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O próximo Grammy de ‘Disco do Ano’ precisa ser de um artista negro

Essa edição do Grammy tem tudo para marcar um feito histórico contra o racismo da premiação.
Os dias estão acabando e, quando o calendário indicar que chegamos ao dia 30 de setembro, estará encerrado o período de elegibilidade ao Grammy Awards, o que significa que será a hora das gravadoras submeterem os lançamentos dos seus principais artistas e a cúpula da premiação ter a oportunidade de definir quais serão os nomes lembrados e premiados na sua próxima edição, marcada para fevereiro de 2017. Mas, ao contrário dos anos anteriores, essa edição do Grammy tem tudo para marcar um feito histórico na premiação.

Numa rápida pesquisa pelo Google, que nos levou ao Wikipédia, relembramos quais foram os vencedores pelo gramofone de ‘Disco do Ano’ dessa década até aqui e os nomes são os seguintes: “The Suburbs”, do Arcade Fire (2011), “21”, da Adele (2012), “Babel”, do Mumford and Sons (2013), “Random Access Memories”, do Daft Punk (2014), “Morning Phase”, do Beck (2015), e “1989”, da Taylor Swift (2016). Todos são ótimos álbuns, não podemos negar, mas eles têm algo em comum: todos foram lançados por artistas brancos – com exceção do Daft Punk, que são robôs, é claro.


No mesmo período em que os discos acima foram premiados, o Grammy deixou para trás álbuns como “Doo-Woops and Hooligans”, do Bruno Mars, “Loud”, da Rihanna, “channel Orange”, do Frank Ocean, “Good Kid, M.A.A.D. City” e “To Pimp A Butterfly”, do Kendrick Lamar, o autointitulado da Beyoncé, “G I R L”, do Pharrell Williams, e “Beauty Behind The Madness”, do The Weeknd, que, sim, também são álbuns excelentes e, em alguns casos, marcaram momentos impactantes dentro do ano de seu lançamento, seja pela forma em que tiveram sua estreia (oi, Beyoncé), as discussões que despertaram (alô, Kendrick Lamar) e, por que não?, os seus hits (Mars, Pharrell, The Weeknd).


Ao longo dos anos, grandes premiações esnobaram grandes artistas negros e, infelizmente, isso está longe de ser um problema apenas no Grammy. Um dos exemplos mais emblemáticos é do MTV Video Music Awards, que nunca deu um prêmio de Vídeo do Ano ao Michael Jackson, nem mesmo por “Thriller”, e até hoje tenta se redimir, recordando o seu talento e contribuição à música com o título ‘Prêmio Michael Jackson de Artista Vanguarda’. Nesses eventos, o mais comum é vermos artistas negros dentro de categorias segmentadas, como o melhor disco de R&B, melhor música de hip-hop, mas nunca os melhores discos ou musicais gerais. Isso fica para os Macklemores e Azaleas. Mas os tempos são outros, ou pelo menos deveriam.


Embora ainda haja muita resistência, os EUA e o mundo tem vivido uma importante mudança quanto à questão da representatividade e empoderamento negro. Assim como temos Viola Davis ganhando mais e mais prêmios por seu papel em “How To Get Away With A Murder” e a jovem – e negra – Zendaya, sendo esperada como a próxima Mary Jane das telonas, temos uma Beyoncé levantando sua bandeira em prol do Black Lives Matter e das Panteras Negras para todo o mundo, no Super Bowl, e um Kanye West que, no ano passado, questionou o racismo da música em um palco da MTV, dentro de um contexto que ainda resultará em muitas mudanças no meio artístico e, definitivamente, precisa influenciar os próximos passos do Grammy, que deixará de lidar com um público conformado em ter seus artistas favoritos esnobados por preconceito racial.


“Coloring Book”, do Chance The Rapper, “Lemonade”, da Beyoncé, “The Life of Pablo”, do Kanye West, “Freetown Sound”, do Blood Orange, “ANTI”, da Rihanna, “untitled unsmastered”, do Kendrick Lamar, e até mesmo o recém-lançado “Blonde”, do Frank Ocean, são alguns dos grandes álbuns lançados por artistas negros nesse ano e se existe uma oportunidade do Grammy fazer a diferença, não cometendo o mesmo erro já repetido há anos, ela está na próxima edição da premiação. Mesma em que eles deverão homenagear de alguma forma o cantor Prince, que bem tentou avisá-los sobre isso em 2015, quando disse: “como os livros e as vidas negras, os discos continuam importando”, numa clara referência ao Black Lives Matter, momentos antes de anunciar Beck, ao prêmio que todos acreditavam ser da Beyoncé.  

disqus, portalitpop-1

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