De Madonna ao Prince, a
música pop não se tornou uma voz para o movimento LGBTQ por mera coincidência
e, no Brasil, caminha para um dos momentos mais ousados da nossa indústria, com
uma variedade de artistas que utilizam da mesma cultura, ainda que com
diferentes influências, para dar voz às suas lutas.
Ainda em 2012, conhecemos
o trio de Goiânia, Banda Uó, que não tratava de assuntos sérios em suas
músicas, mas quanto mais crescia, mais “significava”. A banda é formada por
dois gays e uma mulher trans negra e, com essa formação que muito incomoda a “família
tradicional brasileira”, ganhou espaço nas principais emissoras de TV do país,
além das rádios e o seu principal palco desde o início da carreira, internet.
Na chamada “Geração
Tombamento”, quem também chegou-chegando foi o rapper Rico Dalasam, que lança
nesse mês o disco “Orgunga” e, em suas músicas, defende as bandeiras que o
representa, sendo um rapper gay e negro.
Outra cultura que ganha
cada vez mais força com o apoio da música pop na internet é a drag. Com
produção do Rodrigo Gorky, do Bonde do Rolê, e versões para Major Lazer, Ellie
Goulding e Beyoncé, a drag queen Pabllo Vittar se tornou uma das grandes
atrações da noite paulistana, atraindo também cada vez mais atenção em
plataformas como Soundcloud e Youtube, e abriu as portas para uma nova geração
delas, com a revelação de outras que surgiram com a mesma proposta viral, como
a Lia Clark.
Daí que o nome da vez nos
chegou por meio de uma indicação e simplesmente não conseguimos parar de ouvir.
Conheça o MC Queer.
Na verdade, chamado Felipe,
Queer é um MC que quer usar a sua música para defender as suas bandeiras e em
seu primeiro single, “Fiscal”, chega com um funk desbocado, mostrando cedo a
que veio. “Quero muita atenção para o que eu vou falar pra tu, tem que ser
macho pra caralho pra poder dar o próprio cu”, canta no refrão.
Numa conversa com o It Pop, o brasileiro contou que seu disco de estreia está pronto, com produção do Maestro Billy (Valesca Popozuda), e que só não começará a divulgá-lo ainda porque tem conversado a possibilidade de trabalhar algumas parcerias, mas sem mencionar nomes. Brincamos, sugerindo uma união dele com Rico Dalasam, Liniker, Pabllo Vittar e Lia Clark, e ele respondeu: “Vai ser o ‘AMIGOS’ das gays, ia ser lindo!”.
Falando sobre esse
momento da música brasileira, no qual a internet dá coro e palco para as mais
diversas bandeiras, o músico explica:
“Eu acho que a cultura LGBT está finalmente saindo do armário da música no Brasil e no mundo. Não existe melhor timing que esse. A música une as pessoas e todos os LGBTs precisam se unir mais do que nunca nesse momento em que a gente encara uma corrente conservadora e perigosa em iminência”, disse Queer.
Mas se tratando da
representatividade, ele compreende que não há a necessidade de fazerem músicas
sobre militância para representarem algo positivo para a luta:
“É muito incrível ver – e ouvir – música com cunho político, mas também é ótimo ouvir simplesmente música boa sendo produzida por LGBTs, mesmo que não tragam diretamente uma mensagem militante. Eu ando completamente aficionado por Jaloo, por exemplo, e ele não necessariamente é ativista na voz, mas na atitude, no look, na performance. Ele é incrível.”
Quando questionado sobre
suas influências, MC Queer menciona nomes gringos e nacionais, explicando
também porque escolheu fazer funk em sua música de estreia:
“Eu sempre ouvi muito R&B, sou cria de The Fugees, mas apaixonado por cultura brasileira, pela música brasileira. Cresci ouvindo Maria Bethânia, Elis [Regina], Ney Matogrosso e Caetano. Caetano, aliás, falou outro dia que o funk é a nova Tropicália e eu concordo super com ele. Foi até por isso que eu escolhi o funk para manifestar seu ativismo, ele tem legado em dar voz às minorias e tem o alcance necessário hoje para dar amplitude para a mensagem que eu quero passar.”
Seu disco de estreia,
entretanto, também contará com trap, música eletrônica e charme: “Mas com uma
pegada pop, é claro!”, ele adianta.
O clipe do seu single de
estreia, “Fiscal”, sairá ainda esse mês e, como brincamos com o MC, conta com o
melhor “squad”. Ele nos adianta alguns nomes do seu elenco: Leona Vingativa,
Leo Clark, MC Linn da Quebrada, Nana Rude, Diva da Depressão, Gabriel Simas,
David Rebolativo e Fefito. “Só gente incrível”, garante Queer.