Não tem jeito, o Lollapalooza Brasil é mesmo o nosso festival favorito de todos os tempos. Nós estamos com o evento por aqui desde 2013 e em todas as edições, saímos com a mesma sensação de êxtase e missão na Terra cumprida. Mas nem poderia ser diferente.
Nesse ano, tudo foi tão grandioso quanto no anterior. Com nomes como Florence + The Machine, Eminem, Jack Ü e Marina & the Diamonds sendo alguns de seus headliners, o Lolla 2016 investiu numa line-up bem mais variada que as edições anteriores e acertou em cheio, evitando os tradicionais conflitos de horários que nos faziam escolher entre dois nomes que amávamos. Se você não é daqueles SUPER ecléticos (“ah, eu curto um pouco de tudo”, diz o hétero), não teria problema pra escolher entre Marina & The Diamonds e Eminem ou Florence + The Machine e Zedd, por exemplo.
Falando na Marina & The Diamonds, a galesa roubou a cena mesmo! Depois do bolo que nos deu em 2015, a hitmaker de “Homewrecker” se tornou um dos nomes mais esperados do festival neste ano (tanto que a gente falou dela antes do evento mais do que a Veja fala mal do PT) e fez valer a espera neste sábado (12).
Para seu show no Brasil, Marina trouxe uma apresentação aos moldes da sua turnê, Neon Nature, que faz um apanhado de toda a sua carreira, separado por três atos, que representam cada um dos seus discos: o pop alternativo que flerta com o rock do “The Family Jewels”, o pop radiofônico aprimorado do “Electra Heart” e o classudo e mais cru, “Froot”.
Ainda que com uma estrutura bem simples, o show de Marina é grande em todos os sentidos. O destaque de toda a apresentação é o seu vocal, que beira o teatral, daqueles para musicais mesmo, e de resto o que temos é um show de carisma e simpatia, somado aos refrãos fáceis, mas inteligentes, conjunto que levou o público à loucura. Nossos momentos favoritos foram com as canções “Hollywood”, “How To Be A Heartbreaker”, “Lies”, “Froot” e “Can’t Pin Me Down”.
No mesmo dia da Marina, quem também arrasou foi a Halsey. Sem nenhum grande hit no Brasil, a menina, que só tem um disco lançado, o ótimo “BADLANDS”, nos convence a assistir ao seu show por sua postura durona, agressiva, mas nem se ela quisesse, conseguiria conter os sorrisos ao ver que o público estava mais por dentro do seu repertório do que ela esperava.
Halsey é uma cantora de pop alternativo, mas não demorará a alcançar o mainstream. Com uma apresentação ágil, quase sem interações com o público, ela se mostra bastante confiante e solta no palco, enquanto, de pés descalços, canta músicas como “Colors”, “New Americana” e “Hold Me Down”, que tem um sample de “Easy”, do Son Lux com a Lorde.
Famosa por seus covers, Halsey só performou músicas de seu repertório e não escondeu a surpresa: “Vocês sabem cantar todas essas porras de música!”. Alguns dos nossos momentos favoritos foram com as canções “Ghost” e “Young God”.
Em sua segunda vinda ao Lollapalooza Brasil, os islandeses do Of Monsters and Men nos encantaram MAIS UMA VEZ. Agora com o disco “Beneath The Skin”, o sexteto tem um repertório manjado para festivais, repleto de pontes que nos fazem gritar, cantarolar e aplaudir, mesmo sem saber a letra toda de cor.
Em relação ao primeiro show deles por aqui, em 2013, dá pra dizer que o novo show faz jus ao novo álbum, apresentando algo bem mais simples, cru, mas ainda sim apoteótico, épico. Visualmente, eles não apresentaram nada demais e economizaram, inclusive, nas cores de seu figurino: preto e branco. A falta de elementos para ver nos deixa então com total atenção às canções e nisso não tinha nem como decepcionarem.
