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Os 25 melhores filmes de 2024

A primeira metade da década de 2020 já se passou, então estamos ávidos em listar nossos melhores filmes do período. Antes de fecharmos esses primeiros cinco anos, temos que elencar os melhores filmes de 2024.

Caso você já conheça o Cinematofagia, o foco aqui sempre foi e sempre será a busca por filmes que não necessariamente estejam no radar na grande indústria - principalmente quando olhamos para a distribuição brasileira, que ainda sofre com atrasos de meses em comparação com estreias internacionais, inclusive de países minúsculos - vários longas já aclamados lá fora chegam aqui com muuuuito atraso, mas tudo bem.

De vencedores do Oscar a pérolas de todos os cantos do mundo, os critérios de inclusão da lista são os mesmos de todo ano: filmes com estreias em solo brasileiro em 2024 - seja cinema, streaming e afins - ou que chegaram na internet sem data de lançamento prevista, caso contrário, seria impossível montar uma lista coerente. E, também de praxe, todos os textos são livres de spoilers para não estragar sua experiência - mas caso você já tenha visto todos os 25, meu amor por você é real.

Sem mais delongas, os melhores filmes de 2024:


#25 Uma Família Feliz (idem)

Dirigido por José Eduardo Belmonte, Brasil.

Cinema nacional tem encontrado sucesso nos últimos tempos ao entrar em modo suspense, e "Uma Família Feliz" é uma ótima adesão ao gênero. Baseado no livro de Raphael Montes - co-autor da série "Bom Dia Verônica" da Netflix -, o filme sobre o caos da maternidade vê uma mãe ser acusada de agredir suas filhas, enganando a audiência a cada cena. Nem todas as atuações estão à altura do texto, é verdade, mas Grazi Massafera e (principalmente) as crianças orquestram um mistério arrebatador que, quando finalmente entendemos todas as peças, o queixo vai ao chão. A cena pós créditos é para gerar ira da forma mais cristalina possível (e isso é um elogio).


#24 Sem Ar (Elfogy a Levegő)

Dirigido por Katalin Moldovai, Hungria.

Num ano com ótimas discussões sobre o inferno na vida de professoras (há outro exemplo disso mais abaixo), "Sem Ar" vai no fundo da Hungria observar uma professora ser atirada aos cães quando recomenda um filme para seus alunos: a questão é que, no filme, há cenas LGBT+, o que causa a fúria de um dos pais. Um conteúdo desses esbarrar em um pai homofóbico não é tão difícil de imaginar, a questão é que a própria escola abre um comitê para apurar a "imoralidade" do ato, que vai parar numa audiência com o governo. "Sem Ar" discute um dilema clássico: abaixar a cabeça ou se manter firme com seus princípios, mesmo sofrendo as consequências? Apesar de se passar num interior húngaro, o acerto do longa é sua universalidade - é difícil enxergar a mesmíssima história aqui no Brasil?


#23 Precisamos Falar (idem)

Dirigido por Rebeca Diniz & Pedro Waddingtonl, Brasil.

Os filhos de um casal de classe média alta do Rio de Janeiro, em uma """brincadeira""", ateiam fogo em uma moradora de rua, matando-a. Ao retornar para casa com o problema, cabe aos pais decidirem: o que vale mais, a verdade ou a segurança da família? A premissa por si só de "Precisamos Falar" é um gancho irresistível para sentarmos diante da obra, mas encontramos muito mais que a mera curiosidade sobre o que acontecerá a partir do crime. Com atuações incríveis por parte de todo o elenco, com destaque para Marjorie Estiano e Thiago Voltolini, "Precisamos Falar" é um porta-retrato que reflete irretocadamente a situação atual do país, com uma ruptura de valores que afasta famílias ao colocarem questões pessoais acima de qualquer coisa.


#22 Ainda Estou Aqui (idem)

Dirigido por Walter Salles, Brasil.

Nosso país possui uma relação MUITO problemática com a ditadura militar, com um bando de animais jurando que o período foi uma dádiva que merecia voltar, então um filme como "Ainda Estou Aqui" é importantíssimo em muitos mais aspectos que o cultural e artístico. O mais aclamado filme brasileiro da década, a história da família Paiva, que vê o patriarca sendo levado pela polícia e nunca mais retornar, foge de qualquer obviedade de cinebiografias e extrapola os chavões do formato ao atingir o centro da questão: a dor de uma família em luto eterno e o peso nas costas da mãe, a única a ter certeza da morte do marido. É uma tarefa impossível tentar não chorar, mas a ganhadora do Globo de Ouro Fernanda Torres é uma catalizadora sem quase nunca gritar, entregando força com sutileza, o que é infrequente. 


#21 Guerra Civil (Civil War)

Dirigido por Alex Garland, EUA.

Alex Garland já nos entregou obras-primas como "Ex Machina" (2015) e "Faces do Medo" (2022), retornando em 2024 com, talvez, seu mais ambicioso filme. "Guerra Civil" toca em um tópico muito importante, mas raramente discutido: como inventamos linhas invisíveis que nos separaram baseadas em........ nada. Nós criamos países, estados, cidades e bairros que, ao invés de ser uma forma de organização, se torna na criação de um "amor" por um pedaço de terra que chamamos de "patriotismo", o que é uma ideia estúpida. O filme adentra um país divido (sob os olhos de deus) que poderia ser mais um filme de guerra, todavia, atinge sucesso pelas escolhas assertivas do diretor, um design de som épico e as performances de Kirsten Dunst e nosso Wagner Moura. Atmosfera alucinante que raramente encontra paz - a cena do "Que tipo de americano é você?" é lendária.



#20 Clube Zero (Club Zero)

Dirigido por Jessica Hausner, Áustria/Reino Unido.

Controverso desde o seu lançamento no Festival de Cannes, com críticas amando e outras detonando a obra, não dá para falar "vocês só não entenderam" aqui: "Clube Zero" quer denunciar nossa nova forma de "ser saudável" como os coaches de bem-estar, saúde e alimentação de infestam as redes sociais, vendendo um estilo de vida atrelados a um discurso perigoso de espiritualidade e proteção do planeta. É como se Yorgos Lanthimos e Wes Anderson parissem um filme sobre transtornos alimentares na era da consulta médica via Instagram e TikTok. Sim, o filme pode ser um pouco "demais" para algumas pessoas - há uma cena em especial que quase nos obriga virar o rosto da tela -, contudo, é uma bela obra com mensagens importantes, empacotada em imagens belíssimas.


#19 O Banho do Diabo (Des Teufels Bad)

Dirigido por Severin Fiala & Veronika Franz, Áustria/Alemanha.

Da maior dupla de diretores do terror na atualidade, Fiala e Franz nos deram "Boa Noite Mamãe" (2014) e "O Chalé" (2019), fincando seus nomes na história do gênero. Agora, com "O Banho do Diabo", eles optam com caminhar com uma abordagem bastante diferente, criando o seu "A Bruxa". Na Áustria de 1750, uma mulher violentamente religiosa acha que conseguiu a vida perfeita ao se casar, mas tudo rui quando ela não consegue engravidar. A parti daí, seus dias crescem obscuros até as mais extremas consequências. O que "O Banho do Diabo" almeja é ser um filme o mais fidedigno possível, quase como se uma câmera estivesse em 1750 registrando os fatos. Verdade seja dita, meia hora da duração poderia não existir para enxugar a narrativa, contudo, além das imagens riquíssimas, a obra retrata o que era chamado de "suicídio por procuração", uma artimanha para burlar as leis divinas e morrer com a entrada garantida no céu. É assustador ver que, quase 300 anos depois, ainda vivemos num sistema tão acorrentado pela religião e o fanatismo, causando dor e desgraça principalmente para mulheres. O clímax e a cena final aqui são assombrosas.


#18 A Semente do Figo Sagrado (Dāne-ye Anjīr-e Ma'ābed)

Dirigido por Mohammad Rasoulof, Alemanha/França.

Representante da Alemanha para o Oscar 2025 de "Melhor Filme Internacional", a saga de "A Semente do Figo Sagrada" é curiosa (e triste): dirigido por Mohammad Rasoulof, o iraniano teve que fugir do país após ser preso diversas vezes pelo conteúdo de seus filmes, que criticam o governo local - pelo último, o diretor foi sentenciado a oito anos de prisão, só não indo parar lá por ter conseguido se exilar na Alemanha (por isso o filme, mesmo sendo um filme filmado no Irã, representa a Alemanha no Oscar). Muito mais que uma peça de entretenimento, "Figo Sagrado" é um filme denúncia: um juiz do lado do governo autoritário recebe uma arma para proteção em meio às constantes revoluções da população contrária ao governo. Quando a arma desaparece em sua casa, a solidez da família vai por água abaixo em uma espiral de desconfiança. Sendo o único homem na família (que consiste em sua esposa e duas filhas), toda a hierarquia do patriarcado, principalmente em um país tão conservador, é posta em prática que vai para um discurso que comprova como ainda vivemos em um mundo com locais que desconhecem liberdade feminina. O último ato é meio bagunçado, mas esse é um filme político exemplar, mesmo com suas quase 3h de duração.


#17 A Vítima (Obeť)

Direção de Michal Blaško, República Tcheca.

A Europa, por ser um continente tão diverso, com minúsculos países possuindo culturas completamente diferentes e convivendo lado a lado, é palco de diversos filmes que estudam a xenofobia, e "A Vítima" é um deles. Uma mãe e seu filho, provenientes da República Tcheca, imigram para a Ucrânia em busca de melhorias de vida. Quando o filho sobre um ataque, toda a comunidade tcheca se une em solidariedade ao repudiar a violência ucraniana contra imigrantes, porém, o que realmente aconteceu é diferente da história do filho. A mãe logo se encontra em uma encruzilhada: manter a história que já movimentou gente demais ou contar a verdade e expor o filho (e indiretamente ela mesma)? "A Vítima" é uma excelente análise de choques culturais e até aonde vamos em nome dos nosso filhos.


