre humanos e macacos", aguardem. Já fomos avisados que isto acontecerá em um futuro próximo, e a nível global!
PARTE 2: Os 10 melhores filmes "cult" de 2014
10) "Clube de Compras Dallas" (Dallas Buyers Club), de Jean-Marc ValléeMatthew McConaughey e Jared Leto foram os homens do ano. Os dois arremataram o Oscar de "Melhor Ator" e "Melhor Ator Coajuvante", respectivamente, na última edição do prêmio, consolidando "Clube de Compras Dallas" como um dos grandes filmes de 2014. No filme, McConaughey é Ron Woodroof, um eletricista machista, homofóbico e casca dura que contrai o vírus HIV em pleno "boom" da doença nos Estados Unidos. Ele se vê então completamente acuado - enquanto os médicos o dão apenas 30 dias de vida, ele carrega o "vírus gay", algo que abomina. A coisa começa a mudar quando ele conhece Rayon, interpretado por um impressionante Leto, um travesti também com a doença. Tudo isso poderia fazer do filme mais um daqueles melodramas que gritam "Me dê um Oscar por favooor!", mas a direção de Jean-Marc Vallée é segura e consegue manter o filme nos trilhos, claro, com a ajuda dos dois atores, que estão assustadores em suas caracterizações, tanto físicas quanto psicológicas, dando uma humanidade tocante que consegue ser fiel e verdadeira sem soar piegas. Enquanto Leto sempre se mostrou um bom ator, é impressionante o quanto McConaughey saiu de galanzinho de comédia romântica para se tornar um dos maiores atores da atualidade.
9) "Nebraska" (idem), de Alexander Payne
"O Artista" fez história ao concorrer (e ganhar) o Oscar de "Melhor Filme" em 2012 sendo preto e branco. Na edição desse ano tivemos um outro filme descolorido: "Nebraska". E o que esses filmes querem sendo sem cor na época dos arrasa-quarteirão em 3D? "O Artista" quis resgatar a época que se passa de forma fidedigna, enquanto "Nebraska" almejava valorizar sua narrativa em vez das cores. É como se a falta de cor nos fizesse focar na textura da tela, textura essa pincelada com uma história curiosa: Woody Grande (Bruce Dern) é um idoso alcoólatra que pensa ter ganho um milhão de dólares. Ele então parte até Nebraska para receber o tal prêmio, arrastando consigo David (Will Forte), um dos seus filhos. Embarcamos então numa lunática viagem dos dois que desenterrará nuances da vida de toda a família. Alexander Payne conduz tudo com magnífica leveza e cria um filme tocante, sincero e verdadeiro, que universalmente conquista pela nada sutil humanidade com grande atuação de Dern (que rendeu-lhe o prêmio de "Melhor Ator" no Festival de Cannes de 2013). "Nebraska" é um filme sobre ser, e as felicidades e infelicidades desse ato grandioso.
8) "O Grande Hotel Budapeste" (The Grand Budapest Hotel), de Wes Anderson
Wes Anderson é um dos diretores com o maior senso estético da atualidade. É impossível assistir a algo dele e não saber que é dele, não importa se é curta, propaganda, longa, ele já cunhou uma identidade visual fortíssima. Em seu oitavo filme, essa identidade é explorada ao máximo. "O Grande Hotel Budapeste" conta o esplendor e a decadência do tal hotel, interligado através da amizade de Monsieur Gustave H. (Ralph Fiennes), o concierge do "Budapeste", e Zero (Tony Revolori), o lobby boy. Com uma penca de atores estrelares (Willem Dafoe, Tilda Swinton, Edward Norton, Bill Muray, Léa Seydoux, Owen Wilson, Jude Law, Adrien Brody e vários outros), estes são apenas ornamentos cenográficos do todo, porque é o hotel o personagem principal. Fotografado da forma mais perfeita possível, o filme é violentamente lindo, com todos os quadros na mais perfeita harmonia de direção de arte, fotografia, figurino e tudo mais. "O Grande Hotel Budapeste" não é só uma história leve, divertida e fabulosa, é um gigante deleite para os olhos, que merece no mínimo o Oscar de "Melhor Fotografia" e "Melhor Design de Produção". Você vai terminar o filme querendo passar um dia naquele hotel.
7) "Sob a Pele" (Under The Skin), de Jonathan Glazer
Uma alienígena sedutora está na Escócia caçando homens. É essa a premissa de "Sob a Pele". Só isso. Interpretada por Scarlett Johansson, o tal e.t. sai dirigindo pelas estradas do frio país e observa o comportamento dos homens, como eles vivem, amam, relacionam-se, morrem. Ela escolhe algum, o seduz rapidamente e ele está perdido. Não, não a temos engolindo o cara ou transformando-se em algo tipo a criatura do filme "Alien", a coisa aqui é metafórica. "Sob a Pele" não é um filme para todo mundo: apesar da simples e direta premissa, o filme é hermético, lento, estranho. Jonathan Glazer constrói um conto simbólico de difícil digestão e fácil reflexão, que evoca sentimentos desconcertantes em quem assiste. Johansson, que anda afiada na escolha de seus papéis (note quantas vezes ela aparece na nossa lista), usa aqui seu corpo em prol da personagem, deixando praticamente a voz de lado (engraçado reparar que em "Ela", outro filme estrelado pela atriz, só sua voz é usada, e não o corpo - foi combinado?). Corpo esse explorado em sequências que deram uma fama vazia ao filme - Johansson aparece completamente nua numa cena - tecendo um filme aparentemente sem sentidos, mas com sentimentos. "Sob a Pele" é um grande pesadelo filmado.
