Não é novidade pra ninguém que os rappers foram os que melhor se adaptaram ao sistema de streamings. De Kanye West e seu inacabado "Life Of Pablo" até Drake e a mixtape "More Life", os artista de hip-hop estão acostumados a sempre lançar músicas novas e, por isso, sabem lidar com uma era onde tudo é efêmero e o público está sempre com sede. Aí que, em meio a uma Hot 100 dominada por artistas masculinos do gênero, tivemos uma grata surpresa: Cardi B.
Pegando carona na ascendência do rap nos Estados Unidos, Cardi surgiu com a sua "Bodak Yellow", um hit instantâneo. A canção apareceu pela primeira vez no chart americano há sete semanas atrás, em #85 e, sem ninguém perceber, escalou a parada com uma facilidade incrível para quem está apenas começando. Dando salto atrás de salto, a música, em apenas duas semanas no top 10, já chegou ao surpreendente #3 lugar e tem tudo para continuar subindo.
Cardi é uma rapper negra e latina. Vítima de violência doméstica pelo ex-namorado, ela saiu da casa dele e virou stripper para escapar desse relacionamento abusivo. Em 2013, ganhou notoriedade como qualquer millennial hoje em dia: usando a internet, onde ficou conhecida no Vine e no Instagram.
Em 2015, se lançou de forma independente e conseguiu até ser indicada ao BET Awards, premiação da música negra, nas categorias "Best New Artist" e "Best Female Hip-Hop Artist". Participou também de um reality show da VH1, "Love & Hip-Hop: New York", onde aumentou seu público.
Em fevereiro de 2017, assinou um contrato com uma gravadora, mas, ainda assim, quem a conhecia de fato? "Bodak Yellow", seu verdadeiro debut com o apoio de um grande selo, foi lançada dia 16 de junho. E, em um ano tão difícil para as mulheres da música, Cardi foi contra tudo e todos, conquistou o (até agora) maior hit solo feminino dos Estados Unidos e conseguiu dar o que todos nós implorávamos: um sucesso feminino em território americano.
Sua ascendência nós devemos, é claro, aos streamings. De playlist em playlist, Cardi foi se destacando. Se estamos vivendo a era do hip-hop, é claro que essas listas são as mais tocadas no Spotify e é claro que era questão de tempo até que a música passasse de apenas uma filler nessas playlist para uma canção salva no perfil dos ouvintes.
O que tudo isso nos ensina? Que talvez a gente deva parar de criticar a era dos streamings ou, então, olhar seu lado positivo. Com a ascensão do hip-hop, quantas rappes novas não estão recebendo a atenção que merecem? Para citar algumas, temos CupcakKe e Stefflon Don que, em 2017, tem conquistado seu espaço, muitas vezes com letras que retratam problemas como o que a própria Cardi B viveu. Se estamos em um momento onde queremos representatividade, elas estão fazendo muito pela causa.
Do outro lado do oceano, Dua Lipa consolida sua "New Rules", hino empoderador, como o maior hit solo feminino de 2017 no Reino Unido. Isso também nos trás outra lição: talvez devêssemos parar de colocar todas as nossas esperanças em artistas que já estão por aí e começar a olhar para os novos. Clamamos tanto por hits femininos, cobramos Katys e Gagas, mas esquecemos que, enquanto as já consolidadas querem tentar trabalhos mais conceituais, temos outras, novas, que estão dispostas a fazer a roda girar e a lutar pelos lugares mais altos nas paradas.
O mundo mudou, a forma de se chegar ao estrelato mudou, a forma de consumir música mudou, tudo mudou. Talvez seja hora de mudarmos, pararmos de subestimar quem está chegando aí e começarmos a procurar a salvação em pessoas inimagináveis. Elas podem nos surpreender.