Não tem como ser surpresa para ninguém que Adele está de volta e, se em algum momento foi, a estreia de “Hello” e todos seus recordes alardearam que a britânica de “Rolling In The Deep” estava oficialmente entre nós.
Mas passada a febre após seu single de retorno, a ansiedade pública se dava por conta do seu novo álbum, “25”, e agora ele também está entre nós.
Com lançamento marcado para a última sexta-feira, 20 de novembro, o disco traz produções de Ryan Tedder, Greg Kurstin e Paul Epworth, alguns dos nomes que já haviam colaborado nos álbuns anteriores de Adele, e ainda uma novidade para os fãs de longa data da cantora, que é a colaboração com o Max Martin em “Send My Love (To Your New Lover)”.
É claro que, como 20 de novembro caiu numa sexta-feira, entendemos que “25” foi lançado dentro da proposta da New Music Fridays que, desde junho, propõe o lançamento global de músicas simultaneamente, entretanto, a gente ficou um pouco preocupado ao procurar pelo álbum no Spotify e se deparar com essa mensagem:
Sim, quase que como uma provocação, o disco e a tracklist existe, mas nada disso está disponível para audição, com exceção do single avulso de “Hello”, como você pode ver abaixo:
E nos perguntamos, por quê? :(
Ainda que não usássemos o Spotify em 2011, visto que a plataforma começou a ganhar força e espaço publicitário no Brasil no ano passado, ficamos sabendo que o que está acontecendo neste exato momento na carreira de Adele não é bem uma novidade e, na realidade, o que a cantora está fazendo com a gente e o álbum “25” foi a mesma estratégia utilizada com seu disco anterior, “21”, que só ganhou as execuções via streaming um ano após seu lançamento. O que provavelmente significa que só poderemos escutar o “25” pelo Spotify em novembro de 2016.
A intenção da artista e sua gravadora, entretanto, é um pouco incerta. Isso porque, ao contrário da Taylor Swift e Björk, por exemplo, Adele não se posicionou contra o consumo de sua arte via streaming ou reclamou sobre a maneira como o Spotify recompensa os artistas pelos discos disponibilizados, apenas recusando as propostas feitas por essa e outras plataformas, fazendo com que o mais próximo que seu álbum chegue do consumo digital seja pelas vendas do iTunes.
Mas as vendas parecem serem mesmo a principal razão para isso. Assim como Rihanna e seus lançamentos estrategicamente agendados para o fim do ano, o novo álbum de Adele abraça uma temporada importante de vendas, aproveitando dias como a Black Friday, que acontece na próxima semana, além do natal, em que seu disco pode ser uma boa opção para presente, sem falar no fato de que a cantora nunca foi ruim com vendas, o que faz com que sua ausência nos meios legais de streaming motive ainda mais pessoas a comprarem suas músicas — ou baixarem ilegalmente, não sejamos falsos moralistas.
Infelizmente, nós não temos o que comemorar sobre isso. Enquanto a cantora baterá recordes e mais recordes, com fãs indo à loucura em busca de seu disco físico ou simplesmente levando alguns minutos de seu dia comprando-o digitalmente, nós precisamos nos dar ao trabalho de importar os arquivos locais com os MP3s de suas músicas para nossa biblioteca do Spotify e, ainda assim, ficaremos sem poder disponibilizá-las como gostaríamos em nossas playlists. “Send My Love” mesmo faria um ótimo trabalho na nossa “Pop! Pop! Bang!” — e, até novembro de 2016, daremos um jeito, substituindo-a por “Air Balloon”, da Lily Allen, que é o exemplo mais próximo que encontramos de sua sonoridade.
Fora isso, ainda precisamos lidar com debates entre pessoas que concordam ou não com sua decisão, além de, mais uma vez, ter o trabalho de explicar que essa ideia de não colocar o CD para streaming jamais partiria apenas dela, sendo coisas que se discutem em mesas repletas de pessoas engravatadas e dispostas a conseguir o máximo de dinheiro no mínimo de tempo possível, bem como esclarecer que ela fazer isso sendo a Adele não a faz muito diferente de quando a Taylor Swift fez isso com o álbum “1989” e, sim, foi duramente criticada e até mesmo alvo de brincadeiras que a colocavam na posição de mercenária — resultando, inclusive, no meme “Pague o boleto”.
Como ainda falta muito até novembro do ano que vem, nos unimos ao Spotify na torcida para que Adele e todos os homens e mulheres engravatados daquela mesa mudem de ideia sobre disponibilizarem o álbum online, ou pelo menos que o Ryan Adams também regrave todo o disco, e isso sequer é sobre valorizar ou não sua música, mas sim sobre até se conformar em vê-la usar um celular flip no clipe de “Hello”, mas achar um pouco demais quando ela, na posição de uma das artistas que mais vendem na era atual, vira às costas para um dos meios mais promissores do consumo musical atual, sendo até mesmo uma grande maneira de combater a pirataria que, a gente sabe, pouco a atinge.
Spotify, estamos com vocês. E Adele, olá, aqui é o It Pop. A gente tava se perguntando se você não tá a fim de sair para superarmos tudo isso.