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Review: Você realmente deve dedicar 90 minutos da sua vida para assistir “Indomável Sonhadora” de Benh Zeitlin!


Há alguns dias eu vi uma enquete perguntando quem era o Oscar na fila do SUS, ou seja, “qual a relevância do Oscar para você?”. A alternativa que estava esmagadoramente na frente era “Pouca, apenas entretenimento”. Okay, sem problemas, mas a opção que eu marquei foi “É meu manual do que assistir”. Assim como filmes terríveis concorrem às categorias principais do prêmio todos os anos (nessa 85ª edição há um exemplo – ganhará resenha nos próximos dias), outros desconhecidos e belíssimos ficam debaixo dos poderosos holofotes do Oscar, e isso é de extrema importância. É o caso de Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild, 2012) de Benh Zeitlin.

A sonhadora do título é Hushpuppy (Quvenzhané Wallis), uma menininha com cabelos indomáveis (tai o título do filme, N) que vive no delta de um rio na Louisiana com seu pai Wink (Dwight Henry). Numa comunidade extremamente afastada, Hushpuppy conhece bem a pobreza. De bens materiais, não de espírito (pausa para explicar que não se trata de um filme de “superação” como vários que existem por aí). Num dia, uma tempestade causa a inundação do vilarejo e repentinamente o pai fica doente. Hushpuppy fica revoltada e sem querer quebra a harmonia do seu universo, acordando criaturas pré-históricas chamadas “aurochs”, uma espécie de javali gigante. Enquanto tenta colar as peças do seu mundo em caos, ela vai à procura de sua mãe desaparecida.

Viagem, hein? Mas não é tão fantasioso assim. A sinopse pode assustar, porém o filme é bastante singelo. É só ver a forma independente que foi conduzida, e magistralmente conduzida pelo estreante Zeiltlin, até os atores desconhecidos, só que o brilho todo fica claramente em cima de Quvenzhané Wallis (jamais saberei pronunciar esse novo, vou esperar o Zé Wilker falar no dia da premiação, risos). A menina, que tem apenas nove, eu repito, NOVE anos é a mais jovem atriz a concorrer ao Oscar de Melhor Atriz, e disputa ao lado de nomes fortíssimos como Emmanuelle Riva, Naomi Watts e a preferida (mas não merecedora) Jessica Chastain. Sua interpretação que oscila entre taciturna e cheia de vida é fenomenal. Ela não ganhará ao Oscar, concorre por ser mais uma “criança com atuação de cair o queixo”, todavia deixo aqui registrado que ela merece o prêmio mais que Chastain e até Jennifer Lawrence, que não sei o que faz entre as concorrentes. Quanto ao título brasileiro, muitos acharam piegas, só que, convenhamos, é bem melhor que “Bestas Selvagens do Sul”, né?

Indomável Sonhadora é um filme visualmente impecável, desde a fotografia até a direção de arte. A atmosfera surrealista, etérea, sobrenatural criada no mundo de Hushpuppy é sublime. Os aurochs, as tais criaturas acordadas depois da quebra da harmonia mundial, e que correm o filme inteiro devastando tudo que encontram pela frente, nada mais são que a personificação da coragem da menina, que estavam congelados em algum lugar nela e, ao dar de cara com o caos, precisaram ser brutalmente acordados, e seja lá de onde eles se escondiam, vir correndo, sem se importar com os obstáculos que tentam pará-los, já que a sobrevivência dela, do pai e da comunidade é mais importante que meros medos. É uma visão metafórica parecida com a do mais que premiado A Árvore da Vida (The Tree of Life, 2011) de Terrence Malick, só que bem melhor, já que não é tão chato como o do Malick, nem tão pedante quanto o do Malick, e não é um Malick. O filme concorre em quatro categorias no Oscar: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Atriz - Quvenzhané Wallis.

Podendo não cair no gosto do grande público pela abordagem nada tradicional, Indomável Sonhadora é um filme que merece ser visto, apreciado, comentado e revisado. Transmite sensações que só o cinema é capaz de fazer, pura magia. Ganhador do Caméra d’Or no Festival de Cannes, que premia o melhor "debutante" do ano (primeiro filme de um diretor), Indomável Sonhadora é pura riqueza.


Últimas reviews:
- A Hora Mais Escura, de Kathryn Bigelow.
- As Aventuras de Pi, de Ang Lee.
- Amor, de Michael Haneke.
- Argo, de Ben Affleck.
- Django Livre, de Quentin Tarantino
  • Próxima Oscar Review: Lincoln, de Steven Spielberg, segunda, 18/02.
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