6) "O Homem Duplicado" (Enemy), de Denis Villeneuve
Jake Gyllenhaal está querendo um Oscar. Prova disso são os papéis cada vez mais desafiadores que o ator vem aceitando - em 2014 temos dois destaques: "O Abutre" e "O Homem Duplicado". Enquanto com o primeiro o ator já está recebendo reconhecimento (foi indicado ao Globo de Ouro de "Melhor Ator Drama"), é o segundo filme que consegue se destacar. "O Homem Duplicado" é baseado no livro de mesmo título do autor José Saramago e conta a história de um professor que um dia, ao assistir um filme, vê um cara que é igual a ele. Aquilo o deixa obcecado e ele passar a seguir os rastros do sósia para entender o que está acontecendo. Tudo isso soa bastante convencional, mas a direção de Denis Villeneuve destrói a narrativa ordinária criando um gigantesco labirinto cheio de metáforas que não fazem o menor sentido numa primeira assistida. As chances de você terminar o filme entendendo nada são enormes, e não se culpe. O diretor não dá todas as ferramentas possíveis para o entendimento do filme de mão beijada - temos que reassisti-lo e, literalmente, ir à caça de pistas pela internet para compreendermos o que diabos é aquilo tudo. Quanto mais você entender, mais amará "O Homem Duplicado" e mais valerá a pena essa caçada alucinante. E a todo momento surge uma hipótese diferente que deixa o filme ainda mais rico.
Jake Gyllenhaal está querendo um Oscar. Prova disso são os papéis cada vez mais desafiadores que o ator vem aceitando - em 2014 temos dois destaques: "O Abutre" e "O Homem Duplicado". Enquanto com o primeiro o ator já está recebendo reconhecimento (foi indicado ao Globo de Ouro de "Melhor Ator Drama"), é o segundo filme que consegue se destacar. "O Homem Duplicado" é baseado no livro de mesmo título do autor José Saramago e conta a história de um professor que um dia, ao assistir um filme, vê um cara que é igual a ele. Aquilo o deixa obcecado e ele passar a seguir os rastros do sósia para entender o que está acontecendo. Tudo isso soa bastante convencional, mas a direção de Denis Villeneuve destrói a narrativa ordinária criando um gigantesco labirinto cheio de metáforas que não fazem o menor sentido numa primeira assistida. As chances de você terminar o filme entendendo nada são enormes, e não se culpe. O diretor não dá todas as ferramentas possíveis para o entendimento do filme de mão beijada - temos que reassisti-lo e, literalmente, ir à caça de pistas pela internet para compreendermos o que diabos é aquilo tudo. Quanto mais você entender, mais amará "O Homem Duplicado" e mais valerá a pena essa caçada alucinante. E a todo momento surge uma hipótese diferente que deixa o filme ainda mais rico.
Lars Von Trier sempre foi um cineasta polêmico: suas declarações são controversas (ele já chegou a ser expulso do Festival de Cannes) e seus filmes são sempre, repetimos, SEMPRE chocantes - seu mais novo não poderia ser diferente. O dinamarquês nunca confirmou oficialmente, mas ele gosta de fazer trilogias. A nova é chamada "Trilogia da Depressão". Os dois primeiros filmes são "Anticristo" e "Melancolia", ambos fortíssimos. Os filmes são tão penosos que é curiosos notarmos como as protagonistas sempre ganham o prêmio de "Melhor Atriz" em Cannes pelo esforço imposto por Von Trier (Björk levou por "Dançando no Escuro", Charlotte Gainsbourg por "Anticristo" e Kirsten Dunst por "Melancolia"). Charlotte virou a queridinha do diretor e volta a protagonizar um filme seu, "Ninfomaníaca". A película já nasceu envolta de polêmica - há cenas de sexo explícito no decorrer das quatro horas. Divido em duas partes, "Ninfomaníaca" é sim forte, mas, estranhamente, o mais leve da trilogia, já que o diretor usa de recursos visuais para dar leveza ao andar da carruagem, como metáforas e brincadeiras na tela, sem deixar de discutir as nuances humanas, sociais e culturais que ele adora cutucar, enfiando o dedo e cuspindo como todos nós somos errados. "Ninfomaníaca" mostra como o sexo é tanto obstáculo como via de escape das correntes ideológicas que criamos sem nem ao mesmo saber o porquê.
