Há alguns anos, era impossível não olhar para Nick Jonas e vê-lo como um doce e puro adolescente, falando sobre castidade, cantando sobre amores adolescentes e juventude ao lado de seus irmãos no trio Jonas Brothers, ao qual ele era disparado o mais talentoso, além de mais sensível, principalmente quando compunha. Porém, essa postura adotada pela banda, certamente não deixava com que todos seus talentos fossem postos à prova. Hoje, o cenário é bem diferente. E graças a ele mesmo. Que foi capaz de, aos poucos, desconstruir sua antiga imagem e recriar uma nova, segura e milimetricamente calculada. Mudando desde seu visual, até o estilo de suas novas músicas.
Como o mercado pop masculino é carente de novos astros, ele vem apostando numa mistura que já cansou de soar eficaz. Saindo da zona de conforto de seu pop rock, Nick agora esbanja sensualidade, que aliada à essência R&B, porém, com uns "quês" pop, meio minimalistas, faz com que soe quase como uma versão mais jovem daquilo que Justin Timberlake já foi um dia. O resultado: seu primeiro álbum totalmente solo, "Nick Jonas", pode ser considerado, sem dúvidas, como seu trabalho mais maduro, arriscado e uma das gratas surpresas do ano.
Abrindo o álbum, temos uma das melhores faixas lançadas em 2014. A surpreendente "Chains" foi a responsável por introduzir este novo mundo de NJ ao grande público. Flertando com uma sonoridade que beira o pop soul, embalada por um tom inclinado ao R&B e um arranjo militarista simples, porém eficiente, temos Nick mostrando que cresceu, ao cantar de forma bem convincente sobre um namoro masoquista, doentio e claustrofóbico, que só lhe faz mal, mas ele não consegue se desprender das amarras que o cercam: "Você me acorrentou. Você me acorrentou ao seu amor. Mas eu não mudaria. Não, eu não mudaria este amor. Tentei quebrar as correntes. Mas as correntes me destroem".
2) "Jealous"
Na sequência, temos o grande sucesso comercial do álbum até agora e um dos grandes hits de 2014. "Jealous" é a faixa mais pessoal do material, tendo sido composta logo após um ataque de ciúmes do próprio Nick com uma antiga namorada, culminando num refrão pra lá de grudento: "Eu viro o rosto, a música bem alta. Estou estufando o peito. Estou pronto para te enfrentar. Pode me chamar de obcecado. Não é sua culpa que eles ficam rondando. Não quero te desrespeitar. Mas é meu direito implicar. Eu ainda sinto ciúmes". A faixa, que tem uma pegada bem soul e sensual, porém mesclada com a sonoridade pop, vocais rasgados e ferozes (que trazem um aspecto interessante pro que sua letra pede), nos dá aqui uma prova do quanto amadurecido ele está, não apenas vocalmente, como em relação ao seu perfil artístico e ao novo público-alvo que quer acertar.
3) "Teacher"
Atual single do material, a terceira e viciante faixa chega com um jeitinho de funk e disco music. Com sintetizadores, sensualidade, falsetes e muita energia, ela dá uma renovada no ambiente que ficou pesado pelas duas anteriores e ainda adiciona doses de sensualidade, ao embarcamos com o cantor num jogo de "gato e rato" dentro de um relacionamento meio que platônico, mas que mexe (e muito) com a cabeça do protagonista: "Então agora eu vou te ensinar: dê um passo para frente, e daremos dois para trás. Mas você sabe que vou continuar nesse ritmo. Esse nosso jogo me faz querer quebrar as regras".
4) "Warning"
Aqui, temos um ótimo midtempo, porém, acaba meio despercebido dentro do álbum. "Warning" é uma faixa de produção simples e delicada, cercada de falsetes belíssimos e sincera sobre como nos sentimos devastados ao vermos a pessoa que gostamos com outra, nos fazendo refletir sobre o que fizemos de errado para que essa condição acontecesse. "Eu continuo tentando escapar a partir dessa jaula que eu vivo. Esta prisão na minha cabeça. Ah, eu possuo muitos erros de todas as coisas que eu nunca fiz. Eu carrego a minha defesa. Agora eu? Estou correndo para as cercas no meu próprio país".
