Nicki Minaj é uma daquelas artistas que surgiram e se desenvolveram rapidamente. Em 2007 ela estava gravando mixtapes e vídeos pra postar no YouTube, na esperança de cativar um grande público. Três anos depois, ela lançava seu debut, Pink Friday, com uma tracklist variada e cheia de nomes de peso como Rihanna, Kanye West e Eminem. A rapper foi (e as vezes ainda é) ovacionada e acolhida por um enorme número de pessoas, mas com o sucesso vem aquele também absurdo número de haters, com explicações e mais explicações do porquê de tanta raiva pela artista. De cara, costumamos (nós que simpatizamos, gostamos ou adoramos a Minaj. Me incluam aí) torcer o nariz para as argumentações ditas com tanto desdém, mas nessa semana surgiu um suposto ghostwriter da trinidiana, o que fez com que várias críticas fossem ressuscitadas (sim, aquelas que costumamos torcer o nariz) e nos perguntamos "será que são todas sem sentido?".
Primeiro vamos esclarecer os boatos sobre Nicki ter um escritor fantasma. A primeira acusação referente ao assunto não é recente. Ano passado, o já dito namorado da Nicki, mas que na verdade é apenas seu braço direito em tudo, Safaree"SB" Samuels, lançou seu primeiro álbum sob o pseudônimo Scaff Beezy. A surpresa? Nenhuma. Seus versos apresentam uma estrutura idêntica aos versos "cantados" por Nicki Minaj. Para os ouvintes mais assíduos da primeira dama da Young Money, é possível ler a letra de "High Beams", por exemplo, e imaginar ela soltando os versos/rimas, é possível ouvir até mesmo seu mais trabalhado alter-ego, Roman Zolanski, falando esses versos.
Alguns fãs, claro, se revoltaram. Outros questionaram "Por quê ela não pode ser a ghostwriter dele? Porque ela é uma mulher?". Ninguém considerou a hipótese não por ela ser uma mulher, mas por ela ser a pessoa de sucesso e não precisar escrever versos pra alguém sem exigir os direitos autorais. Mas enfim, sobre essa acusação/suspeita nunca obtivemos uma resposta oficial dos interessados. Eis que nessa semana, a lenda underground do rap, Ransom (podem esquecer os "who?" nos comentários, ele é reconhecido no mundo do rap e publicidade não é sinônimo de talento), lançou sua "Man Alone", na qual diz "Before Nicki was wearing those crazy wigs/I was doing verses for her just hoping she made it big" (Antes da Nicki usar essa perucas malucas/Eu estava fazendo versos pra ela só esperando que ela fizesse sucesso). Dificilmente no mundo do rap/hip hop algo vai tirar mais credibilidade de um artista do que ele não escrever suas próprias linhas e os versos do Ransom podem ser entendidos dessa maneira. Mas os dois já trabalharam juntos no passado e tem diversas parcerias, então ele declarou que se referia a isso. A reação da Minaj não foi nada boa ao ficar sabendo da situação.
Ransom se chateou, disse que ela exagerou e deveria pedir desculpas, mas "ela é uma mulher, mulheres nunca se desculpam". Tá serto, machão. Se ele diz que nunca escreveu pra ela de forma fantasma, tá bom. Mas resolvemos nos perguntar: será que Nicki Minaj é tão criativa quanto parece ser a primeira vista?
Seus alter-egos são seu real diferencial no mundo do rap, apesar dela não ser a primeira a usar essa ferramenta, conseguiu ir além ao trabalhar diferentes vozes nas músicas (explicitando suas influências teatrais), sem limitar as personificações a sua escrita. Com isso ela trouxe algo novo para o gênero, diferente, fácil de gostar. Mas existem exageros e alguns chegam a ser medonhos, além de ser fácil identificar que a própria rapper se perde ao querer criar mais e mais personagens, sendo que na verdade deixa seus fãs esperando por novas personas enquanto dá verdadeiro destaque apenas a dois: harajuku Barbie e Roman Zolanski. A lista de nomes das suas personalidades não é pequena, muitas nunca se ~manifestaram~ em músicas, o que nos faz pensar que são criações superficiais e pra causar aquele buzz entre os fãs. O mais conhecido pelo grande público é o Roman, que, convenhamos, as vezes passa do ponto.