#16 Sorria 2 (Smile 2)

Direção de Parker Finn, EUA.

Com o sucesso de crítica e bilheteria de "Sorria" (2022), era evidente que a Paramount não iria perder tempo para dar o sinal verde de uma sequência. O mercado hollywoodiano está mais que saturado de sequências, principalmente no terror, que denotam a crise de criatividade da indústria e a avareza por bolsos cheios em cima de filmes de quinta. Surpreendendo até os mais confiantes, "Sorria 2" é um raro exemplo de sequência que supera (nesse caso, e muito) o original. Se pegarmos um dos pilares seminais do horror, todo bom filme de terror visa a deterioração mental de seus personagens a fim de conseguir orquestrar o pavor que virá, e a maneira como "Sorria 2" consegue isso é assustadora. Se o primeiro filme já era muito bom, o segundo vai para trilhas ainda mais insanas de drama e horror, fomentando uma áurea de mal estar latente pela forma como a protagonista come o pão que o diabo amassou nas mãos da entidade que vai te matar sorrindo. Naomi Scott entrega não só a atuação da sua carreira, mas a melhor performance do Cinema em 2024 nessa viagem alucinante e sem esperança. THIS IS GONNA RUIN THE TOUR!!!


#15 O Homem dos Sonhos (Dream Scenario)

Direção de Kristoffer Borgli, EUA.

Depois de dirigir "Doente de Mim Mesma" - um dos melhores filmes de 2023 -, a A24 viu o brilhantismo de Kristoffer Borgli e disse "vem pros EUA trabalhar com a gente?". Eis que nasce "O Homem dos Sonhos". Uma das melhores atuações da carreira de Nicolas Cage - a melhor está perto do fim dessa lista -, o longa retrata um homem que, inexplicadamente, começa a aparecer nos sonhos de todo mundo, até que o fenômeno desanda e esses sonhos viram pesadelos cada vez mais horripilantes. O cinema "borgliano" pode ser resumido pela palavra "insano", e aqui ele cria outra obra maluca, que eleva a fantástica premissa para solos bem reais ao apontar o dedo para até onde vamos para fazer a roda do Capitalismo girar - porém, é claro, tudo aqui de forma bizarramente divertida.


#14 O Rapto (Le Ravissement)

Direção de Iris Kaltenbäck, França.

Um conto inacreditável sobre uma mulher que pega """"emprestado"""" o bebê de uma amiga para fingir que é dela, "O Rapto" caiu no meu colo durante o escândalo de uma garota brasileira na internet que foi pega mentindo sobre ter câncer - ela foi exposta e a situação virou um circo que se perguntava em uníssono: "Por que DIABOS você fez isso???". A mesma pergunta é o cerne de "O Rapto", uma análise por lentes cruas sobre uma mentira levada longe demais, até que não possui mais forças para se manter de pé. Um dos melhores estudos de personagem do ano e uma fábula sobre a solidão, esse é um filme que escolhe não falar, apenas gritar.


#13 Cuidando dos Mortos (Handling the Undead)

Direção de Thea Hvistendahl, Noruega.

Assim como estamos vendo com vampiros, "Cuidando dos Mortos" é uma abordagem moderna sobre zumbis que se pergunta: o que aconteceria de verdade caso os mortos levantassem de suas tumbas? Com um tom sério e cru, a fita discorre sua história lentamente ao redor de três famílias que veem seus parentes assustadoramente ressuscitados. Pela temática, vai desapontar muitos, já que estamos acostumados a vermos zumbis em contextos de ação e terror com litros de sangue, mas "Cuidando dos Mortos" nos narcotiza com suas histórias e tudo o que fala entre as entrelinhas com os dilemas de recomeço da forma mais antinatural possível. Ainda por cima, tem uma das mais perfeitas cinematografias e trilhas sonoras do ano.


#12 Femme (idem)

Direção de Sam H. Freeman & Ng Choon Ping, Reino Unido.

Felizmente, já ultrapassamos o chavão do cinema gay que mandava e desmandava entre as décadas de 90 e 2000 com seus filmes homossexuais com finais tristes, girando majoritariamente ao redor de discriminação, doenças e mortes. Então, para voltarmos de alguma forma para esse molde, há que haver um porquê e um como. "Femme" nos entrega ambos. Esse é um longa sobre a vivência queer, preconceito, ódio a si mesmo e vingança: uma drag queen é atacada por um cara homofóbico que logo se revela homossexual. Ela vai, em busca de retaliação, se relacionar com esse mesmo cara, que não reconhece o homem por trás da maquiagem e peruca. É um filme pesado, lotado de emoções nas alturas, carregada por dois protagonistas em uma guerra interna que vaza para a superfície de forma amável e violenta. O texto não busca saídas fáceis e soluções apaziguadoras a fim de amenizar a situação tão complexa, o que gera cenas incríveis e um final perfeitamente desolador.


#11 Nosferatu (idem)

Direção de Robert Eggers, EUA.

De um dos maiores diretores vivos, “Nosferatu” foi anunciado em 2015 - logo depois do lançamento de “A Bruxa” - e a espera valeu a pena. O cinema “eggeriano” já está mais que consolidado, e “Nosferatu” traz tudo o que o faz tão único e magnífico. Um autêntico clássico gótico, ter a audácia de fazer um remake de um dos maiores (e pioneiros) filmes de terror de todos os tempos foi uma tarefa inimaginável, mas Eggers entrega mais uma vez uma obra belíssima que fortalece ainda mais sua filmografia. Cada cena é uma pintura na tela e os momentos de ataque de Lily-Rose Deep são uma carta de amor ao clássico “Possessão”. Algumas decisões de montagens são um pouco questionáveis, mas dá atmosfera inebriante à cena final irretocável, “Nosferatu” abre as portas para a volta do horror gótico brilhantemente.


#10 O Amor Sangra (Love Lies Bleeding)

Direção de Rose Glass, Reino Unido/EUA.

"O Amor Sangra" é um Filme B que gosta de ser um Filme B: Rose Glass sai do Reino Unido e vai para os Estados Unidos dos anos 80 para seguir uma fisiculturista bissexual que se apaixona por uma herdeira do crime. É uma fita que foca no lado nojento, feio e doloroso da nossa natureza, tudo em nome do amor - a primeiríssima cena é um vaso sanitário sendo desentupido, e daí para frente é sangue, lágrimas, suor e vômito. Quando "Amor Sangra" toca no sobrenatural/fantástico, é aí que Glass, como uma das melhores diretoras da novíssima geração, realmente brilha. Depois de um dos melhores filmes do século - "Santa Maud", 2019 -, Glass nos presenteia com uma odisseia queer obrigatória.


#9 O Castigo (El Castigo)

Direção de Matías Bize, Chile.

Durante uma viagem de carro, o filho de um casal está tendo um ataque no banco de trás, o que faz com que a mãe o deixe na beira da estrada como castigo - mas só por um minuto. O problema é que o menino desaparece, o que faz com que o mundo desses pais nunca mais seja o mesmo. "O Castigo" é um drama chileno cheio de coragem quando abre sua boca para falar sobre as responsabilidades parentais e como a mulher carrega esse peso de maneira muito mais descomunal. Com apenas 80 minutos de duração e inteiramente filmado em plano sequência, é chocante como tão pouco tempo pode gritar tanto a pressão nas costas de uma mãe que é gerada pelas pressões sociais. O quase-monólogo do fim, quando a mãe destrói toda e qualquer noção de maternidade, é um tapa na cara.


#8 Tipos de Gentileza (Kinds of Kindness)

Direção de Yorgos Lanthimos, Irlanda/Reino Unido.

Se você é cliente recorrente do Cinematofagia, sabe que Yorgos Lanthimos é meu diretor favorito (vivo) há mais de uma década - não chocantemente, seus dois filmes lançados em 2024 estão aqui. "Tipos de Gentileza" é o primeiro longa co-escrito por ele desde "O Sacrifício do Cervo Sagrado" (2017) - desde então, ele só vinha dirigindo adaptações -, e ele está de volta com, provavelmente, seu filme mais estranho de todos. Por meio de três histórias narradas pelos mesmos atores em papéis diferentes, cada uma mais insana que a outra, o filme nos mostra como estamos diariamente desesperados por validação, seja do nosso parceiro, chefe ou mesmo grupo social que nos rodeia. Tudo isso, evidentemente, é posta sob a ótica "lanthimiana", ou seja, tais validações são absurdas. Pode demorar um tempinho para absorvermos tudo (e esse tudo é muito), especialmente se você conheceu o diretor através de seus filmes mais famosos - "A Favorita" (2018) e "Pobres Criaturas" (que está mais abaixo) -, mas a fita exibe como há diferentes tipos de gentileza, do amor mais genuíno até a manipulação mais doentia.


#7 A Sala dos Professores (Das Lehrerzimmer)

Direção de İlker Çatak, Alemanha.

Indicado ao Oscar de "Melhor Filme Internacional", "A Sala dos Professores" é um filme para quem amou "A Caça" (2012) e "A Separação" (2011): uma professora tenta chegar à solução de um crime cometido por um dos seus alunos, o que vai destruir toda a estrutura da escola. Com muitas camadas de xenofobia, hierarquia e mentiras, "A Sala dos Professores" impressiona tanto que nos esquecemos que o que está na tela é uma atuação, especialmente com a performance perfeita de Leonie Benesch no papel de protagonista, nos arrastando para um buraco de ansiedade da primeira à última cena. Uma reputação vale mais do que estar certo ou errado?


#6 Temporários (Richelieu)

Direção de Pier-Philippe Chevigny, Canadá/Guatemala.

