O grupo tem se tornando cada vez mais conhecido em nosso país, seja pelo som experimental, trabalho audiovisual, letras fortes e imponentes e pelos shows, baseados em muito improviso e explosividade. Mas, se você ainda não conhece a banda por esses motivos, existe uma boa possibilidade de você já ter esbarrado com um vídeo bem famoso de um momento incrível que aconteceu no trio elétrico deles nesse Carnaval.
Conversamos com o Beto Barreto, guitarrista do BaianaSystem, sobre o disco "Duas Cidades" e tudo que está por trás do material e, claro, sobre o show que a banda fará no Lollapalooza representando o nosso país.
Primeiramente, muita gente não conhece o trabalho de vocês. Pode contar um pouquinho pra gente que banda é a BaianaSystem?
Beto: A Baiana System é um grupo aqui de Salvador que está na história desde 2009, 2010. Lançamos o disco em 2010 [primeiro álbum, "BaianaSystem"] e estamos agora fazendo um ano do segundo disco, o "Duas Cidades". A gente, na verdade, é um projeto audiovisual que mistura música, com imagens, com fotos, com vidas, música produzida aqui na Bahia que a gente queria que saísse daqui com algumas coisas de fora. O BaianaSystem é um projeto que a gente tá vivendo nesse período e que lida basicamente com experimentação da nossa música, da possibilidade de fazer diálogos com as outras referências que a gente tem e que as pessoas que colaboram com a gente podem ter. A gente é um grupo musical que tá aí produzindo e experimentando.
O ano de 2016 foi muito importante para vocês porque o disco "Duas Cidades" abriu muitas portas para a banda. Esperavam essa recepção?
Beto: O "Duas Cidades" foi uma grata surpresa na forma que ele saiu. A gente já vinha circulando muito pelos festivais, tocando em São Paulo, já tinha feito umas coisas, mas [o álbum] ainda estava com um pouco de eco do primeiro disco, que saiu em 2010, e ainda era uma coisa muito embrionária. Estávamos tentando entender como valia a pena trabalhá-lo, com DJs, com as outras colaborações dos produtores, a gente foi entendendo isso. O trabalho visual também é algo muito importante na concepção do BaianaSystem. A gente ainda estava querendo lançar um trabalho em áudio, que chegasse no aspecto do que estava acontecendo [no Brasil]. E a gente conseguiu isso com o Daniel Ganjaman, que é de São Paulo e que também ajudou muito nessa tradução do som e do que a gente vinha fazendo para um público maior. A gente está em um processo de criação que é meio que "faz e sai" e não tem muita noção da expectativa, de como isso vai vir, e tivemos uma recepção muito legal. O disco entrou em algumas listas, ganhou alguns prêmios, e isso deu uma visibilidade, fez com que várias pessoas viessem a tentar entender o que era o Baiana, conhecessem um pouco. O disco "Duas Cidades" funcionou muito pra gente dessa maneira. A gente fez muito show em alguns lugares que a gente não estava fazendo, deu uma consolidada tanto no nosso show como no que as pessoas pensavam da gente.
O "Duas Cidades", além de ser um disco muito dançante, também é muito político, e isso está voltando aos poucos para a música brasileira. Ser um artista independente dá mais liberdade para se posicionar sobre esses assuntos?
O "Duas Cidades", além de ser um disco muito dançante, também é muito político, e isso está voltando aos poucos para a música brasileira. Ser um artista independente dá mais liberdade para se posicionar sobre esses assuntos?
Beto: Não sei te dizer diretamente, porque eu não sei como hoje em dia o mercado funciona. Pra gente é muito natural e eu não sei como seria diferente disso. A liberdade artística, política e temática que a gente tem é parte da forma como a gente produz e divulga música. A nossa liberdade é o que nos move, é o que faz com que a gente consiga se olhar e achar aquilo verdadeiro e saber que aquilo que a gente está fazendo é natural, pela própria resposta, pela forma que as pessoas reagem a nossa música. Eu acredito que seja uma coisa muito "pergunta e resposta", eu sinto que impacta, que nos nossos shows a música tem a força que precisa ter, a letra também tem. Pra gente isso é tudo parte de um mesmo processo que a gente não consegue separar e dizer se teríamos ou não essa liberdade [estando em uma gravadora], mas eu acho que cada vez mais as pessoas estão se posicionando e colocando isso intrínseco na sua arte.
Vocês vão se apresentar no Lollapalooza! Tá dando um frio na barriga? O que vocês estão preparando para o show?
