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Chegou a hora de olhar para o The Voice Brasil e (por que não?) para o mercado

Nessa quinta-feira o The Voice Brasil se prepara para apresentar ao público a fase das Batalhas, onde será possível conhecer um pouco mais dos candidatos e começar a perceber qual caminho os técnicos irão seguir nessa temporada. Na semana passada, durante a última noite das Audições às Cegas, os quatro técnicos completaram seus times e nos fizeram questionar: será que, finalmente, o programa irá revelar um nome de peso para o nosso mercado?

Infelizmente é impossível ter certeza sobre o futuro dos candidatos, mas isso não impede que a gente pense a respeito do programa, dos candidatos e (porque não?) refletir sobre o mercado musical brasileiro.

O The Voice teve sua primeira edição na Holanda, em 2010, mas foi em 2011 que o programa tornou-se mais conhecido para o grande público, graças a versão produzida nos EUA, que trouxe nomes bem relevantes do cenário mundial no time de jurados. Adam Levine e Blake Shelton nunca abandonaram suas cadeiras durante as nove temporadas, enquanto Christina Aguilera, Cee Lo Green, Usher, Shakira, Pharrell Williams e Gwen Stefani já ocuparam as cadeiras restantes.

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Em 2012, a Rede Globo anunciou a versão brasileira do programa e criou-se uma grande expectativa. Quem seriam os técnicos da nossa versão? Fim do mistério: Lulu Santos, Daniel, Carlinhos Brown e Claudia Leitte foram os escolhidos. Em 2015, na quarta temporada do programa, a primeira troca: sai Daniel e entra Michel Teló.

Que os jurados entendem de música e que já possuem uma carreira sólida no Brasil a gente não pode negar, mas ainda temos a sensação de que está faltando alguma coisa pra versão brasileira realmente acontecer. Talvez seja uma questão da direção do programa – que ficou mais evidente a partir da segunda temporada – mas a impressão que temos é que os quatro artistas estão mais preocupados em trazer humor (sem graça) e entretenimento (óbvio) ao público do que uma avaliação técnica dos candidatos. Sério. Vocês já assistiram a um episódio da versão norte-americana? Alí os jurados são muito mais criteriosos e críticos. Eles destacam as qualidades, pontuam os erros e ajudam o candidato a trilhar um caminho que faça ele realmente evoluir como artista, fazendo do programa uma grande escola – tanto para o candidato, quanto pra quem está assistindo.  

Aqui no Brasil, os jurados são só elogios (muitos deles vazios). Poucas vezes se posicionaram como deveriam e ajudaram no crescimento do artista. Lulu Santos tem seus (ótimos) momentos. Daniel até que tentou, mas foi abafado pelos colegas. Chega a ser incômodo quando nenhum dos técnicos vira a sua cadeira e, mesmo assim, o candidato só recebe comentários positivos pela sua apresentação, pela sua voz e pela sua presença de palco. Da pra entender, gente? E quando eles resolvem disputar a preferência de um candidato com dancinhas ou piadas? Seria tão mais interessante argumentar.

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Outro ponto que nos incomoda muito na versão brasileira é a falta de tempo. Nos outros países temos dois programas semanais e isso faz muita diferença, principalmente, na fase dos shows ao vivo. Lá fora, o candidato canta num dia e a eliminação só acontece no outro. Aqui não. É tudo feito no mesmo dia, na maior correria, com os comentários mais rápidos (e genéricos) possíveis. Sabe o que isso proporciona? A falta de envolvimento do público com os candidatos. Não dá tempo de se identificar, de sentir a evolução do artista. Quando você está definindo a sua torcida, o Tiago Leifert vai lá e anuncia que na semana que vem será a final do programa.

Mesmo assim, podemos afirmar que durante as três primeiras edições brasileiras tivemos candidatos com muito potencial pra acontecer. Como esquecer da voz poderosa da primeira vencedora, Ellen Oléria? E tivemos mais! O carisma da Maria Christina. A sensualidade da Mira Callado. O pop do Sam Alves e do Leandro Buenno – que até estão trilhando um caminho interessante. Mas aí entra em jogo outra questão bem relevante: a falta de personalidade da maioria dos candidatos.