Uma mulher guatemalense é contratada numa empresa do Canadá para traduzir o trabalho entre falantes de espanhol (os imigrantes operários) e francês (os donos da empresa). Rapidamente, ela vê que seu trabalho vai ser muito mais que só traduzir quando os operários começam a sofrer abusos dos mais diversos tipos. "Temporários" é o filme de estreia de Pier-Philippe Chevigny, e que largada mais deliciosa. Com cenas de destruir nosso emocional, o filme mergulha fundo na degradação do Capitalismo com seus trabalhadores, com a barreira linguística sendo um degrau abaixo na régua da ética. Impossível de largar depois de começar, "Temporários" é tudo o que o drama pode nos proporcionar, de atuações históricas a discussões que nos deixam gritando por dentro.


#5 Anora (idem)

Direção de Sean Baker, EUA.

A filmografia de Sean Baker está centrada na exposição dos varridos para baixo do "sonho americano", em crônicas que exploram trabalhadores sexuais nas mais diversas situações. Com "Anora", conhecemos o lado rico e glamuroso desse sonho ao assistirmos a ascensão e queda de sua protagonista, Mikey Madison em uma performance histórica. O cerne que permeia todos os filmes do diretor está lá quando seguimos Anora, uma prostituta que se casa com o filho de um mafioso russo, porém, dessa vez, tudo envolto num pacote de comédia - toda a sala de cinema está gargalhando em quase todas as cenas -, e é incrível como o diretor foi capaz de criar mais um filme tão espetacular em cima de uma premissa tão simples (na verdade ele faz isso há anos, não é motivo de surpresa depois de obras-primas como "Tangerina" (2015), "Projeto Flórida" (2017) e "Red Rocket" (2021). As mais divertidas 2h de 2024, Anora é a nova princesa do povo.


#4 Vínculo Mortal (Longlegs)

Direção de Osgood Perkins, Canadá/EUA.

Todo ano há um filme que é o mais esperado por aqui, e em 2024 foi "Longlegs". Do marketing genial da Neon (que virará objeto de estudo e repetição) até a premissa intrigante, "Longlegs" é dirigido pelo filho de Anthony Perkings, protagonista de um dos maiores clássicos de todos os tempos, "Psicose" (1960), e aqui Oz Perkings prova que é muito mais que um nepobaby - ele já havia dirigido o ótimo "A Enviada do Mal" (2015) e o visualmente perfeito "Maria e João: O Conto das Bruxas" (2020), mas só agora a sua magnum opus foi lançada. "Longlegs" é tudo o que faz um terror entrar para a história: atmosfera densa, personagens icônicos e curvas para desestabilizar o espectador. Nicolas Cage é o porteiro que segura maniacamente as chaves dos portões do inferno nesse singelo conto de amor ao diabo, reiterando seu poder como ator. Facilmente um dos melhores filmes de terror do século, a experiência fica ainda melhor numa revisão - conseguiu contar quantas vezes o diabo aparece no decorrer do filme?


#3 Zona de Interesse (The Zone of Interest)

Direção de Jonathan Glazer, Reino Unido/Polônia.

"Zona de Interesse", assim como basicamente todos os filmes de Jonathan Glazer, não são para todos os gostos - vide "Sob a Pele" de 2013 -, mas, quase 100 anos depois da Segunda Guerra Mundial, com o Cinema já tendo esgotado a temática, ainda há mais para ser dito? Aqui o diretor prova que sim. Seguindo uma família que vai morar muro com muro com o campo de concentração de Auschwitz, vemos a pacata e idílica rotina de seus membros, enquanto, do lado de lá, o maior crime contra a humanidade era cometido. Pela imensa parte do tempo, "Zona de Interesse" não é sobre o que é visto, e sim sobre o que é ouvido - se estamos em uma cena com a família na piscina ao lado do belíssimo jardim, ao fundo, um trem é ouvido com mais uma carga de judeus sendo levados à morte. É de um contraste tão poderoso que "Zona de Interesse" nos relembra qual é a maior força da arte que é o Cinema, e as mais diversas formas de como explorá-la. Ainda por cima, é um triunfo como a fita joga fora a ideia de monstruosidade e nos lembra que os responsáveis pelo Holocausto são seres humanos como eu e você.


#2 Pobres Criaturas (Poor Things)

Direção de Yorgos Lanthimos, Irlanda/Reino Unido.

Se houver uma sinopse mais maluca do que a de “Pobres Criaturas”, levante a mão: um cientista coloca o cérebro de um bebê no corpo de uma mulher e ela e a solta no mundo para aprender e viver como o experimento que ela é. Dando o merecidíssimo segundo Oscar de "Melhor Atriz" para Emma Stone, sua Bella Baxter escreve o nome na história como um dos mais criativos e bem performados personagens de todos os tempos nessa história épica sobre autodescobrimento em meio a uma sociedade que não quer que uma mulher se descubra tanto assim. Igualmente engraçado e desconcertante, "Pobres Criaturas" ainda é um banquete para os olhos com seus visuais incomparáveis, rendendo os Oscars de "Direção de Arte", "Maquiagem e Cabelo" e "Figurino". Enquanto "Barbie" (2023) é feminismo para quem ouve Taylor Swift, "Pobres Criaturas" é feminismo para quem ouve Arca.


#1 A Substância (The Substance)

Direção de Coralie Fargeat, França/EUA.

Quando pensarmos na Sétima Arte de 2024, daqui a um, dez e talvez cinquenta anos, vamos pensar em “A Substância”. Desde a estreia arrebatadora no Festival de Cannes até sua chegada nas salas comerciais, o filme de Fargeat dá as mãos ao cinema de Julia Ducornau, com “A Substância” sendo o irmão de “Titânio” na ascensão do body horror no primeiro quarto do século. Indo muito (mas muito) além de um fita “crítica social foda”, “A Substância” é, sim, um filme gritantemente feminista que escancara o machismo e ageísmo que coloca prazo de validade em mulheres, e talvez a completa falta de sutileza é um dos maiores acertos do filme - e isso só se deve pela direção poderosíssima de Fargeat. Sua história criativíssima é um chamariz por si só, todavia, a maneira que a diretora orquestra o horror vai para níveis impactantes que discutem de maneira genial nossa relação com a imagem - não só a nossa, mas a dos nossos pares que comprovam que o espelho é nosso (imposto) maior inimigo. Ver o boca a boca lotar as salas para ver uma obra tão fora do comercial, é absurdo - a Universal, distribuidora original, pediu para Coralie mudar o final por ser estranho demais, o que ela negou.

***

Os 30 melhores filmes de 2023

2023 foi um ano bastante feliz no que tange o Cinema, com filmes que nasceram como clássicos. Agora que estamos descontando tudo o que perdemos no mundinho da Sétima Arte nos tenebrosos anos de pandemia, estamos recheados de filmes fantásticos chegando nos cinemas, então é claro que teríamos que vir aqui com os filmes favoritos de 2023.

Caso você já conheça o Cinematofagia, o foco aqui sempre foi e sempre será a busca por filmes que não necessariamente estejam no radar na grande indústria - principalmente quando olhamos para a distribuição brasileira, que ainda sofre com atrasos de meses em comparação com estreias internacionais, inclusive de países minúsculos - vários longas já aclamados lá fora chegam aqui com muuuuito atraso, mas tudo bem.

De vencedores do Oscar a pérolas de todos os cantos do mundo, os critérios de inclusão da lista são os mesmos de todo ano: filmes com estreias em solo brasileiro em 2023 - seja cinema, streaming e afins - ou que chegaram na internet sem data de lançamento prevista, caso contrário, seria impossível montar uma lista coerente. E, também de praxe, todos os textos são livres de spoilers para não estragar sua experiência - mas caso você já tenha visto todos os 10, meu amor por você é real.

Sem mais delongas, os melhores filmes de 2023:

 

30. Monstro (Monster)

Direção de Hirokazu Kore-eda, Japão.

Contado em três partes, cada uma sob o ponto de vista de um personagem central, "Monstro" é mais uma maravilha de Hirokazu Kore-eda, vencedor da Palma de Ouro pelo ótimo "Assunto de Família" (2018). Seu novo longa começa com a visão da mãe de um garotinho que começa a agir de forma estranha, tendo como suposta causa os maus-tratos do professor. A segunda parte, é a vez do professor dar sua versão dos fatos, que só será amarrada no final, quando finalmente vemos tudo pelos olhos do menino. De uma sensibilidade absurda, "Monstro" é um conto LGBTQIAPN+ que sabe conduzir o "romance" da forma fidedigna com as crianças envolvidas, sem nem entender exatamente o que está acontecendo. Não por acaso, venceu a Queer Palm no Festival de Cannes, que premia o melhor filme queer do ano.


29. Folhas de Outono (Kuolleet Lehdet)

Direção de Aki Kaurismäki, Finlândia.

Aki Kaurismäki é conhecido na Finlândia (e no mundo) por retratar dramas sobre o proletariado do país. "Folhas de Outono" veio para completar a "Saga do Proletariado" do diretor, que havia parado em 1990 com a obra-prima "A Garota da Fábrica de Caixas de Fósforos". Longe da crueza obscura do citado, "Folhas de Outono" tem uma veia engraçada bastante interessante, contrastando com os personagens tragicômicos da repositora de um supermercado que se apaixona por um alcóolatra que não para em um só emprego. A estranheza das situações, diálogos e indivíduos dão um ar autoral incrível para a obra, representante finlandês para o Oscar 2024.


28. O Assassino (The Killer)

Direção de David Fincher, EUA.

