Psicologia inversa. Foi essa a tática da cantora da Nova Zelândia de apenas 16 anos, Lorde, quando lançou “Royals” como single do seu EP de estreia, “The Love Club”. E assim, enquanto cantava sobre nunca pertencer a realeza, a cantora viu sua desilusão elevá-la justamente até o lugar que pretendia: o topo do mundo. Chegada nos conceitos que envolvem a monarquia, Lorde é o nome artístico de Ella Yellich-O’Connor e “Pure Heroine” o álbum que convenceu a aclamada revista Billboard a elege-la a nova rainha da música alternativa. Mas ele é realmente tão bom o quanto esperávamos? É isso o que responderemos até o fim dessa resenha.
1)
“Tennis
Court”
“Você não acha
que é chato como as pessoas falam?”. E é com uma singela crítica que Lorde abre
seu disco de estreia. Quem não conheceu “Tennis Court” antes da cantora ter seu
primeiro smash hit, pode jurar que essa é uma tentativa dela e sua equipe
repetir a fórmula de “Royals”, mas não se enganem, as semelhanças se dão aqui
pela temática abordada durante boa parte do álbum. Se diferenciando da leva de
canções parecidinhas, “Tennis Court” carrega em seu refrão um dos melhores
momentos do disco, seja por Lorde te convidar para ser “o palhaço da turma” ou
pelo “yeah” mais grave que a acompanha por meio de algumas intervenções.
2)
“400
Lux”
Numa
entrevista a Billboard, a cantora falou sobre a forma com que se orgulha por
ter chamado a atenção do público para sua terra natal, a Nova Zelândia, mas já
adianta que não temos muito com o que nos entreter por lá, ao menos no subúrbio
onde cresceu. Em “400 Lux”, numa sonoridade que em pouco se difere da música
anterior, é sobre isso que ela canta. Clamando por uma companhia para passar o
tempo livre, “cheia de coisas para não
fazer”.
3)
“Royals”
Essa todos
conhecem e já amam, certo? A percussão contida, acompanhada por estalos de
dedo, abre um espaço perfeito pra que os vocais de Lorde sejam a atração
principal, mas é óbvio que eles precisam dividir lugar com a genialidade de sua
letra. “Nunca seremos da realeza, isso
não corre em nosso sangue. Esse tipo de luxo não é pra nós, buscamos por outros
tipos de diversão”. Em tempo que mostra não aprovar a forma com que os
outros passam o tempo e ostentam o que tem, Lorde entrega então sentir um
desejo por tudo isso, mas garante se satisfazer apenas em sonhar que também
vive essa vida — “mas a gente não liga, dirigimos Cadillacs em nossos sonhos”.
4)
“Ribs”
A rotina de
Lorde está longe de ser a de uma garota de 16 anos normal, mesmo que da Nova
Zelândia, e toda essa pressão depositada em seu nome também a assusta. Em “Ribs”,
fazendo uma clara pausa nos instrumentais parecidinhos das 3 primeiras faixas,
Lorde dá vida a canção ao decorrer de sua letra, aumentando a intensidade dos
seus versos enquanto as batidas também se tornam mais notáveis. “É tão assustador envelhecer”.
5)
“Buzzcut
Season”
De volta ao
seu mundo de fantasia, é em “Buzzcut Season” que Lorde volta a recusar a
realidade. Ela gosta do que vê e sente quando escuta músicas ao lado da piscina
e por lá quer ficar. Musicalmente falando, todo o instrumental é bem semelhante
as outras do disco, mas mais uma vez a música se destaca por sua letra. “Eu viveria em um holograma com você”.
6)
“Team”
Essa foi a
aposta da gravadora para primeiro single oficial do disco, logo após a febre de
“Royals”. Ao contrário do que muitos podem imaginar numa primeira ouvida, a
fórmula aqui não é repetida, longe disso, mas Lorde aproveita o momento para
repetir outro feito, tornando sua terra natal assunto mais uma vez. “Vivemos em cidades que você nunca verá nas
telonas. Não é muito bonita, mas aqui sabemos como correr em liberdade.” Mais
uma coisa presente na faixa, mas não tão implícita, é a crítica de Lorde ao
mercado pop atual, quando a cantora se diz cansada de colocar as mãos para o
alto toda hora. Alguém dá um Grammy pra essa menina, pfvr!
