Major Lazer vem em missão de paz. Liderado pelo Diplo, que depois de tantos anos na indústria, finalmente se encontrou no mainstream, trabalhando com artistas como Sia, Madonna, Britney Spears, Katy Perry, Beyoncé, entre outras, o trio também formado por Walshy Fire e Jillionaire vem quebrando barreiras musicais desde 2009, quando, em sua formação original, lançaram o disco “Guns Don’t Kill People... Lazers Do”, detentor de “Pon De Floor”, aquela música que só depois de Beyoncé se tornou uma referência mundo afora, também influenciando essa onda do “funk pop” de Anitta e outras no Brasil.
Ainda que hoje herde bastante das influências e inspirações individuais de Diplo, Major é um dos artistas mais ousados da música eletrônica atual e, enquanto meio mundo busca por seu lugar ao sol se inspirando nas batidas parecidinhas de David Guetta, Zedd e Calvin Harris, o trio sai à procura de experiências sonoras realmente diferentes para as rádios, mesclando da música jamaicana ao trap americano, do dancehall ao hip-hop, e o resultado não poderia ser mais animador.
O terceiro disco de inéditas do Major Lazer, “Peace Is The Mission”, pega o grupo em sua melhor fase, agora reconhecidos pelos fãs da música pop mainstream e conquistando bastante do público que Diplo angariou enquanto trabalhava com algumas cantoras, o que inclui sua parceria com Ariana Grande em “All My Love”, que até integrou a trilha sonora de “Jogos Vorazes: Em Chamas”, graças à amizade do produtor com a curadora da trilha, a neozelandesa Lorde.
“Lean On”, carro-chefe do disco, é a denúncia que todos precisávamos para o principal fato em relação aos próximos passos do trio: eles estão mais pop do que nunca. Mas não há com o que se preocupar, até porque todas as outras coisas, do interesse em descobrir e catapultar novos talentos ao misto de influências que rodam o globo, estão por lá também. Nessa faixa, por exemplo, as parcerias são da dinamarquesa MØ, nome em ascensão desde o lançamento do CD “No Mythologies To Follow”, que já havia colaborado com Diplo em “XXX 88”, do seu próprio álbum, e do DJ Snake, que se apresentou ao mundo com o explosivo sucesso de “Turn Down For What”, um dos maiores hits da EDM no ano passado. Deu pra sentir o contraste?
Dentro do disco, o trio segue passeando entre parcerias inusitadas à misturas tão inesperadas quanto “Lean On”, acertando em cheio quando a ideia é adaptar suas mil e uma influências para as rádios atuais. Uma boa pedida é “Powerful”, baladinha poderosa, com o perdão do trocadilho, que empresta os vocais da britânica Ellie Goulding e os colocam frente à frente com o vozeirão do jamaicano Tarrus Riley.
A parceria com o duo Wild Belle em “Be Together” é uma das maiores surpresas do álbum, sendo uma música levemente dançante e que retoma o trap tímido de “Lean On”, somado à synths que soam em perfeita sintonia com a doce voz de Natalie Bergman, que entoa “talvez se as estrelas se alinhassem ou nossos mundos colidissem, quem sabe no lado escuro nós pudéssemos ficar juntos, ficar juntos”.
“Blaze Up The Fire” e “Roll The Bass” são as responsáveis por ascender o hip-hop no disco, mas eles só atingem o ápice dessa vertente no fim da tracklist, quando encontram Travi$ Scott, 2 Chainz e Pusha T em “Night Riders”, faixa foderosa e com um refrão majestosamente conduzido pelo cantor Mad Cobra — mais um expoente da música jamaicana.
“Too Original”, com Elliphant e Jovi Rockwell, mantém em alta o frenesi característico do duo, e tinha tudo pra ser outro destaque do álbum, se os próprios já não tivessem feito algo bem parecido com a canção em “Push and Shove”, do disco de mesmo nome da banda da Gwen Stefani, No Doubt. “Light It Up”, da Nyla, é uma das poucas vezes em que a tracklist nos dá um tempo para respirar, até que fiquemos prontos pra começar a twerkagem outra vez, e nessa até “All My Love”, com Ariana Grande, tem vez, mas ganha o reforço de Machel Montano, em mais uma mistura pra lá de inesperada, afinal, quando imaginaríamos ter a princesinha desse novo R&B americano acompanhada da trupe de Diplo e o cantor jamaicano que sequer fazíamos conta da existência?
“Peace Is The Mission” é uma pílula de efeito instantâneo, até rápida demais devido a ter apenas nove músicas, mas resultado de um trabalho que cumpre com sua proposta inicial, essa mistura de sonoridades e influências, somada à ideia de colaboração com nomes emergentes, assim como os próprios são, e provando que, em suas mãos, não tem música que não soe como um hit pronto, ainda que não se resumam a farofa. Prontos pra brigar como gente grande, Major Lazer invade as fronteiras mainstream sem aviso prévio, dispostos a trazer algo diferente para o de sempre das rádios atuais e armados até os dentes, mas sua intenção é boa, então a missão é de paz.