A indústria, seja por intermédio da mídia ou dos seus próprios fãs, coloca mulheres contra mulheres desde que nos entendemos por blog, RS, o que reflete o machismo no meio musical, dificilmente disposto a oferecer espaço para muitas delas, em tempo que os homens conseguem se sobressair, independe do gênero de seu trabalho.
Só nesse ano, a gente presenciou muitas dessas competições, de Nicki Minaj e Miley Cyrus à Katy Perry e Taylor Swift, e enquanto isso acontece lá fora, o Brasil ganha também mais uma desavença entre artistas femininas, agora com as rappers Karol Conká e Flora Matos.
Não é novidade pra ninguém que Karol se tornou um dos maiores nomes da atualidade no rap nacional. A intérprete de “Tombei” já vinha ganhando seu espaço quando lançou seu disco de estreia, “Batuk Freak”, mas, desde que se juntou com Boss In Drama em “Toda Doida”, encontrou um espaço no mercado pop que dificilmente será tirado dela, o que ainda resultou em parcerias com Tropkillaz, Banda Uó e até o produtor Diplo.
Aí que, diante desse destaque para ela, que representa diversas minorias para a indústria musical, sendo mulher, negra e feminista, muitos dos fãs torcem pra que ela aproveite essa exposição colaborando com outras artistas que também fortalecem o movimento, como Lurdez da Luz e Flora Matos, só que essa última não parece realmente interessada em entrar em estúdio com a dona de “É O Poder”.
Em seu Facebook, Flora Matos soltou um textão em que critica o atual cenário do rap nacional. Ela, que esteve em exposição no ano passado com o single “Pretin”, reclama da falta de espaço para mulheres, que precisam revezar o destaque, enquanto os homens assumem todo o resto, e solta também o que seriam indiretas para Karol, falando sobre uma rapper que está em exposição e canta sobre estar no topo, se colocando superior às outras artistas femininas.
“[...] Eu tô ligada que tem várias mulheres que fazem rap no Brasil. Umas com mensagens que eu realmente me identifico e outras menos. Raramente, nenhum pouco. Mas a reflexão de hoje é sobre o vício que o sistema/indústria fonográfica/mídia tem de deixar o espaço para a mulher reduzidíssimo, pra apenas uma ou duas”, começou Flora. “Não é porque eu me encontro em um lugar favorável, que eu concordo com isso. Não acho maneiro. E isso não acontece só no Brasil. Já perceberam? Na minha opinião, o espaço deveria ser bem maior, não acham? Assim como é pros homens. E, na verdade, é! Mas eles querem que a gente pense que não, liga? E tramitam isso.”
Falando sobre a artista que seus fãs sugerem que colabore, mas não está interessada, Flora disse:
“Já me deparei com pedidos aqui de feat [colaboração] meu com uma mina e não levem a mal se o pedido não for atendido. Porque, em breve, vocês vão ouvir feats meus com mulheres de responsa, que eu acredito muito, assim como acreditei e pude contribuir de alguma forma para a caminhada de outras mulheres, que estão aí hoje, realizando seus trampos [Karol e Flora já colaboraram algumas vezes no passado]. Não me identifico e fico realmente triste quando ouço uma mensagem egoísta, individualista dentro de um rap, adotando um discurso do tipo, ‘eu tenho mais grana, sou maior do que você e você não é capaz’.”, explicou.
“Gente, rap não é instrumento do sistema. Pelo menos não era pra ser! E nossa realidade aqui no Brasil é bem outra, percebem? Fico muito mais triste ainda quando escuto um discurso desse cantado por uma mulher. Muito mais quando o discurso corre o risco de ter sido por um homem... Como se não houvesse chance pra mais ninguém. Tá ligada? Não foi assim que a mãe ensinou. Muito menos dentro do espaço que conquistamos dia após dia, dentro de um universo tão machista que já é o rap. Em breve, quem já conhece e quem ainda não conhece também, vai ter o prazer de ouvir meus feats com outras minas que a mídia não mostra. E, se você é mina e faz rap, quero que você saiba que eu te apoio e jamais vou fazer uma ‘diss’ [caso frequente no hip-hop, em que um rapper lança uma faixa como forma de crítica, direta ou indireta, para outro artista. Um dos casos mais recentes foi do rapper Drake, que terminou indicado ao Grammy pela canção direcionada ao Meek Mill, ‘Energy’] pra você em prol da fama ou dinheiro.”
O novo CD da Karol Conká, atualmente promovido pelo single “É O Poder”, conta com a produção executiva do Zegon, membro do Tropkillaz, em tempo que ainda traz outras colaborações, como do americano Diplo, que a conheceu após sua passagem pelo Brasil para o festival Lollapalooza e pirou ao som de seu maior hit até aqui, “Tombei”.
Pelo Instagram, Karol pareceu estar ciente do que estava se formando em torno do seu nome com toda essa confusão e, numa mensagem curta, resumiu bem a contradição que existe quando uma artista feminina diz empoderar a união entre as mulheres, criticando indiretamente uma delas. A rapper aproveitou para incluir na frase um trecho de seu atual single, que critica os “juízes de internet”, que se mostram bem grandes de longe, mas quando estão a encarando de perto, se encolhem.