Dividido em várias partes com "missões" diferentes, o novo filme do lendário David Fincher começa com uma letargia desanimadora: seguimos a rotina tediosa de um matador de aluguel (Michael Fassbender) esperando sua presa aparecer em sua mira, e Fincher não economiza no destaque desse tédio. Caso você consiga superar as primeiras partes, encontrará uma perseguição deliciosa do assassino em questão buscando vingança para as pessoas que tentaram matar sua esposa (interpretada pela nossa brasileira Sophie Charlotte!). Cheio de personagens divertidos e sequências eletrizantes, é um alívio ver a Netflix investindo em produções de qualidade, e não no amontoado de quantidade descartável que a plataforma é tão conhecida.


27. O Hotel Royal (The Royal Hotel)

Direção de Kitty Green, Austrália.

A australiana Kitty Green largou os documentários para embarcar em dramas femininos que exploram opressões em diferentes ambientes. Depois de sua ótima estreia com "A Assistente" (2019), Green se baseia em uma história real para costurar "O Hotel Real": duas meninas começam a trabalhar no bar de um hotel no meio do mais absoluto nada para juntar dinheiro, mas chegar seria muito mais fácil que ir embora. O microcosmo do hotel é espelho que amplifica as mais diversas camadas de misoginia, que vão de piadinhas infames até violências mais pungentes. O suspense do roteiro vai engalfinhando a plateia, que permanece imóvel e preocupada pelo destino das duas.


26. A Garota das Estrelas (The Starling Girl)

Direção de Laurel Parmet, EUA.

Jem vive em uma comunidade cristã ultraconservadora, se separando do "mundo exterior" e sendo, para seus pais", a filha perfeita que serve de exemplo aos olhos dos irmãos mais novos e, claro, de deus. Quando o filho do pastor da comunidade, 10 anos mais velho que a garota, retorna de uma viagem missionária, os caminhos dos dois vão se cruzar e causar rupturas permanentes no santíssimo grupo. Nesse coming-of-age mais que competente, Laurel Parmet estreia com louvor no Cinema e entrega tudo o que podemos esperar: a forma como a religião aprisiona principalmente mulheres, deturpando a noção da realidade e sociedade de todos os envolvidos. Só podemos esperar o caos.



25. Amor Segundo Dalva (Dalva)

Direção de Emmanuelle Nicot, Bélgica/França.

"Amor Segundo Dalva" entrega uma das premissas mais... desconcertantes do ano. Dalva é uma menina de 12 anos que se veste, age e vive como uma mulher adulta. Todos ao seu redor, ao conhecê-la, ficam confusos com o motivo, criando uma barreira entre ela e as outras crianças. Ao ser entregue para o conselho tutelar, os motivos ficam claros: ela era abusada pelo próprio pai, que a convenceu de que ela era o "amor da sua vida". É um show de horrores que jamais perde a mão, quando a diretora conduz tudo com cuidado e delicadeza - nunca os abusos ficam escancarados, permanecendo implícitos. Emmanuelle Nicot então cria uma epopeia de Dalva em busca de sua inocência ao reaprender a ser criança, e de como a pessoa que mais nos machuca é aquelas que teoricamente mais nos ama.


24. O Cafetã Azul (Le Bleu du Caftan)

Direção de Maryam Touzani, Marrocos/França.

"O Cafetã Azul" vai no seio da vida do casal Halim e Mina, donos de uma loja de cafetãs. Há um latente distanciamento entre os dois, burlado pela doença da esposa. Com isso, eles devem contratar um ajudante para a loja, e Youssef, o ajudante, é um gatilho para o marido, que até então levava uma vida homossexual escondida. A velha história do homem de família que esconde sua sexualidade é ressignificada pela pureza de Maryam Touzani, que conduz um drama tocante ao estudar a maneira que a chegada de Youssef é algo definitivo na vida de todo mundo. O significado do título, quando revelado, é de partir e encher o coração.


23. A Filha Eterna (The Eternal Daughter)

Direção de Joanna Hogg, Reino Unido/EUA.

Depois de "Suspiria" (2018), quando Tilda Swinton interpretou TRÊS papéis ao mesmo tempo, a atriz agora decidiu que um só personagem é besteira. Em "A Filha Eterna", ela interpreta mãe e filha que vão até um hotel, em busca de inspiração para o novo filme da filha, sobre a própria mãe. O hotel em questão, foi moradia da mãe na infância, e está recheado de fantasmas do passado - todavia, esses fantasmas podem ser reais? O drama gótico de Joanna Hogg é um belíssimo (tanto no visual quanto no enredo) estudo sobre a relação das duas mulheres, com absolutamente tudo ao redor sendo efeitos-colaterais dessa relação. O final pode parecer um plot-twist, mas na verdade é um simbolismo cinematográfico que vai muito além de uma surpresa que busca enganar o espectador.


22. A Morte do Demônio: A Ascensão (Evil Dead Rise)

Direção de Lee Cronin, EUA.

Em 2013, o remake de "A Morte do Demônio" prometeu ser uma das mais assustadoras obras que o Cinema já pôs os olhos. Um sabor como terror, gore e insanidade que é característica da franquia, tivemos que esperar 10 anos para uma continuação, e a espera valeu a pena. "A Morte do Demônio: A Ascensão" consegue ir além e superar o filme de 2013 quando segue uma família arruinada que encontra o último prego no caixão quando o Livro dos Mortos cai em suas mãos. São 97 minutos de puro horror e com personagens fantásticos e uma das melhores atuações do ano: Lily Sullivan como a maestrina do gore.


21. Sem Ursos (Khers Nist)

Direção de Jafar Panahi, Irã.

O iraniano Jafar Panahi ficou famoso com seu estilo de misturar realidade com ficção, se inserindo em seus próprios filmes como um personagem central. Em "Sem Ursos", ele usa sua própria condição política - de ser impedido de deixar o Irã - como condutor do enredo: enquanto tenta dirigir um filme ao lado da fronteira, se mete numa confusão quando vira testemunha de uma briga familiar cunhada à base de religião e tradições conservadoras. "Sem Ursos" é mais um grito contra um país repressor que fez o diretor ir parar atrás das grades por sua "propaganda contra o regime". Cinema político em seu auge. 



20. Carvão (idem)

Direção de Carolina Markowicz, Brasil/Argentina.

Longa-metragem de estreia de Carolina Markowicz (que aparece DUAS vezes na presente lista), "Carvão" encontrou sucesso nacional e internacionalmente pela engenhosidade da diretora e roteirista: no interior de São Paulo, uma mulher aceita a proposta de esconder um traficante argentino em sua casa, tendo que substituir seu pai doente pelo homem sem que ninguém saiba. As entranhas dessa vila são expostas de forma crua e nua pelas lentes do filme, tendo como raiz de todo o horror uma sociedade desigual que faz as pessoas perdem a humanidade em troca de sobrevivência. 


19. Saltburn (idem)

Direção de Emerald Fennell, Reino Unido/EUA.

Recém aclamada logo na sua estreia com "Bela Vingança" (2020), Emerald Fennell retornou com o badalado "Saltburn" e não decepcionou. Seguindo um estudante que fica obcecado por um colega de faculdade, a ponto de adentrar na vida do garoto e arruinar tudo, "Saltburn" viralizou pelas suas cenas polêmicas - principalmente a da banheira e do cemitério -, contudo, o filme vai muito, mas muito além do choque. Sim, o shock value está lá para causar burburinho, porém, são elementos seminais para a exploração da insanidade do protagonista, que não mede esforços para ascender socialmente. 


18. A Sucata (Scrapper)

Direção de Charlotte Regan, Reino Unido.

Mais uma estreia feminina na nossa lista, "A Sucata" conta a história de uma garotinha que mora sozinha após a morte da mãe - ela nunca conheceu o pai e engana o governo dizendo que mora com um tio inexistente. Habitando quase integralmente num mundo de fantasia, ela só volta à realidade quando a falta da mãe bate à porta - e quando seu pai finalmente aparece. Um doce mistura de drama e comédia, o longa é de um charme invejável, e um irmão distante e britânico da obra-prima "Projeto Flória" (2017) ao acompanhar a vida das crianças e seus castelos encantados a fim de fugirem de suas duras vidas.


17. Bom Garoto (Meg, Deg & Frank)

Direção de Viljar Bøe, Noruega.

"Bom Garoto" foi um exemplo benigno das viralizações na internet, ganhando popularidade no Twitter apenas com sua sinopse: uma garota conhece um milionário em um aplicativo de encontros. Tudo parece incrível, até que ela conhece o bichinho de estimação do cara, Frank, um homem vestido de cachorro. Trabalho de conclusão de curso de Viljar Bøe, "Bom Garoto" é tudo o que a premissa coloca na mesa, uma bizarrice absurda que vai entrando em rumos cada vez mais estranhos. Com cenas impactantes e um final perfeitamente chocante, é bem verdade que o clímax cai num tom caricato em demasia (e não é um filme para todos os paladares), porém, tudo é compensado pela direção incrível e as curvas derrapantes do roteiro.


16. Raquel 1:1 (idem)

Direção de Mariana Bastos, Brasil.

Mais um elemento do Novíssimo Cinema Brasileiro ao colocar suas mãos em discussões sociais embaladas em premissas extremamente criativas: Raquel é uma adolescente que, após uma tragédia, se curva à religião. A questão é que, quanto mais Raquel fortalece sua fé, mais ela discorda dos preceitos escritos na Bíblia, principalmente sobre a visão submissa da mulher. Então ela decide fazer algo que chocará toda a cidade: reescrever as escrituras sagradas. "Raquel 1:1" se deita sobre "Carrie: A Estranha" (1976) e "Santa Maud" (2020) nesse conto sacro, feminista e disruptivo que une folclore, cultura e elementos de terror para colocar a plateia para pensar nos símbolos que deixam dúbio o papel de Raquel como messias de uma nova crença.



15. Anatomia de Uma Queda (Anatomie d'une Chute)

Direção de Justine Triet, França/Alemanha.

