Aconteceu no último domingo (22) mais uma edição do American Music Awards, também conhecido pela sigla AMA, e entre suas atrações, a premiação contou com vários artistas da atualidade, da sem graça Meghan Trainor aos interessantes como Ariana Grande, Selena Gomez e Justin Bieber, mas um dos nomes que nos chamou a atenção desde o anúncio de sua apresentação foi de Alanis Morissette.
Já que não lança um álbum de inéditas desde 2012, quando estreou “Havoc and Bright Lights”, a presença da cantora nos fez questionar o que ela apresentaria no palco do evento e as coisas só ficaram ainda mais estranhas quando revelaram que a performance seria para o hit dos anos 90 “You Oughta Know” AND em parceria com a Demi Lovato, mas aos poucos tudo começou a fazer sentido.
Acontece que, há algumas semanas, Alanis Morissette vem se apresentando na TV e com versões bastante inusitadas para seus sucessos. “Ironic”, presente no seu álbum de estreia mundial, “Jagged Little Pill”, por exemplo, já foi apresentada numa versão reformulada para as ironias da vida moderna e, um pouco depois, ganhou também uma performance com ela, Meghan Trainor e Jimmy Fallon vestido de pintinhos e, literalmente, piando a canção. Os resultados são hilários:
Essas parcerias e aparições, entretanto, tem uma razão bastante especial: o álbum “Jagged Little Pill” que, além de “Ironic”, também foi o responsável por “You Oughta Know”, “Hand In My Pocket”, “You Learn”, “Hand Over Feet” e “All I Really Want”, completou em julho desse ano vinte anos desde seu lançamento e, aproveitando o aniversário, Morissette irá relançá-lo, de forma que, antes de levá-lo às lojas novamente, é ideal que ela volte a promovê-lo.
Só que o caminho a percorrer para fazer desse relançamento algo realmente interessante é árduo. Afinal, não basta se vestir de pintinho com a cantora sem sal do momento ou cantar ao lado de um dos nomes mais promissores do pop atual, uma vez, querendo ou não, todas essas não passam de tentativas dela se apresentar para um público que não faz ideia da sua relevância e importância de outrora. Um público que muito provavelmente dirá preferir Demi Lovato à ela, assim como preferirá esperar por uma versão da ex-Disney para “You Oughta Know” do que escutar a versão original da música, há muito tempo presente na internet, mas nós não os culpamos. Não totalmente.
O grande problema é que Alanis, sim, foi uma grande artista e realmente relevante para a indústria, mas isso não é algo que as pessoas busquem procurar atualmente.
Só pra você ter uma ideia. Se lembra de quando a Lorde explodiu com “Royals” e ganhou a atenção do Grammy, levando nada menos que dois dos quatro prêmios pelos quais foi indicada, incluindo o tão almejado gramofone de “Música do Ano”? Pois bem, a história foi bem semelhante com Alanis.
No Grammy Awards de 1996, a canadense foi indicada seis fodendo vezes ao Grammy, incluindo as categorias Artista Revelação, Álbum do Ano (“Jagged Little Pill”) e Música do Ano (“You Oughta Know”), e dessas indicações, levou pra casa invejáveis quatro gramofones na sua primeira aparição dentro do evento: Álbum do Ano, Melhor Álbum de Rock (“Jagged Little Pill”), Melhor Performance Vocal de Rock AND Melhor Música de Rock (“You Oughta Know”).
Antes de Taylor Swift ganhar o Grammy de Álbum do Ano pelo álbum “Fearless”, inclusive, Alanis possuía o título de Cantora Mais Jovem com um Grammy nesta categoria, visto que o venceu quando tinha apenas 21 anos.
No Grammy do ano seguinte, Morissette ainda foi lembrada por seu maior hit até então, “Ironic”, e nomeada nas categorias Música do Ano e Melhor Videoclipe Curto, dessa vez fazendo a Katy Perry e não levando nenhum.
Falando na Katy, a californiana contou em seu filme autobiográfico, “Part of Me”, que Alanis Morissette foi uma das suas maiores influências no início da carreira. O que pode ser perceptível em seu disco de estreia, que é também o melhor de sua carreira e mais levado para o rock do que o pop que a consagrou como uma das maiores cantoras da atualidade, “One of The Boys”.
E fora ter sido uma das principais influências para a cantora de “I Kissed A Girl”, Alanis também pode incluir na sua lista de Feitos Para a Música Moderna um empurrãozinho na nova fase do Justin Bieber, com o álbum “Purpose”, uma vez que a canadense ajudou seu conterrâneo na divulgação do single “What Do You Mean”, com uma imagem promovendo a canção pelo Instagram. Mesmo sabendo que as Beliebers não devem saber nem quantas vezes usamos as letras “s” e “t” em seu sobrenome.
Mas se, até aqui, você já escutou música por música das deixadas no post e não se lembrou de nada, não precisa se desesperar, todo mundo conhece pelo menos uma canção da Alanis, mesmo sem saber que ela já cantou em algum momento de sua existência na Terra.