Beto: Então, a gente está nesse processo de amadurecimento de identidade. A gente já estreou o show "Duas Cidades", mas tocamos diferente do disco. No show de estreia as músicas já não estavam do mesmo jeito, cantávamos a letra na base de outra música, fazíamos uma guitarra que era de uma música na outra. Então, o "Duas Cidades" é um show que tem vida, no sentido de que ele vai se ajustando, e a gente entende muito isso quanto tocamos em festivais maiores. A gente vai tocar no Lollapalooza depois do Carnaval e também lançamos uma faixa agora que se chama "Invisível". Novas imagens, novas coisas que estão saindo, e tudo isso é um caldeirão que de alguma forma vai ser colocado no Lollapalooza. Pra gente é uma honra estar no Lolla. É um dos festivais que tem isso de colocar o Brasil na roda, dar importância, e é onde outros artistas circulam... Então nossa expectativa é muito em cima disso, de poder trocar artisticamente com o que está acontecendo, com o que o Lollapalooza trouxe para aquele ano. No meio do ano a gente já deve viajar de novo para tocar em outros festivais, e [o Lolla] ajuda muito nesse panorama, a gente tocar em um festival no Brasil do porte do Lollapalooza e entender como que a música tá nesse contexto.
Vocês vão se apresentar no Lollapalooza! Tá dando um frio na barriga? O que vocês estão preparando para o show?
Beto: Então, a gente está nesse processo de amadurecimento de identidade. A gente já estreou o show "Duas Cidades", mas tocamos diferente do disco. No show de estreia as músicas já não estavam do mesmo jeito, cantávamos a letra na base de outra música, fazíamos uma guitarra que era de uma música na outra. Então, o "Duas Cidades" é um show que tem vida, no sentido de que ele vai se ajustando, e a gente entende muito isso quanto tocamos em festivais maiores. A gente vai tocar no Lollapalooza depois do Carnaval e também lançamos uma faixa agora que se chama "Invisível". Novas imagens, novas coisas que estão saindo, e tudo isso é um caldeirão que de alguma forma vai ser colocado no Lollapalooza. Pra gente é uma honra estar no Lolla. É um dos festivais que tem isso de colocar o Brasil na roda, dar importância, e é onde outros artistas circulam... Então nossa expectativa é muito em cima disso, de poder trocar artisticamente com o que está acontecendo, com o que o Lollapalooza trouxe para aquele ano. No meio do ano a gente já deve viajar de novo para tocar em outros festivais, e [o Lolla] ajuda muito nesse panorama, a gente tocar em um festival no Brasil do porte do Lollapalooza e entender como que a música tá nesse contexto.
Você falou um pouquinho do novo clipe e uma nova faixa. Pode falar mais sobre isso?
Beto: Então, a faixa se chama "Invisível". Que do mesmo jeito que "Duas Cidades" é sobre um tema e abre muitas discussões sobre isso, "Invisível" também é bem isso. É um tema, uma provocação que a gente está trazendo. É uma faixa nova, que é um samba-reggae, e fala muito desse ver e não ver, do que você enxerga e do que você não enxerga, essa fronteira entre o visível, o invisível e todos esses aspectos. É um clipe produzido pela gente, é uma continuação do "Playson", que a gente também produziu, tem uma produção rodada aqui em Salvador, nas ruas do Centro e conta com a participação do B-Negão, totalmente independente, tanto o clipe quanto a faixa.
A gente está passando por uma fase super diversificada e plural na música nacional, com muitos artistas LGBTs, drags, de várias partes do país. Como vocês se veem nessa nova cena independente em ascensão? Qual a importância de vocês hoje para esse cenário?
Beto: A gente se vê como parte disso. Eu entendo que a música brasileira sempre foi muito diversificada. Na verdade, eu acho que a diversidade é uma característica intrínseca da música brasileira. Temos produções incríveis em todos os estados. O que justamente sempre foi a questão, eu acho, é a distribuição, a visibilidade e o acesso a isso. O que eu acho que aconteceu nos últimos anos, justamente pela forma de se distribuir música, pela tecnologia, é que as pessoas conseguiram conhecer mais. Não necessariamente as coisas vem de cima agora, as coisas vem de uma maneira muito mais natural. E as pessoas também tem se permitido ouvir e interagir muito mais, essa coisa de circular pelos festivais e estar na internet faz com que as pessoas se comportem dessa forma. No caso da gente, a nossa essência é isso. A gente experimenta muito, nosso primeiro disco já era assim, tem frevo, tem samba, tem reggae, tem guitarra, nesse segundo disco, o "Duas Cidades", também tem muito ritmo e a gente não se prende, experimenta e se vê como parte disso, parte desse mercado que tá circulando, tocando música, produzindo e entendendo de que forma pode se comunicar com as pessoas.
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O BaianaSystem será uma das atrações do primeiro dia do Lollapalooza, 25 de março, e promete representar bem o Brasil, fazendo a gente dançar e pular muito, sem deixar de colocar o dedo na ferida e levantar questões extremamente importantes. Enquanto o Lolla não chega, aproveite para escutar o segundo disco dos caras, "Duas Cidades", que mistura muitos ritmos brasileiros com letras cheias de significado, e já chegar com tudo na ponta da língua no Autódromo de Interlagos.