É sempre bom tomar um pouco de cuidado ao falar de certas cantoras, pois em algum momento de suas carreiras, elas assumem um posto de artistas intocáveis e, neste período, passam a poder lançar o que bem entender, sem que sejam julgadas de maneira justa, e isso é algo que, do fundo do nosso coração, incomoda e muito.
O problema é que, tratando de grandes retornos, esperamos tanto da volta delas, sempre tão cheias de promessas, que não medimos elogios de uma primeira audição e, quando vemos, já não estamos sem o mínimo de saco para escutar aquilo que, dadas as circunstâncias e expectativas desproporcionais do momento, chamávamos até de hino.
O ano de 2014 tem sido recordista nisso. Não dá pra negar que tivemos sim grandes lançamentos e coisas que, com certeza, marcarão presença na nossa listinha de melhores do ano, como os discos de estreia de MØ, Kiesza e Foxes, ou os álbuns de Sia, Jennifer Lopez e Jessie J, mas também teve muita coisa que, antes de ouvirmos, esperávamos que fosse a melhor do mundo, e depois fomos catapultados para a realidade. Uma realidade mediana e chata, não digna de todos os elogios que já estavam na ponta da língua.
Entre os tantos retornos desse ano, aguardamos ansiosos por Adele e Madonna, que estão com discos praticamente finalizados e que podem sair a qualquer momento, como nos ensinou Beyoncé, mas também já voltou muita gente talentosa e, infelizmente, com lançamentos pra lá de medianos. Pra ser mais diretos, estamos falando MESMO de Marina and The Diamonds, Gwen Stefani e Fergie, que há pouco lançaram os singles “Froot”, “Baby Don’t Lie” e “L.A. Love”.
Tão rodeadas de expectativas, todas essas cantoras tiveram suas voltas alardeadas por seus fãs, sempre tão propensos a chamar qualquer coisa de hino e elegê-las rainhas do que bem entenderem, mas a verdade é que todos esperavam por algo a mais e, em algum momento, deverão notar isso, mas de início foram levados pelo calor do momento, a animação em tê-las outra vez entre nós e, na melhor das hipóteses, tentando fazer algo tão bom quanto outrora.
A missão mais fácil está nas mãos da Marina and The Diamonds. Ainda tão nova, Marina anseia pelo momento em que acontecerá no mainstream e chegou perto disso em seu último disco, “Electra Heart”, tendo até canções no repertório de “Glee”, mas em seu novo single, “Froot”, deixa toda essa coisa de lado para reviver a sua estreia em “The Family Jewels” e, por mais que essa nostalgia mexa conosco, não sabemos até aonde estamos dispostos a esse “mais do mesmo”, quando tudo o que queríamos era um ótimo retorno que não devia passar despercebido.
Em “L.A. Love”, Fergie também quer reviver, mas enquanto tenta nos remeter aos seus tempos de “London Bridge”, mais faz uma ponte com o que conhecemos hoje nas rádios com a rapper australiana Iggy Azalea, o que não é algo necessariamente ruim, mas apenas abaixo do esperado. Vale lembrar que sua carreira nos deu coisas como “Big Girls Don’t Cry” e “Fergalicious”, ambas infinitamente maiores do que a música nova.
Gwen Stefani, por sua vez, ainda sai na frente nesta corrida pelo quesito qualidade, mas volta algumas casas ao notarmos que, o que deveria ser seu grande single de retorno, é só uma música interessante. É claro que tê-la tão despreocupada com os meios comerciais de se fazer um grande retorno é mesmo de se considerar, mas “Baby Don’t Lie” carece de um fator X e, enquanto ela não se dispor a cantar a música de costas em grandes programas americanos, não nos vemos na necessidade de continuar assistindo ao seu retorno, ainda que estivéssemos esperando por isso há tanto tempo.
No fim das contas, as cantoras citadas nem são as culpadas por toda essa decepção ou conformismo, mas sim nós mesmo, o público, que tantos ansiamos por essas voltas e, na nossa cabeça, armamos os retornos do milênio, quando elas apenas querem voltar a fazer música. Os fãs que ainda não superaram essas voltas, por sua vez, que nos perdoem, mas só continuamos na espera de algo realmente grande e que, por favor, faça valer toda a expectativa que as mantiveram vivas até aqui.