Talvez o filme internacional mais aclamado desde "Parasita" (2019), "Anatomia de Uma Queda" começou sua premiada carreira ao ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2023, e também pudera: a obra trabalha com elementos simples, mas de formas complexas. Um homem é encontrado morto ao lado de sua casa, e a principal suspeita é sua esposa, interpretada brilhantemente por Sandra Hüller. A única testemunha é o filho cego do casal. Afinal, ela matou ou não o marido? O longa passeia pelo "filme de tribunal" e o filme "quem será o culpado?" com um roteiro poderosíssimo, um quebra-cabeças tão cheio de emaranhados que escrever o roteiro deve ter sido um pesadelo. Um pilar fantástico de como nossa percepção muda até mesmo a verdade.


14. Tori & Lokita (idem)

Direção Luc & Jean-Pierre Dardenne, Bélgica/França.

Os irmãos Dardenne estão desde 1987 explanando diversos cosmos sociais da Bélgica, que inesperadamente são universais. Indicados NOVE vezes à Palma de Ouro no Festival de Cannes - com duas vitórias -, os belgas são aclamados pela crueza e coragem de seus filmes, e com "Tori & Lokita" não poderia ser diferente: dois imigrantes africanos tentam sobreviver na Bélgica em meio a racismo, misoginia e um sistema que está empenhado em separá-los. Com um tom documental, o longa é uma jornada dolorosa que discute a crise imigratória na Europa e como esses imigrantes são corpos sujeitos à marginalização - até serem descartáveis.


13. Tár (idem)

Direção de Todd Field, EUA/Alemanha.

Lydia Tár é uma maestrina de absurdo sucesso e conduz uma das melhores orquestras do mundo. Por trás de todo o glamour de sua abarrotada agenda, Lydia deve lidar com o casamento ameaçado, sua carreira em corda bamba e fake news sobre seu caráter. "Tár" tem quase 3h, em um robusto filme que está para a música clássica como "Cisne Negro" (2010) está para o balé e "Demônio de Neon" (2016) está para a moda, estudando as percepções de estrelas na mídia e a ascensão e queda de ídolos. Se o texto consegue carregar tantos temas complexos com maestria (bah dum tss), é a atuação lendária de Cate Blanchett que eleva a sessão a um patamar de obra-prima e que fará "Tár" ser lembrado por toda a história.


12. Propriedade (idem)

Direção de Daniel Bandeira, Brasil.

Uma grande fazenda, com todos seus empregados vivendo na propriedade, tem uma reviravolta quando o rico dono decide vender o terreno, o que expulsará todos os empregados. Ao visitar a casa, a esposa do dono se tranca dentro do carro blindado ao perceber a revolta violenta dos empregados, tendo apenas a lataria reforçada como proteção. "Propriedade" não poderia ir em um ponto mais óbvio na sua crítica do que a propriedade privada, a entidade elementar do Capitalismo que divide e segrega por meio de cercas. É ainda mais criativo ter um carro blindado, item de luxo dos 1% que habitam o topo da sociedade, como fortaleza, e a película brinca sadicamente com a vida dos envolvidos, mais um impulso cinematográfico nacional, que tem encontrado uma nova safra impecável a partir da década passada a fim de criticar nossos arredores. Não dá para esperar humanidade de alguém que foi tratado como animal a vida inteira.


11. Subtração (Tafrigh)

Direção de Mani Haghighi, Irã.

Farzaneh é uma esposa que, num dia qualquer, ver o marido entrando em um apartamento estranho. Ao envolver toda a família no aparente escândalo de infidelidade, ela descobre que existe uma mulher exatamente igual a ela casada com um homem exatamente igual ao marido. Com uma trama que faria Alfred Hitchcock correr para um estúdio, "Subtração" é um neo-noir fabuloso sobre um chavão cinematográfico, as cópias/duplos. Ao conhecerem ainda mais o outro casal, suas semelhanças físicas são chocadas com as diferenças de personalidade, e as duas famílias entrarão em conflitos que mostram que nossos eus ruins sempre podem destruir nossos melhores eus.



10. A Piedade (La Piedad)

Direção de Eduardo Casanova, Espanha/Argentina.

Eduardo Casanova ficou famoso mundialmente logo no seu filme de estreia, "Peles" (2017), que com toda a certeza será uma das obras mais bizarras que você verá na vida (está disponível na Netflix, aproveite). Sua segunda película, "A Piedade", estava envolta de muita curiosidade por parecer seguir os moldes que formavam o cinema "casanovadiano": personagens estranhos, cenas desconcertantes e um design de produção cor-de-rosa. Aqui, uma mãe chamada Piedade é obcecada pelo seu filho, e a relação disfuncional dos dois vai sofrer um baque com o diagnóstico de câncer do filho. É verdade que "A Piedade" não vai até aonde "Peles" vai no quesito "o que diabos é isso", porém, é um capítulo fabuloso na filmografia do espanhol, um pilar chiquérrimo (e excêntrico) do cinema queer.


9. Segredos de Um Escândalo (May December)

Direção de Todd Haynes, EUA.

Uma atriz (Natalie Portman) vai passar um tempo na casa de uma mulher (Julianne Moore) nacionalmente famosa por um relacionamento pedófilo que permanece até hoje, a fim de canalizar a mulher para o filme de sua vida. Todd Haynes, diretor de um dos melhores filmes LGBTQIAPN+ do século, "Carol" (2015), finalmente retorna ao auge emulando Pedro Almodóvar em "Volver" (2006), Ingmar Bergman em "Persona" (1966) e Richard Eyre em "Notas Sobre um Escândalo" (2006) para compor outro drama magistral, estrelado por duas atrizes em performances monstruosas que destroem todas as cenas. "Segredos de Um Escândalo" tem pelo menos duas cenas para os livros de história - o final é insanamente perfeito.


8. Beau Tem Medo (Beau is Afraid)

Direção de Ari Aster, EUA.

Um dos melhores diretores da atualidade, Ari Aster tinha um problemão em mãos: conseguir manter o nível dos seus dois primeiros filmes, "Hereditário" (2018) e "Midsommar: O Mal Não Espera a Noite" (2019). O mais curioso é que, se nos dois citados, o diretor teve que entrar no maquinário da indústria e moldá-los de acordo com o gosto da A24, sua distribuidora parceira, "Beau Tem Medo" recebeu carta branca para Ari despirocar e fazer o que diabos quisesse. O resultado? Um pesadelo satírico como nenhum outro. Sob o comando do vencedor do Oscar Joaquin Phoenix, "Beau Tem Medo" são 3h de insanidade que segue Beau em uma epopeia para chegar na casa da mãe após um acidente. Com sequências alucinógenas, cenas sem o menor sentido aparente e plot-twists incalculáveis, você passará dias tentando montar o quebra-cabeças do "mommy issues" do ano - e olha que acabamos de falar de "A Piedade". 


7. Até Amanhã (Ta Farda)

Direção de Ali Asgari, Irã/Catar.

Fereshteh é uma mãe solteira no coração do Irã, um escândalo por si só. Ela esconde a criança de todo mundo, com apenas duas pessoas sabendo da existência da filha: Atefeh, sua melhor amiga; e Yaser, o pai da criança que não tem o menor interesse em assumir o papel. Fereshteh segue bem com a vida, mediante a situação, mas tudo parece que está por um fio quando sua família informa que fará uma visita surpresa. Ela então corre pela cidade, à procura de alguém que poderá ficar com a menina por apenas uma noite. "Até Amanhã" é um drama impecável que estuda a vulnerabilidade da mulher num país que pinta um filho "ilegítimo" como desonra absoluta. Cada minuto que passa, mais o público se aflige com a situação de Fereshteh, que entrega uma das mais fantásticas cenas do ano - a do táxi. 


6. Como Fazer Sexo (How to Have Sex)

Direção de Molly Manning Walker, Reino Unido/Grécia.

Viajando pela beleza e feiura da juventude, "Como Fazer Sexo" segue uma ideia simples: três garotas, durante as férias da escola, embarcam numa viagem que promete ser o auge de suas vidas até então. Soa como uma comédia norte-americana dos anos 2000, contudo, este é um filme tão profundo quanto o oceano que banha as praias paradisíacas do local, conseguindo ativar gatilhos quando aborda o consentimento sexual feminino. O mundo heterossexual é um fardo para as mulheres (não impressiona que a única relação funcional da fita é entre duas meninas), todavia, mesmo com todas as dores, "Como Fazer Sexo" mostra como essa fase da vida pode nos fortalecer ou destruir se tivermos as pessoas certas ao nosso lado. Você só sabe o que a vida realmente é se já tiver voltado para casa chorando depois de uma festa.



5. Doente de Mim Mesma (Syk Pike)

Direção de Kristoffer Borgli, Noruega/Suécia.

O norueguês Kristoffer Borgli encontrou sucesso no país e, sem impressionar, já caiu nas graças de Hollywood - seu primeiro filme feito nos EUA, "O Homem dos Sonhos", foi produzido pela meca do Cinema contemporâneo, a A24. Mas, colado com sua estreia internacional, ele lançou "Doente de Mim Mesma". Na comédia, uma mulher é patologicamente viciada em atenção. Quando o namorado, um artista que rouba sofás para realizar suas obras, ganha notoriedade, ela vai até o limite para que os olhares recaiam sobre ela. "Doente de Mim Mesma" (tradução mais que perspicaz do título) é uma saga tresloucada que cava um buraco para se enterrar da forma mais divertida possível, afinal, tem nada mais terapêutico que assistir a pessoas malucas sendo malucas.


4. Pedágio (idem)

Direção de Carolina Markowicz, Brasil.

