É quase impossível falar de fenômenos da música atual sem falar de Adele. A britânica saqueou o mundo nessa década desde seu álbum de estreia, "'19". Grammy, Globo de Ouro, Oscar, disco mais vendido da década com o "21", recordes para dar e vender. Adele é sinônimo de sucesso comercial como poucas. Mas ignorando tudo isso, que muito sabemos que nada significa artisticamente falando, o que Adele faz de melhor não é conquistar números, e sim cantar.
A última vez que a moça deu o ar da graça foi lá em 2012 com "Skyfall", tema do filme "007: Skyfall", que levou todos os prêmios possíveis e imagináveis. O lançamento, pouco tempo depois do encerramento do "21", seu segundo álbum, não veio com tanta sede pelo curto espaço de tempo, cenário bem diferente que "Hello" encontrou.
O carro-chefe do "25", novo álbum de Adele, veio com três anos de uma loooonga espera. Enquanto esperávamos, o "21" continuava rendendo altas cifras (até hoje se encontra nos rankings de mais vendidos da semana) e jogando nossas expectativas pelo novo material nas alturas. Foi em 22 de outubro que o martírio acabou. Ela estava de volta.
Olá. Sou eu.
"Hello" é uma canção sobre perda e arrependimento. A faixa é a primeira produção de Adele e Greg Kurstin - é dele hinos como "Chandelier" da Sia, "Money Power Glory" da Lana Del Rey, "Burn" da Ellie Goulding, "Stronger (What Doesn't Kill You)" da Kelly Clarkson, "Fuck You" da Lily Allen e váaaarios outros. A canção surgiu durante um bloqueio criativo da cantora, que, ao conhecer Kurstin, teve uma "queda massiva" de criatividade, conseguindo compor "Hello".
Eu estava me perguntando se depois de todos esses anos você gostaria de me encontrar.
O single nada mais é que uma grande mensagem de Adele para o ex-namorado. É como se ele chegasse em casa, apertasse a secretária eletrônica e ouvisse todo o desabafo, algo bem mais doloroso que a chamada de Lady Gaga em "Telephone", mais preocupada em não perder sua música favorita que acabara de começar na pista. Se não fosse pelos refrões, parte da música que, desde o surgimento da sua linguagem, é repetida, a faixa seria como uma mensagem completa e ininterrupta.
Logo de cara notamos que há algo de diferente na canção. Anteriormente, em todos os momentos, Adele se colocava na posição de "vítima" - ela era quem levava o pé na bunda. O "21" foi composto a partir de uma desilusão amorosa, como tão bem conhecemos pelos singles "Rolling In The Deep", "Someone Like You" e "Set Fire To The Rain". Era Adele vomitando toda a sua dor, que, como ela ironicamente canta em "Rolling In The Deep", virou ouro. Mas em "Hello" os papéis se invertem. Foi ela a culpada pelo término.
Num paralelo interessante com "Hight By The Beach", o carro-chefe do "Honeymoon", novo álbum da Lana Del Rey, Adele não só assume a culpa como tem um choque de redenção ao ligar pro cara e tentar uma reconciliação - assim como Lana troca de posição ao terminar com o amado depois de falar milhares de vezes que iria amá-lo por um milhão de anos.
Olá, como você vai? É tão típico de mim falar sobre mim mesma. Me desculpe, espero que esteja bem.
A produção do single é bem simples, ficando entre "Someone Like You" e "Rolling In The Deep": é bem lenta, com o piano ditando a melodia, mas o refrão joga mais instrumentos, backingvolcals em coral e notas mais fortes. Não é algo completamente novo na discografia da cantora - com exceção da letra - nem violentamente espetacular, porém é uma balada poderosíssima que possui a marca registrada de Adele, prontinha para os bons ao vivos no banho pelas longas e maravilhosas notas, nada menos do que tanto esperamos dela - e só reforça o óbvio: Adele é uma das maiores vozes da música e nós necessitamos de sua existência.
Olá do outro lado da linha. Pelo menos eu posso dizer que eu tentei te dizer me desculpe por partir seu coração.
Mas talvez a maior mágica da canção reside em: parece que somos nós que pegamos o telefone e ouvimos Adele falar tudo para nós. Depois de três anos distante ela volta com uma música onde a primeira fala é "Olá, sou eu". Volta de mansinho, pedindo desculpas por tudo que fez e perguntando se gostaríamos de sair com ela e conversar. "Eles dizem que o tempo deveria te curar, mas eu não me curei nem um pouco". Algum de nós conseguiu "se curar" da falta de Adele? Alguém não se perguntou "Quando será que ela volta?", "O que deve está fazendo?"? Todos nós fizemos isso pelo menos uma vez.
Sim, Adele, nós gostaríamos de sair. Nós te perdoamos pelos anos longe e você mal sabe o quanto sentimos sua falta e o quanto estamos felizes por você ter voltado do jeitinho que foi embora há três anos. Na verdade você parece ainda melhor que da última vez. Vamos marcar um café? Está tudo bem agora.
Com "Hello", ao contrário do cara que nunca atende, nós corremos até o telefone e falamos "Olá, Adele. É tão bom ouvir sua voz de novo".