Estes últimos dias têm sido extremamente relevantes para a mulher na indústria cinematográfica: tivemos a estreia, em alguns países de "Mulher Maravilha" (no Brasil o longa chega aos cinemas no dia primeiro de junho), primeiro grande filme de super-herói dirigido por uma mulher – e o de maior orçamento comandado por uma diretora, com o custo de U$S 100 milhões –, e o Festival de Cannes, que consagrou e destacou o trabalho e o potencial, quase sempre negligenciado, das mulheres do cinema.
Estamos falando de Sofia Coppola, que levou o prêmio de melhor direção com "The Beguiled" (um remake da versão de Don Siegel, de 1971), e de Nicole Kidman, que foi homenageada por estar em quatro produções do festival, sendo duas delas participantes da mostra competitiva.
Estamos falando de Sofia Coppola, que levou o prêmio de melhor direção com "The Beguiled" (um remake da versão de Don Siegel, de 1971), e de Nicole Kidman, que foi homenageada por estar em quatro produções do festival, sendo duas delas participantes da mostra competitiva.
Com o cinema no sangue e DNA, Sofia foi a segunda mulher a levar o prêmio de direção, sendo que a primeira, Yuliya Solntseva, o recebeu há 56 anos – em 70 de Festival. Este cenário exageradamente desproporcional em relação à participação masculina em Cannes é apenas um reflexo do sexismo que existe em frente e por trás das câmeras (leia sobre aqui).
Segundo dados levantados pela New York Film Academy, existe uma mulher para cinco homens que trabalham nos bastidores de uma produção. Em um panorama mais crítico que o de Cannes está o Oscar, pois o prêmio de direção da Academia foi concedido a uma mulher apenas uma vez: Kathryn Bigelow ganhou a estatueta dourada por "Guerra ao Terror", em 2010.
Segundo dados levantados pela New York Film Academy, existe uma mulher para cinco homens que trabalham nos bastidores de uma produção. Em um panorama mais crítico que o de Cannes está o Oscar, pois o prêmio de direção da Academia foi concedido a uma mulher apenas uma vez: Kathryn Bigelow ganhou a estatueta dourada por "Guerra ao Terror", em 2010.
Apesar do brilho de Sofia Coppola, a “Rainha de Cannes” (assim apelidada) foi Nicole Kidman. Aos 49 anos, a atriz já explorou praticamente todos os gêneros cinematográficos e participou desta edição do festival com três filmes e uma série: "The Beguiled" (o mesmo de Sofia), "The Killing of a Sacred Deer", "How to Talk to Girls at Parties" e "Top of the Lake: China Girl” (série). Em seu discurso de agradecimento pelo prêmio de honra, a atriz australiana não deixou de manifestar seu descontentamento com o machismo na indústria do cinema.
"Apenas 4% de mulheres dirigiram filmes em 2016. [...] Por sorte, temos Jane Campion e Sofia Coppola aqui [em Cannes]. Nós, como mulheres, temos que dar suporte a elas como diretoras. Todos dizem que hoje as coisas são diferentes, mas não são. Basta olhar as estatísticas", disse Nicole.
Percebam, então, que o maior problema não é por culpa do Festival de Cannes, Locarno, Sundance, Rio, do Oscar ou Globo de Ouro. A indústria não conspira a favor das profissionais do sexo feminino; portanto, o buraco é bem mais embaixo. Se existem poucas mulheres nas produções, uma parcela menor ainda irá se destacar a ponto de chegar nessas competições – e, consequentemente, a quantidade de ganhadoras será ínfima. Estamos falando de oportunidades e representatividade.
O "Clube do Bolinha" de Hollywood precisa ser desfeito. Por isso, é sim necessário celebrar essas pequenas grandes conquistas. Que cada vez mais as atrizes recebam salários iguais aos de seus colegas homens. Que cada vez mais mulheres possam ocupar a direção de filmes (ou qualquer outra posição atrás das câmeras), dos independentes aos blockbusters. Que cada vez mais as mulheres sejam reconhecidas pelo talento, e não por seus corpos, looks, companheiros, “testes de sofá” ou pais cineastas. Então a gente comemora e enaltece sim, pois cada passo, mesmo que pequeno, é uma conquista – para elas e para todas.