Premiada pelos seus curtas, a paulistana Carolina Markowicz debuta como um dos grandes nomes do cinema tupiniquim com a dobradinha "Carvão" e "Pedágio". No último, uma mãe vai parar nas garras do crime com o intuito de juntar dinheiro para mandar o filho homossexual para uma terapia evangélica de "cura gay". Cinema brasileiro em seu mais cristalino estado, "Pedágio" vai nos becos do país para estudar como a homofobia encontra as mais longínquas esquinas para ter forças, tendo como terreno fértil a hipocrisia gospel. Não se engane, a sinopse pode soar como um drama denso sobre sexualidade, mas não, aqui é uma fita hilária pela condução do absurdo - e, sim, chocante ao notarmos que tudo na tela é reflexo do real, sem jamais deixar as brasilidades de lado para fortalecer a cultura dentro e fora da tela.


3. Piscina Infinita (Infinity Pool)

Direção de Brandon Cronenberg, Canadá/Croácia.

Em 2022, David Cronenberg - um dos pais do horror norte-americano - voltou à velha forma com o incrível "Crimes do Futuro"; em 2023, é a vez do seu filho. Brandon Cronenberg prova que é um pupilo exemplar do Cinema de seu pai ao lançar "Morte Infinita": um rico casal está em luxuoso resort e verá suas férias (e suas vidas) pegarem um caminho monstruoso ao conhecer outro casal veterano. Ao causarem um acidente, os ricaços descobrem uma das leis do país: assassinato é pago com a morte do culpado pelas mãos da família da vítima, todavia, quem tem dinheiro tem uma saída, e no universo fílmico de "Morte Infinita" há um segredo macabro. Alexander Skarsgård e Mia Goth (que diz "SIM!" para qualquer roteiro que a descreve como "personagem psicótica") dão vida (e morte) para um roteiro narcotizante que possui cada vez mais camadas quanto mais você reflete sobre. O último pilar da "Santíssima Trindade do Transhumanismo Contemporâneo", ao lado de "Crimes do Futuro" e "Titânio" (2021). Amém.


2. Fale Comigo (Talk to Me)

Direção de Danny & Michael Philippou, Austrália.

A A24 se tornou o messias dos fãs de terror, provando lançamento após lançamento como realizar fitas nesse que é um gênero tão hercúleo: "A Bruxa" (2015), "Hereditário" (2018), "Clímax" (2018), "Cordeiro" (2021), "Men: Faces do Medo" (2022) e "Pearl" (2022) são apenas alguns exemplos que comprovam essa afirmativa. Então, havia muita expectativa em cima de "Fale Comigo", a grande aposta do estúdio para 2023, e a espera valeu a pena. No longa, uma galera se junta para brincar com uma mão embalsamada que os conecta com o mundo dos mortos. É claro que a brincadeira logo foge do controle e o pandemônio se instaura. "Fale Comigo" tem o ingrediente básico para um horror de sucesso: a falta de esperança. Tudo é posto na tela com um sabor amargo, e recebemos cenas perversas que nos remete aos maiores, como "O Exorcista" (1973). Tem elogio melhor?


1. A Baleia (The Whale)

Direção de Darren Aronofsky, EUA.

Um dos longos mais polêmicos de 2023 - o que não é raridade dentro da carreira de Aronofsky, "A Baleia" conseguiu abocanhar dois Oscars e marcar o retorno triunfal de Brendan Fraser, que levou o careca de "Melhor Ator" ao viver um professor obeso em seus últimos dias de vida. A carga dramática de "A Baleia" engalfinha por um peso emocional raro - curiosamente, mesmo com toda a dor do texto, o filme possui o final mais esperançoso de toda a filmografia de Aronofsky, no entanto, chegar até lá é uma tortuosa viagem que com certeza não agradará a todos. A cereja do bolo que refletiu o status de obra-prima para "A Baleia" veio quando, na cena final, em uma revelação que amarra toda a história, uma pessoa sentada ao meu lado na sessão levou as duas mãos ao rosto em completo frenesi. É a beleza da tristeza e a feiura da alegria em um dos mais arrebatadores finais da década, que arrancaram minhas lágrimas como nunca antes diante da Sétima Arte.

***

As 50 Melhores Músicas Internacionais de 2023

Seja na sua versão original, como foi pensada pelo artista, numa edição amadora que acelera o seu ritmo e distorce seus vocais para tons agudos inimagináveis, ou num curto corte que grudou na sua cabeça depois de tocar incessantemente na plataforma ao lado, a música foi um personagem essencial para passarmos por mais um ano e, por aqui, assumi a árdua tarefa de elencar quais merecem seu lugar ao sol para o futuro em que olharmos para trás e pensarmos, “isso definiu 2023.”

Do pop ao hip-hop, do reggaeton ao hyperpop, da música eletrônica à inevitável trilha sonora do filme da “Barbie”, nossa lista transita por 50 destaques musicais internacionais do ano que se foi e garante uma coletânea que reúne dos grudentos hits que você com certeza ouviu aos sons que talvez tenha passado despercebido por quem insiste que a música atual não se conecta mais com os consumidores outrora assíduos desses gêneros.

Eis nossa lista definitiva:

As Inquestionavelmente Melhores Músicas Internacionais de 2023

50. The Weeknd, Madonna, Playboi Carti - “Popular”

A infame empreitada de The Weeknd com a série “The Idol” pode não ter agradado pelo todo, mas, se teve algum acerto, foi musical. “Popular”, onde o talentoso canadense une suas forças com Madonna e Playboi Carti, torna impossível não ceder a sensualidade pop que permeia por todo o enredo da série.

49. Sabrina Carpenter - “Feather”

48. Lily-Rose Depp - “World Class Sinner”

47. Hannah Diamond - “Affirmations”

46. Tate McRae - “greedy”

45. LE SSERAFIM - “Eve, Psyche & The Bluebeard’s wife”

44. Kesha - “Only Love Can Save Us Now”

43. Kelela - “Contact”

42. FIFTY FIFTY - “Cupid”

41. Kylie Minogue - “Padam Padam”

40. Dorian Electra - “Idolize”

Se nos pedissem pra dizer qual artista tem definido o que queremos dizer quando falamos em música pop do futuro, não pensaríamos duas vezes em citar Dorian Electra. Das referências dos anos 2000 à modernidade e distorções do sujo hyperpop, “Idolize” é o exemplo perfeito de como a música pop deveria soar em 2024.

39. Billie Eilish - “What Was I Made For”

38. Paramore - “This is Why”

37. Dua Lipa - “Houdini”

36. Doja Cat - “Paint The Town Red”

35. Tove Lo - “Borderline”

34. Jung Kook, Latto - “Seven”

33. Fall Out Boy - “Love From The Other Side”

32. Leigh-Anne - “Don’t Say Love”

31. Tainy, Bad Bunny - “Mojabi Ghost”

30. Calvin Harris, Ellie Goulding - “Miracle”

Na carona dos hits acelerados e hype da música eletrônica underground, Calvin Harris e Ellie Goulding se juntaram para fazer algo grandioso outra vez e, em “Miracle”, apostaram no trance para resgatar uma das poucas fórmulas dos anos 2000 que ainda não haviam trago para as paradas atuais.

29. Romy - “Enjoy Your Life”

28. Tyla - “Water”

27. Loreen - “Tattoo”

26. Grupo Frontera, Bad Bunny - “un x100to”

25. Post Malone - “Chemical”

24. Kito, GrimesAI - “Cold Touch”

O papel da inteligência artificial no futuro da música ainda é incerto, mas não podemos negar que, aqui, algo muito bom aconteceu. “Baby, I’m a machine”, canta a voz da Grimes nesta parceria com a produtora Kito e não é uma mentira: a cantora nunca chegou nem perto do processo de criação da música. Numa iniciativa incentivada pela própria cantora de “Kill V Maim”, que autorizou artistas independentes a lançarem músicas usando o modelo artificial da sua voz, “Cold Touch” foi originalmente gravada pela artista Nina Nesbitt, que posteriormente teve seus vocais alterados para que soassem como de Grimes.

A música foi muito bem recebida pelos fãs da artista e a própria cantora, que a considerou uma “obra prima”. Temos que concordar.

23. Kim Petras - “Claws”

22. Jorja Smith - “Little Things”

21. boygenius - “Not Strong Enough”

20. Björk, Rosalía - “Oral”

19. 100gecs - “Hollywood Baby”

18. Peggy Gou - “(It Goes Like) Nanana”

17. Rebecca Black - “Crumbs”

16. Jessie Ware, Pabllo Vittar - “Pearls (Brabo Remix)”

15. Emilia, Ludmilla - “No_se_ve.mp3”

Cria dos anos 2000 e fã assumida do mercado musical brasileiro, Emilia foi uma das grandes revelações latinas do último ano e se uniu a ninguém menos que Ludmilla para uma mistura de funk com dance music na eufórica “No_se_vê.mp3”, que acerta em misturar versos em português e espanhol com toda a naturalidade que pede a nossa autêntica música eletrônica.

14. Rosalía, Rauw Alejandro - “VAMPIROS”

13. Lana Del Rey - “A&W”

12. PinkPantheress, Ice Spice - “Boy’s a Liar Pt. 2”

11. NewJeans - “Super Shy”

10. Miley Cyrus - “Flowers”

Três anos após o roqueiro “Plastic Hearts”, Miley Cyrus voltou devorando as rádios, pistas e paradas com “Flowers” que, desde a primeira audição, soa como uma música feita para ser um clássico.

09. Olivia Rodrigo - “vampire”

Talvez o que há de mais novo fazendo sucesso no pop atual, Olivia Rodrigo abraçou a pressão de emplacar um novo hit após o sucesso estrondoso do seu álbum de estreia e tirou a missão de letra com seu trabalho seguinte, apresentado ao público pela balada “vampire”. Descaradamente pop, o hino consolida a artista e suas influências que vão de Taylor Swift ao indie-rock, evidenciando também as duas armas que garantirão sua longevidade nesta indústria: a voz e a narrativa de suas composições, que, sim, agrada adolescentes, mas faz também qualquer adulto no auge dos seus 30 anos cantar como se estivesse acabado de completar 17.

