O ano de 2008 chegava ao fim quando Beyoncé resolveu lançar dois singles simultâneos como as primeiras músicas de trabalho do seu novo álbum. A cantora, já consolidada pelos anos de carreira dentro do Destiny's Child, além dos hits que carregava no currículo solo como "Crazy in Love" e "Irreplaceable", nem poderia imaginar que o disco "I Am... Sasha Fierce" seria o grande responsável por destacá-la definitivamente das outras estrelas de sua época.
A proposta do álbum era bem simples, porém, criativa. Lançado em versão dupla, o primeiro disco "I Am..." trazia baladas e mid-tempos que representavam a faceta mais intimista da cantora, enquanto o "Sasha Fierce" tratava de uptempos e músicas agitadas, expondo ao mundo, finalmente, o alter-ego que Beyoncé sempre assumiu nos palcos. Produzido por nomes de peso como Babyface, The-Dream, Ryan Tedder e Sean Garrett, o álbum foi sucesso absoluto no mundo todo, estreando em primeiro lugar na Billboard e rendendo nove singles mundiais, todos divulgados exaustivamente pela diva.
Além disso, ainda rendeu uma turnê mundial que levou a Mrs. Carter para todos os continentes e, pela primeira vez, ao Brasil. Foram 6 prêmios Grammy na mesma noite e aproximadamente 7 milhões de cópias vendidas mundo afora. Com tantas conquistas, fica a pergunta: qual foi o segredo de todo o sucesso do "I Am... Sasha Fierce"? É o que a nossa review vai tentar avaliar desta vez!
DISCO 01 - "I Am..."
1) "If I Were a Boy"
Baladinha escolhida como primeiro single do álbum, recebeu bastante backlash do público antes do lançamento do disco. Muitos consideravam arriscado ter uma balada como carro-chefe, mas a qualidade da canção sobre as diferenças entre homens e mulheres num relacionamento acabou fazendo com que a cantora conquistasse o grande público. Versos como "Se eu fosse um garoto, acho que entenderia como é amar uma garota / Juro que seria um homem melhor / Eu a escutaria, porque sei como magoa quando você perde alguém que queria" ditam o conteúdo sentimentalista daquele que se tornaria um dos maiores hits da carreira de Beyoncé.
2) "Halo"
Se existe uma definição para hino na música pop romancista, "Halo" com certeza consta nos exemplos do dicionário. A faixa composta ao lado de Ryan Tedder (e sempre comparada à sonoridade de "Already Gone" da Kelly Clarkson, do mesmo compositor) bombou ao redor do mundo, principalmente no Brasil, rendendo um dos seis prêmios Grammy de Beyoncé em 2010. É difícil achar alguém que não tenha se emocionado com os versos tocantes que serviram até de homenagem para Michael Jackson durante a "I Am... Tour". Ecoa na alma!
3) "Disappear"
Em uma de suas mais impressionantes performances vocais, Beyoncé nos entrega mais um dos belos destaques do primeiro disco. "Disappear" é delicada e agradável até para os ouvidos mais exigentes e consegue manter o nível das duas faixas anteriores. Apontada como uma das favoritas (e com muita razão) entre os fãs, conta com toques leves que poderiam ter sido uma aposta interessante para single.
4) "Broken-Hearted Girl"
A faixa escolhida como quinto single mundial soa como um dos momentos mais intimistas e reveladores da primeira parte do disco. Isto porque, quando Beyoncé entoa versos que falam sobre não querer ser a vítima de um relacionamento instável, acaba por demonstrar uma fragilidade de uma mulher que, por mais que seja forte, tem seus momentos de medo, sofrimento e fraqueza. Todos esses elementos, acrescidos ao talento vocal explícito da Mrs. Carter fazem de "Broken-Hearted Girl" uma canção sonoramente correta.
5) "Ave Maria"
A presença de "Ave Maria" (a piadinha não foi proposital rs) na tracklist do "I Am..." evidencia uma Beyoncé com fortes raízes na religiosidade. Aliás, não é segredo pra ninguém que a cantora começou, ainda pequena, cantando em igrejas. Apesar das críticas por alguns fãs em selecionar uma faixa quase gospel para o disco, Knowles fez de "Ave Maria" uma introspecção de suas origens, talvez como forma de agradecimento a tudo e todos aqueles que a ajudaram a torná-la uma das estrelas da música mais reconhecidas no mundo.
6) "Satellites"
Em "Satellites", Beyoncé retoma os anseios de perder o grande amor de sua vida, já trazidos na faixa 04 do disco. Porém, ao contrário de "Broken-Hearted Girl", a canção não toma a forma desejada, e acaba sem acrescentar nada de novo na sonoridade do álbum, passando quase que desapercebida em meio à tantas outras maravilhosidades, apesar dos vocais sempre impecáveis de Beyoncé.
7) "Smash Into You" (Bônus)
A belíssima "Smash Into You", que serviu de trilha sonora para o filme (não-tão bom quanto) "Obsessiva", acabou sendo alvo de grande polêmica. Tudo porque se trata de uma regravação de "Smack Into You", do pouco conhecido intrumentalista John McLaughlin. O problema é que o nome do cantor e compositor não constava nos créditos do disco, levantando suspeitas da honestidade de Beyoncé. Controvérsias à parte, certo é que o tom crescente da faixa e todo o instrumental irretocável são um marco na carreira da cantora, sendo uma das baladas mais lindas já gravadas por Beyoncé.
8) "That's Why You're Beautiful" (Bônus)
Encerrando a versão deluxe do primeiro disco, "That's Why You're Beautiful" tem uma levada diferente das músicas anteriores, apostando em violões, guitarras, numa pegada que em alguns momentos nos remete até a um pouco de melody country. Pelo conjunto da obra, nunca foi uma das faixas que chamou mais atenção no vasto currículo de Beyoncé, mas vale a pena conferir nem que uma só vez!
DISCO 02 - Sasha Fierce
1) "Single Ladies (Put a Ring on It)"
Se o fenômeno de vídeos no YouTube imitando a coreografia do clipe de "Single Ladies" tivesse acontecido nos dias de hoje, Beyoncé garantiria muito mais do que quatro semanas no topo da Billboard. Mesmo assim, um dos maiores hits da carreira de Beyoncé, que inicia a parte femme fatale do disco, traz uma mulher independente e pronta para se divertir, já que o ex não quis colocar um anel em seu dedo. Apesar do massivo apoio do clipe, a faixa por si só é bastante viciante e até hoje, considerada um dos maiores hits na história da música pop internacional!
2) "Radio"
Após os ter dois primeiros álbuns solo marcados pelo R&B/Hip-Hop, "Radio" explora um novo lado na carreira de Beyoncé, mostrando uma roupagem mais pop do que nunca auxiliada por sintetizadores poderosos, que dão um toque caracteristicamente dançante à faixa. O resultado dessa mescla de elementos não poderia ser melhor, colocando em xeque o motivo pelo qual a faixa não foi escolhida como um dos vários singles do CD. Moderna e divertida, é definitivamente um dos pontos altos do "Sasha Fierce".
3) "Diva"
Novamente apostando em algo diferente, Beyoncé chega dessa vez com uma gravação quase que 100% Rap/Hip-Hop, na qual pode mostrar todo seu potencial como rapper, esbanjando classe e poder em uma batida insana que te faz se sentir uma verdadeira diva. "Na na na diva is a female version of the hustla" é só uma parte da letra que trata de engrandecer o status de diva, sempre presente no vocabulário de Beyoncé e seus fãs. "Diva" é o tipo de faixa que ainda gruda facilmente na cabeça de qualquer um até nos dias atuais. H-I-NO!
