Mais um ano, mais uma edição do Lollapalooza. O festival, que começou no Brasil com uma proposta bem alternativa, teve em 2015 uma de suas edições mais pop, com headliners como Jack White, Bastille, Calvin Harrris, Pharrell Williams e Smashing Pumpkins, e à convite da Pepsi, uma das patrocinadoras oficiais do festival, fomos conferir o primeiro dia do evento, contando agora os altos e baixos desse sábado (28).
AS PERFORMANCES
Foi logo cedo quando chegamos no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, e justamente para aproveitar uma das primeiras atrações, sendo essa o trio formado por Mallu Magalhães, o hermano Marcelo Camelo e Fred Ferreira, da banda do Mar.
Como era de se esperar, o trio luso-brasileiro foi só amor! Com uma setlist composta por músicas de seu disco de estreia autointitulado e trabalhos mais famosos de Marcelo e Mallu, a apresentação rendeu muita interação entre a banda e com o público também, além de uma encantadora performance da vocalista feminina, que nos fazia brilhar os olhos a cada suspiro entre seus preguiçosos versos. Os destaques foram “Me Sinto Ótima”, “Mais Ninguém” e “Velha e Louca”.
Mais tarde, nossa parada foi no palco Skol, aonde rolou uma apresentação da banda alt-J. Bem alternativos, os caras souberam levar o público em meio a uma sonoridade pouco animada, com um show composto por seus dois discos, “An Awesome Wave” e “This Is All Yours”. Não tinha como evitar a vontade de dançar com os ápices de “Fitzpleasure”, “Every Other Freckle” ou o hino alternê em potencial “Left Hand Free”, ou a lavagem de alma das faixas mais introspectivas, como “Tesselate” — essa nos lembrou da Ellie Goulding, que se apresentou no Lolla do ano passado e já lançou uma versão para a mesma canção.
Na sequência, quem ganhou nossa atenção foi a cantora Anne Clark e seu projeto St. Vincent e, PQP, que apresentação foi essa, mulher? Assumindo o posto de musa indie dessa edição, a cantora, que atualmente promove o disco autointitulado lançado no ano passado, apresentou um show redondo, sem espaço para erros, em tempo que entreteve a plateia por completo, seja com suas músicas, num indie-pop “limpo” e rockeiro, os barulhentos solos de guitarra ou toda a encenação que ganha espaço em palco. Ela tem muita pose mesmo e, se não fosse a falta de naturalidade em alguns momentos, diríamos ter sido a melhor coisa do fim de semana. A surpresa, de qualquer forma, foi inevitável.
Falando em surpresa, o brasileiro Marcelo D2 também nos surpreendeu e muito. Substituindo a banda irlandesa Kodaline no palco Axe, o rapper, ao nosso ponto de vista, ficaria bem deslocado dentro do festival, mas estávamos enganados. Não só tinha público para o Marcelo no Lollapalooza, como ele também tinha um show perfeito para as pessoas que o esperavam. Com hits como “Desabafo” e “Qual É?”, além de músicas do Planet Hemp e uma inusitada participação do Fernandinho Beatbox, D2 levou nas costas um show de primeira, não perdendo em nada para outras grandes atrações e recebendo a devida atenção da plateia em troca.
Logo após o rapper nacional, quem deveria subir ao palco era a cantora galesa Marina and The Diamonds, mas como sabe, a hitmaker de “Better Than That” deu pra trás nas últimas do segundo tempo, justificando que seu voo foi cancelado e não tinha nenhuma opção que a trouxesse a tempo. A froostração em relação à isso foi enorme, tanto da nossa parte quanto do público, que se sentiu lesado, principalmente quando a produtora Time For Fun confirmou que não oferecia qualquer opção de reembolso e, por questões de cronograma, também não estudaria uma apresentação de Marina no segundo dia do evento, neste domingo (29).
Pelo Facebook e Twitter, Marina and The Diamonds se desculpou com o público e disse estar “devastada”, prometendo que viria ao Brasil o quanto antes. A gente espera que ela esteja falando sério e que, se rolar, viaje para o país com alguns dias de antecedência, né? Todos sabem que shit happens e, num evento desse porte, não tem como ter espaço para imprevistos dessa forma, principalmente se nos atentarmos ao fato dela ser atração do mesmo palco que já havia contado com duas substituições há alguns dias (SBTRKT cancelou seu show por problemas na agenda e a banda Kodaline não conseguiu liberar seu visto a tempo do show). Atualmente, a cantora promove seu terceiro álbum de inéditas, “Froot”, que teve como carro-chefe a sua faixa-título.
Por sorte, a ausência de Marina and The Diamonds rendeu uma reorganização na line-up que deu uma vantagem e tanto para a banda Kongos. Conhecidos no Brasil pelo hit “Come With Me Now”, os caras, que tem uma sonoridade bem singular, deveriam tocar no meio da tarde e conquistaram um espaço no comecinho da noite, atraindo a atenção pela variedade do seu repertório. O álbum de estreia “Lunatic” foi quem ditou a setlist, com músicas como “I’m Only Joking”, “I Want To Know” e o hit já citado, além de um cover do clássico “Come Together” com participação do rapper que já acompanha a banda ao vivo há um bom tempo, Moe’z Art. O público, mesmo desconhecendo suas músicas, cantou o que pode quanto aos versos espertos para festivais e dançou bastante. #getthatpromo.