7)
“Glory
and Gore”
Deixando claro
mais uma vez que seu segredo está em suas letras, hoje em dia cada vez mais
deixada de lado pelos grandes nomes do mercado pop, Lorde traz em “Glory and
Gore” uma das melhores composições do “Pure Heroine”. Na canção, a neozelandesa
faz um fantástico jogo de palavras, enquanto canta versos como “há um zumbido no inquieto ar do verão”, “derrubando
vidros apenas para ouví-los quebrar” ou
“a glória e a gore andam de mãos dadas”.
8)
“Still
Sane”
Uma música
sobre sua meteórica estreia nas paradas? Ao menos é o que parece. Voltando ao
minimalismo sonoro de músicas como “Ribs”, em “Still Sane” Lorde garante permanecer
consciente de todas as mudanças que tem vivenciado. Numa dramática confissão, o
primeiro verso da música traz um “hoje é meu aniversário e eu estou voando alto”,
mas o destaque realmente fica para trechos como “ei, isso é legal, eu ainda
gosto de hotéis, mas acho que isso vai mudar. Ainda gosto de hotéis e da minha
recém-descoberta fama” ou “eu sou pequena, mas estou chegando para a coroa”. Ocupe
seu trono, sua linda!
9)
“White
Teeth Teens”
Na teoria, “White
Teeth Teens” é quase que uma sequência para “Royals”, em termos líricos e não
na tentativa de repetir o feito do smash hit. Na letra, Lorde volta a criticar
a sociedade e a forma com que determinados grupos se sentem superiores aos
outros, no caso seu alvo aqui são os “adolescentes dos dentes brancos”. Na
mesma maneira controversa da outra canção, em momentos Lorde entrega a vontade
de fazer parte desses grupos, mas reprova a forma fictícia com que tudo
acontece — “a forma que realmente são é uma coisa, a que são vistos outra
totalmente diferente”. Resgatando também mais um pouco do “The Love Club”, a
música faz referência ao Tumblr (rede-social que contribuiu e muito para o
sucesso da moça), quando ela canta “não
estarei sorrindo, mas os comentários dos meus admiradores sim. Encha minha
dashboard [mural do Tumblr, rs] com mesmices”.
10) “A World Alone”
Provando
realmente estar sã quanto ao seu repentino sucesso, em “A World Alone” Lorde
afirma saber que, mesmo contando com pessoas que aprovem seu trabalho em muitos
lugares, no fim ela estará dançando sozinha. Consciente dos futuros possíveis
haters, em um dos versos ela canta “talvez a internet tenha nos erguido, mas
talvez muitas pessoas sejam idiotas” e completa fazendo um gancho com o
primeiro verso do álbum — “você não acha que é chato como as pessoas falam?” —,
quando encerra a canção em um claro e sonoro “deixe-os falar”.
Concluindo...
Sim, “Pure
Heroine” é tão bom o quanto esperávamos. Talvez tenhamos sentido falta de
algumas misturas menos óbvias, como aconteceu no “The Love Club” (onde a
comparamos com nomes que iam de Florence + The Machine à M.I.A., artistas bem
diferentes que só possuem em comum o público mais alternê), mas isso não tornou
a produção menos interessante, fazendo-o ser, inclusive, um dos discos de
estreias mais legais que escutamos nesses últimos anos. A produção mais
homogênea funciona até mesmo pra traçar melhor o perfil que Lorde pretende
seguir nas rádios, além de manter com ela os fiéis fãs que conquistou desde o
sucesso de “Royals”, e traz como grande trunfo a qualidade presente em suas
letras. Se ela será ou não da realeza, preferimos deixar para responder mais
tarde.
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