Depois de todo o suspense sobre o resultado da nossa enquete que decidiu o primeiro clássico pop a ser resenhado por nós, eis aqui o resultado. Foram mais de 1.000 votos e uma ótima mobilização que deu ao "The Fame Monster" seu lugarzinho na nossa Throwback Review. O resultado completo você confere abaixo para não vir nenhum fã de outra cantora falar "It Pop manipulou o resultado pra dar Gaga, It Lirou" rs.
Certinho? Não fique triste caso o seu escolhido não ganhou dessa vez, próxima semana tem nova enquete de luz. Agora vamos falar do EP da geração. Mas antes de entrar na review de fato: o "The Fame Monster" é um EP, Extended Play, lançado como complemento do "The Fame" no relançado deste. A cantora e todos nós o tratamos como um álbum, mas ele é um EP. Aceite.
O debut de Gaga, "The Fame", foi um estrondoso sucesso em 2008. Com quatro single com status de "hit" e até "smash hit", foi assombrosa a forma que ela tratou sua imagem logo de cara, criando um nome gigante com apenas um ano de estrada no mundo pop. Mas aí ela pega o mundo de surpresa e relança o álbum no fim de 2009. Assim nasce o "The Fame Monster". Concebido para ser o "yang" do "yin" que é o "The Fame", o conceito do EP é uma resposta direta ao conceito do álbum, mostrando sua faceta obscura e criando um grande todo encaixável, tudo isso em apenas oito faixas. Vamos dissecá-las?
1. BAD ROMANCE
Essa seja, talvez, a música que defina Lady Gaga. Ela possui vários hinos icônicos, mas foi "Bad Romance" que a catapultou para o status de "super star". Produzida por RedOne, a canção trata do "medo do amor", do relacionamento da forma mais crua e paranoica possível, com um refrão absolutamente destruidor em todas as potências possíveis, encontrando tempo ainda para homenagear Alexandre McQueen e Alfred Hitchcock. Como se não bastasse a música ser um tapa gigantesco, seu clipe é a maior epopeia pop do século, eleito o melhor clipe da década pelos leitores da Billboard e divisor de águas tanto na carreira de Gaga quanto no cenário pop, sendo dono de 7 (SETE!) VMAs, incluindo "Vídeo do Ano" e o Grammy de "Melhor Videoclipe", além de a canção ser uma das mais vendidas da história e proprietária do Grammy de "Melhor Performance Vocal Feminina". Tá bom para você?
2. ALEJANDRO
"Eu sei que somos jovens e sei que você deve me amar, mas simplesmente não posso ficar mais com você desse jeito, Alejandro". Aqui vemos a influência de Madonna na vida de Gaga (que nunca, em momento algum, negou isso). "Alejandro" é uma synthpop mid-tempo que fala do "medo do sexo", com violinos melancólicos e sensuais que regem a voz quase profana da cantora, que entoa "Não chame meu nome, Alejandro, eu não sou seu bebê, Fernando, não chame meu nome, Roberto". Caliente, provocadora e gay em potências estratosféricas, "Alejandro" teve os trabalhos completados com o clipe à la "Vogue" e "Like A Prayer" da Rainha do Pop, cheio de homens semi-nus de salto e um clima opressor, com Gaga engolindo um terço vestida de feira, tudo que ela (e o diretor Steven Klein) mais gostam. Resultado? Foi a música do ano no Brasil no Hit Parade de 2010.
3. MONSTER
A faixa-título esquecida (que deveria ter sido single) trata do "medo do compromisso". Com batidas fortes e vocais debochados, Gaga vem toda trabalhada em metáforas e lesbianismo, numa canção suja e divertida: "Ele lambeu os lábios, disse para mim: 'Garota, você parece boa o suficiente para comer'. Colocou seus braços em volta de mim e eu disse: 'Garoto tire agora suas patas de cima de mim'". Referenciando a si própria ("I wanna Just Dance, but he took me home instead") e com um pós-refrão arrasador ("Eu quero falar com ela, ela é quente como o inferno"), "Monster" é uma pérola com coreografia inspirada em "Thriller" do Michael Jackson. Pra que melhor?
4. SPEECHLESS
Álbum de Lady Gaga sem uma baladinha não é álbum de Lady Gaga, correto? "Speechless" é a baladinha do "The Fame Monster". Escrita somente pela cantora, a canção fala do "medo da morte" e foi escrita para convencer seu pai, Joseph Germanotta, a se submeter a uma cirurgia cardíaca. Inspirada pelo rock dos anos 70, como o Queen, e vocais fortíssimos, "Speechless" é uma música triste, encantadora e com letra lindíssima ("E eu sei que isso é complicado, mas sou um fracasso no amor, então baby levante um copo para consertar todos os corações quebrados dos meus amigos destruídos"), que conseguiu por fim convencer Mr. Germanotta a fazer a cirurgia.