Encerrando a noite, a gente ficou entre os palcos Axe e Perry, aonde haveriam shows da banda Bastille e do trio do Diplo, Major Lazer, respectivamente, tornando literal o verso daquele funk sobre ter dois órgãos genitais femininos pra sentar nas “picas” branca e preta, com o perdão da analogia, RS.
Dan Smith e sua trupe alcançaram as expectativas do público, como esperado, e seu disco de estreia, “Bad Blood”, rendeu muitas músicas cantadas inteirinhas pela plateia, que vibrava a cada interação com seus integrantes. Assim como Kongos, Bastille tem um repertório bem próprio para festivais, com refrãos ágeis e muitos “ooh ooh”, “eeeh eeeh”, etc, o que termina carregando o público tranquilamente. Os destaques ficaram para o hit “Pompeii”, que encerrou a apresentação, e o mashup de “No Scrubs” das TLC com “Angels” do The xx.
Mas e o Major Lazer, It Pop? Foi muita quebração, obviamente. Com dois discos já lançados e outros dois anunciados para este ano, o trio formado por Diplo, Jillionaire e Walshy Fire levou o público a loucura com muito reggae, moombahton, hip-hop AND funk. Numa setlist que incluía faixas de seus discos, a recente parceria com a dinamarquesa MØ em “Lean On” e váaarias músicas nacionais. A interação com o público foi um dos pontos fortes do show e de maneira totalmente recíproca. Fizeram twerk, pularam, gritaram, bateram palmas e cantaram juntos sucessos como “Beijinho no Ombro”, da Valesca Popozuda, e “Lek Lek”, o que rendeu aos brasileiros o título de “público mais louco” da turnê sul-americana do trio. A gente está ficando profissional nisso, hein?
Na imprensa nacional, outros destaques foram Skrillex (ele abriu com “Take Ü There”, sua parceria com o Diplo e Kiesza no duo Jack Ü, 100OR!), Jack White, Kasabian e o lendário Robert Plant, do Led Zeppelin.
O FESTIVAL
Cumprindo com o prometido, a organização trabalhou bastante na reestruturação do Lollapalooza no Autódromo, o que diminuiu o trabalho no momento de circular pelo evento em locais com grande concentração de pessoas. Ainda assim, haja distância, hein? Não estamos sentindo nossas pernas até agora. Outras coisas, como os banheiros químicos e as ativações dos patrocinadores, chamaram nossa atenção pela falta de filas, o que ajuda e muito quando lidamos com pouco espaço de tempo entre as atrações e muita gente em todo lugar.
Por outro lado, achamos bem abusivo os preços dentro do evento, herdando algo que já foi motivo de discussão por conta dos ingressos e sua taxa de conveniência antes do festival. Beirando o dólar americano, a moeda oficial do Lollapalooza, chamada por Mangos, estava avaliada em R$2,50 cada, enquanto pagávamos R$5 num copo d’água (R$7,50 se comprasse no meio dos shows, por malandragem dos vendedores do evento mesmo), R$7,50 por um copo de refrigerante e pelo menos R$17,50 num cachorro-quente “gourmet” com gosto de saco plástico. A edição do ano passado trouxe opções de alimentos bem mais atraentes.
Nossa outra decepção foi em relação à Marina and The Diamonds mesmo. Compreendemos que imprevistos acontecem, mas o descaso da organização com o ocorrido foi enorme, seja nas respostas pelo Facebook aos fãs que compraram o ingresso apenas para vê-la, sem oferecer qualquer opção de reembolso ou algo semelhante, afirmando que haviam muitas outras atrações em sua line-up, ou na falta de profissionalismo em permitir que sua atração viajasse para o país algumas horas antes de sua apresentação. Dava pra ter se organizado melhor, hein? Seja como for, a froostração não nos levará a lugar algum. A gente supera, Marina.
NO FIM DAS CONTAS
O nosso veredito quanto ao primeiro dia desse Lollapalooza é mediano. A gente deu sorte com atrações como St. Vincent, Kongos e Bastille, além da surpresa com o Marcelo D2 e o encanto com a Banda do Mar, mas não rolou nada que “NOSSSSA” como nas edições anteriores, em que tivemos Imagine Dragons, Lorde, Ellie Goulding, Disclosure, Jake Bugg e vários outros. O que faltou foi uma atração que unisse todas as tribos, como foi o Norvana.
Sendo assim, a edição terminou bem longe da satisfação que sentimos nos dois últimos anos, sequer nos animando o suficiente para conferir seu segundo dia, mas não foi o bastante para desistimos do festival, que já ansiamos pelas atrações dos anos seguintes. Até porque errando que se aprende, não é mesmo?
Aproveitando, gostaríamos de agradecer pela enésima vez à patrocinadora Pepsi, que nos convidou para esse primeiro dia do festival. Inclusive, o stand “Pepsi Live Sound” foi bem legal e, na entrada do evento, eles trouxeram até uns caras azuis bizarramente simpáticos. Ainda fomos, sem intenção, “falsas” no momento de comprar um refrigerante, o que rendeu um hilário “só tem Pepsi, pode ser?”, e é claro que pode ser SIM. Pode ser Pepsi, pode ser épico. Pode ser a gente no ano que vem em mais um Lollapalooza. ;D