4) "Garota Exemplar" (Gone Girl), de David Fincher
Lançamento de um filme do David Fincher é sempre um acontecimento, afinal, ele é diretor de "Clube da Luta", "Os Sete Crimes Capitais", "A Rede Social" e "Os Homens que Não Amavam as Mulheres", todos recebidos com euforia. Fincher agora retorna com o livro "Garota Exemplar" de Gillian Flynn como história, e tudo soava ainda mais animador quando a própria Flynn iria roteirizar o próprio livro. Pois bem, o resultado foi além do esperado. O filme conta a história de Amy, a tal garota exemplar do título (interpretada por uma insana Rosamund Pike), uma mulher que desaparece no seu aniversário de casamento. O principal suspeito? Nick (o sempre expressivo Ben Affleck), seu marido, que nega veemente estar por trás do sumiço da esposa. Só podemos contar até aqui porque o filme é uma verdadeira montanha-russa que vai arrancar sem piedade o máximo de adrenalina do seu pâncreas. O começo do filme, com a construção da relação do casal protagonista, é confusa, porém, quando Fincher joga esse didatismo pela janela, cria um filme exuberante, irônico, cheio de personagens cínicos e inescrupulosos que brincam com o espectador perversamente e deveria no mínimo render um Oscar de "Melhor Atriz" para Pike. De tirar o fôlego.
3) "Miss Violência" (Miss Violence), de Alexandros Avranas
A Grécia atualmente passa por uma crise econômica que abala a sociedade do país. A parte boa dessa situação é que estão conseguindo vomitar esses problemas em filmes magníficos (vide a obra-prima "Dente Canino"). "Miss Violência" já começa estranho: é aniversário de uma garota. A família está toda feliz na festa quando a menina vai até a sacada, olha pra câmera, ri e se suicida. Por que ela fez isso? Por que a família parece tentar esquecê-la e seguir em frente? Há, de fato, algum segredo ali? Essa são perguntas que imediatamente brotam logo no início do filme e vão lentamente se desenrolando no decorrer do mesmo, mas saiba: esse decorrer é penoso e forte, com algumas cenas nada digeríveis e até ofensivas para alguns, então assista sabendo o que enfrentará. Mais um mundo familiar austero grego, "Miss Violência" quebra os alicerces dessa instituição perfeita com cenas revoltantes e bizarras onde a violência é a causa e solução de todos os problemas, tanto que ganhou o prêmio de "Melhor Direção" e "Melhor Ator" no Festival de Veneza de 2013.
2) "Amantes Eternos" (Only Lovers Left Alive), de Jim Jarmusch
Quando falamos em filmes sobre vampiros, qual o primeiro a vir à nossa mente? Irremediavelmente, "Crepúsculo". Temos outros (e melhores) exemplos na atualidade, como o belíssimo "Deixa Ela Entrar", mas nenhum olhar sobre a vida vampira foi tão incrível quanto o de Jim Jarmusch em "Amantes Eternos". Adão e Eva são dois vampiros vivendo a modernidade do século XXI. Enquanto Adão (interpretado pelo lindíssimo Tom Hiddleston) é obscuro e fechado, Eva (a maravilhosa e rainha Tilda Swinton) é luminosa e amigável. É só olhar para os dois para vermos um yin-yang. Mas ambos possuem algo em comum: o tédio da vida. Jarmusch disseca de forma genial como seria a vida de seres imortais que já viram as mais diversas gerações e já experimentaram as mais diferentes culturas. O que há mais para se fazer? Como lidar com a futilidade da vida eletrônica e como preservar o tempo que eles vieram? E mais: como se alimentar se vivemos num gigantesco "Big Brother"? Tudo isso cria uma áurea magnética e narcotizante que nos faz adentrar naquela realidade vampira de forma ímpar, harmônica e sempre bela. Não dá para não amar um filme sobre vampiros hipsters.
1) "Ela" (Her), de Spike Jonze
Você está assistindo àquela sua série favorita. Num determinado momento o seu personagem do coração morre. Você entra em depressão, até chororô rola. Por causa de algo que não existe. Se não existe por que você se apega tanto chegando ao ponto de sofrer pelo destino de um ser inexistente e irreal? Essa é a indagação gerada pelo filme "Ela", como o amor realmente funciona. No filme, Theodore (Joaquin Phoenix), um escritor solitário, compra um novo e moderno sistema operacional de múltiplas plataformas que foi desenvolvido para interagir da forma mais complexa com o dono. O tal sistema é completamente auto-suficiente, feito para atender a todas as necessidades do usuário, tendo praticamente "vontade própria". Autonomeando-se "Samantha" (voz de Scarlett Johansson), o OS começa a fazer parte integral da vida de Theodore, e este se pega apaixonado por ele. Ou, no caso, por ela. Com trilha sonora bela, direção de arte maravilhosa e com o Oscar de "Melhor Roteiro Original" nas mãos, Jonze cria um clássico instantâneo absolutamente moderno, criativo, instigante, empolgante, apaixonante e, acima de tudo, lindo. Muito lindo.
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E é isso! Achamos que você já sabe o óbvio, mas é bom reforçar: nós não assistimos a todos os filmes lançados em 2014 no país, então essas listas são sempre mutáveis, e não a verdade absoluta - na verdade, alguma lista é? Queremos saber seus favoritos, se algum desses você também amou, não conhecia, odiou ou seja lá o que. E até o fim de 2015 que tá só começando.