Todo mundo reconhece o valor da Disco Music, principalmente no que diz respeito a minorias, afinal este ritmo se difundiu com o suporte dos gays, negros e latinos, na década de 70. Numa época onde não se falava em outra coisa além do Rock’n Roll, estes grupos sociais se viam preteridos e necessitavam de espaços voltados para suas culturas e gostos. Muito importante como movimento de contracultura e libertação, o conceito de “diva” toma sua forma final aqui. Obrigado por tudo, Donna Summer!
Donna Summer foi a Madonna das
discotecas. Suas músicas dançantes eram envolventes e seus vocais incríveis. Sabe
aquela parte de “Naughty Girl” da Beyoncé: “I love to love you baby”, pois
então...Sample de um dos maiores hits de Donna, “Love To Love You Baby”, que assim
como outros (“Hot Stuff”, “On The Radio”, “I Fell Love”, etc), transformaram
ela na Queen of Disco. Uma verdadeira diva!
Entretanto, ninguém ascende
sozinho e, grande parte do trabalho de Donna Summer foi feito em parceria com
um certo escritor e produtor, só que a coisa mais rara é vermos esses
profissionais receberem o crédito merecido da mídia. No entanto, este foi um
dos casos raros e muita gente conhece e fala sobre a importância do trabalho de
Giorgio Moroder para a música. Depois de 30 anos desde seu último lançamento, “Innovisions”,
Moroder nos entregou a obra “Déjà Vu” e ela está recheada de coisa boa para
comentarmos.
É aqui a Década de 70 Tour?
“4 U With Love”: O álbum é
iniciado com uma EDM nervosinha. Esta faixa é aquele momento no qual Giorgio
mostra suas habilidades como produtor. A junção de sintetizadores e a
influência do house na EDM, fazem de “4 U With Love” uma espécie de intro. Não
nos entrega muito do álbum, mas vá se levantando.
“Déjà Vu (feat. Sia)”: É o
segundo single que realmente abre os trabalhos e aonde tem Sia, tem samba, e
aqui não foi diferente. Os vocais da australiana casam perfeitamente com os
sintetizadores de Moroder, e ele cria um verdadeiro hino, que poderia muito bem
fazer sucesso hoje e ter feito também na época em que nossas mães iam para as
discotecas. Um arraso de faixa, com uma marcação de guitarra, para ninguém
ficar parado. Em sua letra, o tema é amor, e isso é mais uma característica da disco
music, cuja idéia é falar de amor, alegria, festa e dança. Pra que melhor do
que isso? “I’ve fallen for you, I’m feeling a déjà vu...Déjà Vu”.
“Diamonds (feat Charli XCX)”: Mostrando que está antenado nas tendências, Giorgio utiliza muito bem a sonoridade de Charli XCX e mistura um synthpop com disco, que atinge um ápice em um refrão de batidas frenéticas. Mais um destaque para o disco. Em uma sonoridade intergaláctica, Charli canta sobre um amor que mais parece um Cartier. E a voz de Moroder, cheia de autotune, falando “Diamonds” entre cada estrofe deu um charme a mais a música. Vários pontos para a produção.
“Don’t Let Go (feat Mikky Ekko)”: Destruindo carreiras, “Don’t Let Go” é algo que esperamos da Robyn, mas não ficou menos sensacional com o Mikky, que entregou vocais belíssimos, em meio a sintetizadores, violinos e um refrão grandioso. “Don't let go, it's time for us to finally see, we can't stop 'til our minds are free. We are hangin' by a thread of hope”. O jeitinho disco de falar sobre a sociedade. Com certeza um dos maiores pontos do álbum.
“Right Here, Right Now (feat. Kylie Minogue)”: Completamente dentro da sua zona de conforto, Kylie entrega seus incríveis vocais nesta faixa que mistura disco com europop. “Starring in your eyes, I see the sun rise. There’s nowhere else but right here, right now”, um hino para as baladas gay de qualquer lugar. Deliciosa, dançante e aquele “oooooooh ooohh” no meio do refrão é super catchy. Ótima escolha para first single!
