A cultura pop por muito tempo foi marcada por nomes como Madonna e Britney Spears, que também protagonizaram mil e um especiais de premiações como o Video Music Awards, aonde chocaram o mundo com um beijaço pra quem quisesse ver. Mais a frente, Rihanna, Katy Perry e Lady Gaga também vieram pra fazer história e essa última, inclusive, revolucionou o jeito de se fazer clipes, trazendo de volta uma preocupação dos artistas com seus trabalhos visuais de uma forma que não víamos há muito.
Ainda assim, a indústria tem se tornado bem imprevisível e, com a necessidade de novidades cada vez mais urgente dos fãs atuais, o cerco vem se fechando para os nomes de sempre, que em algum momento deixarão de possuir toda essa relevância ou impacto, assim como já aconteceu com Cher e Cyndi Lauper, por exemplo, que muitos fãs da música pop atual talvez não tenham escutado nenhum disco completo.
Funcionando mais ou menos como a prateleira de uma loja, o mercado pop expõe periodicamente parte do seu catálogo da forma mais maçante possível, aproveitando o máximo que aquele “produto” pode lhe oferecer no momento, obviamente, tendo como alvo os fãs. Beyoncé esteve em exposição com o CD “I Am... Sasha Fierce”, Rihanna com sua ascensão em “Good Girl Gone Bad”, Katy Perry no “Teenage Dream”, Lady Gaga e a exploração de sua imagem pós-“The Fame Monster” e por aí vai, mas ainda pensando na prateleira das lojas, quando já mostraram tudo o que eles tinham, o objetivo é apresentar então um novo material. Algo nunca visto e, dada a exclusividade, interessante outra vez. Comprável.
Quem acompanha grandes premiações pop, festivais e tudo mais, já deve ter notado que desde 2008, todo esse nicho foi pouco movimentado, em tempo que todos pareciam satisfeitos o suficiente com os nomes que tinham em mãos, mas agora, quando até Katy Perry precisa se preocupar em vender, o objetivo é sair em busca de algo novo, que possa manter a roda girando por outros seis anos, mas estamos em busca do que?
Ninguém realmente espera que “descubram” uma nova Britney Spears ou que alguém consiga estabilizar uma imagem tão “chocante” quanto a Lady Gaga de outrora, assim como também é difícil ver uma gravadora ascender tão bem uma artista quanto fizeram com Katy Perry e Rihanna, mas a questão é que, sim, o pop precisa de novos nomes e os grandões da indústria já perceberam isso.
A MTV, por exemplo, tem feito um esforço absurdo pra fazer a Ariana Grande acontecer, em tempo que a própria até tem se esforçado pra não se tornar apenas um fenômeno. Seu último disco, “My Everything”, é um apanhado de hits e mais hits em potencial, e todos ao seu redor parecem botar fé na menina, quando só lhe falta um pouco de carisma e presença de palco, até porque ela não poderá contar com a Iggy Azalea ao seu lado durante toda a sua carreira. Como um mercado pop a longo prazo também necessita de variedades, a mesma emissora ainda apostou muitas fichas em bandas como 5 Seconds of Summer, que traz de volta o rock comercial de Simple Plan, All Time Low, MCFly e derivados, e lida como pode com isso e o espaço aberto em suas premiações.
Taylor Swift parece ser a grande saída para a felicidade de muitos. Longe de ser apenas um fenômeno, a loira, recém assumida como uma cantora propriamente pop, une como ninguém o talento em palco e estúdio, além de também possuir um fator ímpar para videoclipes. Para essa, carisma é o que não falta, e ela até calhou de entrar numa confusão com a Katy Perry, iniciando mais uma dessas competições tão corriqueiras entre cantoras do meio. Assim como a MTV está para a Ariana Grande, Swift tem ao seu lado graaandes nomes como a Billboard e até a revista Time, além de já ser chamada por alguns como a nova “princesinha do pop”. Mais uma vez, ninguém está realmente em busca de novas alguma coisa, mas se para fazer a fila andar for necessário dar nome aos bois, que assim façamos.
A cantora neozelandesa Lorde também vem na cola. A menina, ganhadora de Grammy e do hit de 2013, “Royals”, se prepara para o lançamento do seu segundo álbum de estúdio e tem aos seus pés os maiores ícones pop vivos, incluindo o sempre incrível David Bowie, sem contar no voto de confiança de Diplo, Kanye West e vários outros nomes, como a autora da saga “Jogos Vorazes”, que deu a ela a chance de realizar a curadoria da trilha sonora do terceiro filme inspirado em seus livros. Obviamente, não esperamos ver a menina encarnando a diva pop aos moldes das outras citadas, mas não deixa de ser um grande nome que ainda queremos ver tendo a atenção de todos por um bom tempo.
Quem ainda promete ser assunto na maneira “escandalosa” de Madonna, Lady Gaga e outras formadas na Escola Pop de Se Fazer Divas é a Miley Cyrus, que sai em disparada entre os “novos” nomes citados, sendo também uma das maiores e melhores artistas já apresentadas pela Disney. A cantora, que no ano passado lançou o disco “Bangerz”, custou a se desprender da personagem que a tornou famosa, mas quando o fez, não economizou na hora de aproveitar a sua liberdade, se tornando o pesadelo dos conservadores de plantão. Da maneira mais despretensiosa e despirocada possível, Miley botou em pauta discussões sobre feminismo x machismo, conservadorismo e sexismo, enquanto tudo o que fazia era se divertir com a margem de liberdade conquistada após o contrato com a RCA Records.
Por mais que tenha capengado um pouco no último single do CD, “Adore You”, a dona de hits como “Party In The USA” e “The Climb” protagonizou uma das turnês pop mais legais do último ano, além de incluir em seu histórico um potencial clássico para este mercado, o hino e de clipe tão icônico quanto a canção, “Wrecking Ball”.
Um sério tiro no pé da indústria foi a explosão de nomes alternativos no mainstream dentro dos últimos dois anos. De certo, nesta leva conhecemos muita gente talentosa, como o belga-australiano Gotye e a nova-iorquina Lana Del Rey, mas este “nicho Pitchfork” também deu espaço pra uma série de outros artistas que podem até lidar bem com algumas produções pelo Soundcloud, mas não fazem nem metade deste trabalho em palco e, consequentemente, passam longe de alcançar qualquer expectativa quando chega na hora de impressionar mostrando como tudo isso funciona em palco.
Toda essa discussão pode parecer loucura. Para os fãs das divas atuais, tudo aparentemente está sob controle, mas não dá pra se iludir, o pop de hoje está sim cada vez mais morno e precisando de nomes que possam fazê-lo pegar fogo outra vez. Além de Ariana Grande, Taylor Swift, Miley Cyrus e Lorde, outras divas em potencial surgem a todo momento pela internet, como Marina and The Diamonds, Brooke Candy, Lana Del Rey, Ellie Goulding, Tove Lo, Chloe Howl, Foxes, Tinashe, Kiesza, Charli XCX, Sky Ferreira, Elliphant, MØ, Iggy Azalea e até nomes que já tentam essa descoberta do mainstream há um tempo, como Natalia Kills e Kerli, mas isso sim é uma “emergência pop” e o que precisamos é parar de vê-las sendo apostas, mas sim acontecendo.