Na última quinta-feira (6), MC Carol e Karol Conka se
declararam “100% feminista”! Se você
ainda precisava ter certeza, é porque não conhece muito bem a carreira ou a
trajetória de vida dessas mulheres incríveis. Ambas são mulheres negras, que
saíram do subúrbio de suas cidades – Carol é de Niterói e Conka, de Curitiba –
e resolveram soltar a voz no funk e no rap,
de longe os meios mais machistas da cena musical brasileira. Essas mulheres
poderosas não são de poucas ideias: suas músicas vêm cada vez mais carregadas
de discursos políticos, principalmente sobre pautas como feminismo e negritude.
Carol Bandida
sempre teve postura de mulher independente, que não leva desaforo para casa e não se rebaixa diante de ninguém. Inclusive faz seu namorado, que é o maior otário, lavar suas calcinhas. Deixa
muito claro para o mundo que é linda e gostosa, grita aos quatro ventos se for
preciso e ninguém a convencerá do contrário. O discurso feminista é nítido! Apesar de que, para as mulheres
negras periféricas, essa é a realidade diária de suas vidas: não é só uma
nomenclatura, mas uma necessidade vital de sobrevivência.
Em suas últimas músicas, Carol tem deixado um pouco de lado o tom debochado para dar espaço para a revolta com uma sociedade racista, machista, elitista e excludente. Em “Não Foi Cabral”, ela pede desculpas a professora e dispara a verdade sobre a história do Descobrimento do Brasil, que não foi pacífica e bonita como nos é ensinado na escola, mas marcada pelo sangue, medo e o saqueamento completo das terras, riquezas e culturas dos índios.
Já em “Delação Premiada” (que, como “100% Feminista”, quem assina a produção é o Leo Justi) o assunto é a disparidade violenta no tratamento da polícia, que tem uma cartela de cor e classe para classificar quem é bandido – muitas vezes sem sequer perguntar –, além de relembrar muitos casos sem solução que cada vez mais aumentam a lista dessa instituição truculenta e genocida. Agora em “100% Feminista”, em parceria com a Karol Conka, ouvimos sobre a violência contra a mulher e a misoginia, que nos fere fisicamente e psicologicamente, inviabiliza, invisibiliza, machuca, aprisiona e mata mulheres todos os dias ao redor do mundo.
Em suas últimas músicas, Carol tem deixado um pouco de lado o tom debochado para dar espaço para a revolta com uma sociedade racista, machista, elitista e excludente. Em “Não Foi Cabral”, ela pede desculpas a professora e dispara a verdade sobre a história do Descobrimento do Brasil, que não foi pacífica e bonita como nos é ensinado na escola, mas marcada pelo sangue, medo e o saqueamento completo das terras, riquezas e culturas dos índios.
Já em “Delação Premiada” (que, como “100% Feminista”, quem assina a produção é o Leo Justi) o assunto é a disparidade violenta no tratamento da polícia, que tem uma cartela de cor e classe para classificar quem é bandido – muitas vezes sem sequer perguntar –, além de relembrar muitos casos sem solução que cada vez mais aumentam a lista dessa instituição truculenta e genocida. Agora em “100% Feminista”, em parceria com a Karol Conka, ouvimos sobre a violência contra a mulher e a misoginia, que nos fere fisicamente e psicologicamente, inviabiliza, invisibiliza, machuca, aprisiona e mata mulheres todos os dias ao redor do mundo.
Karol Conka rouba a cena com seu jeito despojado, seu estilo ousado e o cabelo rosa que é sua marca registrada. Começou se apresentando no circuito do hip hop curitibano e foi conquistando seu espaço no mainstream até conhecer o produtor Nave, que deu um empurrão produzindo seus primeiros trabalhos e depois seu álbum “Batuk Freak” (2013), de forma independente. Ganhou de vez a atenção dos holofotes quando assinou o selo Buuum da Skol Music e lançou os singles “Tombei” (2015) e “É o Poder” (2016), com produção da dupla Tropkillaz. Em seus trabalhos sempre deixou claro que o lugar da mulher é onde ela quiser! Nessa nova música, MC Carol e Karol Conka se colocam enquanto mulheres negras, de “cabelo duro”. Fortes, porém frágeis; independentes e destemidas.