4) "Sweet Dreams"
O primeiro contato que o público teve com a nova era de Beyoncé foi através de uma demo vazada no início de 2008, chamada "Beautiful Nightmare". Com o disco lançado, a canção foi aprimorada e se tornou a "Sweet Dreams" que todos conhecemos, e que foi um dos maiores hits do CD, atingindo um honroso top 10 na Billboard. A cantora, mais uma vez, se arrisca em território desconhecido com uma gravação pop acompanhada de elementos eletrônicos. Mais um acerto em cheio da cantora!
5) "Video Phone"
Muito antes de falar sobre se ajoelhar na limousine ("Partition"), Beyoncé já explorava toda a sua sexualidade em "Video Phone". A faixa, apesar de uma produção menos elaborada, atinge o objetivo ao qual se propõe: ser sexy sem ser vulgar. Mais de um ano após o lançamento do disco, chamou a atenção do público graças a um remix ao lado de Lady Gaga que rendeu um clipe interessante e várias indicações ao VMA. Nada, porém, que fizesse a música ter sucesso, amargando um #65 na Billboard, muito em decorrência do lançamento pouco tempo depois de "Telephone", outra parceria das duas divas.
6) "Hello" (Bônus)
Apesar de não ter sido escolhida como um dos singles do projeto, seria injusto não pontuar "Hello" como uma das melhores faixas do álbum, recuperando um pouco o lado R&B dos trabalhos anteriores, em perfeita sintonia com um pop leve traduzido em vocais impecáveis de sua intérprete. Entoada por gritos de "Olá", a canção não apresenta nada muito elaborado, mas que faz bonito dentro da tradição beyoncistisca de produzir músicas excelentes. You go, girl!
7) "Ego" (Bônus)
Na era "Sasha", Beyoncé ficou conhecida pelos clipes de menor orçamento. Funcionou para "Single Ladies", mas se tornou um tanto repetitivo com"Ego", uma faixa engraçadinha que brinca com o duplo sentido o tempo todo em passagens como "It's too big, it's too wide, it's too strong, it won't fit" e tem um instrumental crescente que torna a música ainda mais interessante. Aliás, a faixa também ganhou um remix com Kanye West que pouco acrescenta, mas compõe bem o trabalho como um todo.
8) "Scared Of Lonely" (Bônus)
Encerrando a versão deluxe do álbum, temos a ótima e desperdiçada "Scared of Lonely". Analisando a temática e a sonoridade da faixa, caberia muito mais incluí-la na primeira parte do disco. Beyoncé expõe seus medos, inseguranças e incertezas em versos dramáticos e poderosos. A canção começa sem muito alarde, mas acaba tomando dimensões gigantescas ao final, numa gradação que a torna ainda mais maravilhosa. Sem dúvidas, uma das grandes faixas da carreira da cantora e que merecia ter ganhado maior atenção.
Além de todas essas faixas incluídas na versão deluxe, o "I Am... Sasha Fierce" foi relançado diversas vezes com novas músicas, incluindo canções como "Poison" e "Why Don't You Love Me" que conquistou o público com seu divertido clipe que traz Beyoncé como uma pin-up, inclusive limpando suas dezenas de Grammys em uma das cenas!
CONCLUSÃO:
No geral, o "I Am... Sasha Fierce" é um álbum sólido, de conceito bem claro e com músicas muito comerciais, o que explica o sucesso de seus singles e suas vendagens altas. A tentativa mais do que bem-sucedida de tornar Beyoncé o mais pop e comercial possível elevou seu status ao de uma lenda. Até o público mais tradicional e a crítica especializada, que esperavam um R&B mais clássico, visto antes no "B'Day" e retomado no "4", se renderam ao que Beyoncé apresentou: um pop dance extremamente irreverente e divertido mesclado a faixas sentimentais que exprimem as facetas da multipremiada Beyoncé Knowles.
Sem dúvidas, a empreitada de Queen B foi espetacularmente bem aceita e rendeu diversos frutos, mas o seu retorno aos moldes mais tradicionais da black music no álbum seguinte pode demonstrar que a cantora não tenha ficado assim tão satisfeita com seu terceiro disco.