Eu estava prestes a começar uma matéria sobre a importância em ter a Inês Brasil representando o nosso país na estratégia de divulgação da série “Orange Is The New Black” quando, da pior forma possível, a vida imitou a arte e, nesse sábado (19), a cantora foi detida em um aeroporto, por um suposto desacato às autoridades.
Antes de ler sobre o ocorrido em alguns veículos, encontrei relatos sobre o caso no Facebook, com postagens do organizador de uma festa que ela se apresentaria, em Florianópolis, no qual ele e o assessor de Inês conversam sobre o que aconteceu no aeroporto e explicam então a razão dela ter sido detida.
De acordo com as declarações de sua assessoria, teriam pedido pra que Inês Brasil passasse pelo raio X mais de uma vez, exigindo que ela tirasse a touca que usava no momento, e, mesmo após fazê-lo, a cantora continuou como “alvo de suspeitas”, o que a irritou. Nervosa, ela teria mostrado os seios para os guardas, que trataram de chamar a polícia pra conduzi-la a delegacia mais próxima.
O que me impressiona nessa história, entretanto, não é o fato de insistirem para ela, que é uma mulher negra e frequentemente exposta como uma figura pejorativa, passar pelo processo de revista mais de uma vez e nem saber que, irritada com toda a situação, ela chegou ao ponto de tirar a roupa – perguntando se queriam inspecionar os seus seios também. Mas, sim, a maneira como a sua própria assessoria trata do assunto, garantindo que “foi totalmente culpa dela” e minimizando todo o contexto em que a confusão aconteceu, porque ela se irritou “daquele jeito dela”.
A falta de profissionalismo se estende ao organizador da festa que, além de expor a conversa privada com o assessor da cantora, que mais tarde faria um comunicado sobre o cancelamento da sua participação no evento em questão, discutiu com alguns usuários da mesma rede social, afirmando que jamais voltará a contratá-la para evento algum e, em comentários mais inflamados, chamando-a de louca – que, até então, era sã o suficiente para ser a atração principal da sua festa.
Na página oficial de Inês Brasil no Facebook, a sua nova assessoria, que passará a trabalhar com a cantora em julho, publicou uma breve nota, afirmando que ela “já se encontra em sua casa, no Rio de Janeiro”, visto que, devido ao caso, perdeu o voo para o cumprimento do evento, em Porto Velho.
Ainda que esteja dividindo opiniões, principalmente devido a sua fama pela internet e carinho conquistado pela maioria do público, essa confusão com a Inês me lembra de quando a Azealia Banks foi presa, por uma briga num avião, no qual, após ser provocada, a rapper agiu de forma agressiva e se tornou alvo de muitos comentários preconceituosos.
É uma pena saber que a cantora, após um momento tão bacana quanto a sua aparição em “Orange Is The New Black”, tenha que lidar com uma situação tão constrangedora, que, sim, tem como fundo um teor preconceituoso, racista e machista e, infelizmente, acompanhada por uma assessoria que mostrou mais preocupação com seu lado financeiro do que com a defesa da artista em si (o que me lembra essa outra história aqui). Expondo-a de maneira irresponsável e sequer se preocupando em tê-la como a louca e descontrolada de toda a história – mal contada, por sinal.