Até o momento, nenhum candidato brilhou nessa quarta temporada. Alguns se destacaram pela beleza da voz, outros pelo estilo marcante, mas ainda está faltando aquele que vai chegar e convencer de verdade, sabe? Que vai mostrar que veio pra ficar (ou pelo menos, pra tentar). Pode ser que grandes artistas não tenham interesse em participar do programa, com receio de se expor, não acontecer e ainda ficar marcado por um bom tempo como um ex-reality show.

Mas se a gente parar pra pensar mais pouco, vamos perceber que não é justo colocar a culpa apenas no programa e nos candidatos. É preciso lembrar como o mercado fonográfico brasileiro é bastante fechado.  

Os executivos das grandes gravadoras parecem não se interessar pela renovação do mercado, principalmente no cenário pop. O candidato está lá, na maior emissora do país, cantando ao vivo, uma vez por semana e repercutindo nas redes sociais. Pra acontecer, basta aproveitar a visibilidade, contratar um bom produtor e divulgar. Mas divulgar com vontade de dar certo. Exatamente como o Silvio Santos fez com os produtos que resultaram do Popstar (Rouge e Br’oz). E como o Fernando & Sorocaba fizeram com a Thaeme (ex-ídolos Brasil, que está fazendo sucesso com a dupla sertaneja Thaeme & Thiago).


A gente bem sabe que o The Voice US ainda não conseguiu revelar um artista que tenha feito grande sucesso comercial, mas a gente também sabe que a estratégia de investir num ex-reality show pode dar muito certo. Adam Lambert, Kelly Clarkson, One Direction, Leona Lewis, Carrie Underwood (só para citar alguns) saíram de programas de TV e conquistaram seu espaço no mercado mundial. E o que foi preciso? Investimento. Pesado. Mas pra isso, os candidatos precisaram demonstrar personalidade, seu nicho de mercado e aceitação do público.

A gente acredita que o The Voice Brasil e seus concorrentes, mesmo alguns pontos a serem corrigidos, podem sim apresentar novos nomes ao mercado. A Rede Globo tem a faca e o queijo na mão: artistas de qualidade (só não se esqueçam de imprimir a personalidade de vocês, hein?); a resposta imediata do público; a estrutura da Som Livre disponível e programas de grande audiência para divulgar. Pelo jeito, ainda não faz parte dos planos da emissora, mas talvez seja a hora de pensar além do entretenimento.

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Tem muita gente – a própria Rede Globo, as gravadoras e os grandes artistas - perdendo a oportunidade de ganhar (muito) dinheiro com participantes que façam sucesso comercial. Todos nós ganharíamos com isso também, afinal, é importante uma renovação constante no mercado. Precisamos que o cenário musical brasileiro seja mais interessante, que apresente mais diversidade e que se torne até mais competitivo. Isso é um grande passo para entrarmos na lista dos mercados mais importantes da música.

O The Voice Brasil tem lá suas questões internas que precisam ser corrigidas pra deixar o programa mais “redondo”. Os candidatos precisam deixar a personalidade falar mais alto e deixar a gente entender qual será o seu lugar. E o mercado, por sua vez, precisa de representantes mais interessados e comprometidos com a renovação.

E diante de tudo isso, a gente para pra se questionar: será que com esses ajustes – de todos os envolvidos – a coisa pode realmente acontecer? O Superstar, outro programa brasileiro que se propõe a revelar novos talentos, está aí pra dar essa resposta.


Produzido pela mesma emissora, o programa conseguiu lançar três bandas que foram muito bem absorvidas pelo mercado. Suricato e Jamz já estão com uma agenda interessante de shows e colocaram suas músicas nas principais rádios do país. A Malta, banda vencedora, emplacou o hit “Diz Pra Mim” nas rádios e entrou pra trilha sonora de uma das novelas da emissora. Se isso não já não fosse o suficiente pra nos responder, as três bandas acabaram de receber indicações ao Grammy Latino. E o que foi preciso pra isso acontecer? Candidatos interessantes, com personalidade, que se conectaram com o público e que, consequentemente, receberam o investimento e a atenção da emissora e de suas respectivas gravadoras.

Acreditem. Ainda dá tempo! 
disqus, portalitpop-1

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