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Vale a pena assistir à nova série da Netflix, “The Get Down”?

Analisamos a primeira parte da série, que já está disponível na Netflix

A Netflix disponibilizou ontem (12) a primeira parte da série The Get Down, uma produção original da plataforma de streaming que mostra, por meio de acontecimentos reais e fictícios, o berço e a ascensão do movimento hip hop na Nova York dos anos 70. Com produção e direção de piloto por Baz Luhrmann, que a gente conhece por Moulin Rouge! Amor em Vermelho (2001) e O Grande Gatsby (2013), a série precisou de cerca de dez anos de pesquisa e custa US$10 Milhões por episódio. O que esperar de toda esta grandiosidade?

Quem conhece o trabalho de Luhrmann sabe do exagero e da superficialidade visual de seus filmes - o que, no caso dele, funciona. Quando lembramos do período histórico retratado em The Get Down, é fácil perceber que estes elementos se encaixam com bastante êxito. A ambientação meio fake do Bronx (e bem semelhante à Nova York de Gatsby) se mistura a registros de época com a ajuda da ótima montagem, e o brilho característico da era disco é construído aos poucos em meio à músicas e roupas, atingindo seu melhor momento na boate Les Inferno, ainda durante o primeiro episódio. A série em si não é exatamente um registro documental, mas conseguimos perceber que determinados elementos retratados por ela realmente existiram.

Como chegamos ao ápice da trama? Essa é a questão: somos introduzidos a uma enxurrada de personagens do seriado em movimento constante, evidenciando um claro problema de ritmo da narrativa. Nos primeiros quinze ou vinte minutos, é tudo muito frenético e confuso; as coisas acontecem e terminam rápido, para que culminem dentro da Les Inferno e nos eventos seguintes. É somente após isso que entendemos a motivação de The Get Down e seu retrato de força da arte periférica.

A série traz os jovens personagens Ezekiel "Books" Figuero (Justice Smith), um órfão com talento para poesia e que, por questões sociais, não vê muitas perspectivas para sua vida; seu parceiro e aspirante a DJ Shaolin "Shao Fantastic" (Shameik Moore) e Mylene Cruz (Herizen Guardiola), uma garota de origem porto-riquenha que deseja ascender como cantora disco, mas encontra dificuldades devido ao background fortemente religioso de sua família. Além destes, temos também os amigos de Ezekiel: Ra-Ra Kipling (Skylar Brooks), Boo-Boo Kipling (T.J. Brown Junior) e Marcus "Dizzee" Kiplin (interpretado pelo convidado Jaden Smith, em uma atuação um tanto quanto apática).


Assim como as séries EmpireVinyl e o recente filme Straight Outta Compton (2015), a indústria musical e seus movimentos populares estão na essência de The Get Down. A série contou com a colaboração do rapper Nas, que inclusive aparece interpretando o próprio Ezekiel em flashforwards - uma decisão que de início é bastante confusa, até que os espectadores percebam como a narrativa está estruturada. A influência musical não torna o seriado uma produção em si desse gênero (não há personagens cantando sempre e números showstoppers com frequência), mas a presença e o embalo de música é essencial para a fluidez das cenas. Estão lá os sons de Donna Summer, Can, Earth Wind and Fire e outros artistas/bandas, assim como uma lista de contemporâneos que inclui Christina Aguilera, Zayn, Leon Bridges, Emile Haynie, etc.

A música é o único ponto relevante em The Get Down? Não. O seriado aborda temáticas como violência nas ruas, tráfico de drogas, fanatismo religioso (personificado no pai de Mylene, interpretado pelo convidado Giancarlo Esposito, de Breaking Bad e Once Upon a Time), desigualdade social, etc. Há representatividade e valorização da cultura do povo; daquilo que emergiu dos negros e imigrantes latinos dos EUA. Há a ascensão do break, do rap, do grafitti e dos DJs.

No fim das contas, vale conferir? Até aqui, sim. Com um feeling agradável da década de 70, este primeiro ato da série nos ajuda a compreender a necessidade e o valor de expressões artísticas (no caso, o hip hop) que existem para representar a realidade - positiva e negativa - de diversas pessoas. A segunda parte, no entanto, só será lançada em 2017. O jeito é esperar.

Abaixo, o trailer da série:

disqus, portalitpop-1

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