Muito se falou nessa semana sobre o tal "Pitty X Anitta" que rolou no programa "Altas Horas". Antes mesmo se sua exibição ontem (6) a mídia já havia armado o circo da tal briga das duas. Nós do It Pop sempre tratamos de vários assuntos com humor e leveza, mas de vez em quando é bom fomentar uma discussão mais séria. Desculpe o incômodo.
O tema do "Altas Horas" foi sobre a mulher, suas conquistas e afins. Ótimo tema, SÓ QUE a plateia era composta in-tei-ra-men-te por homens - com as famosas convidadas preenchendo a cota feminina, entre elas Anitta e Pitty. Hmmmm. Colocar o opressor pra falar sobre o oprimido? É o mesmo que colocar um programa sobre negros com uma plateia toda branca, ou sobre gays com uma plateia hétera. Muito coerente.
A coisa fica difícil quando as poucas mulheres presentes no programa partilham da ideologia machista. Anitta já abriu a noite falando "Quero ver se essa plateia é 'homem homem' ou se tem 'homem mulher' aí no meio". Eeeerrrrr. Ok. Depois soltou a frase que começou a discussão: "Mas se a mulher não se respeitar, ninguém vai respeitar ela".
Aqui temos que parar os acontecimentos da noite para revelar algo bombástico: respeito não é algo que se dá, é algo que se tem. Mulher (nem ninguém) não TEM que se dá ao respeito, pois é algo intrínseco. Todos nós já temos que ser respeitados independente de qualquer coisa. Se ela (a mulher) não quer """"se dá ao respeito"""", NINGUÉM pode desrespeitá-la.
Mas não parou por aí. A cantora de "Ritmo Perfeito" falou "As mulheres acham que podem chegar e pegar 50 numa noite. Eu não acho bonito, nem homem nem mulher". Outra informação em primeira mão: elas podem sim. Posso sair um momento da impessoalidade do texto para dar uma opinião pessoal? Eu também não acho "bonito" alguém pegar 50 numa noite, mas é problema meu, assim como é problema seu caso você também não ache. Cada um faz o que quer da vida e não merece ser desrespeitado por algo que não prejudica ninguém. Falar "tem que se dá o respeito" é tão idiota e sem sentido quanto "direitos humanos só para humanos direitos". Aliás, que "respeito" é esse e quem o delimitou? Por que o meu "respeito" tem que ser igual ao seu? Sob quais valores você construiu o seu "respeito"?
Mas It Pop, uma discussão sobre a mulher sobre viés masculino não é válida? Claro que é válida, mas deixar que falem "Eu não deixo minha namorada sair com os amigos dela de jeito nenhum" (sério, um rapaz da plateia falou isso), todos rirem de nervoso e pronto, ficar por isso mesmo, não é discussão, é reforço da ideologia. Se não fosse a Pitty falando o óbvio "A culpa não é nossa, é dos homens", ficaria um festival de absurdos sem resposta, e isso se chama "desserviço".
Ainda há aquela ideia de que o oprimido nunca partilha da ideologia opressora - exemplo: não existem negros racistas, gays homofóbicos e mulheres machistas. Existem sim e existem MUITO. E ver exemplos assim é ainda pior do que vindo do opressor.
Então a Anitta merece ser queimada na fogueira pelo posicionamento? Lógico que não. O que ela falou é sim muitíssimo errado, que pesa ainda mais por ela ser uma pessoa pública e ter músicas que evocam o poder feminino, mas estamos falando de uma cantora de 20 anos. Quem nunca na vida soltou algo parecido, principalmente quando tão novo? Claro, isso não é justificativa, mas também não é pretexto para chuva de pedras em cima da cantora.
Agora voltando para o tal "Pitty X Anitta". Isso não houve. As duas apenas colocaram suas ideias pra fora sem algo que fizesse a discussão ser uma briga - houve atrito? Houve, afinal as duas estavam dando posicionamentos opostos, mas nada sério ou com tom elevado. Essa suposta briga foi algo imposto pela mídia, como já afirmamos. Mas você já percebeu como são sempre mulheres as colocadas no ringue? É Britney X Aguilera. Gaga X Madonna. Rihanna X Beyoncé. Ivete X Leitte. Anitta X Valesca. Parece que existe um prazer maléfico em ver o feminino se engalfinhado entre si. Em vez se construírem uma união em prol do gênero, colocam-as uma contra a outra.
Essa tal competição feminina é algo bastante visto em músicas, inclusive de Anitta, onde, em "Show das Poderosas", fala que "afronta as que incomodam" e "expulsa as invejosas", ou Valesca Popozuda em "Beijinho no Ombro", onde ela duela com ostentação contra a "inimiga". Claro, essas músicas são feitas para serem divertidas, para entreter, todavia, querendo ou não, há uma ponta solta que pode sim gerar debate sobre isso. Como diz Lily Allen brilhantemente no hino "Hard Out Here", "há uma barreira invisível para quebrar porque eu não consigo me mover nesse passo".
Essa tal competição feminina é algo bastante visto em músicas, inclusive de Anitta, onde, em "Show das Poderosas", fala que "afronta as que incomodam" e "expulsa as invejosas", ou Valesca Popozuda em "Beijinho no Ombro", onde ela duela com ostentação contra a "inimiga". Claro, essas músicas são feitas para serem divertidas, para entreter, todavia, querendo ou não, há uma ponta solta que pode sim gerar debate sobre isso. Como diz Lily Allen brilhantemente no hino "Hard Out Here", "há uma barreira invisível para quebrar porque eu não consigo me mover nesse passo".
Todo esse texto pode parecer que o assunto é algo complexo, mas na verdade não é. Nós só precisamos saber de duas coisas. A primeira é que o machismo mata. Aquele pensamento supostamente inofensivo de "Mulher não pode sair com roupa curta" é o pedacinho do iceberg - por baixo tem algo gigante que pode afundar nosso barco, e diariamente afunda vários. A segunda é o que a grande pensadora contemporânea Pitty falou num perfeito resumo: