No começo desse ano foi lançado no Brasil um novo aplicativo, desenvolvido pelo mesmo criador do principal botão do Google+ e com um objetivo simples: se tornar um espaço aonde você pode falar coisas que não diria em outras redes-sociais ou pessoalmente. Mas o que faz dele algo tão livre e espontâneo? O anonimato.
Chamado “Secret”, a nova febre só conquistou os brasileiros, de fato, nas últimas semanas, e já tem rendido o que falar. A questão é que, o que inicialmente deveria ser um espaço pra você contar coisas suas que não teria coragem de fazer mostrando o rosto ou nome, se tornou um mural para criticar e denegrir outras pessoas, além de revelar coisas que, seja lá quem você for, não é da sua conta.
O caso não é bem uma novidade. Desde o início, a rede mundial de computadores sempre esteve um passo a frente de seus usuários em questões relacionadas à privacidade e muitos terminam bem enganados por essa fantasia de um “mundo sem regras”, mas se esquecem que bastam alguns cliques até que seu falso disfarce termine. Ou ninguém se lembra do que foi a internet quando o Orkut incluiu a funcionalidade de exibir visitantes e todos ficaram sabendo quem eram os amigos e inimigos que acompanhavam suas coisas? Rs.
Mas as coisas não são bem assim. O Secret realmente NÃO PODE simplesmente revelar a sua identidade, a menos que você descumpra com algum dos seus termos de uso (o que todos lêem antes de se cadastrarem em qualquer site, não é mesmo? Hahahah) ou utilize a imagem e nome de alguém indevidamente, o que, legalmente falando, permite que a pessoa recorra com uma ação contra você e o aplicativo, exigindo explicações quanto ao “segredo” que caiu em mãos erradas.
Ao contrário do que dizem por aí, o problema não está nos brasileiros. Realmente houve o mau uso das funcionalidades do aplicativo, o que terminou desvirtuando a sua proposta inicial, mas nada que fosse novidade para os criadores do Secret em outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, especulações sobre funcionários de grandes empresas também renderam discussões e tem quem diga que furos, como o término do relacionamento de Chris Martin (vocalista do Coldplay) com a atriz Gwyneth Paltrow, também chegaram ao app antes do TMZ ou qualquer tablóide anunciá-lo, mas nada justifica.
A questão não é, inclusive, fazer ou não com o aplicativo o que lhe é sugerido. Nos deram uma nova ferramenta e com uma funcionalidade vasta, aonde podemos dizer o que quisermos e como quisermos, acrescentar imagens e espalhar, sem que saibam quem nós somos, e essa ideia de falar o que bem entender sem que te reconheçam é sim fascinante, além de muito útil, mas as redes-sociais sempre estiveram associadas ao status — todos queriam ser 100% sexy e confiantes no Orkut, ter muitos seguidores no Twitter e Instagram, além das famigeradas curtidas do Facebook — e quando encontramos então um lugar aonde não podemos ser creditados por esse reconhecimento, a saída é colocar em questão o dos outros ou nos promovermos indiretamente, na velha autopromoção. “Fiquei feia, mas a foto está aí”, disse a menina que discutirá com o primeiro que concordar com ela na legenda de sua foto no Facebook.
Só que o ponto mais lamentável da história é entender como funcionam as pessoas que, na primeira oportunidade, acabam então com aqueles que, na teoria, são seus amigos, afinal, os contatos do aplicativo são feitos com base nas suas amizades do Facebook e contatos do celular, com o único intuito de se sentir melhor. E não só rebaixam, mas também desrespeitam pessoas que, em algum momento, lhe confiaram algum segredo ou imagem.
Por sorte, o aplicativo não é de todo o mal e, depois de tanto scroll down em pênis alheios e revelações que sabemos que não deveriam estar ali, ainda temos algumas declarações de pessoas cientes que poderiam ser mal recepcionadas em outros sites, algo equivalente a um post sem curtidas ou RTs, e com o apoio de outros que, sem revelar a sua identidade, conseguem passar uma impressão bem mais amigável e menos defensiva.
Em suma, chegamos então a conclusão de que o problema não é o aplicativo, muito menos os brasileiros, mas sim a insegurança dessas pessoas que, na falta de uma curtida que possa somar ao seu status, opta por diminuir os dos outros, da maneira mais ridiculamente lamentável possível. A novela em si também não é nova, pois o que mais vimos foram ataques do gênero com o modo anônimo de sites como Tumblr ou Ask.FM. E quanto ao conteúdo adulto, ele nem é mesmo um problema e também está em outras redes-sociais, mas se é pra fazer, que seja mostrando o seu documento e não dos outros, pois independente de estar ou não em exposição, o respeito continua sendo bem-vindo e isso não é segredo pra ninguém.
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