Um ótimo exemplo disso é o cover dela para “Crazy”, do cantor Seal, que foi o carro-chefe e único hit da coletânea “Alanis Morissette: The Collection” (2005):
Outras possíveis músicas que você conhece, mas não sabe, são “Offer” e “Empathy” que, respectivamente, fizeram parte da trilha sonora das novelas “Celebridades” e “Amor à Vida”, apresentadas no horário nobre da Rede Globo, assim como “Guardian”, do disco mais recente, “Havoc and Bright Lights”, presente na trilha de “Sangue Bom”, da mesma emissora.
Aliás, a Globo adora a Alanis. Tanto que tocou “Ironic” em várias temporadas de “Malhação”. A última vez que a música foi utilizada pela novela foi em 2014, como tema dos personagens Fatinha e Bruno.
Mas não foi só na TV que Alanis tocou bastante. Em 1998, a cantora lançou a canção “Uninvited”, para a trilha sonora do filme “Cidade dos Anjos”, e ainda que não tenha sido lançada como single, a música foi enviada às rádios americanas e conquistou uma audiência significativa. Dando também outros dois Grammys para a moça: Melhor Música de Rock e Melhor Performance Vocal Feminina de Rock. A faixa ainda havia sido indicada para Melhor Canção Original Para Mídias Visuais, perdendo para “My Heart Will Go On”, da Celine Dion, para “Titanic”.
Em 2005, Morissette voltou a cantar pra as telonas em “As Crônicas de Nárnia”, com a canção “Wunderkind”, e cinco anos depois, em 2010, foi a vez de apresentar “I Remain”, escrita para “O Príncipe de Pérsia”.
Coisa pra caramba, hein?
Mas você chegou até aqui e ainda não se lembrou de nada? Então calma, porque a gente espera que você pelo menos tenha gostado de algo, né? Não? Certo, talvez o problema seja um pouco mais sério.
Você mudaria de ideia se a gente contasse que Madonna foi uma das principais responsáveis pela estreia de Alanis, visto que a gravadora responsável pelo lançamento do álbum “Jagged Little Pill” era da Rainha do Pop? Numa entrevista desse ano para o programa do Howard Stern, a cantora relembrou de quando a até então novata esteve em seu escritório, cantando e tocando violão para ela e o produtor Guy Oseary: “Ela é incrivelmente talentosa. Eu fiquei muito orgulhosa”, disse a rainha.
E se a gente contasse que Alanis Morissette também foi uma importante influência para a Avril Lavigne que, antes de ascender em 2002, viu algo de genuíno na forma de cantar e compor da cantora de “Ironic”? Num daqueles episódios maravilhosos em que o fã e ídolo se encontram, as duas até chegaram a dividir o mesmo palco algumas vezes:
Nós também podemos te mostrar a Kelly Clarkson fazendo um cover para “Perfect”, do álbum “Jagged Little Pill”, que, segundo ela, é uma das suas “músicas favoritas de todos os tempos”:
Até a Beyoncé se rendeu ao “Pill”, mesclando “You Oughta Know” com o hit “If I Were A Boy”, do álbum “I Am... Sasha Fierce”:
E ninguém menos do que Britney Spears também já apresentou a faixa ~ao vivo~ váaaarias vezes:
Sim, esse é o Jagged Little Pill’s impact, gente!
E para o caso de nada disso ter te convencido, a gente tem uma jogada final e, acredite, desta vez vamos jogar bem sujo.
Acontece que, talvez planejando essa volta com o relançamento do “Jagged Little Pill”, bem como essa apresentação de seus trabalhos para um público que não dá uma foda para o que ela já foi no passado (o que dói só de escrever), Alanis Morissette também deu a honra de Taylor Swift recebê-la em um dos shows da 1989 World Tour e, olha só, com uma apresentação de “You Oughta Know”:
E há alguns anos, em 2011, a mesma Taylor também havia feito um cover de “You Learn”, DO. MESMO. ÁLBUM.
Agora deu pra notar o quão importante é a cantora, não?
Ainda que seus outros discos tenham sido engolidos pelo hype de “Jagged Little Pill”, essa estreia deu a Alanis Morissette uma visibilidade e legado que não é para qualquer artista, transformando-a em uma das maiores influências para muitas cantoras que a sucederem nas rádios, e com isso, ter um relançamento do disco, que sobrevive na memória e coração de seus fãs há duas FUCKING décadas, é algo que não deve ser passado despercebido, principalmente quando vivenciamos uma indústria que não garante uma longevidade de nem um ano para seus novos nomes.
Ter o disco e todos seus hits relembrados, entretanto, não significa que Alanis não tenha outras coisas interessantes dentro de sua discografia, de forma que, com a ajuda dos fãs da cantora, nos demos ao trabalho de reunir no player abaixo algumas das músicas essenciais para conhecer o seu trabalho. Como se trata de uma playlist no Spotify, segui-la e salvá-la para ouvir quando e onde você quiser também é uma opção.
You oughta know:
E agora ficamos com aquela sensação de dever cumprido. Obrigado aos envolvidos.