5) "Wilderness"
Com o piano alegre e um coral gospel ao fundo se destacando logo no início da produção, "Wilderness" é cativante ao nos levar para acompanhar o reatar de uma relação desgastada. "Não podemos voltar, voltar a quando era mais simples?", canta Nick na ponte, antes de prometer no refrão ***safadinho*** e delicioso: "Nus como no dia em que nascemos. Sabia que dá pra nos sentirmos assim? Nos sentirmos assim. Eu levarei seu corpo, levarei seu corpo de volta, de volta ao paraíso. Paraíso. Vamos voltar, vamos voltar". Em que mundo imaginávamos ver e ouvir Nick Jonas cantando algo assim e com tamanha desenvoltura, não é mesmo?!
6) "Numb"
Depois das safadezas disfarçada de fofura, temos em "Numb" um dos grandes destaques do material. Desde sua produção R&B e pop, que flerta com a trap music, se assemelhando em alguns pontos à "Dark Horse" da Katy Perry, até sua letra, que faz menção ao abandono do primeiro amor, onde o protagonista é levado do céu ao inferno em questão de versos, "Arruinou minha visão, arruinou tudo. Eu era seu passado, você foi minha primeira. Partindo meu coração pouco a pouco. Há um motivo para isso, yeah. Você não sabe o que faz comigo. Yeah, você roubou meu coração. E tudo o que tenho é um buraco onde ele costumava ficar. E meu coração está imperfeito", até a ótima deixa pra nossa queridinha Angel Haze brilhar, numa participação que acrescenta bastante.
7) "Take Over"
Meio obscura, temos em "Take Over", talvez, um dos únicos pontos questionáveis nessa grande "estreia" solo de Nick Jonas. A faixa soa como "o que restou" para ser encaixada no material. Embora a letra seja "OK" dentro da proposta, porque também lida com a questão de afastamento e joguinhos amorosos, acaba soando perdida no meio de tanta qualidade.
8) "Push"
Quase toda cantada em falsete e dificílima, "Push" nos dá o melhor registro vocal de todo álbum, confirmando toda a evolução de Nick, tendo apenas o piano e alguns sintetizadores que conferem uma alma etérea à ela. Tratando de um tema denso e a partir de uma visão masoquista, que soa surpreendente, a respeito do amor, "Prenda-me debaixo d'água. Você sabe muito bem que eu não sei nadar. Eu não estou tentando ser um mártir, sabendo que eu vou deixar você entrar segura e quente dentro de mim", ela soaria perfeitamente como algo que pudéssemos ouvir vindo de Frank Ocean, porém, é NJ cantando e encantando com ela.
9) "I Want You"
Saindo da claustrofobia da faixa anterior, somos jogados em meio a uma pista de dança, mesmo que sutil, ao som da raivosa e confusa "I Want You", onde Nick deixa claro desde o início que essa "Filha da p*** nunca me amou. Então eu vou levá-la de volta, porque eu mereço. Porque eu mereço melhor". Para logo na sequência, voltar atrás e assumir para si mesmo, no melhor estilo de jogo de "gato e rato" que toma conta do álbum que, "Eu quero você e mais ninguém. Eu quero você para mim (...) Eu quero você, e se eu não posso ter você. Então ninguém vai".
10) "Avalanche" (feat. Demi Lovato)
Tida com grande expectativa pelos fãs (e por nós blogueiros também) desde que foi anunciada, a parceria de Nick e Demi Lovato acaba soando como um tanto desnecessária ao material. Ok, os vocais dos dois estão lindos e o dueto até funciona, porém, sua produção é um dos pontos fracos. Falta um grande momento para a faixa acontecer de fato. Uma pena.
