Quando dizem que nosso mundo está cada vez mais plástico e superficial, é de se estranhar. Mas no fim das contas isso pode estar certo. No inferninho da música, tudo o que todos querem é: sucesso. O tão sonhado #1 nos charts da vida. Isso faz com que de vez em quando um determinado artista (e sua gravadora) partam para as medianas drástikas para poder conseguir o tal #1. Inventam um remix farofento para ferver a pista,
Ke$ha veio com o "Warrior" para mostrar ao mundo que era mais que um rostinho farofeiro com glittler e muito auto-tune. Promessa feita, promessa cumprida. O "Warrior" abrange com louvor diversos gêneros sem (quase nunca) cair na pieguice ou forçação de barra. A faixa que, desde a primeira ouvida, mais me chamou a atenção foi Crazy Kids. "Que Ke$ha é essa? Eu não sei, mas já to amando". Começa com aquele violão delícia kinda Good Feeling do Flo Rida, assobios e os vocais da Ke$ha super manhosos entoando "Olá, onde quer que você esteja. Você está na pista de dança ou bebendo no bar? Hoje anoite nós vamos fazer algo grande e brilhar como as estrelas. Não dão damos a mínima porque é isso que nós somos. E nós somos...", até cair no corpo da música e lá está Ke$ha fazendo quase um rap! Insano.
Depois do, podemos chamar, flop de C'Mon, a gravadora não quis arriscar o mesmo caminho e, como já dizemos, meteram o will.i.am aqui. E, teoricamente, ele é um rapper. Todavia a sua parte hip-hopada na canção é completamente dispensável, ruim (tem até grunhidos inteligíveis, como se a criatividade para o trecho tivesse acabado e ele começa a gemer como uma vaca) e só diminui a faixa ("Ela coloca os seios no meu rosto e estou realmente vendo duplicado. Levo-a para minha casa para voar como um foguete": passo). O mais triste é que a "função" do rapper era elevar a música nos charts, só que isso não aconteceu (a faixa teve peak de #59 no US e #75 no UK), ou seja, will.i.am é um grande nada (abro espaço para o óbvio: chart só é importante para gravadora e ele pode medir tudo, menos "qualidade").
Mas vamos falar de coisa boua: o mais impressionante em Crazy Kids, além do "novo som" da cantora, é a recepção daquelas que NÃO gostam de pop e/ou não gostam da Ke$ha. Vejo amigos "indies" que amam a faixa, simplesmente por ela ver tão libertina quanto às regras do estilo pop - óbvio, não temos uma revolução do estilo, mas temos uma pequena revolução interna dentro dos próprios pilares musicais da Ke$ha. O modo electropop que ela (e somente ela com seus produtores - Dr. Luke, oi -, will.i.am é arroz de festa aqui) fala (canta) sobre a libertação do "eu" é exemplar, e termina como a melhor faixa de todo o álbum. Sucesso ou não Crazy Kids é uma daquelas faixas que estão livres dos nossos neolíticos charts que medem "o quão boas ou ruins" elas são, que não passam pela nossa fria escala de "hit" ou "flop" por simplesmente serem: incríveis.
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