O Áudio Club, localizado na Barra Funda, em São Paulo, ficou pequeno na madrugada desta sexta-feira (29), quando deu espaço para a primeira passagem da cantora dinamarquesa MØ com sua nova turnê pelo Brasil, que ainda contará com performances no Rio de Janeiro (30) e Curitiba (31).
Com seu disco já lançado, “No Mythologies To Follow”, e parcerias com Diplo (“XXX 88”, do seu primeiro CD) e o projeto eletrônico do produtor, Major Lazer (“Lean On”), a volta da cantora, que esteve no Brasil há alguns anos para uma apresentação intimista no Rio, foi possibilitada devido ao movimento dos seus fãs com a plataforma Queremos!, que enfatiza o interesse do público em relação aos shows de artistas menos cotados por grandes produtoras no país, e faz com que ela sinta a diferença que seu público sofreu por aqui. Aliás, agora ela TEM um público e essa foi uma das coisas que ela não se envergonhou em mostrar admiração, quando elogiou que a plateia sabia cantar praticamente todas as músicas de seu repertório.
Antes de explorar a vida artística em carreira solo, MØzão teve uma banda punk, que terminou em 2012, e herda muito disso em sua performance no palco. Sabe aquela moça durona e de cara fechada dos videoclipes? Vez ou outra ela até aparece, mas a maior parte do show é feita por uma mulher que transborda ousadia e autenticidade, fazendo com que a gente não queira perder cada um dos seus movimentos e muito menos cada um dos versos, entoados perfeitamente bens enquanto ela dança do seu jeitão desengonçado, interage com o público e pula de um lado para o outro do palco — no momento de cantar “Never Wanna Know”, outra do seu disco, ela surgiu no lado contrário ao palco, no camarote, e segundos depois estava de volta ao seu posto. Pareceu até mágica.
Por mais que seu repertório solo não tenha nenhum grande hit, sendo sua música mais famosa a parceria com o Major Lazer em “Lean On”, todo o show é pra cima, animadaço, e nem precisava saber cantar todas as músicas, como a maioria dos seus fãs, pra se deixar entrar no clima. As danças descoreogradas da dinamarquesa são um convite e tanto para você fazer o mesmo, ainda que não saiba dançar.
Os ápices, entretanto, também aconteceram e graças ao setlist muito bem montado, que passeava entre músicas energéticas e lentas que davam um tom mais sentimental à festa de MØ, sendo alguns dos melhores momentos “Walk This Way”, logo no comecinho do show, “Glass”, “Dummy Head” e “Waste of Time”. A dolorosa “Never Wanna Know” desperta um pouco mais de emoção sob a postura durona dela, que lidou bem com o carinho e mãos bobas dos fãs brasileiros, e “Don’t Wanna Dance” cumpre sua missão: colocar todo mundo pra dançar. Rolou até um cover de “Say You’ll Be There”, das Spice Girls.
Antes da metade do show, já dava pra se sentir exausto de tanto cantar, dançar e pular, mas simplesmente não havia como parar. Da última vez que o blogueiro que vos fala se sentiu tão conectado à uma artista durante um show foi no Lollapalooza do ano passado, com as apresentações de Lorde e Ellie Goulding. Com a diferença de que MØ fez isso para um público menor, mas com uma intensidade imensurável.
Bastante singular, não tem artista nenhuma que a gente imagine fazendo o que MØ fez em palco, toda a originalidade de seu show só teve uma pausa quando ela veio com o velho truque do “essa é a última música”, causando aquela reação do “MAS ELA NÃO VAI CANTAR AQUELE HIT???”, mas é claro que ela voltou. É claro que ela cantou.
O show contou com uma versão solo de “One More”, parceria da Elliphant com ela, e foi o público quem deu voz aos espaços preenchidos pela sueca na versão em estúdio da música. Em tempo que “Lean On”, com Major Lazer, foi o momento em que não restava dúvida: todo mundo sabia cantar tudo mesmo. A faixa também foi marcada por uma vontade incontrolável dos posseiros do seapunk presentes subirem ao palco, além da própria também se render à vontade de se jogar no público. Quem sofreu foi o segurança, que depois de tanto puxa pro palco e empurra pra plateia, sorria como se tudo aquilo fosse inacreditável e aos poucos resgatava o ar perdido, com uma respiração ofegante.
Sem mitologias à seguir, a liberdade e expressividade de MØ em palco e estúdio é um exemplo a ser seguido. Uma cantora que a gente torce para se tornar cada vez mais famosa, mas que nunca se renda aos limites impostos por essa indústria pop tão mediocremente baseada em tendências e padrões que ela provavelmente nem se sentiria confortável em acompanhar.
No fim, rolou uma balada comandada pelo Gorky, do Bonde do Rolê, e em meio à clássicos de Britney Spears, muito trap, Diplo e uns funk bem trasheiras, o que ecoava ainda eram os vocais de Karen. O que restava ainda era toda a energia que ela se permitiu compartilhar com a gente, além daquela vontade de poder aproveitar tudo aquilo de novo e de novo e outra vez. A dinamarquesa nos fez beg for it.
A foto que ilustra o post foi clicada pela Natasha Hollinger.
Agradecimento: plataforma Queremos!,
por ter possibilitado esse show incrível no Brasil <3
e a agência Cartaz pelo apoio na cobertura do blog. :)