08. Troye Sivan - “Rush”

Eufórica, sensual e dançante, “Rush”, de Troye Sivan, transforma em música todo o tesão acumulado que exala pelos cantos escuros das pistas que abrigam LGBTQIAP+ a fim de dançar pela cena atual. Um hino para nós, clubbers, cantarmos em alto e bom som.

07. Skrillex, Bobby Raps - “Leave Me Like This”

Um ano após Beyoncé colocar o house de volta no radar do mainstream, Skrillex foi além e ofereceu uma fórmula ainda mais eletrizante do gênero na parceria com Bobby Raps que marcou seu retorno para os palcos e festivais no último ano. Se seus trabalhos anteriores foram cruciais para a música eletrônica moderna, “Leave Me Like This” vem para incentivar o tradicionalismo com toda a modernidade que só ele poderia oferecer.

06. SZA - “Kill Bill”

Não existe 2023 sem “Kill Bill” da SZA.

05. Charli XCX - “Speed Drive”

Fazia tempo que um acontecimento pop não parava o mundo como aconteceu com a estreia de “Barbie”, e sua trilha sonora, curada pelo produtor Mark Ronson, não ficou pra trás. “Speed Drive”, de Charli XCX, traz para os ouvintes mais novos um sample ágil da lendária Robyn com trechos do hit dos anos 80 “Hey, Mickey!”, eternizando o refrão mais icônico em referência a boneca mais famosa do mundo desde o sucesso do Aqua.

04. FLO, Missy Elliott - “Fly Girl”

Berço de alguns dos maiores talentos dos últimos anos, o R&B, mesmo que distante do radar das paradas, segue revelando os artistas e trabalhos mais interessantes da música atual e, nesta faixa do grupo feminino FLO, “Fly Girl”, faz a volta completa do seu som atual com uma das referências mais icônicas do gênero, Missy Elliott, que aparece pessoalmente para deixar o seu nome na música que faz referência a um dos seus maiores sucessos.

03. Caroline Polachek - “Welcome to My Island”

Atualmente existe a música pop e existe a música pop de Caroline Polachek. Grata surpresa para os fãs do gênero mais comercial aos alternativos, em seu álbum do último ano, “Desire I Want to Turn Into You”, a cantora deixa a sua marca na música atual e se torna uma das poucas unanimidades do ano com o synthpop impressionante de “Welcome To My Island”.

02. SZA - “Nobody Gets Me”

Quase um clássico sertanejo à americana, “Nobody Gets Me” marca um dos ápices de SZA no álbum “SOS” e, consequentemente, deste ano em que seu disco foi, sem a menor dúvida, uma das maiores e melhores obras que tivemos a oportunidade ouvir. Balada potente e simplista, a música é daquelas que escutamos ansiando pela experiência de um dia ouvi-la ao vivo cantando-a com toda força na plateia de um grande festival. Ninguém realmente entenderia.

01. Bad Bunny - “Where She Goes”

Maior artista da atualidade, Bad Bunny está longe de ser um consenso no Brasil, mas já garantiu um lugar cativo pelo restante do globo e, no que depender de nós, o quanto antes terá esse efeito surtido por aqui também. Em sua melhor forma, “Where She Goes” transita da faceta pop do artista às suas influências do hip-hop, embalando suas distantes nuances num jersey club fascinante.

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Nossa playlist está disponível na íntegra pelo Spotify:

As 20 melhores atuações do Cinema em 2023


Mais um ano se encerrando e, claro, o Cinematofagia não abre mão do seu solene compromisso de listar as melhores performances no Cinema de 2023.

De indicados ao Oscar a estreias inacreditáveis, a lista segue as seguintes regras: não há separação entre papéis protagonistas e coadjuvantes e nem de gênero, tendo como critério de inclusão a estreia do filme em solo tupiniquim dentro do ano ou com o filme chegando à internet sem distribuição no país até o fechamento da lista.

Não assistiu a algum dos longas aqui listado? Não se preocupe, pode ler todos os textos que são sem spoilers - e em seguida correr para aclamar essas performances maravilhosas. Quem são os indicados ao Oscar Cinematofagia de "Melhor Atuação" do ano? Você pode conferir abaixo.


20. Guslagie Malanda, Saint Omer

A francesa Guslagie Malanda estudou para ser historiadora da arte, mas seu amor pelo Cinema e Teatro, algo cultivado desde a infância, a fez tentar a carreira de atriz. "Saint Omer" é apenas o segundo filme de Malanda, que teve a tarefa de transpor para as telas a vida de uma mulher real acusada de assassinar o próprio bebê de um ano. Não só os meandros do papel demandariam talento, mas a persona da personagem, uma mulher soterrada em uma angustiante indiferença, faz com que Malanda seja dona da posição sem que consigamos ver outra pessoa ali.


19. Zelda Samson, Amor Segundo Dalva

"O Amor Segundo Dalva" é um filme complexo por si só. Dalva é uma menina de 12 anos que se enxerga como mulher adulta graças aos anos de abusos infligindos por seu pai. E sim, Dalva é interpretada por uma criança, Zelda Samson. O cuidado da diretora Emmanuelle Nicot faz com que a pequena atriz nunca atravesse o limiar do explícito, mas Samson brilhantemente entrega tanto a inocência de Dalva infantil como a dureza de Dalva "adulta", em um papel que seria difícil até para atrizes com anos de carreira.


18. Joely Mbundu, Tori & Lokita

Os irmãos Dardennes, diretores belgas aclamados com quase 40 anos de carreira, são especialistas em dramas humanos com tom documental. Suas protagonistas, em sua maioria mulheres, são extraídas ao máximo pelos caminhos tortuosos dos roteiros, e com Joely Mbundu não seria diferente. A francesa com descendência africada é Lokita, uma adolescente imigrante na Bélgica que tenta não apenas sobreviver como não se separar do irmão de 11 anos, Tori. Mbundu atua como se não estivesse atuando e tudo aquilo fosse um real documentário, o que é assombroso para alguém em seu primeiro papel, e logo um que aponta o dedo para o racismo, xenofobia e injustiça de um continente que se pinta como perfeito.


17. Leonardo DiCaprio, Assassinos da Lua das Flores

DiCaprio já se consolidou com um grande ator há décadas, sendo indicado e vencendo todos os maiores prêmios da indústria pelo mundo. Em sua melhor performance desde "O Regresso" (2015), que lhe rendeu seu primeiro Oscar, o ator vive também uma pessoa real, Ernest Burkhart, um ex-soldado que, ao voltar para os EUA, é preso em uma teia de ambição contra os povos originários do local, donos de terras enxarcados com petróleo. Ele se apaixona por uma das mais ricas indígenas, porém, por influência do tio (e da própria arrogância), é o responsável pela queda da família da esposa em busca da sua fortuna. "Assassinos da Lua das Flores" não é um filme fácil (são TRÊS HORAS E MEIA), mas DiCaprio renova sua carteira de um dos maiores atores da nossa época sem demonstrar dificuldades.


16. Alina Khan, Joyland

Mais uma estreia histórica, Alina Khan é uma atriz paquistanesa que começou em comerciais e clipes musicais em seu país. Com "Joyland", ela se tornou a primeira mulher trans a ser protagonista em um filme no Paquistão, o que por si só foi um escândalo. O longa foi banido no país não só por Khan, mas pela temática da obra: um pai de família rompe as barreiras do conservadorismo ao se apaixonar por uma dançarina trans. Khan, essa dançarina, enfrenta com doçura e poder diversas temáticas da vivência trans engalfinhada em um país preconceituoso, quando nem mesmos os membros da classe LGBTQIAPN+ têm repertório para se relacionarem entre si.


15. Barry Keoghan, Saltburn

O ator irlandês vê um roteiro sobre um cara que fica obcecado por um homem e, ao entrar em sua família, corrói as paredes de todos até o caos se instaurar. Sua resposta é "EU FAÇO!" antes mesmo de chegar ao final. Seu personagem em "Saltburn" divide várias similaridades com seu papel em "O Sacrifício do Cervo Sagrado" (2017), porém, sem os ares fantásticos do filme de Yorgos Lanthimos, e Barry Keoghan é especialista em insanidades na tela. Seu personagem não vê limitações para conseguir o que quer e vai do perturbador ao nojento num piscar de olhos. Será se um dia Keoghan vai interpretar alguém "normal"? Veremos.


14. Kristine Kujath Thorp, Doente de Mim Mesma

Norueguesa e com farto currículo, Kristine Kujath Thorp desponta internacionalmente com "Doente de Mim Mesma", uma comédia absurda sobre uma garota que é patologicamente viciada em atenção, e vai aos limites para ser o centro das atenções não só de sua vida particular, mas de todo mundo ao redor. Thorp balanceia a loucura e tristeza do seu papel, fazendo com que sintamos pena e raiva de uma personagem hilariamente perdida. Não se surpreenda se ela for chamada por Hollywood nos próximos anos.


13. Mia Goth, Piscina Infinita

A neta mais famosa da atriz brasileira Maria Gladys está, ano após ano, demonstrando que é uma das maiores atrizes da nova geração - ela estava presente na lista de melhores atuações de 2022 e cá está novamente. Com apenas 10 anos dentro da indústria cinematográfica, ela coleciona papéis geniais, e "Piscina Infinita" é mais um acréscimo irretocável em seu currículo. No novo filme de Brandon Cronenberg, ela é uma turista que apresenta ao protagonista (vivido por Alexander Skarsgård) o submundo do exótico país em que estão passando férias, regado com crimes, mortes, luxúria e sexo. Assim como Barry Keoghan, Goth se recusa a interpretar alguém que fosse aprovado num teste psicotécnico, e a arte ganha atuações dementes e incríveis como essa de "Piscina Infinita".