“Tempted (feat. Matthew Koma)”: Os elementos de funk fazem desta a faixa mais a cara da década de 70. E isto é delicioso! Em alguns momentos (“ Will you burn for me, burn for me”) ela pode nos lembrar de um hino setentista, “Disco Inferno”. Isso também é delicioso! Apesar de não ser tão forte quanto suas antecessoras, “Tempted” e a performance do Koma não passam despercebidas.
“74 Is The New 24”: Giorgio solta
a franga e vem frenético na bateção de cabelo. Sabe aquela faixa em que seu tio
de 65 anos ouve numa festa de família e não consegue se segurar e começa a
dançar? “74 Is The New 24” é o tipo de faixa que dançaremos quando nós formos
esse tio. E isso já quer dizer muita coisa. Next!
“Tom’s Diner (feat. Britney Spears)”: Aqui
temos uma regravação de Suzanne Vega, lançada em 1987. É uma música sobre o
cotidiano, e como as pessoas observam coisas apenas sentadas em um pequeno
restaurante, tomando um café. Quem melhor para cantar isso do que nossa diva
viciada em Starbucks? Cheia de camadas de autotune em sua voz, Britoca recita
os versos, outrora acapela, hoje, bem cheios de EDM em uma vibe um pouco dark.
Os “tu tu turu tu tururu” adicionados foram um bom toque da produção assertiva
de Giorgio.
“Wildstar (feat. Foxes)”: Tem coisa mais disco music do que “when the glitter falls into the light I'll be dancing like a wildstar”? Resposta: Não. Esse é o espírito do movimento e essa letra se aplica direitinho. Foxes é mais uma novidade do cenário alternativo, assim com Charli, e mais uma amostra de que Giorgio não estava para brincadeiras. “Wildstar” é uma faixa mais simples do que as outras, despretensiosa, como as produções da década de 70 e ótima por conta disso.
“Back and Forth (feat Kelis)”: Kelis é uma artista estranhamente fantástica. Suas produções são sempre aclamadas, seus vocais são espetaculares, mas ela por algum motivo (ou estratégia) não chegou ao mainstream, com a exceção de “my milkshake brings all the boy to the yard”. E aqui ela prova mais uma vez ser fantástica, sua voz brilha na produção disco/EDM e temos mais um ponto positivo para o disco. Tem uma levada gostosa que casa bem com a proposta lírica de “idas e vindas”.
“I Do This For You (feat.
Marlene Strand)”: O Giorgio estava com a proposta de trazer a música disco para
os holofotes mais uma vez, no entanto a mistura com EDM pesou um pouco aqui. “I
Do This For You” não é ruim, mas não combina muito com o resto do álbum e se
torna uma filler por isso. Os elementos de trap foram usados de forma clichê e
parece apenas uma produção descartada do David Gueta ou do Zedd. Mas essa
Marlene tem belos vocais.
“La Disco”: Da mesma forma que
abriu, Giorgio fecha o disco com uma faixa para mostrar que ele ainda pode
discotecar sim. Mais simples que “74 is The New 24” e “4 U With Love”, ela é aquela faixa que não acrescenta nada para a proposta do álbum, mas vamos deixar o velho discotecar, até porque ele fez um ótimo disco. Numa hipótese melhor, a gente acaba o álbum em “Back and Forth”, and call it a day.
Se manter relevante na indústria
musical é algo extremamente complicado. Sem ter o título de cantor ou banda, fica
ainda pior. No entanto, Giorgio se destacou muito no seu trabalho lá em 70 e 80
e conseguiu entregar um projeto muito sólido 30 anos depois. Seu medo de passar
despercebido é visto quando os elementos da discoteca são mais sutis, dando
espaço ao EDM que tem tornado tudo clichê, mas ainda assim ele consegue
explorar muito bem suas parcerias, entregando uma proposta muito boa de dance
music.
“Déjà Vu” é um prova concreta de
que precisamos valorizar mais nossos produtores e compositores. Mark Ronson já
vinha provando isso com seu “Uptown Funk” e “Uptown Especial” e, hoje, quem não
conhecia, pode ter um déjá vu, pois viveu um pouquinho da década de 70. E naquele
tempo de séria opressão e segregação, era importante estar inserido em um
movimento que pregava amor, dança e fervo. Palmas para Disco Music. Palmas para
Giorgio Moroder.