Quem gostou, gostou, quem não gostou, paciência. Ou, parafraseando uma frase do seu próprio repertório: “se não tá mais à vontade, sai por onde entrei”.
Foi na última semana que aconteceu mais uma edição do Prêmio Multishow e, entre suas atrações, o evento da emissora de mesmo nome contou com a participação de Anitta, que apresentou um medley que abrangeu os ápices de sua carreira, com foco nos trabalhos do disco “Bang” e sua recente parceria com o rapper Maluma, “Sim ou Não”.
Mais do que isso, a cantora de “Essa Mina É Louca” fez dessa uma das suas melhores performances televisionadas, num combo que pega muito emprestado de Beyoncé e Rihanna, o que, desde já, explicamos não ser algo ruim, e prova a sua força e presença de palco, além de ser um baita banho de água fria aos que, pelo breve tempo de sua carreira, mal se atentou a quantidade de sucessos que ela já possui.
Embora ainda não tenha nenhum disco realmente incrível, Anitta teve sua carreira milimetricamente pensada para atingir as massas e assim o fez. Em “Show das Poderosas”, nos conquistou visualmente pela simplicidade, com a vantagem de ter ao seu lado uma de suas músicas mais chicletes, com um sample que trouxe o som do Major Lazer para o Brasil antes mesmo do sucesso “Lean On” – uma de suas inspirações em Beyoncé, que também sampleou a canção, chamada “Pon De Floor”, em “Run The World (Girls)”. E, de lá até aqui, emplacou mais e mais hits, incluindo “Zen”, a parceria com Projota em “Cobertor” e “Na Batida”, só pra citar alguns.
Com o disco “Bang”, de 2015, a brasileira foi além: apesar de repetir o mesmo erro em que a produção do disco reflete a pressa da gravadora em aproveitar ao máximo sua exposição, num conjunto que, nas primeiras audições, entrega quais músicas são ou não singles em potenciais, rodeadas por uma leva de fillers (equivalente à expressão “enche linguiça”), acerta de maneira significativa na identidade visual, elemento esse crucial para artistas importantes da cultura pop, como Madonna, Britney Spears e Lady Gaga, construindo ainda componentes icônicos, emprestados da popart, que se tornaram referenciais para os clipes dessa era, “Bang” e “Essa Mina É Louca”.
Neste ponto, é possível perceber também a preocupação da cantora e sua equipe em apresentar um material coerente, musical e visualmente falando, ao contrário de seus trabalhos anteriores, e com tantos passos tão bem pensados, obtiveram o melhor retorno possível: Anitta se tornou um monstro imbatível dentro do pop nacional.
“Sim ou Não”, seu trabalho mais recente, é a grande prova de que, indo contra os que viam Anitta como uma mera tendência, a cantora está mais forte do que nunca. A parceria com Maluma, que sequer deverá fazer parte de seu novo disco, surgiu como um lançamento publicitário, pela marca Samsung, e indo no caminho contrário de outros lançamentos do gênero (como “Taste The Feeling”, do Luan Santana para a Coca-Cola), caiu no gosto popular tão facilmente quanto seus trabalhos anteriores, também pela produção assertiva, que pegou carona no hype do dancehall, tocando no Brasil com artistas como Justin Bieber, Rihanna e Drake.
Se isso não for o suficiente para compreender aonde ela está chegando, vale lembrar também da sua participação nos Jogos Olímpicos desse ano, na qual foi convidada para cantar ao lado de duas lendas da música nacional, Caetano Veloso e Gilberto Gil, para uma performance que a tirou de sua zona de conforto, mas, de maneira nenhuma, tirou o seu brilho.
O episódio no Prêmio Multishow, fechado com o bordão “vocês pensaram que eu não ia rebolar a minha bunda hoje?”, seguido do batidão “Movimento da Sanfoninha”, foi a inevitável coroação dela, que pode, sim, ser chamada de rainha do pop brasileiro. Anitta canta, dança e domina o palco como ninguém, nos entrega os bons singles, ótimos videoclipes e refrãos que dividem espaço com uma maioria de artistas internacionais nas rádios e noites afora. Ela é a diva de nível exterior que tanto queríamos por aqui e, como não poderia ser exceção entre elas, também desperta o ódio daqueles que não se permitem aceitar o óbvio: ela ainda tem muito o que melhorar, mas vem fazendo um trabalho cada vez mais foda.
Usando, outra vez, um de seus versos: bate palmas, ela merece!