12. Joaquin Phoenix, Beau Tem Medo

O recém portador de um careca dourado, Phoenix, também em 2023, interpretou Napoleon Bonaparte na nova película de Ridley Scott, mas alguém ainda aguenta cinebiografias (filmes que giram em torna da vida e história de um personagem)? Só Lydia Tár, é claro. A glória de Phoenix no ano foi ao lado de Ari Aster em "Beau Tem Medo". O épico onírico pavimenta a viagem de seu protagonista de volta para a casa da mãe após um acidente, e como esse trajeto é infestado de percalços. O Beau de Phoenix rende análises psicológicas infinitas, principalmente no âmbito do mommy issues, e o oscariado foi a escolha seminal para o sucesso do filme, o maior "amei, mas não entendi" de 2023.


11. Sophie Wilde, Fale Comigo

A australiana de apenas 25 anos é mais uma estreia com o pé na porta nesta lista. Wilde ainda iniciou sua carreira num gênero tão difícil como o terror, sendo a orquestradora de todo o pandemônio em "Fale Comigo". Como Mia, a menina que tenta superar a morte da mãe, encontra em uma mão sobrenatural a oportunidade de falar com os mortos, porém, eles nem sempre vão embora. Tudo em "Fale Comigo" é orquestrado por exímia competência, e Wilde pega na nossa mão e nos leva direto para o inferno.


10. Sandra Hüller, Anatomia de Uma Queda

Sandra Hüller está nas telonas há bastante tempo, e conseguiu nossa atenção em 2016 com o divertido "Toni Erdmann". Dali em diante, ela estava determinada a conseguir papéis ainda mais desafiadores, e encotrou o filme perfeito com "Anatomia de Uma Queda". No vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes 2023, Hüller é uma mulher que encontra o marido morto ao lado de sua casa. A questão é: aquilo foi um suicídio ou ela foi a culpada. Transitando entre a vida íntima da protagonista e sua posição no tribunal durante o processo, a alemã carrega um dos mais densos roteiros do ano ao entregar uma personagem abstrusa que é difícil de decifrar até mesmo para a plateia. A indicação ao Oscar vem aí.


9. Sadaf Asgari, Até Amanhã

É comum que diretores encontrem suas musas e parceiras de inúmeros trabalhos dentro de sua filmografia, e a musa do iraniano Ali Asgari é Sadaf Asgari. Em "Até Amanhã", vamos aos subúrbios do Irã e conhecemos Fereshteh, uma mãe solteira que deve esconder o filho dos pais que decidem aparecer em sua casa de surpresa. Na sociedade iraniana, um filme "ilegítimo" é motivo de vergonha, e Fereshteh deve encontrar um local para deixar o bebê até o dia seguinte. Asgari desempenha nuances impressionantes na pele da mãe destinada a aguentar um fardo imposto por uma sociedade sexista, resumida divinamente na cena do táxi, quando ela embarca em uma turbilhão de emoções sem soltar uma palavra. Seu rosto, no entanto, grita.


8. Maeve Jinkings, Pedágio

Maeve Jinkings faz parte do panteão do cinema brasileiro contemporâneo, atuando em algumas das maiores fitas da nossa história recente, como "O Som Ao Redor" (2013), "Boi Neon" (2016) e "Aquarius" (2016). Em "Pedágio", a brasiliense repete a parceria com Carolina Markowicz, sua esposa, depois de arrebentar em "Carvão" (2022). Agora, ela vive uma mãe suburbana que decide fazer o que for preciso para juntar dinheiro e levar o filho homossexual em um retiro de "cura gay" evangélico. Jinkings então rasga o ecrã com sua personagem ao mesmo tempo hilária e trágica, um retrato tão piamente fiel da hipocrisia gospel que está em todas as esquinas do nosso país.


7. Tobin Bell, Jogos Mortais X

Mesmo com quase 40 anos de carreira, Tobin Bell entrou para os anais do Cinema como um dos mais icônicos vilões da história do terror, o Jigsaw da franquia "Jogos Mortais". Ela, que havia anunciado seu fim em 2010, viu o potencial financeiro e quebrou sua própria promessa, contudo, ainda não tínhamos testemunhados um filme que desse a luz merecida para John Kramer. "Jogos Mortais X" veio para resolver todos os problemas. A ideia de fincar o décimo filme entre o primeiro e o segundo foi genial, e aqui vemos Kramer sendo enganado por uma equipe médica que promete curá-lo do câncer, e, pela primeira vez, mergulhamos profundamente nas motivações do personagem, que consegue encontrar pessoas piores que ele mesmo. 20 anos depois do primeiro filme, Bell ainda demonstra estar em plena forma.


6. Natalie Portman, Segredos de um Escândalo

Saindo um pouco do mundinho Marvel (tive que pesquisar se era Marvel mesmo), a vencedora do Oscar Natalie Portman retorna para mostrar que é, sim, uma das melhores no drama "Segredos de um Escândalo". Ela é Elizabeth, uma atriz que vai interpretar uma mulher que foi a estrela de um escândalo quando foi pega tendo um caso com um menor de idade - e eles permanecem juntos até hoje. Elizabeth entra na vida da família para entender melhor como performará seu papel no filme, porém, ela vai adentrando demais na rotina da família, misturando o que seria sua ficção com sua realidade. Uma cena chave é quando Portman executa um monólogo quebrando a quarta parede da plateia e de sua própria vida, em busca de uma veracidade que não importa mais a fonte.


5. Mia McKenna-Bruce, Como Fazer Sexo

Mia McKenna-Bruce trilhou sua carreira com destaque para a tevê britânica em séries infantis, o que é um constraste por si só ao assistirmos a "Como Fazer Sexo". Ela é Tara, uma jovem que viaja para a Grécia com duas amigas em busca das férias perfeitas. Lá, ela vai conhecer os prazes e dores de uma fase da vida destinada a ser crucial pelo resto dos seus dias. Com uma destreza invejável, a atriz é absoluta como a porta-voz de uma das discussões mais sérias que o Cinema pode discorrer, o consentimento sexual feminino. McKenna-Bruce é o rosto e o corpo de traumas que desembocam no público em uma obra-prima.


4. Lola Campbell, A Sucata

12 anos. Seu primeiro filme. Lola Campbell nasceu para o Cinema. Em "A Sucata" ela é Georgie, uma criança que vive sozinha após a morte da mãe, enganando o governo para que não seja realocada até um orfanato. Ela vive seus dias em uma fantasia paralela, pondo os pés na realidade quando a ausência da mãe bate à porta, até que seu pai biológico, um jovem que ela nunca viu na vida, decide também bater nessa porta. Campbell é de uma plenitude tão avassaladora como a menininha que teve que esconder sua doçura a fim de sobreviver que parece ter sido criada dentro dos teatros, sendo a maior descoberta da Sétima Arte em 2023.


3. Cate Blanchett, Tár

Lydia Tár. Agora sim, a cinebiografia da década. Sim, "Tár" pode ser chamado de "cinebiografia", mas sobre uma pessoa fictícia. Na verdade, Cate Blanchett a executa tão bem que virou um meme a existência "real" de Lydia, a maestra lésbica que é o maior nome da música clássica no mundo. Blanchett já tem dois Oscars e uma infinidade de prêmios que não cabem mais numa estante, todavia, ela se entrega como se sua vida dependesse de Lydia, não só escancarando a oscilante vida da personagem, mas também colocando os olhos na cultura do cancelamento. O que poderia ser um filme banal sobre a ascensão e a queda de um ícone é uma montanha-russa deliciosa que se deve, e muito, à atuação de Blanchett. 


2. Alyssa Sutherland, A Morte do Demônio: A Ascensão

O terror ainda é um gênero subestimado pela Academia mesmo quase um século depois do seu início - apenas SEIS atores vencendo o Oscar interpretando em um filme de terror, a última sendo Natalie Portman em "Cisne Negro", em 2011. Atuações lendárias no gênero não faltam - Toni Collette não ter sido ao menos indicada por "Hereditário" (2018) foi um crime -, mas o Cinematofagia não comete tais sacrilégios. Além de Tobin Bell e Sophie Wilde, outra gigantesca atuação do terror foi a de Alyssa Sutherland em "A Morte do Demônio: A Ascensão". Como a mãe que é possuída pelo Livro dos Mortos e tem como objetivo comer a alma de todo mundo à sua frente, Sutherland arrebenta em todas as cenas, principalmente as que está sob efeitos do capiroto. É cristalino como a australiana está se divertindo no papel endiabrado, o que torna tudo ainda mais poderoso.


1. Brendan Fraser, A Baleia

Quem não ama uma história de superação? Brendan Fraser era um dos maiores galãs e estrelas de Hollywood no início dos anos 2000, encabeçando a franquia "A Múmia" e marcando seu nome como beleza, prestígio e retorno financeiro. Tudo isso ruiu com uma sucessão de filmes ruins e bilheterias fracassas, tornando Fraser um ator esquecido. Mas, como disse, quem não ama um retorno triunfal? Esse retorno foi com "A Baleia". Todos os filmes de Darren Aronofsky têm em comum o exorcismo cinematográfico de seus protagonistas - não por acaso, vários deles foram indicados ao Oscar (Ellen Burstyn em "Réquiem Para um Sonho", 2000; Mickey Rourke em "O Lutador", 2008; e a vitória de Portman em "Cisne Negro") -, e Fraser passa pelo desafio impecavelmente. Como o um professor obeso e homossexual, Fraser encara uma batalha dificílima em um filme que é "ame ou odeie", encontrando o consenso na atuação consagrada do ator, que voltou ao alto escalação de Hollywood, vencendo seu inédito Oscar de "Melhor Ator".


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