Fica impossível não se conectar automaticamente com outra mulher negra e ouvir, em meio ao batuque do samba e os riffs de guitarra, a ameaça empoderada da denúncia de uma violência doméstica: “Você vai se arrepender de levantar a mão para mim”. Ela mesma, A Mulher do Fim do Mundo, Elza Soares. Um dos nomes dentre os muitos mencionados na parceria feminista das negras que levam o mesmo nome. Anote e mergulhe nas pesquisas: Aqualtune e Dandara dos Palmares, líderes quilombolas na luta contra a escravização da população negra; Carolina Maria de Jesus, uma das primeiras escritoras negras da história do Brasil; para mencionar algumas mulheres ilustres que são imprescindíveis para o movimento feminista negro. Voltando para o mundo da música, tivemos Nina Simone, cantora, compositora e ativista pelos direitos civis dos negros norte-americanos; a voz da inquietação de quem sofre na pele com o racismo e suas mazelas.
Ao longo dos anos, muitas mulheres perseveraram para que a voz do feminismo negro não fosse silenciada. Atualmente, o movimento vem lutando para manter acesa a fresta de luz que vem conquistando com muita garra, insistência e afrontamento. E que instrumento melhor que a música para ecoar nosso grito de resistência ainda mais forte? Um dos últimos lançamentos internacionais que abordou o assunto com perfeição foi o álbum “A Seat at the Table”, da Solange. De uma forma precisa e até divinal, o último disco dessa garota do Texas multifacetada é o pacote completo: uma sonoridade musical absurdamente apaixonante, com participações de nomes de peso – como Lil Wayne, The Dream, Kelly Rowland e Kelela – combinadas às mensagens profundas de empoderamento negro. Solange diz que “você tem todo o direito de estar bravo" com o racismo e avisa para os outros “não tocarem em seu cabelo” afro. Ela não fica à sombra da irmã, Beyoncé! Tem seu brilho próprio, que de tão grande, pode até ofuscar alguns olhares preconceituosos. Lastimável que seu trabalho não foi reconhecido nem ovacionado da mesma maneira como foi, e ainda é, o Lemonade.
Já em terras tupiniquins, não podemos deixar de falar do
trabalho brilhante da Tássia Reis em seu último disco “Outra Esfera”. De
Jacareí para o mundo, é perceptível que a rapper se despiu de toda timidez e veio
escancarar tudo que andava engasgado na garganta. “Ouça-me” é um pé na porta do
silenciamento sofrido pelas mulheres negras e o grito da ancestralidade de quem
nunca mais vai se calar. Ela avisa: “A revolução será crespa, (...) não podem
conter”. Em “Da Lama / Afrontamento”, com a rapper Stefanie, ao ouvir chega a
ser possível enxergar a imagem da desigualdade da vida na periferia e que a realidade
das pessoas negras é uma tentativa constante de nadar contra a maré. É
maravilhoso como tanto o trabalho da Karol Conká e da MC Carol quanto o da
Tássia Reis são capazes de atingir desde o povo da periferia até uma parcela da
população que desfruta de muitos privilégios – mas se desconstrói (diariamente)
para ser consciente – com o mesmo diálogo.
Sabemos que ainda há muita resistência dessa sociedade racista
e machista, mas a resistência do povo negro é de uma ancestralidade muito cheia
de força. Seguimos, nem um passo atrás! E para isso, enaltecemos o trabalho das
tantas mulheres negras formidáveis que existem mundo afora; seja na música, na
televisão, na academia ou em qualquer outro espaço dos quais nos são negados. Viva,
Janelle Monae! Viva, Djamila Ribeiro! Viva, Preta Rara! Viva, Jéssica Ellen!
Viva, Luana Hansen! Viva, Andreza Delgado!
Um viva à todas as mulheres negras que existem e resistem! <3
Um viva à todas as mulheres negras que existem e resistem! <3