O mercado americano é cruel sempre que pode e, vira e mexe, assistimos a ascensão e queda de diversos artistas que, num momento se sentem a maior coisa do mundo e, no instante seguinte, simplesmente deixam de existir por lá, mas é assim que eles seguem com o fluxo e nós tentamos acompanhar o mais perto possível, tentando não repetir a crueldade com os nomes que sabemos que merecem durar mais que um smash hit.
Há pouco, projetaram então um grupo aos moldes do Pussycat Dolls, com a premissa de que esse não teria destaque para nenhuma integrante especial. Era uma girlband que trabalharia como tal e todas teriam o mesmo espaço quando estivessem nos holofotes. Chamado G.R.L., o grupo esteve em estúdio com Dr. Luke e, em seus primeiros singles, conseguiu soar o menos óbvio possível, apresentando canções realmente admiráveis e que não conseguimos imaginar na discografia das próprias Pussycat Dolls, por exemplo, como o folk-pop de “Ugly Heart” ou a fórmula propriamente reutilizada de Luke em “Last Goodbye” da Kesha, em “Wild Wild Love”, com o Pitbull.
Até então, as meninas vinham crescendo aos poucos e o quinteto conquistando em pequenas porções o seu público, mas fomos todos surpreendidos com o falecimento de Simone Battle, uma das integrantes do quinteto, que cometeu suicídio em 2014. Ainda novas neste meio, as integrantes não conheciam a exposição midiática que viria após a fama e, sendo assim, nem sequer sabíamos sobre a depressão de Battle, mas a principal preocupação dos fãs após a perda foi o futuro do grupo, visto que não sabiam se elas retomariam os trabalhos com uma nova integrante, encerrariam suas atividades ou voltariam como um quarteto. Se você votou na última opção, acertou.
Num contexto que se não fosse trágico, seria comercialmente genial, elas voltaram há pouco com “Lighthouse”, mais uma produção simples e que muito foge de qualquer ponto que demonstre alguma pressa para alcançar o grande público, mas com um ponto crucial: a faixa foi divulgada desde o início como um lançamento em memória de Simone Battle.
Neste momento, questionamos então até aonde essa estreia deixa de ser um gesto admirável para se tornar uma genial sacada, aproveitando o buzz do falecimento de Battle para “fazê-las acontecer”, mas a gente prefere pensar que não. É tudo pelo amor e dor quanto à perda da amiga de trabalho.
Fazendo valer a promessa de não haver individualidades, “Lighthouse” tem pelo menos um verso para cada uma de suas integrantes, enquanto toda a letra é tratada como uma homenagem para a moça que se tornou uma estrela, ainda que também funcione como uma simples narrativa sobre um romance. A produção, menos radiofônica que “Ugly Heart”, consegue soar tão certeira quanto os outros singles, não prometendo ser um hit instantâneo, mas mantendo-as em alta pelo menos quanto a preocupação em continuar lançando bons singles.
Carregado de cordas e com uma simples percussão, “Lighthouse” é mesmo iluminada, com o perdão do trocadilho, em seu refrão, quando atinge um ápice sonoro e todas dão voz aos versos que podem até soar um tanto genéricos, mas funcionam perfeitamente bem juntos. “Quando a noite esfriar e as luzes se apagarem, quando o sol se for por trás das nuvens e você se sentir só, eu vou te alcançar pra te guiar até em casa com meu farol”.
Em suma, tudo o que arquitetaram para a breve carreira das G.R.L. provavelmente precisou ser revisto devido à inesperada partida de Simone, mas devemos reconhecer o quão inteligentes foram todos os envolvidos neste retorno que não só soa como uma volta por cima, mas também comprova toda a maturidade envolvendo o projeto, que tem tudo para se estabilizar o quanto antes no mercado americano e, consequentemente, ganhar um público cada vez maior ao redor do mundo.