Nanna, a vocalista da banda, arranca suspiros dos fãs só de sorrir e, se diz algo, encanta ainda mais. Uma fofa! Mas não fica com ciúmes, Raggi, você também é um amorzinho. No geral, rolou a impressão de que o novo álbum não caiu muito no gosto do público, que se animou BEM MAIS com as canções do disco de estreia “My Head Is An Animal”, mas isso não foi problema para eles, que, obviamente, cantaram o hit “Little Talks”, um dos melhores momentos do show, ao lado de “Crystals” e “Empire”, do disco mais recente.
Quem nos surpreendeu E MUITO foram os sul-africanos do Die Antwoord. O trio absurdinho que mistura hip-hop com música eletrônica tocou no começo da noite e levou o Lollapalooza ao chão. Yolandi é uma figura ainda mais confusa do que conhecemos pelos videoclipes, reforçando bastante a ideia da personagem controversa e desbocada presa no corpo de uma menininha com um penteado descolado.
Ninja, por sua vez, é um tiozão atirado. O cara mostra a bunda, canta sobre o tamanho avantajado do seu pênis, aparece vestido com uma cabeça de pitbull e, momentos depois, apenas um calção, mas não faz feio na hora do principal: mandar suas rimas.
O show deles, que também contou com a participação do nem tão lembrado DJ Hi Tek, foi CHOCANTE e teve como alguns de seus melhores momentos as canções “Girl I Want 2 Eat U” e “Cookie Thumper”, do último álbum, “Donker Mag”, além do seu primeiro grande sucesso, “Enter The Ninja”.
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Quem começou nosso domingo (13) nesse Lollapalooza foi a Karol Conká que, facilmente, podia ter descolado um horário um pouco mais tarde. Tendo como repertório o seu disco de estreia, “Batuk Freak”, além das parcerias com o Tropkillaz, para seu novo CD, a negrita ARRASOU no palco eletrônico e ainda levou discussões sobre o feminismo e representatividade para o palco do festival.
Sem vir sozinha, quem ajudou Karol nesse “tombamento” foi a MC Carol, que vem ganhando reconhecimento por seus posicionamentos sobre o racismo e feminismo em suas músicas e também pelas redes sociais. A dupla de “Carol” —uma com “K” — ainda brincou, “gostaram da sobremesa?”. Um dos maiores momentos, é claro, foi para o hit “Tombei”.
Os caras do twenty one pilots não esperavam o público que esperavam por suas canções neste Lollapalooza. Quando promoviam seu novo disco, “Blurryface”, os dois falaram bastante sobre a dificuldade em acertar uma receita para as rádios, já que não se limitam a um só gênero, e parecem ter encontrado isso justamente nessa abrangência sonora.
Quem ficou para assisti-los, pode ouvir hip-hop, indie-rock, folk, pop e mais um pouco. Tudo feito de maneira bastante descontraída e, vez ou outra, um pouco atuada. Mas tudo faz parte do conceito do disco novo, que representa os medos e ansiedades de seu vocalista, Tyler. Os melhores momentos ficaram para a velha “Car Radio”, o reggae de “Message Man” e “Ride”, além das mais famosas do último disco, “Stressed Out” e “Tear In My Heart”.
Sem grandes surpresas, Brittany e a banda pra quem dá a voz, Alabama Shakes, deixou todo mundo boquiaberto e querendo mais. O grupo, que levou três Grammys pelo disco “Sound & Color” nesse ano, vai do rock ao blues e, ao vivo, nos mostra porque seu som é tão aclamado por todos que entendem de música: não tem o que achar ruim.
O vozeirão de Brittany nos deixa sem fôlego, mas o mesmo não acontece com ela, que usa e abusa do seu dom sem ver a quem. Aliás, ela é super carismática, né? Se, assim como nós, não haviam parado pra vê-la quando não está cantando, não tem como deixar de se impressionar, principalmente por sua pose mais “roqueira” em palco. Os grandes momentos do show ficaram para os hits do seu último CD, “Don’t Wanna Fight” e “Hold On”.
O guitarrista dos Strokes, Albert Hammond Jr., é o cara mais maravilhoso do mundo. Nós o entrevistamos um pouco depois do seu show e ficamos definitivamente APAIXONADOS (logo publicaremos isso!). Antes disso, entretanto, ele foi arrancar suspiros de uma plateia pequena, mas devota, com um repertório que, como já era esperado, não contava com nenhuma música da outra banda, sendo todo composto por músicas de seus álbuns em carreira solo.
Mesmo sem grandes hits, Albert leva o público nas mãos com toda a sua simpatia, além de canções que são bastante funcionais para esse tipo de evento. Coisa que alguém que contribuiu para alguns dos melhores momentos dos Strokes deve saber bem. Nossos momentos favoritos foram “Power Hungry”, “Caught By My Shadow” e uma das mais “Strokes” do seu último disco, “Side Boob”, que fechou o show. Julian, que veio ao Lolla em 2014 com muita barulheira e alguns sucessos dos Strokes, já pode começar a tomar notas.
Diplo e Skrillex são baile de favela. Esses dois foram uma das atrações finais do Lollapalooza no domingo (13) e, obviamente, com um repertório de tirar o fôlego. Com seu projeto em parceria, Jack Ü, a dupla de DJs fez um mar de gente dançar e cantar loucamente ao som dos mais variados sucessos, indo bem além de suas próprias canções, como os hits “Take Ü There” e “Where Are Ü Now”, para remixes de Tove Lo, Adele, Rihanna e até artistas brasileiros um tanto inusitados, como Wesley Safadão e MC João, do “Baile de Favela”.
Outro brasileiro que teve seu momento foi o MC Bin Laden que, como havíamos cogitado, APARECEU EM PESSOA para cantar o seu grande sucesso, “Tá Tranquilo, Tá Favorável”. Depois de tantas misturas, a aparição do brasileiro até que funcionou bem e, claro, fez o público cantar e dançar bastante. A presença dessas músicas brasileiras foram alguns dos nossos momentos favoritos, ao lado de “Work”, da Rihanna, e o inusitado remix de “Hello”, da Adele, que não funcionou de início, mas depois levou todos consigo.
Por fim, mas jamais menos importante, o que tivemos pela quinta vez consecutiva segunda vez no Lollapalooza, foi a banda Florence + The Machine, que trocou os ares mais crus e agressivos de seu último disco, “How Big, How Blue, How Beautiful”, por algo tão romântico e apoteótico quanto sua apresentação anterior, mantendo também os trejeitos que tanto agradaram o público na outra edição.
Florence Welch é uma das maiores vocalistas da atualidade e, ao lado da Brittany do Alabama Shakes, foi uma das que representaram MUITO BEM as mulheres vocalistas de grandes bandas, não nos deixando notar um só defeito. Um ponto que nos incomodou um pouco foram os arranjos mais contidos para as canções, com exceção de “Sweet Nothing”, originalmente lançada com o Calvin Harris, que soou perfeitamente impecável numa edição acústica.
Do novo disco, “Delilah”, “Ship to Wreck” e “What Kind of Man” se mostraram hits em potencial para os shows dos próximos anos, botando em risco o entusiasmo tradicional por outras como a obrigatória “Dog Days Are Over” e “Shake It Out”.
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O saldo do Lollapalooza Brasil 2016 não poderia ter sido mais positivo. O festival conseguiu apresentar uma gama bastante variada de artistas e, com isso, polarizou bem o público, que esteve presente em peso e muito bem ciente do que estava ali para ver.
Ao contrário das edições anteriores, sentimos que a divisão dos horários foi bem mais balanceada, desmitificando a ideia de desvalorizarem atrações que tocam mais cedo e também nos fazendo passar bem mais tempo no festival, o que até nos convence a conferir também as ativações de seus patrocinadores. Tudo muito bem pensado.
E mesmo cansados, com os pés e pernas doloridos, sem sentir as costas e com a cabeça explodindo, nós já queremos é saber do Lolla 2017. Tem como nos adiantar alguma coisa, T4F? Já pode pedir Years & Years e Kendrick Lamar? Charli XCX? Weezer? Carly Rae Jepsen? A gente quer mais Lollapalooza pra ontem!