5. DANCE IN THE DARK
"Silicone, saline, poison, inject me, baby I'm a free bitch". Quando uma canção que não foi single (efetivo) ganha uma nomeação ao Grammy é porque ela é destruidora mesmo. "Dance In The Dark" é o hino amado por todos que carrega o fardo de não ter sido trabalhada como single mundial (foi apenas na Austrália, França e Bélgica). A ideia era que a faixa fosse o terceiro single do EP, mas a Gaga decidiu colocar "Alejandro" no lugar. Hashtag #DesperdícioDaGeração. Super retrô e com inspiração new wave, a canção, produzida for Fernando Garibay, com referências à Marilyn Monroe, Judy Garland, Sylvia Plath, JonBenét Ramsey, Liberace, Jesus, Stanley Kubrick e Princess Diana e um refrão cheio de sintetizadores, é um dos maiores acertos da carreira da vida de Gaga. Apague as luzes e se jogue com esse hino.
6. TELEPHONE (FEAT. BEYONCÉ)
Escrita para Britney Spears incluir no álbum "Circus", Gaga conta que adorou o fato de a gravadora de Britney ter rejeitado a faixa porque ela mesma queria gravá-la. Nós também soltamos um "amém", já que resultou num dos maiores featurings pop da década (que Beyoncé retribuiu lançando o remix de "Video Phone" com Gaga - hilariamente brilhante). "Telephone" fala do "medo da asfixia" quando Gaga canta manhosamente "Só um segundo vão tocar minha música favorita agora e não dá pra enviar um SMS com uma bebida na minha mão. Estou ocupada". Pop, catchy, com efeitos sonoros de telefone (o operador no final é genial) e com um videoclipe inspirado em "Kill Bill" que jogou o mundo pop de cabeça pra baixo, levando o VMA de "Melhor Parceira" e eleito um dos melhores da história por várias revistas e sites, tudo em "Telephone" é simplesmente perfeito.
7. SO HAPPY I COULD DIE
Numa música nada sóbria, costurada melodicamente numa atmosfera inebriada e melancólica, "So Happy I Could Die" tem cheiro de álcool e alucinações, e é exatamente disso que a canção fala, "medo do álcool". Com insinuações sexuais ("E no silêncio da noite, no meio de todas as lágrimas e de todas as mentiras eu me toco e fica tudo bem"), "So Happy I Could Die" é uma faixa auto-destrutiva e venenosa que casa perfeitamente com sua performance na "The Monster Ball Tour", quando Gaga, após um tornado, é elevada por um enorme elevador num vestido vivo, que se abre enquanto ela, de forma entorpecente, canta a canção nas alturas. "Eh eh, eh eh, ah ah, ah ah...".
8. TEETH
Essa provavelmente é a faixa mais subestimada da cantora. Batidão pesado, backing vocals insinuantes ("Apenas me diga quando. Abra sua boca, garoto, me mostre o que tem"), e o "medo da verdade", metaforizado pelo título ("Me mostre seus dentes"), é meio impressionante como as pessoas quase descartam a existência dela, sendo que "Teeth" é uma das melhores coisas que Gaga já lançou. Com uma base hipnótica que martela do começo ao fim, letra quase gospel de tão redentora que é a entrega completa da cantora ("Não tenho salvação, não tenho religião. Minha religião é você. Experimente um pouco da minha carne de menina má, pegue um pedaço de mim") e vocais poderosos, "Teeth" é o encerramento perfeito do EP.
RESUMINDO: Com o "The Fame", Lady Gaga conseguiu nome e números. Fez com que os holofotes se virassem para aquela garota estranha com peruca platinada e vestido de bolhas. Com o "The Fame Monster", Lady Gaga conseguiu se tornar um ícone musical e artístico - no maior sentido da palavra. Enquanto seu primeiro álbum é uma ode ao pop com muito açúcar e bebidas, o EP é uma construção coesa e amadurecida do conceito que a própria decidiu amar, a fama. Talvez exatamente por ser um EP, e não um álbum, que o "The Fame Monster" seja tão concreto e certeiro, mas nem essa limitação na tracklist o impediu de concorrer a "Álbum do Ano" e levar o Grammy de "Melhor Álbum Pop", além de render clipes perfeitos e uma turnê brilhante, fazendo com que o "The Fame Monster" seja, merecidamente, o "EP da geração". A cantora iria transgredir ainda mais com seu próximo álbum, mas, à época, o monstro da fama era o ápice criativo do pop.