Demorou até que a Sony se posicionasse sobre a disputa judicial entre Kesha e o produtor que a revelou, Dr. Luke, só que a aparição deles no processo, após um pedido de liberdade feito há alguns meses por Kesha, não poderia ter sido mais decepcionante.
Isso porque a gravadora, após um bom tempo se omitindo sobre o assunto, parece assumir uma posição ao lado do produtor, que responde por acusações de abuso sexual e psicológico, e discorda sobre Kesha acreditar que seu nome morrerá caso ela passe mais tempo longe das rádios, afirmando que, daqui alguns anos, ela poderá ser “a próxima Adele”, no sentido de artista que ficou anos longe dos holofotes e voltou com números significativos.
O que a Sony Music não parece colocar na balança é o fato de que, ao contrário de Adele ou Justin Timberlake, que também foi usado como exemplo, Kesha está longe de possuir uma carreira realmente estável e a prova disso são os números de seu último disco, “Warrior”, que sucedeu o comercialmente aclamado “Animal”, dos hits “Tik Tok” e “Your Love Is My Drug”, mas por pouco não terminou suas atividades com apenas dois singles, sendo eles “Die Young” e “C’Mon”, sem falar que nenhum desses artistas foram forçados a pausarem a carreira, fazendo isso sem qualquer controvérsia que afetasse seus nomes midiaticamente.
Outro ponto que o selo parece não ter dado muita atenção é aquele em que Kesha é contratualmente obrigada a dividir o estúdio com um homem que ela afirma ter sido abusada sexualmente e que esse mesmo homem, responsável pela produção dos seus dois últimos álbuns, já não possui uma relação saudável com ela e as pessoas próximas aos seus trabalhos, o que teria atrapalhado, inclusive, uma promissora parceria que ela faria com a banda The Flaming Lips, mais tarde unida a Miley Cyrus, com o projeto “Miley and Her Dead Petz”.
É bastante preocupante notar que Kesha, na posição de vítima, seja tão pressionada quanto a abandonar a causa e voltar aos trabalhos com seu suposto agressor, enquanto ele, que atualmente processa a cantora por difamação, parece não ter problemas em encontrar apoio ou pelo menos evitar que outros nomes mostrem suporte a cantora, muito provavelmente por seu legado na indústria, bem como contatos capazes de acabar com qualquer carreira que já tenha passado por suas mãos.
Felizmente, tanto a cantora quanto seus amigos e familiares seguem firme quanto a posição apresentada no processo, que até rendeu um movimento liderado por seus fãs, “Free Kesha Luke”, que visa libertá-la do contrato com a gravadora de Dr. Luke, Kemosabe Records, com a qual a cantora ainda é obrigada a gravar outros três álbuns pelos próximos anos, caso não vença a disputa judicial.
Desde a disputa judicial com Kesha, Dr. Luke parece ter sido problema com outras artistas com quem dividiu estúdio e por motivos semelhantes. Charli XCX, por exemplo, contou pelo Twitter sobre a vez que o produtor recomendou que ela perdesse alguns quilos caso quisesse se tornar uma popstar e, nesta época, contou com o apoio de sua amiga, Marina & The Diamonds, que também já havia colaborado com o cara.
Algo que, de certa forma, nos incomoda, é o silêncio de tantas outras artistas sobre o assunto, uma vez que, diante de uma discussão tão séria e que precisa da maior visibilidade possível, a união de Kesha com outras cantoras pop seria essencial para provar que o empoderamento feminino delas vão bem além de simples refrãos para as rádios.