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Em carta aberta, revista questiona a razão de Tinashe colaborar com homens como Chris Brown e R. Kelly: “você pode fazer melhor do que isso”

Tinashe foi uma das maiores e melhores revelações do R&B desde que se lançou, com o disco “Aquarius”, de onde extraiu músicas como “All Hands On Deck”, “Pretend” e “2 On”, mas neste ano, enquanto continuava em busca do seu lugar ao sol, a cantora passou a colaborar com alguns nomes bastante questionáveis, o que se tornou pauta de um editorial da revista Nylon.

Atualmente promovendo seu vindouro novo disco, até então chamado “Joyride”, Tinashe lançou há alguns meses seu novo single, “Player”, que soa como um verdadeiro hit, só que a música foi lançada em duas versões, sendo uma solo e a outra com a participação de Chris Brown. O cantor, que nesse ano adiou a chegada do seu novo CD, “Royality”, tem buscado recuperar seu espaço na música há algum tempo e recorrido às parcerias para isso, mas frequentemente se depara com alguns fantasmas de seu passado, como o episódio em que agrediu sua namorada da época, Rihanna, e, no ano passado, também abusou moralmente de outro relacionamento, desta vez com a modelo Karrueche Tran.


Até aí “tudo bem”, pois ainda tínhamos a opção de escutar a música sem o cantor e, sim, preferíamos dessa forma. Só que as coisas só pareceram piores quando, na última semana, o cantor R. Kelly lançou sua música nova, “Let’s Be Real Now”, e também como uma parceria com Tinashe.

Já faz um tempo que o cara não lança música boa de verdade, pelo menos se desconsiderarmos a parceria com a Lady Gaga em “Do What U Want”, mas o sumiço dele na indústria é por razões bem mais sérias: R. Kelly é acusado, entre outras coisas, pelo abuso de menores. E isso pareceu não incomodar Tinashe ou o público que o ovacionou no último BET Soul Train Awards, com a justificativa de que suas ações na música não devem ser apagadas por seus erros na vida pessoal. 

Em seu artigo, apresentado como uma carta aberta para Tinashe, a editora do site da revista Nylon, Sydney Gore, questiona então a razão da cantora contribuir pela visibilidade de artistas como Chris Brown e R. Kelly e destaca que seu incômodo não é apenas pelos cantores estarem envolvidos em casos de abusos e agressão de mulheres, mas também pelo detalhe das vítimas serem mulheres negras.

“Quando ela começou a trabalhar com homens como R. Kelly e Chris Brown, isso causou um certo receio em mim. Eu estou em conflito sobre a responsabilidade que um artista tem de fazer arte de bom gosto enquanto também é um indivíduo responsável. Prestes a entrarmos em 2016, essa linha se tornou bastante tênue. Particularmente falando, eu não acho que serei capaz de superar isso a tempo do álbum ‘Joyride’, da Tinashe, ser lançado, por conta desses homens, R. Kelly principalmente, com essas histórias de violência contra mulheres negras”, diz o texto.   

Em outro trecho, a autora se diz desconfortável com tudo isso como mulher, uma vez que continua apoiando artistas femininas, mas não entende como essas aceitam colaborar com artistas como eles, lembrando também das vezes que Rihanna colaborou com Chris Brown:

“As pessoas seguem em frente porque ‘ele teve seu tempo e pagou por seus crimes’. De repente, o caminho para a redenção se tornou um código barato — uma celebridade pode cometer um ato terrível e a mídia deve continuar o apoiando, por causa do seu ‘talento’. Entretanto, esse caminho está literalmente cheio de reincidências, mas ninguém quer limpar essa bagunça. Enquanto isso, somos nós que escrevemos esse material que se parece mais com resíduos tóxicos.

Se os artistas querem trabalhar com alguém como Chris Brown, é uma decisão que pertence a eles. No entanto, da mesma forma, é uma decisão minha, como uma mulher, se sentir desconfortável com essas escolhas. Eu nunca vou entender como ou porque muitas mulheres continuam fazendo isso. Infelizmente, até mesmo Rihanna colaborou mais de uma vez com seu ex abusivo, mas eu não quero me aprofundar nisso dessa vez. Isso é uma merda, mas eu ainda quero apoiar nomes femininos que estão florescendo, de qualquer forma.”

“Tinashe é uma estrela multi-talentosa em ascensão, então por que ela precisa gravar músicas ao lado de dois dos piores homens, mas com sábias reputações, da indústria?”, pergunta a autora. “Isso não faz sentido pra mim quando ela carrega si mesma como uma mulher forte e independente. Até certo ponto, eu entendo que muitas das decisões musicais de Tinashe são, provavelmente, feitas entre seu empresário e gravadora, mas ela precisa ter algum controle de sua imagem. Quero dizer, esse é alguém que tem sido orientado desde que tinha oito anos. Eu entendo que ter essas parcerias foram oportunidades de ganhar ainda mais exposição, mas a custo de quê?

[...] Pra mim, a parte mais decepcionante de tê-la trabalhando com R. Kelly e Chris Brown não é que esses homens tenham abusado de mulheres, mas que suas vítimas sejam todas mulheres de cor. (E, assim como R. Kelly se preocupa, ele é acusado de abusar sexualmente de garotas jovens, de 14 anos de idade.) Me sinto com Tinashe da mesma forma de quando vejo Miley Cyrus permitindo que Terry Richardson a fotografe para capa de revistas, ou quando Emma Stone estrela um filme do Woody Allen, ou quando Natalie Portman assina uma petição apoiando Roman Polanski. Na minha opinião, essas mulheres são estrelas e não precisam desses homens de merda para brilharem.

(...) Como uma mulher negra, eu não posso e não vou defender Chris Brown ou R. Kelly, jamais. E como jornalistas, nós obviamente não podemos dizer com quem os artistas devem trabalhar, mas nós temos o poder de decidir o que o público deve saber sobre eles. Nós precisamos parar de louvar o trabalho de homens que possuem uma reputação por fazerem coisas ruins e começar a denunciar suas ações. Esse é o nosso trabalho. (...)

Nós te amamos, Tinashe, mas sabemos que você pode fazer melhor do que isso.”

Pelo Twitter, a cantora de “Party Flavors” respondeu um comentário sobre a matéria de maneira negativa, afirmando:

“Colaborar [com um artista] não significa que eu concorde com suas ações. LOL. Agora vamos lá, por favor, não fale sobre assuntos políticos que você não sabe sobre. (...) Todos querem ser os peritos de sua vida, como se eles soubessem por tudo o que você já passou de, de alguma maneira, tivessem o direito de te dizer como viver.”

De acordo com a revista, a cantora foi procurada pra que pudesse fazer uma declaração formal, mas ainda não tiveram uma resposta. Leia a matéria completa em inglês aqui.

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