11) "Nothing Would Be Better"
Saindo da que prometia e acabou não cumprindo tanto, chegamos em "Nothing Would Be Better", última faixa da versão standard e que acabou se tornando uma das minhas preferidas dentro de um ótimo e surpreendente material. Com uma produção de pseudo-balada em seu início, até eclodir no arranjo synthpop e virar um midtempo delicioso, a faixa tem um monte de acertos, o que inclui sua letra, soando como uma declaração de amor apaixonada e incondicional, mesmo que tenha chegado a um fim: "Eu pego o pior do que você tem. Dói mais do que paus e pedras. Você sabe que eu estarei lá. Você sabe que eu estarei lá. E eu seria um saco de pancadas. Jogue tudo e não se detenha. Eu ainda estarei lá. Você sabe que eu estarei lá".
12) "Chains" (Just a Gent Remix)
Começando a deluxe, temos uma versão remixada e mais lenta do hino "Chains", que nos dá uma nova roupagem, com direito a piano, sintetizadores, bateria e um dubstep de leve. Não é melhor que a original, mas ainda assim, soa bem interessante.
13) "Santa Barbara"
Na sequência, temos na melancólica "Santa Barbara", um momento bastante introspectivo. A faixa ainda conta com sinos, que, em alguns momentos, dão a impressão de estarmos ouvindo uma faixa natalina, porém, o que temos aqui, é o desejo de estar ao lado da pessoa amada que se encontra distante: "Meu café tem um sabor amargo. Eu desejaria que estavisse em outro lugar. Mas de Nova York até Santa Barbara não há ninguém, ninguém como você".
14) "Closer" (feat. Mike Posner)
Aqui, temos outra parceria que prometia bastante, mas acaba soando meio desnecessária dentro do material. A sensual "Closer", que exala isso por todos os lados, poderia ser um grande ponto se Mike Posner não acabasse ofuscado e nada acrescentasse. Sério, adoramos o senhor Posner, porém, ela soaria melhor sem ele.
15) "Jealous" [Remix] (feat. Tinashe)
Encerrando a versão deluxe e o álbum, temos uma parceria que nos pegou totalmente de surpresa. Sem qualquer aviso prévio, Nick regravou "Jealous" com os vocais extras de Tinashe, a grande musa e diva R&B de 2014, além de alguns explícitos. O resultado não poderia ser mais deslumbrante. Diferente de quase todas as outras parcerias do álbum (exceto "Numb"), aqui eles funcionam muito bem e grandes méritos à Tinashe, que se apropria da sua parte de tal maneira, que faz a música soar como algo seu ou de seu excelente "Aquarius". A versão é tão boa, que não ligaríamos dela ter sido a oficial, inclusive.
CONCLUSÃO
Esqueçam aquele Nick todo menininho indefeso, puro e que usava anel de castidade, porque ele não existe mais. Seu álbum solo, autointitulado e de "estreia", reflete a maturidade do cantor, porém, mergulhada na influência sensual de Timberlake, somada a toda essa graciosa mistura R&B-urban-pop-rock que ele faz. Não chega a ser um trabalho espetacular, porém, é de suma relevância, tanto para a carreira de Nick, que pode, com certeza, levá-lo a um novo patamar, quanto para o mercado, que carece de grandes nomes masculinos no pop. Em sua nova fase, ele soa como um cantor R&B clássico, com ótimas letras, falsetes eficazes e mudanças de entonação precisas, que confirmam o quão talentoso ele é, se assemelhando a nomes como Justin Timberlake ou Robin Thicke, porém, com sua própria personalidade. Tanto que viu uma brecha e entrou num lugar, ao qual acreditamos que será difícil tirá-lo daqui pra frente. Mas como nem tudo são flores... de ruim, fica a questão de que alguns duetos acabam deixando um vazio enorme de "poderia ter sido mais" (principalmente com Demi). Mas num geral, em "Nick Jonas", ele canta sobre como é amadurecer e encarar a vida adulta e amorosa, com todos seus lados bons e ruins, que soam até ameaçadores em alguns momentos. No mais, continuaremos a curtir um dos melhores álbuns masculinos de 2014, já sedentos pelo próximo passo.