Ironicamente, o forte da rapper também não são seus versos. Não são fracos, mas também não são de outro mundo. As temáticas se repetem de forma previsível, sempre se gabando de seus feitos e falando de sua bunda. É possível repetir temáticas de formas diferentes? Absolutamente sim, diversos artistas fazem isso. Mas mais cedo ou mais tarde, acabam sendo pedantes, pois deixam de ser novidade. Muitas rimas da rapper são óbvias e repetitivas, além de vários versos não fazerem nenhum sentido, tornando perceptível o fato de estarem ali só para dar aquelas rimas sem as quais muitos rappers não sabem trabalhar. Rapidamente vem à cabeça "Your Love", do debut Pink Friday. Existem diferentes versões da música, em uma delas o verso "And I think I love him like Eminem is calling Shady" ("E eu acho que eu o amo assim como Eminem chama Shady"). Sentido? Nenhum.
Ainda referente a escrita da Minaj nos passar, as vezes, uma impressão de limitação, temos seu vocabulário. Não é fácil ser tão diversificada quando se tem tantas parceria e música próprias, mas nenhum artista é obrigado a trabalhar, certo? Muitas estrofes se tornam pedantes depois de algumas reproduções, já que em vários trabalhos Nicki opta por finalizar vários versos com a mesma palavra, buscando rimas, o que nem sempre é necessário. De fato o que os artistas produzem são propriedade intelectual deles e portanto podem fazer o que querem com suas músicas. "Your Love", por exemplo, não foi tanta novidade para os fãs mais antigos, pois já tinha sido ouvida anteriormente com o título "I Love You". No seu segundo álbum, Pink Friday: Roman Reloaded, outra canção que soava absurdamente familiar foi "Whip It". Buscando de onde vinha a sensação de "já ouvi isso aí, hein?" constata-se que uma estrofe inteira da canção "Fuck U Silly", em parceria com a Cassie, havia sido reutilizada na 12ª faixa da coletânea. Como dissemos, propriedade dela para usar como bem entender, mas será que não é uma saída muito fácil para um daqueles "bloqueios criativos" que alguns sofrem? A melodia de "Stupid Hoe" desperta o mesmo sentimento, já que no remix de "A$$ (Dance)" do Big Sean ouvimos uma melodia idêntica durante alguns versos da Nicki.
Voltando às temáticas das letras, que são repetitivas, vemos algumas exceções como "Champion", a sétima faixa do Roman Reloaded. Nas produções pré-fama também existem exceções, como "N.I.G.G.A.S.", mas ironicamente (ou não), ambas as letras possuem uma estrutura parecida, até repetições parecidas, sugerindo, outra vez, uma saída fácil na hora de compor. Outro argumento muito comum entre os que não vão com a cara da rapper é sobre freestyles, coisa que Minaj não faz. Todos conhecem o estilo principalmente pelas batalhas de MC's que são muito comuns nesse sub-gênero. É possível achar vídeos dela que carreguem a palavra "freestyle" no título? Sim, mas nenhum deles mostra a rapper soltando rimas de repente, nenhum comprova que as rimas não foram previamente escritas, estudadas e decoradas. Mas isso também não diminui a criatividade da Minaj, só mostra que ela leva tempo para compor suas letras, o que apesar de não ser tão comum no mundo do rap, não é nada demais.
Conclusões finais: Minaj tem criatividade? Bastante até, eu diria. Ela tem criações que carregam características ímpares no mundo da música, ela sabe o que vende e sabe como se promover. Mas também sabe ser ansiosa, o que resulta na apresentação de trabalhos que poderiam e deveriam ser mais desenvolvidos e repensados. Mas durante a pesquisa pra esse texto, constatamos também que a rapper trinidiana é menos original do que parece ser a primeira vista e um pouco mais de humildade em suas letras não faria mal a ninguém, já que apesar dela realmente ter aberto portas para outras rappers femininas, isso não é tão mérito da artista, mas sim de uma grande parcela do público com desejo de mudanças na indústria e de coração aberto para acolher as figuras femininas de um gênero predominantemente masculino. Como uma carreira não é feita só de erros (nem de acertos), nada mais justo que terminar essa publicação com uns dos melhores trabalhos de Nicki Minaj, onde ela conseguiu se destacar diante de grandes nomes como Kanye West e Jay Z, usando seus alter-egos na medida certa!
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